POV Katrina

Ainda me lembro do som do choro das selecionadas. Mas também me lembro da bela manhã que tive antes disso. Bem...bela dentro do possível.

Eu e meu irmão nos dividimos, ele foi para o sofá da esquerda e eu ao da direita. Estava suando frio, afinal eu nunca falei com tantos meninos de uma única vez. Respirei fundo e finalmente me sentei no sofá. Molly sorriu para mim e foi até o primeiro garoto, chamando-o e conduzindo-o até mim. Quando se aproximou, ele sorriu e me reverenciou. Sorri de volta e apontei a poltrona em frente ao meu sofá. Logo após se sentar ele começou a falar.

– Ah, é tão bom finalmente poder falar com Vossa Alteza! – disse ele suspirando.

– Hã...por qual motivo? – perguntei curiosa.

– Por conta dos selecionados, claro! Se você tivesse visto...

– Visto o que?

– A briga. Dois deles brigaram ontem.

– Por quê?

– Por você, claro!

– Mas...a Seleção mal começou...sem falar que brigar não ajudará em nada, a escolha é minha.

– E acha que eles ouviram?

– E o que você fez durante a briga...Rupert? – disse após ler seu crachá.

– Fiquei observando. Pouco me importa se eles iam se machucar. – disse ele dando de ombros.

– E você sabe o nome dos selecionados?

– Acho que eram...Brandon e Ian.

– Obrigado por seu tempo. – disse. Ele sorriu e retirou-se. Eu não gostei dele. Ele veio falar comigo apenas para fofocar, isso não era educado. E o verdadeiro objetivo da conversa não foi cumprido, então eu já havia decidido.

Alguns selecionados passaram. Eu ria cada vez mais com suas histórias, uma mais engraçada que a outra. Não ouvi nem mais uma única palavra sobre a tal briga, então comecei a deduzir que ela nunca acontecera e que aquele rapaz apenas havia inventado aquela história. Não demorou muito até que um dos participantes da suposta briga veio falar comigo. Brandon Zone. Ele possuía um cabelo castanho que o fazia parecer fofo, era alto, magro e forte, mas tinha bochechas rosadas que me fez ter vontade de apertá-las. Reparei que ele não usava o mesmo tipo de roupa que os outros, trajava uma blusa com mangas um pouco mais curtas e uma calça larga. Assim que ele sentou, notei que havia um hematoma arroxeado um pouco abaixo de seu pulso. Logo me exaltei.

– O que houve com você? – perguntei apontado para o hematoma.

– Ah, isso? Eu...bati na porta. – E naquele momento ele havia entregado que a briga realmente acontecera.

– Certo, você bateu na porta com quem? – perguntei debochadamente.

– Como?

– Me contaram que você se meteu em uma briga com outro selecionado ontem.

– Quem contou? – ele pareceu mais sombrio falando.

– Isso eu não vou revelar, mas pode acreditar que essa pessoa já está eliminada. Agora quero que me conte. Por que vocês brigaram? – ele pareceu um pouco desconfortável e relutante mas logo abriu-se.

– Bem...brigamos por você. Ian, o cara com quem briguei, disse que a Seleção já estava vencida por ele. Eu me enfureci, porque ele não pode falar algo assim perto de nós e ainda mais sabendo que a decisão é sua. Apenas perdi a cabeça. – notei uma verdadeira dor por dentro de sua palavras e agora eu reconhecia. Ele gostava de mim. Assim como Harry.

– Querido, essa sua perda de cabeça lhe gerou hematomas. Foi uma briga em vão. – disse tocando a mão dele.

– Agora eu sei. Bem, não estamos aqui para falar, hã...de mim? – ele me perguntou um pouco divertido.

– Claro, e quero que comece.

Ele me contou que a mãe morreu quando ele era muito pequeno, deixando ele, o pai e uma bebezinha, sua irmã Bettany. O pai é jornalista e sempre fez o máximo para suprir o lugar da mãe. Me surpreendi com a simplicidade de suas palavras ao contar sua história. Agradeci e logo veio outro. Conversei com vários, como sempre, alguns me fizeram rir, outros me emocionar e outros me irritavam. Cheguei a conversar com Ian. Não comentei nada sobre a briga, mas ele me pareceu alguém bem apessoado e parecido comigo. Quase no fim, o meu coração retumbou como a tempos não fazia. Um loiro veio andando em minha direção de cabeça baixa. Ele me cumprimentou com um “bom dia” bem baixinho e se sentou. Notei suas bochechas vermelhas de timidez e logo corei também. Ele ergueu o olhar e me lançou um sorriso.

– Por que Vossa Alteza está corada?

– Porque você está. E por que você está corado? – o sorriso sumiu de seu rosto e ele ficou mais vermelho, se é que isso é possível.

– Bem...eu...eu...

– Você...?

– Desde que fui escolhido passo o tempo todo pensando em você. Meus irmãos me chamavam de louco por me apaixonar por alguém que não conheço e que provavelmente vai me dar um pé na bunda o mais rápido possível, mas eu não ligo. – disse tudo de uma vez só.

– Uau. Eu...isso é impressionante. – notei que ele começou a tentar se esconder então decidi mudar de assunto. – Mas...quer dizer que você tem irmãos?

– Três, Alteza. Dois mais novos e um mais velho. Meus pais são técnicos em informática, mas ganham um bom salário.

– E você? Trabalha?

– Sou modelo. – disse ele, simplesmente.

– E gosta?

– Bem...no início eu entrei no ramo apenas porque precisávamos de dinheiro na época, mas não precisamos mais. Agora eu gosto, e até criei certo apresso por fotografia. Sempre pego a máquina fotográfica antiga de meu pai e tiro algumas fotos de casa. – disse ele com um sorriso no canto da boca.

– Interessante. – disse com um sorriso na boca. Eu realmente me interessei por sua história. – Obrigado por seu tempo.

– Obrigado a senhorita, Vossa Alteza. – ele beijou minha mão e senti que corei violentamente. Notei que ele também, mas logo se virou e se afastou.

Demorou um pouco, mas finalmente veio o último. Madison. Ele andava normalmente e beijou minha mão ao me cumprimentar. Corei um pouco e o pedi para sentar-se.

– Como está o dia de Vossa Alteza?

– Agradável na maior parte do tempo. E o seu?

– Só me senti confortável agora. Pois bem, o que quer saber?

– Eu sei sobre sua família, então me resta coisas mais ocultas, como...sua cor favorita. – ele desatou a rir junto comigo.

– Bem, minha cor favorita é azul. Eu gosto de pintar quadros e de ouvir música. De ouvir mas não de tocar. Princesa, eu sou uma pessoa completamente desinteressante ao meu ver.

– Então por que se inscreveu na Seleção meu senhor? – disse com humor.

– Madison. – corrigiu-me. – E caso você não saiba, meus pais me controlam.

– Acho que já ouvi o suficiente por um dia só.

– Claro, já vou partindo. – ele se levantou e antes de chegar a sua cadeira virou-se para mim. – Te vejo no café da manhã. – convencido.

Notei que meu irmão já havia terminado, então nos juntamos e ficamos a beira da mesa. Falamos algumas palavras e ele disse os nomes que desejaria expulsar, mas claro que as meninas não sabiam. Então foi minha vez.

– Peço que os tais permaneçam: Rupert Flins, Adan Kenel, Jake Lecker, Larry Mey, Yule Harry, Oliver Saeger, Aron Belt, Uzair Ron, Carl Bake e Joshua Ming. Os demais podem se retirar para a sala ao lado. – após minha fala todos os outros que eu não havia pronunciado se levantaram e saíram.

– Pois bem. Senhores e senhoras. Estão aqui porque...não sentimos nada por vocês. – disse Ethan.

– Com essa pequena conversa, notamos que não possuíamos qualquer interesse em vocês. – disse.

– E por isso, vocês estão fora da Seleção. – completou Ethan.

Os rapazes ficaram todos com faces enfurecidas enquanto as meninas começaram a chorar. Nos retiramos rapidamente dali antes que alguma coisa pior acontecesse. Ao chegarmos na outra sala, onde o resto dos selecionados e nossa família estavam, todos olharam para nós. Minha mãe olhou com piedade para mim e lancei-lhe um sorriso. Respirei firme e comecei a falar.

– Parabéns a todos vocês. Vocês passaram por uma fase da Seleção, não foram mandados embora no primeiro dia.

– Agora, desfrutem de seu café da manhã. – disse Ethan. Todos assentiram e começaram a comer.

Parecia que já passaram várias horas, mas estávamos apenas na primeira parte da manhã. Este seria um longo dia.