As fantásticas crônicas de Sarah escrita por Helen


Capítulo 10
Crônica 10 - Cthulhu e Talassofobia.


Notas iniciais do capítulo

Se pronuncia "Katulhu" em português. Mas se você preferir, leia da maneira que quiser.
Cthulhu é um personagem de H. P. Lovecraft. Por isso, em certos trexos há o uso das aspas, pois foram tiradas do próprio livro.



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Sarah estava sentada no galho de uma árvore. Sozinha, pronunciava versos de um poema que estava criando naquele exato momento, porém, o mesmo seria esquecido por sua mente, e lançado no vento, como apenas mais um.

Naquela tão boa harmonia, as asas de dragão que ficavam atrás de suas orelhas começaram a sentir uma vibração. Uma vibração na qual aterrorizaria qualquer tipo de criatura.

Era uma espécie de chamado.

Uma criatura das mais sombrias e profundas partes do oceano estava chamando Sarah. Mas se não bastasse, era um chamado de ajuda.

Sem se importar muito, desceu da árvore onde estava e deixou suas pequenas asas lhe guiarem.

Andou por horas. Adentrava cada vez mais na floresta, e ela aparentava ser infinita. No auge de seu cansaço, ouviu o som do mar.

Correu como se fosse por sua vida, e quando finalmente seus pés tocaram a areia, ela caiu, descansando um pouco. Quando levantou a cabeça, percebeu que um grupo fazia um ritual. Todos usavam roupas pretas, como as suas.

Para não assustá-los, colocou seu capuz, e lentamente se aproximou do grupo, que agora entoava uma antiga canção.

Sentiu que alguém a segurava pela cintura, e começava a tirá-la do chão. Então olhou para trás e viu Slender a colocando em seu ombro, como de costume.

–Não os interrompa, se não vai sobrar pra você. - sussurrou ele, com a ventania.

A canção acabou abruptamente. O mar começou a ficar mais violento, e dele emergiu um enorme caminho. Todos os do grupo repetiam, em voz alta e em uma língua estranha, a seguinte frase (a qual foi traduzida):

“Em sua morada em R’lyeh, o morto Cthulhu espera sonhando.”

No fim da enorme estrada horrivelmente mal feita geometricamente, uma maligna cidade da mesma forma criava forma no mar. Se espalhava como um veneno no sangue. Não era alta, e nem precisava disso para se mostrar imponente. Dela, saía uma brisa terrivelmente medonha, que causava arrepios e todos os tipos de manifestações exageradas do medo humano.

Alguns que estavam no grupo riam de alegria por terem finalmente libertado o tal profeta maligno que tanto desejavam, e outros gritavam de pavor.

–O que... - Sarah não conseguia articular sequer palavra diante daquele cenário de puro terror.

–Não. - Slender parecia indignado. - Cthulhu! - gritou, e sua boca se abriu como se rasgasse, mostrando as seis fileiras de dentes, prontos para matar. - Você não vai acordar!

Um rugido foi a resposta. Não há palavras em nenhuma língua que consigam descrever o quão terrível e medonho foi aquele rugido. Parecia vindo de uma das próprias criaturas do Tártaro, ou até mesmo um grito de alma do mesmo.

Slender não parecia nem um pouco amedrontado. Ele colocou gentilmente Sarah no chão.

As asas de dragão vibravam cada vez mais, quase sacudindo a cabeça da pobre Sarah, que tremia de medo.

Outro som. Agora, não parecia um rugido. Era semelhante a um som de cachorro chorando, mas só que muito mais triste, e ao mesmo tempo aterrorizador.

Era o choro de Cthulhu.

Ele clamava por Sarah.

Mas a que estava sendo chamada não sabia o que fazer.

O grupo parecia confuso com aquele choro, e ficaram parados.
Slender entendeu rapidamente o que aquilo queria dizer. Novamente a colocou no ombro, e se dirigiu calmamente até a cidade maldita: R’lyeh.
Era complicado andar pela estrada. A geometria dela era completamente estranha e confusa, como os pensamentos de um louco.
De longe, era possível perceber não só uma, mas "grandes cidades ciclópicas, construídas com blocos titânicos e monólitos projetados para o céu, tudo transpirando um limo verde e sinistro de horror latente. As paredes e pilares estavam cobertos de hieróglifos, e de algum ponto indeterminado abaixo chegava uma voz que não era voz, uma sensação caótica que somente a fantasia poderia transformar em som."

Uma enorme espécie de porta (na verdade, um ângulo virado para cima, em vertical, que dava a ideia de uma) se destacava de todos os outros.

Slender parou em frente a enorme figura. Ainda não havia fechado a boca, como um gato que espera abocanhar alguma coisa.

Um recuo começou a se formar de cima a baixo, contrariando boa parte das regras de matéria e perspectiva, em uma ilusão prismática. Como o céu estava escurecendo, não era fácil ver o que quer que estivesse ali dentro.

Um som, terrivelmente sinistro, o qual daria medo até mesmo ao pior dos pesadelos encarnados, saiu de lá. Se misturava com o som mais triste e melancólico que poderia ser imaginado, formando a mistura de sons que se deduzia ser uma maneira daquela Coisa se comunicar.

Sarah abraçava a cabeça de Slender, com medo. As asas atrás da orelha pareciam querer se aproximar ainda mais da Coisa que estava ali. Se debatiam, causando certa dor nas orelhas de Sarah.

–Parem com isso. - desejava ela, fechando os olhos. - Não quero me aproximar disso.

A Coisa parecia entender seus pensamentos, e começou a se mover para fora. Um som gelatinoso e relativamente nojento começou a se formar.

Slender não deixou que aquilo ultrapassasse nem um mísero metro quadrado. Arranhou a criatura, sem medo. Ela se assustou e voltou para sua escuridão. Mas logo voltou a se mover, sendo outra vez arranhada.

Novamente, Cthulhu rugiu. Era o ódio por não ter seu desejo realizado.

–P-pare. - ordenou Sarah para Slender. - Você e-está irritando e-ele.

–Não vou deixar que isso aqui desperte. - Slender tirou Sarah no ombro - Volte ao seu eterno sono, Cthulhu!

Ela tocou a lateral no joelho de Slender, como um sinal de que ele parasse. Ela tremia de medo.
Mesmo Slender querendo continuar, a deixou fazer o que Cthulhu tanto a mandava.

Lentamente, ela se aproximou da entrada, sem ousar colocar o pé mais para dentro.

As asas de dragão vibraram como se falassem por Sarah. A mesma ficou em meio a uma... conversa entre suas asas e a temível criatura.

Ele deseja que você se torne a portadora dele.– disse uma doce voz na cabeça de Sarah. - Esse corpo gelatinoso é rude para um Antigo. Se aceitar, você poderá entender Cthulhu e o mostrar para o mundo, dando a ele o poder que merece, novamente. Se não... bom, ele não dá muitas boas alternativas.

Quando Sarah tinha achado que a voz havia acabado de falar, ela continuou:

Aliás, Cthulhu também iria poupar seu mestre, caso você aceitasse.

Sarah se voltou para Slender, que ainda continuava com a boca aberta, e os dentes expostos. Sabia que se caso perguntasse, a resposta dele seria 'não', em relação a qualquer coisa sobre Cthulhu.

–Não tem outra pessoa? - perguntou Sarah, para a voz

Não achamos uma tão bom quanto você. É ótima para o cargo, pois não tem nada que você se apegue, ou algo que a faria trair a confiança de Cthulhu. E também, você é uma aprendiz. Serve como uma luva para o cargo.

–Err... posso tocar com a mão esquerda nele?

–Hã... tá. Eu acho.

Sarah lentamente estendeu a mão esquerda em direção ao que aparentava ser a cabeça daquela coisa. Quando a tocou, sentiu uma enorme vontade de vomitar, mas se conteve. A superfície da criatura era gelatinosa, se assemelhando a um polvo.

Como um alívio, Sarah sentiu sua maldição correndo pelas veias (se é que ele as tinha) de Cthulhu. Rapidamente tirou sua mão da criatura, se afastando.

Um estranho rugido que se parecia um grito de dor saiu de dentro daquele lugar, e um terremoto começou a abalar a cidade. Era a hora de Cthulhu voltar para a escuridão do mar, novamente em seu sono eterno.

Sarah começou a correr desesperadamente, para nunca mais encontrar qualquer coisa parecida com aquela na vida. Slender, um pouco mais devagar, também correu, mas foi atingido por Cthulhu, antes.

Quando chegaram novamente à praia, o grupo já havia ido embora. Slender se sentou no chão, junto com Sarah, para admirar a queda de R’lyeh.
De relance, Sarah percebeu um pequeno morcego com asas de dragão afundando junto com a cidade. Quando tocou atrás das orelhas, procurando as asas, percebeu que elas haviam sumido.

–Você não vai ser incomodada por aquele bicho. Nunca mais.– disse Slender.

–Por que queria se livrar tanto dele? Nunca te vi mostrando tanto a boca. - Sarah tirou o capuz.

–Foi por causa dele que Arthur não conhece a mãe.

–Uh... me desculpe por te fazer lembrar.

–Não tem problema. Cthulhu nunca deve despertar, a não ser que o Mestre queira. Ou seja, lá no fim da história humana.

–O tal 'fim dos tempos'?

–Exato. Mas mesmo nesse tempo, Cthulhu não irá dominar a Terra como planeja. Ele não tem honra pra isso.

–Mesmo assim, a dominação dele será terrível. Sem mesmo eu vê-lo, temi minha morte, imagine ele reinando.

Eles se levantaram e Slender novamente colocou Sarah no ombro, voltando para a floresta. Uma doce canção ecoava por ela, semelhante a uma flauta.

Uma canção de ninar.


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