— Eu estou em dois estados ao mesmo tempo. - solta mais uma gargalhada divertida. - Isso é mágico. Vem avestruz, vem!
Estamos na cidade fantasma de Glenrio, onde é possível colocar um pé no Novo México e outro no Texas, e Kat está totalmente eufórica.

— Calma, Kat! Não tem nada de mágico nisto, é apenas a divisão estadual. - reviro os olhos, mas mesmo assim coloco um pé em cada estado.

— Ah... Para de ser chato, exclame toda sua alegria.

— O.K. Uhh.. Eu estou em dois lugares ao mesmo tempo, e nem precisei dos viados da ciência. - após eu exclamar, olho de um lado para o outro e confirmo que ninguém além de Katniss ouviu. Ela estreita os olhos.

— Eu conheci um cientista...

— Era Gay, não era? - interrompo-a.

— Gale... - para e pensa provavelmente se lembrando de algo.

— Você já disse tudo. Gayle, com certeza era gay.

— É... Com certeza era gay. - olha de um lado para o outro, tira mais algumas fotos e me chama enfim. - Vamos embora. Agora, eu dirijo! - reviro os olhos, mas taco a chave nas mãos dela.
Andamos um pouco em silêncio, mas ela se cansa da falta de palavras.

— Você aparentemente não é muito fã de cientistas, não?

— Ah... Eu convivi com muitos, na escola, em Harvard, na empresa... - suspiro. - Eles sempre acham que tem razão, que sabem de tudo... E, não é exatamente assim.

— Ah... Compreendo. - assente. - Gale é assim, acha que sabe tudo, que manda em tudo. Isso te cansa, né?

— Eu estudei para exercer minha função, para fazer tudo certinho, e aparece um babaca que acha que está superior a mim. Isso me deixa furioso. - começo a me irritar com as lembranças, mas me acalmo com a gargalhada que Kat solta.

— Vamos mudar de assunto, por favor! - peço.

— Me fale das suas ex. - Serio? Que garota quer saber das ex de um cara? Aquela que não se importa, Peeta.

— Huum... Bem... Eu não tive muitas namoradas além da Delly. - ela revira os olhos ao ouvir o nome da interesseira mor. - No colegial, eu era super nerd, ou algo assim, eu apenas namorei por dois meses com uma garota, Lavínia, uma ruiva simpática, mas ela se mudou para Geórgia e eu nunca mais soube dela. - eu não sei exatamente o que senti por Lavínia, mas não chegava nem a paixão, era como carinho, apenas. - Já na faculdade, eu era bem centrado, estava em Harvard, tudo que importava era o estudo. Mas, havia uma garota que mexeu comigo Cressida, loira dos olhos verdes. Ela tinha aquele espírito meio rebelde, era divertida, louca, nós namoramos por 6 meses, mas quando o reitor da universidade veio falar comigo sobre minhas notas terem caído, eu percebi que aquilo não era saudável, e terminei. - bufo com a lembrança do drama de Cressida. - E, depois disso, apenas Delly.

— Dois a um para as oxigenadas. - debocha, me fazendo gargalhar.

— E, o que você vai fazer quanto a isto? - questiono antes mesmo de pensar, torcendo pela primeira morena da minha lista. Mas, ela apenas dá de ombros num tanto faz. - E você?

— Eu o quê?

— Seus ex-namorados...

— Ahh.. - dá de ombros. - Eu nunca namorei.

— Como nunca? - me surpreendo.

— Nunca tive tempo para isto. - fala num tom que indica que existe mais do eu entendi, mas não consigo realmente perceber nada.

— Uma frase que acha que tem haver com você. - peço mudando de assunto.

— O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.

— Você se acha uma pessoa incomparável e intensa? - questiono brincalhão.

— Não exatamente. - ela ri. - A frase fala mais sobre minha vida, sabe? - assinto.

— Então.. Você não é uma pessoa intensa. Hum.. - finjo estar pensativo. - Vai sofrer muito no fim desta viagem, tadinha. Como sobreviverá sem mim?

— Ah, simples, Peeta... - dá de ombros teatralmente e sorri brincalhona- Quem tem luz própria não morre no escuro.

— Metida! - exclamo segurando as gargalhadas.

— Acha que eu aprendi o que viajando com você, uh?

— Certo, certo... - levanto as mãos como se estivesse me rendendo. - Mas, falando sobre a viagem... Quanto mais durará?

— Hum... Provavelmente, em 6 dias chegaremos em Los Angeles que é o fim da estrada. Mas, quero passar um dia inteiro conhecendo a cidade, e depois terá a volta que durará mais dias. -comenta. - Mas, por que a pergunta? Algum problema? - questiona realmente preocupada.

— Nenhum problema... - penso por um tempo. O que acha de voltarmos de avião? - proponho.

— Mas, e o carro?

— Ah... Eu posso mandar alguém leva-lo depois. - ela ergue a sobrancelha, mas parece se lembrar da quantidade de pessoas que eu tenho a meu dispor graças à empresa.

— Tudo bem... - suspira. - Mas, por que isto?

— Eu não sei... - dou de ombros. - Apenas me sinto mal não estando bem com meus pais. Eu quero resolver isto.

— Você já superou? - ela pergunta com um meio sorriso.

— Sim.. Quer dizer, eles traíram um ao outro, se eles não se importam... Eu não devo levar tão a serio, certo? - ela assente. - Quero voltar a tempo de passar a o natal com eles. - vejo ela ficar tensa quando falo natal, mas ignoro, provavelmente ela apenas se esqueceu da proximidade do feriado.

— Hoje é que dia mesmo? - questiona perdida e ainda um pouco tensa.

— 12 de dezembro. - ela arregala os olhos, e assente, avulsa.

— Quais seus planos para o natal?

— Ham? Natal? - suspira. - Nada... - dá de ombros, estranho, mas ignoro, ela parece não querer falar sobre isto.

Ligo o radio, e vou mudando até chegar em uma que está tocando músicas do Kaiser Chiefs, banda que Kat me apresentou durante a viagem. Sorrio cantando junto.

Eu sei por que vi
Era incrível e eu quero
Não há razão para sentar
E ficar louco sozinho
Você sabe por que
Eu fui posto no mundo?
E você poderia me dizer
Em três palavras ou mais
É o único jeito de dar o fora daqui
E é o único jeito de dar o fora daqui

Aprenda a lição
Daqueles que já estiveram lá
Meu cérebro Não está danificado
Mas precisa de alguns reparos
Agarre-se ao fundamental
Mas não podemos mudar todas as nossas táticas
Não há razão para sentar
E ficar louco sozinho

É o único jeito de dar o fora daqui
E é o único jeito de dar o fora daqui

Esse é o jeito moderno
Fingindo todos os dias
Aceitando como viemos
Não somos os únicos
Não é o que costumávamos dizer?
Que este é o jeito moderno?

Eu sei pra onde eu vou
E isso nós sempre sabemos
Agora não paramos por nada
Só para termos o que queremos

— Não concordo. - Kat fala do nada.

— Ham?

— A musica diz que nós sempre sabemos para onde vamos, e isto é uma mentira. Na maior parte do tempo não sei para onde vou.

— Ah, não deve ser exatamente assim, Kat. - contesto.

— É pior. - murmura baixo, mas eu consigo ouvir.

Ela está meio estranha, quer dizer, ela ama esta música, é uma de suas favoritas. E, eu nunca a vi 'perdida'.

— Um sonho. - peço tentando mudar de assunto.

— Não tenho. - dá de ombros.

— Impossível! Você com certeza tem um sonho, todos temos. - contesto.

— Então, sou especial. Pois, não tenho... - continua com os olhos focados na estrada. - O único que tinha era conhecer a Route 66, este está se realizando.

Suspiro. É tão estranho vê-la assim, para baixo, mas todos temos o direito de ficarmos um pouco para baixo as vezes. Eu apenas quero que passe rápido. Nem que seja necessário eu pegar sua tristeza para mim. E, eu pegaria sem pensar duas vezes, porque eu amo seu sorriso e seu olhar alegre, sua forma louca de ser e suas gargalhadas animadas... Eu pegaria sua tristeza para mim, porque... Eu faria de tudo para vê-la sorrir porque eu estou completamente infectado por Katniss Everdeen.