Demons escrita por Sarah Alves


Capítulo 2
Come In With The Rain


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente! Não me matem por ter demorado tanto para postar esse capítulo, é que eu fiquei com um pouco de medo de postá-lo e ele não estar do jeito que vocês esperavam, então demorei um século pra revisá-lo.
Um agradecimento especial para minhas DIVAS que comentaram o capítulo anterior e que me fizeram tãaao feliz: Laís Pierce (sua gateenha), Lady Anne (M-I-N-H-A!), Amélia (perfeição) e Barbara (um anjo). Eu fiquei tiquei tão maravilhada enquanto lia o comentário de vocês que quase pirei. Obrigada, obrigada, obrigada. Esse capítulo é pra vocês.
Boa Leitura e Desculpe pelos possíveis erros.



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Começou a chover de novo. Agora não posso mais sair de casa. Ótimo! Enquanto o tempo estiver ruim desse jeito, não posso ir me divertir, ao contrário, preciso ficar fazendo qualquer coisa inútil para que o tempo passe logo e eu não fique entediada.

Você só percebe quando está tendo uma vida realmente boa quando sente um pouco de tédio. Muitas pessoas estão lá fora, morrendo ou fugindo de grupos de errantes que as perseguem. Mas eu não entro nesse grupo, já que estou protegida, morando em uma cidade segura. E ainda por cima, sentindo tédio.

Ainda é cedo, pois o relógio da sala aponta para as 08:33, então ainda resta muita coisa para acontecer. Espero que essa chuva pare logo para que eu possa dar minhas aulas de tiro para os moradores de Alexandria, já que ainda estou proibida de fazer rondas desde aquele pequeno deslize que cometi quando buscávamos suprimentos. Fiquei tão distraída olhando para a destruição que aconteceu em Washington que nem percebi quando um errante se aproximou de mim. Ele me derrubou, bati com a cabeça e acabei desmaiando. Minha sorte foi que o restante do grupo chegou a tempo para me salvar, ou agora eu estaria morta e Lily não teria mais ninguém da família. Isso só mostra o quanto eu não sou essa heroína que todos pensam que eu sou.

Desde a morte do meu pai, que era considerado o líder de Alexandria, as coisas desandaram um pouco por aqui e acabei ocupando seu lugar, fui obrigada a isso. Mesmo tendo uns 16 anos de idade, as pessoas por aqui acham que, devido a minha linhagem, eu sou uma pessoa muito responsável e que tenho mais coragem do que qualquer um nessa cidade. E ainda tem o fato de que, desde a morte da nossa mãe, eu cuido de Lily tão bem que as pessoas confiam ainda mais em mim.

Como minha irmã ainda é uma bebe, deve ter quase três anos, não é tão fácil cuidar dela como todos pensam. Ela necessita de mais cuidados do que qualquer outra criança da comunidade. Além do fato de não saber cuidar de si mesma, Lily não possui pais, nunca vai ter uma infância normal e sempre precisa de algo. Nosso anjo da guarda tem o nome de Beth Greene, já que é ela que me ajuda a cuidar de Lily desde o dia que ela chegou aqui. A garota foi encontrada vagando por Washington com uma mulher, Carol, e foram trazidas para cá, onde vivem desde então, nos ajudando sempre que é preciso. Eu já a considero parte da família e pelo visto o sentimento é recíproco, já que ela não nos larga nunca. Foi um milagre que ela tenha aparecido aqui, na hora e no momento certo.

Bárbara tinha acabado de morrer quando Beth chegou, trazendo um pouco de alegria para minha vida e depois nos conquistando a cada dia que passava. Encarar mais uma morte na família, que levou o pouco de esperança que havia em mim, não foi nada fácil. Papai tinha morrido há um tempo, em frente a todos de Alexandria, por Negan, já que ele não aceitou a proposta que o homem ofereceu. Ele teve a cabeça praticamente esmagada por Lucille, um bastão de beisebol cheio de arames farpados, uma arma realmente mortífera. Meus piores e mais dolorosos pesadelos são com essa cena, que não consigo tirar da cabeça quase em nenhum momento. Já nossa mãe, morreu depois de Richard, quando houve uma invasão de errantes no Alto do Morro, onde estávamos naquele momento. Ela foi mordida tentando me proteger, então até hoje me culpo por isso, apesar de todos ficarem dizendo o contrário.

— Lauren, você sabe quando é que Erick e Aaron voltam? — pergunta Beth, me trazendo de volta a Terra.

Olho para ela e vejo que está brincando com Lily. É uma cena bonita de se presenciar, como se as duas fossem duas pessoas completamente normais.

— Heath disse que eles saíram ontem atrás de mais sobreviventes. — respondo, sentando perto delas e pegando uma boneca de pano. — É um grupo grande, então devem fazer muitas perguntas antes de trazê-los para cá.

Ela dá um suspiro e começa a construir algumas casas com blocos de montar, que é destruída por Lily rapidamente.

— De novo!

Atendendo ao pedido dela, Beth começa a reconstruir a casa, rindo da autoridade que minha irmã tem sobre as pessoas.

— Você viu a Carol? — falo, olhando para a janela. Ainda está chovendo.

— Ela saiu hoje bem cedo. — explica Beth. — Deve estar na casa de alguém, protegida da chuva. Você sabe como ela é, não aguenta ficar presa.

— Sei mesmo. — digo. Carol, assim como eu, precisa de um pouco de liberdade para viver. Eu a entendo perfeitamente. Não é fácil ficar preso em um mesmo lugar a vida toda.

— Lily já está aprendendo as coisas muito rápido. — fala Beth, que incrivelmente conseguiu construir uma casa enorme sem ser demolida pelas mãos da minha irmã.

— Sério? Que bom. Não conheço muitos bebes da idade dela, então não tem como eu saber. — explico sorrindo. Até parece que eu conheci algum bebe depois de tudo isso.

— Ela já fala algumas palavras, anda sozinha, faz o tipo de coisa que uma criança normal deveria fazer. Isso é bom.

Fico me perguntando como Beth sabe tanta coisa sobre bebes, mas aí me lembro que ela já cuidou de uma, então deve ter sido uma excelente babá. Eu gostaria tanto de saber mais sobre o antigo grupo dela, mas, assim como eu, ela sofre por causa do passado, então prefere guardar só para ela. Só as pessoas que já passaram pela dor sabem o quanto ela dói.

— É bom que ela esteja crescendo. Sabe, eu ficava imaginando que ela não conseguiria fazer nada, tendo somente uma irmã como companhia. E uma irmã maluca, por sinal. — Olho para Lily, que brinca tranquilamente. Ela é tão inocente que parece ter vindo de outro mundo, de outra época, não parece com as crianças de Alexandria, que veem o medo em tudo que olham.

— Você não é maluca, só está evoluindo. Todos os adolescentes são assim. Vocês querem liberdade, querem independência, querem que as coisas sejam do jeito que vocês acham melhor. — explica Beth, com sua voz doce. — Eu já fui uma adolescente um dia, ainda sou, e também conheci um depois do apocalipse. Você se parece com ele.

— Jura? Como ele era?

Por um momento sinto que ela não vai falar nada, como sempre faz, mas ela começa a dizer. Beth ainda parece um pouco triste, ainda mais agora, falando do passado.

— Ele era um menino. Olhos azuis, cabelos pretos, rebeldia e coragem no sangue. — Ela dá um sorriso verdadeiro, como se essa lembrança fosse boa. — Era o irmão da bebe que eu cuidava, perdeu a mãe quando ela nasceu. Ele sofreu por muito tempo até que se acostumou com a ideia de viver com uma nova pessoa, uma pessoa que fazia parte dele.

— Assim como eu. — digo com uma voz baixa, pensando alto de mais.

— Assim como você. — repete Beth.

Penso em tudo que esse garoto deve ter passado. Perder a mãe não deve ter sido nada fácil, assim como não foi para mim. E perde-la no parto da irmã? Bom, definitivamente existem histórias tristes em qualquer lugar.

— Ele morreu?

— Eu não sei. — Beth fala, enxugando uma lágrima que descia por seu rosto. — Talvez esteja vivo, o pai dele era ótimo em protege-lo e ele também não ficava atrás.

— Qual era o nome dele?

— Era...

Ouvimos a porta abrir e uma Carol completamente molhada aparece.

— Bom dia.

— Onde você estava, Carol? — pergunta Beth, se levantando e correndo para pegar uma toalha.

— Eu fui fazer uma ronda, sabe, pra procurar qualquer coisa. — explica Carol, olhando diretamente para Beth, como se compartilhassem um segredo. — A mesma coisa de sempre.

— Ah, sei. Bom, é melhor você ir tomar um banho antes que pegue um resfriado ou qualquer doença. — sugere a loira. — Você acha que essa chuva vai continuar por algum tempo?

— Pelo que eu vi, sim. O céu está bastante escuro e nem sinal do sol. Talvez fique assim até a noite, vamos esperar para ver. — explica Carol, indo em direção ao banheiro.

Beth murmura um ''ah’’ e noto que ela ficou mais triste ainda.

— Ah, Beth. Se a gente não tiver a fogueira hoje, vamos ter amanhã. Fique tranquila. — prometo a ela. — E aí você vai poder cantar pra cidade toda com essa sua maravilhosa voz.

Ela me oferece um sorriso, como sempre faz antes de começar a rir de algo que eu disse. Às vezes ela diz que eu sou a única pessoa que a faz rir por aqui, ninguém mais consegue, a não ser, talvez, Lily.

— Você também não é nada mal, Lauren.

— Eu odeio a chuva. — admito, tentando achar algum assunto.

— Por quê?

— Porque minha mãe amava a chuva e toda vez que ela aparece eu me lembro disso. — Olho para os meus próprios pés, como faço quando estou nervosa.

— Você fala de um jeito tão normal. — Beth diz. Mas antes que eu responda, ela continua. — Às vezes eu queria ser como você, sabe. Eu queria já ter aceitado tudo que aconteceu comigo e seguir minha vida, tentando esquecer.

— Não é uma questão de esquecer, Greene. Já se passou muito tempo desde que perdi minha família e eu acho que comecei a aceitar isso, só isso. Não devemos esquecer de nada que nos aconteceu, isso nos faz ser fortes.

— Eu queria que você me contasse algum dia como foi, sabe, perde-los.

— Eu também queria que você me contasse. Por mais que seja difícil, é bom desabafar às vezes. — digo, me encaminhando para a janela.

— Ainda não estou preparada.

— Bom, então acho que só vou contar quando você estiver preparada. — falo, puxando a cortina e vendo que a chuva ainda continua.

— Tudo bem então. — ela sorri. — Eu vou para o meu quarto ler, você pode ficar olhando a Lily enquanto isso? Quando quiser é só traze-la pra lá.

— Pode deixar, irmãzinha. — respondo. Beth sorri mais uma vez e deixa a sala, para alimentar sua cultura, como ela diz.

Tiro os olhos da janela e foco em Lily. Ela brinca tranquilamente com seus brinquedos, desligada de tudo. Olhando-a assim, penso nas pessoas que dariam tudo para ter a vida que nós temos aqui. Casa, comida, segurança e amor são um privilegio que poucas pessoas têm nesse novo mundo. Às vezes essas pessoas tem vontade de desistir, de parar de lutar, porque não há mais nenhum sentido para continuar vivendo. Já eu, eu não tenho esse tipo de pensamento e acho que nunca tive, nem nos piores momentos. Eu tenho a minha irmã, tenho Beth, tenho meus amigos de Alexandria e de outras comunidades, tenho pessoas que alimentam minha esperança todos os dias e pessoas que não me deixam desistir. Quem dera se todos os sobreviventes que estão lá fora tivessem essa mesma ideia na cabeça.

Penso também no grupo grande que Aaron e Erick encontraram. Tomara que eles sejam pessoas boas e que venham morar em nosso refúgio. Nunca passei por essa realidade que eles e milhões de pessoas devem estar sofrendo, de ficar sozinhos e tentarem sobreviver a todo custo. Deve ser bem difícil nunca ter a confirmação de que vão ficar seguros e vivos, ter seus destinos incertos. Espero que eles consigam chegar até aqui e, quem sabe, ganharem um novo lar, uma nova família.


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Notas finais do capítulo

Esse capítulo foi inspirado na música Come In With The Rain (Taylor Swift) e eu a escolhi porque combinava com a história do capítulo. Lauren, mesmo não acreditando muito, está esperando que algo de bom aconteça com ela e essa coisa boa (ou não) está vindo com a chuva :)
Obrigada a todos que comentaram o capítulo anterior e espero que vocês comentem esse também haha (mendiga). No próximo vamos ter O ENCONTRO!
Beijos e até o próximo.
—S