— Mamãe, tem alguma coisa errada lá fora. — digo, olhando pela janela. Pessoas caminhavam lentamente pela rua extremamente calma, como nunca tinha sido antes. Algumas delas tinham partes do corpo faltando, estavam cobertas de sangue e pareciam mortas.

— Saia da janela, Lauren. Feche essa cortina e fique longe daí, por favor. — responde mamãe, ela estava tão nervosa que nem parecia a mesma pessoa.

Não consegui perceber de imediato, mas ela estava chorando, não emitia nenhum som, somente as lágrimas rolavam por seu rosto. Ela caminhava rapidamente pela casa, colocando várias coisas em caixas e mochilas. Mamãe abriu o compartilhamento secreto, onde meu pai guardava suas armas de policial, pegou tudo que havia lá dentro e depois as jogou dentro de outra bolsa.

— Enquanto seu pai não chega, vai lá encima e pegue tudo que você quiser levar, meu amor. Fotos, roupas, sapatos, bonecas, tudo. — ela informa, voltando a ser a Bárbara Wayne de sempre: calma e paciente. — Mas, por favor, não abra nenhuma janela e nem não faça barulho.

Subi as escadas correndo, ainda não entendia bem o que estava acontecendo. Nos últimos dias, os noticiários informavam que um vírus tinha se espalhado por alguns estados do país, mas que tudo já estava sendo resolvido. Ontem, a televisão parou de funcionar e papai recebeu uma ligação do trabalho, dizendo que ele precisaria ir urgente para o centro da cidade ajudar algumas pessoas a irem para abrigos localizados em diversas regiões da cidade. Me lembro de ouvir minha mãe pedir para que ele ficasse, mas nada adiantou, ele alegou que precisava ajudar as pessoas a ficarem seguras e que voltaria logo.

Ao chegar a meu quarto, tive uma sensação estranha, como se não voltaria a vê-lo durante um longo tempo. Tive uma enorme vontade de abrir a janela e espiar, mas mamãe havia implorado para que eu não fizesse isso em momento algum, então comecei a guardar minhas coisas nas malas.

Pego as roupas mais confortáveis que acho, dispensando minhas preferidas, algumas botas e tênis, as caixas lotadas com fotos da família e a amigos, alguns brinquedos, e coloco tudo dentro das mochilas e malas. Enquanto guardo as fotos, duas delas se soltam de um álbum e caem no chão.

Quando me abaixo para pegá-las, percebo que eram do natal passado. Duas crianças brigavam por uma caixa de presente que estava embaixo do pinheiro, pareciam prestes a rolarem pelo chão de tão furiosas. Ao fundo, mamãe, papai, nosso amigo Rick e a esposa Lori davam gargalhadas ao ver a cena. Reconheci o garoto quase que imediatamente. Sempre quando olho aquela foto, me dá uma vontade de rasga-la, mas não daquela vez, senti uma sensação de que devia guardá-la como um verdadeiro tesouro. Já estava me agachando novamente para pegar a outra foto quando ouço a porta da sala se abrindo e mamãe gritando para que eu descesse logo. Deixei uma das fotos caída no chão, com a promessa de que voltaria para pegá-la, e desci as escadas em uma velocidade incrível, com as malas fazendo um enorme barulho ao bater nos degraus.

Vejo papai ajudando minha mãe a guardar as coisas e me livro de um peso enorme. Ele está vivo, está bem e havia voltado para nós. Ele me lança um sorriso, mostrando-me que também estava feliz por estar de volta. O telefone toca e atendo rapidamente, já que ninguém precisava de mais barulho para não atrair o que quer que seja.

— Alô?

— Oi. Lau? — escuto uma voz feminina e conhecida do outro lado da linha, estava assustada e ofegante.

— Tia Lori? — pergunto. — É você?

— Sim, sim. Sou eu. Meu amor, você poderia chamar seu pai? Preciso falar com um deles o mais rápido possível. — disse ela rapidamente, como se estivesse mesmo com pressa.

Papai, que já estava posicionado ao lado do telefone ouvindo tudo, começou a falar com Lori.

— Alô, Lori? Aqui é o Richard. Vocês estão bem? Onde está o Rick? — ele pergunta, seu nervosismo é aparente.

Não consegui distinguir nada que tia Lori falava, mas algo deixou meu pai mais preocupado ainda. Ele falava rápido e dava instruções para ela e... Shane?! Disse-lhes que estávamos indo para uma cidade quase na saída de Washington e que eles tinham que ir para um local seguro logo, que o vírus tinha se espalhado. Fiquei um pouco sem chão ao perceber que meu pai não mencionou tio Rick em nenhum outro momento, mas voltei ao mundo real quando ele disse que alguém queria falar comigo.

— Lauren?

— É, sou eu. Quem...

— Aqui é o Carl. — informou ele, o mesmo garoto que me perturba durante anos.

— Carl? Onde está o seu pai? Pra onde vocês vão? — Joguei todas as perguntas para fora, querendo saber tudo. Não me importava se Carl as vezes era o garoto mais irritante do universo, naquele momento eu me preocupava com ele, por incrível que pareça.

— Meu pai está em coma, a gente não tem nenhuma notícia dele. Shane vai nos levar para um acampamento perto de Atlanta, parece que lá é mais seguro. E pra onde vocês vão? — pergunta Carl, parecia estar chorando enquanto contava sobre o pai.

— Nós vamos para um abrigo aqui perto, parece que lá é mais seguro do que aqui. — falo.

— Lau, eu e o papai vamos te encontrar. Nós vamos ficar bem. Eu prometo. — Carl promete, desligando o telefone.

Ouvimos várias batidas na porta e papai pega uma de suas armas.

— Precisamos ir agora. — diz ele.

— Mas, e o Carl? E a tia Lori? Eles vão ficar bem, papai? — pergunto.

— Vão sim, Lauren. Eles vão ficar, eu espero.

E, dizendo isso, saímos de casa. Não sei para onde vamos, não sei qual será nosso destino, não sei se vamos sobreviver. A única coisa que tento me concentrar em acreditar é que vamos ficar bem, que vamos ficar vivos e que Carl vai cumprir sua promessa e nos encontrar.