Corri o mais rápido que pude, me desviando das pessoas com suas bandejas no refeitório, nunca fui bom em educação física. Bem, agora acho que só me faltava um incentivo, como, por exemplo, um idiota musculoso todo sujo de comida declarando minha morte em alto e bom som.

Mas, voltando ao caso, sai o mais rápido que pude, estava já na saída do refeitório, resolvo virar para trás e vejo Bob, mais furioso do que nunca empurrando todos na sua frente. Continuei correndo e isso pode ter sido uma péssima ideia, estávamos na hora do almoço, todos os alunos estão no refeitório e os funcionários, em algum lugar, se preparando psicologicamente para voltar as salas de aula e tudo isso leva a grandes corredores vazios. O que era péssimo para mim que continuava correndo sem rumo, me viro para atrás e não vejo Bob e seus coleguinhas, o que é ótimo, por enquanto.

Paro de correr por um minuto, eu não poderia ficar correndo para sempre e também daqui a meia hora, vou ter que voltar a aula mesmo.

Penso um pouco, onde poderia me esconder? As salas de aulas estão trancadas, no ginásio, geralmente ficam os garotos do terceiro que treinam hóquei, não me pergunte o porquê, nem Bob que também joga no time fica lá. Quando consigo me recuperar ouço passos, ótimo, eles estão vindo, então respirei fundo e me preparei para continuar minha corrida não planejada pela minha própria sobrevivência.

Então corro, mas não dou cinco passos quando trombo com toda força em alguém, é sério, a coisa foi tão forte que ele ou ela voou para longe e eu claro, fui para o chão, ouço os passos de Bob e sua gangue, estava meio tonto, e machucado. Me levanto, tinha batido minha cabeça com toda força no tronco de alguém, tento me recuperar e levantar mas é inútil e acabo no chão, enquanto estou jogado no chão, vejo uma pessoa vindo em minha direção, provavelmente a que eu derrubei com toda força com essa minha cabeça dura. Droga, o que ele ou ela iria fazer comigo? A pessoa se aproxima... está mais perto e pelo pouco que vejo, já que ainda estou muito tonto com a batida, percebo a silhueta de um cara, ótimo, o que será que ele vai fazer comigo? Se bem que estou mais preocupado quando Bob me achar.

De repente, sinto braços em minha volta, o cara que tinha me atropelado estava me pegando, será que ele estava me ajudando a levantar ou era só para me entregar para Bob e Cia? Ele pega e começa a me arrastar para frente, com um pouco de dificuldade, com certeza ele estava um pouco machucado também. Bem, pelo que me parece, ele está me ajudando, tento me apoiar no chão e consigo, nos abraçamos, mas eu caio de novo, ele me pega e me ajuda levantar de novo, e sem pensar falo... falo não, sussurro:

– Socorro! Me ajude.

Falo quase sem força e sem uma resposta verbal, vejo ele me puxando para frente de novo, só que dessa vez, mais rápido, ele me carrega por alguns metros, bem, ele está tentando, o que é ótimo, realmente, alguém começou a se importar comigo ou está morrendo de pena de mim, mas era inútil, do ritmo que estávamos, nem seria preciso correr para nós pegarmos, mas continuamos mesmo assim, começo a ouvi alguns gritos de Bob, tenho certeza que daqui a pouco ele já vai estar nesse corredor atrás de mim.

Meu Corpo é jogado, sinto um empurrão com toda a força contra meu corpo, ótimo, agora a pessoa com quem eu pensava que se importava comigo me joga com tudo contra uma porta com quase a mesma força da trombada, sinto um forte impacto não só contra a cabeça, mas com todo o corpo, fico todo machucado, minhas pernas e braços doíam. Ótimo, agora mesmo que não conseguiria levantar, muito menos pedir ajuda para alguém. Que força descomunal, quem pode fazer isso?

Estava quase desmaiando, quando vejo mais gritos, só que dessa vez, mais fortes, era Bob e seus amiguinhos, estavam aqui, eles pararam de gritar e começaram a rir histericamente, vi umas sombras, o cara que me empurrou para dentro dessa sala encosta a porta, não estou entendendo mais nada. Vejo só uns risos horripilantes, de repente, alguém abre a porta, era Bob, certeza, aquela risada inconfundível, vejo a silhueta dele apontando para mim e logo após, vejo mais amiguinhos dele entrando, não estava entendendo mais nada.

Depois de dez minutos agoniantes de risadas e algumas frases que consegui captar como “esse ai já era”, “muito bem cara, já é um dos nossos”, “merda, queria ter espancado esse viado também”, “cara, vamos embora, se nós pegarem perto dele..." "vai ser ferrar.” Ouço também uma breve discussão misturado com uma ordem, “você fez, você limpa” logo após isso, vejo essas vozes se distanciando, estava fraco de mais, me pergunto se não ter apanhado lá no refeitório seria menos doloroso do que agora e merda, vou relembrar de novo, é meu primeiro dia de aula. Por que isso sempre acontece comigo?

De repente, a porta se abre, a luz me cegando por um breve momento, quem era? Onde esteva? Bob, não iria mais me espancar, vulgo me matar? Sinto mais uma vez, alguém colocando os braços sobre mim e tinha certeza absoluta que era a mesma pessoa que me carregara na primeira vez. O que será que ela faria comigo, mas já estava tão fraco, não tinha mais forças para ficar acordado. Quando de repente ouço um sussurro:

– Hey cara, aguenta aí!

Espera, essa voz, me parecia muito familiar, não de alguém antigo ou do passado, mas de um presente atrás. Será que era mesmo quem eu estou pensando que é? Tento, com minhas últimas forças, sair dos braços dele, mas era inútil, ele era forte e se saísse, cairia na certa e acho que cair mais uma vez no meu estado não seria nada bom, então falo, novamente quase sem forças:

– Ca... Carlos?

Ele não me responde, mas pelo que vejo, ele dá um pequeno sorriso e me carrega mais um pouco, será que ele sabia quem estava carregando? E por que isso? Foi ele que me empurrou para àquela sala, mas também foi ele que me ajudou a levantar e tentar, mesmo que inutilmente a escapar de Bob e seus colegas, mas por quê? Não estava entendendo mais nada e todas essas perguntas, minha cabeça explodia, bati duas vezes tão forte, foi nele que trombei sem dúvida, agora só me resta saber o que está acontecendo.

Tentei reorganizar meus pensamentos. Conforme andamos, ia ficando mais fraco e mais os braços dele se envolviam ao meu corpo, ele também parecia estar machucado, mas estava tão fraco para dizer alguma coisa, de repente paramos em frente a uma sala, sabia exatamente onde paramos, mas pelo que me parecia, era a enfermaria da escola e sem um ato responsável de pensar reúno minhas últimas forças e me jogo para a enfermaria, não sei o porquê fiz isso, estava me sentido seguro, mas meu corpo não estava pensando assim, e para falar a verdade eu também estava muito confuso. Caio na porta,e tudo escurece, e só ouço um grito, que provavelmente seria de Carlos:

– Não!