Anna Prior - Em Busca de um Passado Esquecido escrita por Isa Medeiros


Capítulo 8
Capítulo 7 - O antigo com a mão esquerda e o novo com a direita


Notas iniciais do capítulo

Então gente, a pedido de vocês (e de mim) o dia das postagens mudou, agora vai ser todo o SÁBADO!!!!!!
Muuuuito Obrigada para quem comentou no último capítulo, esse cap é dedicado todinho a vocês, que estão acompanhando a fic!!!! (como todos os outros né)
Espero que gostem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/558586/chapter/8

Puxei um travesseiro até o meu colo enquanto sentava de pernas cruzadas sobre a cama de FZ. Observei a capa azul que cobria o travesseiro, se ela fosse rosa isso pareceria mesmo uma festinha do pijama. Ri internamente com a ideia.

FZ se virou para mim depois de bater a porta atrás de si. Ele mostrou a língua ao me ver sentada na cama, que era, obviamente o lugar mais macio para se sentar. Eu ri e mostrei a minha, como quem diz “eu não me importo se a cama é sua, afinal, aqui eu já sou de casa, né?”. FZ riu e teve que se contentar com a cadeira do computador.

Olhei para a porta fechada. Se o ‘trabalho’ fosse lá em casa meu pai já estaria aos berros me mandando abrir a porta. Nem em um mundo apocalíptico eu ficaria sozinha com um garoto no meu quarto e com a porta fechada, sendo ele FZ ou não.

Nossa sorte era que Shauna e Zeke eram mais liberais do que Tobias. Eles nos deixaram fechar a porta e ficaram assistindo um filme. Antes disso, Zeke nos informou que “Se algo acontecer pode deixar que eu não falo na pro seu pai Anna, afinal, quero o meu filho vivo semana que vem” e completou a fala irônica rindo e com uma piscadela maliciosa. Shauna o repreendeu com o olhar e especificou que nós éramos só crianças. Juro que eu parecia um pimentão enquanto FZ murmurava algo do tipo “eu mereço” e me puxava para o quarto o mais rápido possível.

O pior de tudo é que, depois disso, eu fiquei filosofando sobre o assunto enquanto uma pontinha de racionalidade me repreendia por isso. Se algo realmente acontecesse, na mais hipotética das possibilidades, afinal, amigos não se agarram, Zeke contaria sim para Tobias. Eles eram amigos desde sempre. Mas claro que o pai de FZ exageraria em todos os aspectos, dizendo algo como “Tobias se prepare pra ser avô, vi meu filho agarrando a sua!”. Como se eu fosse “abrir as pernas” tão cedo...

Balancei a cabeça, libertando-me daquelas especulações constrangedoras. Tossi de leve, colocando a parte interna do cotovelo perto da boca, com a maior cara de princesinha. Abaixei-me para pegar a minha mochila com as pesquisas. Eu havia a deixado encostada na cômoda e ela já deslizara para baixo da cama. Puxei-a até o meu colo e fui abrindo o zíper.

– Olha aqui o mapa – eu disse baixinho, tirando a folha da mochila, estiquei o braço para que ele a pegasse. FZ já estava com o notebook aberto e em cima do colo, ele girou a cadeira de rodinhas até ficar de frente pra mim, então esticou seus pés descalços e os colocou em cima da cama. Eu estupidamente notei como seus cabelos negros e bagunçados pareciam brilhar peculiarmente sob a luz da lua que entrava pela janela aberta.

– Hum rum – ele murmurou, pegando o mapa das minhas mãos sem nem me olhar, hipnotizado por o que quer que estivesse aparecendo na tela do computador. Senti uma pontinha de decepção pelo seu descaso, por que ele estava me ignorando? Mordi o lábio inferior, jogando o travesseiro para trás. Ajeitei-me modo que eu ficasse ajoelhada, sentada sobre as minhas próprias panturrilhas antes de perceber que FZ voltara seus olhos para mim novamente, talvez para as minhas pernas. Senti meu rosto esquentar.

– Eu estou tentando encontrar algum site ou arquivo publicado que fale sobre o assunto – FZ apontou para o computador e imediatamente virou a tela para mim, me indicando um site de pesquisas com uma escassez enorme de links. Apenas alguns salteavam pela tela, como se fossem os últimos seres de sua espécie. – Isso é tipo, um segredo de estado! – ele exclamou por fim, claramente decepcionado. Dei de ombros arqueando as sobrancelhas, não havia nada que eu pudesse fazer.

– As anotações da minha vó...se você quiser ver – eu disse de vagar. Puxei as folhas dobradas de dentro da mochila e as estendi para ele. FZ puxou-as com uma delicadeza exagerada, quase teatral. Revirei os olhos. – Bom, em todo o caso, eu acho que não ficam postando coisas assim na internet – completei baixando os olhos.

Voltei a sentar com as pernas cruzadas enquanto eu observava FZ lendo sobre o departamento. Suas reações não foram muito diferentes das minhas, ele também olhou todas as folhas entes de começar a lê-las e estremeceu na última, mesmo se esforçando para esconder isso.

Por fim FZ fixou seus olhos castanhos na primeira folha, uma ruguinha surgiu em sua testa enquanto ele lia e, a julgar pelo tempo que demorou, deve ter lido tudo duas vezes. Depois disso FZ virou par a segunda página, pegou o meu mapa na mão e colocou ao lado do mapa antigo. Pela sua expressão descontentada e levemente ranzinza pude imaginar que eles não eram iguais.

– Me deixa ver – eu disse por fim, quando FZ pareceu acabar o que quer que estivesse fazendo com as folhas.

– Olha, eu acho que os mapas não batem – ele estendeu as folhas para mim. Eu as peguei estupidamente notando como a mão de FZ estava quente. Balancei a cabeça me ajoelhando de novo e equilibrando as folhas em cima dos joelhos. Ajeitei meu cabelo loiro, que estava meio rebelde aquela noite, todo só para um lado. Não por que eu achava mais bonito e sim porque ele não parava de cair nos meus olhos.

Coloquei um mapa ao lado do outro. Com o meu dedo indicador comecei a seguir os dois caminhos ao mesmo tempo, o antigo com a mão esquerda e o novo com a direita. Eles realmente não eram iguais. Virei-me para FZ, ele estava com uma expressão do tipo “O que nós vamos fazer?”.

– Seguir o mais atual – respondi a pergunta em seus olhos com uma determinação extraordinária. Eu puxei de novo a minha mochila e tirei de lá um caderno com uma caneta, traduzindo, eu a as minhas listas. O abri na última página enquanto FZ me olhava com um sorriso torto característico dele.

– Vai fazer uma lista? – ele me perguntou como se aquilo já não fosse óbvio. Segurei a caneta azul firmemente na mão direita e anotei bem no meio da primeira linha da folha branca “Viagem: Departamento”. Aproveitei e espiei o relógio, eram nove e trinta e sete, meu horário limite era as onze.

– Claro que sim – respondi por fim, erguendo os olhos. Mordi a caneta pensando em como continuar. “Rota: Usar mapa atual” escrevi depois de um asterisco, resistindo a vontade de completar com “anexado”, como se aquilo fosse um trabalho de escola. Olhei de novo para o mapa e percebi um detalhe que eu não tinha notado antes. Bem no cantinho da folha, quantos quilômetros era a distância entre aqui e o Departamento. Assustei-me, afinal não era tão perto assim. – Ei, como pretendemos chegar lá, a pé? – perguntei, decepcionada pelo impasse.

FZ franziu as sobrancelhas. Aparentemente ele também não havia se dado conta desse detalhe. – Hum...tele transporte? – brincou. Soltei uma risadinha forçada só pra contentar mesmo. Fiz outro asterisco no início de uma linha e escrevi “Meio de Transporte:”. Olhei para FZ a fim de que ele me dissesse o que escrever depois dos dois pontos – O trem não da...Nem os ônibus...então...

– As camionetes da amizade – dissemos quase em uníssono, admito, um pouco alto de mais. Tapei a minha boca com a mão, mas qualquer um podia ver o sorriso que se formava por trás dela. Encostei a ponta da caneta no papel no instante em que cheguei a outro impasse. Senti meus ombros penderem com a decepção.

– Você por algum acaso sabe dirigir uma camionete? Ou melhor: roubar uma camionete? – expus o nosso problema enquanto via a compreensão atingindo FZ. Surgiu uma ruguinha um sua testa, ele provavelmente estava pensando em uma possível solução. Revirei os olhos, aquela ideia era maluca mesmo. Por fim, dei mais uma olhada no relógio, nove e cinquenta e três.

– Olha, eu sei de alguém... – FZ começou, ascendendo uma chaminha de esperança dentro de mim, como se ele tivesse acabado de riscar um fósforo. Senti um sorriso se abrir em meu rosto antes mesmo que FZ completasse – Tem uma garota, ela é um pouco mais velha que nós. Não tem idade pra dirigir, mas talvez saiba.

– Como é o nome dela? Você liga? – perguntei um pouco ansiosa de mais. Eu estava com toda a energia, praticamente quicando. Puxei uma mecha de cabelo e comecei a trança-la com dedos ágeis.

– Kelly, ela é filha da Joanna, antiga líder da amizade, por isso eu acho que sabe dirigir. E pode deixar que eu ligo. – FZ respondeu abrindo um sorriso bobo. Ele parecia estar tão ansioso quanto eu.

– Legal – respondi com uma animação quase infantil. Anotei “Camionetes da amizade” depois dos dois pontos e, logo após entre parênteses, “Kelly dirige”. Fiquei pensando como FZ a conhecia, mas deixei de lado. – Que desculpa vamos dar para as pessoas, ou vamos fugir mesmo? – perguntei com uma indiferença forçada. Minha alegria claramente expressada, um pouco mistura ao medo, era quase infantil. Eu tentei sorrir enquanto desfazia a trancinha na lateral do meu cabelo e o penteava com os dedos.

Olhei para frente de novo, mas dessa vez com mais atenção. Não exatamente para FZ, mas um pouco mais para o lado, para a porta. Observei a maçaneta nos mínimos detalhes. Ela estava sendo forçada para baixo, levei um susto, alguém estava a mexendo nela do lado de fora.

Meu coração foi a cem por hora, será que Zeke e Shauna haviam nos ouvido? Não tomamos os devidos cuidados? Praticamente pulei da cama com a respiração pesada e as mãos trêmulas. FZ olhou para mim com cara que em não estava entendendo. Eu coloquei o dedo indicador sobre os lábios, em sinal de silêncio, ele obedeceu.

Fui andando trêmula até a porta. Agora eu podia ouvir o murmurinho de alguém tentando abri-la pelo lado de fora. Minhas palmas estavam suando quando eu toquei na estrutura de metal.

Quem estava lá fora consegui abrir a porta antes, e se eu não tivesse me desviado como eu desviei provavelmente estaria com o nariz roxo em consequência de uma portada. A figura que entrou no quarto era pequena, porém determinada. As caras de espanto de minha de FZ deviam ser bem engraçadas, pois a menininha abriu um sorriso debochado assim que nos viu, provavelmente para conter o riso.

Ela até que era alta para uma criança de nove anos. Usava uma camisolinha azul celeste que lhe caia até abaixo dos joelhos, dando a ela um tom angelical que destoava de seu rosto travesso. Seus cabelos negros inconfundivelmente parecidos com o do irmão caiam em cascatas bagunçadas por entre seus ombros finos.

Era Julia, a irmã de FZ. Ela nos fitou com aqueles olhos verdes e curiosos. Então abriu um sorriso triunfante, dizendo com uma voz aguda e tinhosa, quase angelical:

– Vocês vão fugir pra onde?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam?????
Sem querer dar spoiler, mas o capítulo 8, que será postado dia 20/12, é um dos meus favoritos!!!!!
Querem um trechinho?
"Então, o que eu posso dizer é que foi especial de certa forma. Especialmente molhado e esquisito. E talvez com uma pessoa especial. Que ficaria especialmente guardada em um lugar especial do meu coração pequeno e maluco."
Fiquem na expectativa...
E comentem!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Anna Prior - Em Busca de um Passado Esquecido" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.