Anna Prior - Em Busca de um Passado Esquecido escrita por Isa Medeiros


Capítulo 7
Capítulo 6 - “Boa Sorte”


Notas iniciais do capítulo

Oieeeeeee!!!!
Sabe o que eu tava pensando? E se tipo, agente mudasse o dia das postagens? É que segunda é um dia meio :P
Então, vocês achariam melhor? Se sim, qual dia?
Enfim, espero que gostem do cap



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Olhei para o relógio da minha cômoda pela milésima vez naquela noite. O visor retangular exibia o horário em números verdes, meia noite e oito. Escutei com atenção mais uma vez, Tobias já havia ido dormir, e eu torcia para que ele não tivesse insônia, a curiosidade estava me corroendo desde que eu saíra da casa de Evelyn.

Antes que eu pudesse cochilar mais uma vez tratei de ler aquilo logo. Tateei em baixo do meu travesseiro até puxar aquelas folhas de caderno que ela me dera, eu havia as dobrado e escondido ali. Abri a gaveta do armário do lado da minha cama procurando fazer o mínimo de barulho o possível enquanto colocava a mão para dentro dela até alcançar uma lanterna vermelha.

Puxei o meu lençol até em cima da cabeça e deitei de bruços, apoiando o braço para que as cobertas não caíssem, como naquelas estúpidas cabaninhas de criança. Apertei um botão na lateral da lanterna e uma luz forte me cegou instantaneamente. Como eu fora burra a ponto de liga-la com a luz apontada na direção do meu rosto? Desviei a lanterna rapidamente e cocei os olhos de vagar.

Por fim, me ajeitei em uma posição confortável e desdobrei as folhas. Só então percebi que as minhas mãos estavam levemente trêmulas, mas mantive-me firme enquanto a ansiedade me dominava por completo.

Segurei a lanterna com a mão direita e os papéis com a esquerda, não era mais de meia página escrita com uma caligrafia legível que eu presumia ser da minha avó. Na segunda página, havia um pequeno mapa antigo rabiscado, eu teria que procurar um novo. E, na terceira, algumas palavras que me fizeram tremer da cabeça aos pés. “Boa Sorte” estava escrito com letras palito, bem no centro da folha. Será que eu iria precisar?

Pisquei mais algumas vezes antes de começar a ler.

Departamento.

Quem quer que esteja lendo isso preste muita atenção, só dei isso a você por que precisava. O departamento é desconhecido pela maioria das pessoas, pois temos um tipo de tratado de paz, nós vivemos aqui e eles lá. Eu inclusive vivi dois anos no Departamento, mas não vou detalhar.

Aproximadamente á vinte anos atrás, toda a Chicago era um grande experimento, as facções. Para conseguirem GPs, que vem da divergência, mas isso é outro assunto”

Arregalei os olhos ‘Divergência’, era uma palavra aparecendo com muita frequência nos últimos tempos. Senti minhas palmas suando, mas continuei.

“Depois que as facções caíram, um grupo de leiais ao sistema decidiu ir para fora da cerca nunca antes atravessada. Lá eles encontraram o departamento, descobriram que todo o sistema era só um experimento, que havia tido mais sucesso do que os outros, mas estava dando errado. Todos lá dentro eram cientistas, planejando jogar o soro da memória, que faria todos se esquecerem de seu passado, no ar de Chicago”

Coloque a mão para fora das cobertas e tateei até puxar uma caneta e um bloquinho de cima da cômoda. Passei a lanterna para a mão esquerda e equilibrei o bloco de notas no travesseiro rabiscando “Soro da Memória” como uma das palavras chaves. Eu tinha mania de fazer resumo assim, por palavras chaves. Passando a língua pelos dentes decidi que “Divergente” também teria alguma importância, adicionei-a a lista.

“Houve então um grupo de jovens, do ‘experimento’ que lutou contra essa tirania. Eles conseguiram soltar o soro não em Chicago, mas no departamento. Uma das únicas pessoas que se vacinou contra o soro foi uma moça chamada Juanita, além dos jovens, é claro”

Anotei rapidamente “Juanita, ‘sobrevivente’ ”. Acho que algo como Nita, seria um apelido bem melhor, mas eu deixei de lado.

“Todas as pessoas que antes viviam no departamento foram, algo como reformuladas. Alguns dos grandes ‘tesouros’ em arquivos lá guardados, pelo menos para os Prior, são, além dos formulários de estudo, os que falam sobre Edith Pior e o diário de Natália Pior. A instituição nos dias de hoje continua sendo habitada por pessoas e utilizada para estudos científicos, isso além de guardar preciosos segredos”

Minhas mãos se moveram no inconsciente anotando algo como “Edith Prior” e “Natália Prior, diário”. Eu ainda estava meio confusa quanto a tudo, mas aquelas últimas palavras mexeram com a minha compreensão das coisas. E eu tinha uma nítida impressão que, o que quer que viesse depois, mexeria muito mais.

***

Olhei mais uma vez para os lados para garantir que ninguém estava me observando. Como se alguém tão interessado quanto uma menina meio gótica colando chiclete em baixo da cadeira, um supervisor com sono e mais um grupo de alunos fazendo um trabalho qualquer, o que totalizava a ‘população’ espremida naquela sala sufocante de computadores, fosse prestar alguma atenção em mim. Revirei os olhos e soltei mais um suspiro, podia sentir meu coração martelando dentro do peito.

Tomando coragem, virei para a tela branca do computador e abri um programa de mapas que estava na minha pen drive. Digamos que eu estava um pouco receosa porque bem... Ele era meio ilegal, só meio.

Respirei fundo e digitei “Antiga Sede da Amizade” como “ponto de partida”. Meus dedos ainda estavam meio trêmulos, mas cliquei no campo “ponto de chegada” e escrevi “Departamento”. O monitor exibiu uma mensagem em letras azuis dizendo para esperar cinco minutos.

Meus nervos estavam à flor da pele. Eu havia conseguido aquele programa há um tempo, quando eu ainda fazia aula de informática. A minha professora notou que eu era muito curiosa quanto a mapas, principalmente até a sede da audácia. Um dia, depois da aula, ela me pediu pra ficar mais um pouco e me passou o programa em uma pen drive. Antes daquele dia, eu só tinha usado o programa para um mapa da minha casa até o telhado da audácia, afinal, nunca fora muito boa com senso de direção.

Eu olhei em volta mais uma vez, nervosa. A minha aula já havia acabado e eu não tinha um desculpa aparente pra ficar ali. Comecei a batucar a mão na coxa. Mais dois minutos.

Mordi o lábio e olhei para os lados. O monitor continuava sem vontade, o grupo de alunos aparentemente já havia acabado o trabalho e a menina meio gótica continuava ali. Tentei me acalmar, ninguém prestando atenção e mim. Mais um minuto.

Continuei batucando na perna. Depois que o mapa ficasse pronto, eu iria imprimi-lo, isso é o que me dava medo, o monitor poderia ser curioso e ver o que eu estava fazendo, ou não. De toda a forma, ferrada ou não, eu tinha que contar para FZ. Sim, era sobre a minha mãe, mas eu não podia deixa-lo fora dessa.

Virei meu olhar para o computador. Um mapa saltava da tela branca. Ela era simples, com linhas finas, pretas, que indicavam as estradas, grandes quadrados mostrando as duas áreas e os portões, por fim uma linha vermelha indicando o caminho a ser percorrido.

Antes que eu perdesse a coragem cliquei no botão “mapear impressora” e, depois que o código da impressora da escola apareceu na tela, sobre o botão “imprimir”. Um zunido preencheu a sala, me levantei correndo até chegar à frente da máquina que cuspia uma folha, meu mapa.

O monitor nem pareceu notar a minha presença e fez um sinal com a mão para que eu levasse a folha, sem seguir o protocolo da escola. Dei de ombros. Eu podia sentir o alívio tomando conta de mim enquanto meu coração, antes descompassado, voltava a bater normalmente.

Eu finalmente tinha um mapa. Que me levaria até o passado de minha mãe. Isto é, se eu tivesse coragem de segui-lo.

***

– Ei – eu disse, colocando a mão no ombro de FZ – Me espera, e escuta – completei. Havíamos saído da aula não faziam nem cinco minutos e ele já estava fora dos portões. Eu não fazia isso com muita frequência, mas tive que para-lo. FZ precisava saber sobre o departamento.

– Ei, fala – ele respondeu imitando o meu tom decidido e se virando para mim. Cruzei os braços sobre o peito e o puxei até um canto, havia muita gente ali no meio. Poucos segundos depois, mudei de ideia e sai ali do ‘cantinho’, já podia sentir os olharem maliciosos sobre nós.

– Se... Eu te sugerisse uma ideia meio muito maluca, você toparia? – comecei de vagar. Não sabia outro jeito de chamar aquilo, se não ‘maluquice’. Mordi o lábio inferior suavemente esperando a sua resposta.

– Anna...- FZ franziu as sobrancelhas. Precisei de um segundo para me tocar no que ele estava pensando. Tossi, não era nada daquilo.

– Não, não, não, não, não – balancei a cabeça várias vezes. Pude sentir o meu rosto queimando, eu devia estar muito vermelha. – Você entendeu errado, não é nada nesse sentido. – esclareci, colocando as mãos na cintura. Vi a sua expressão se suavizar, um pouco de alívio, mas... Decepção? Não, definitivamente não. Tomei fôlego e continuei – Soa mais como uma aventura – completei, rindo de mim mesma quando me dei conta de como aquilo soava infantil.

– Vamos partir em uma aventura? – vi um sorriso brincar em seus lábios vermelhos. A frase veio embutida com sarcasmo, consideração e talvez uma pontinha de ansiedade. FZ não recusaria a oportunidade de cabular aula por nada nesse mundo.

– É, mais ou menos – comecei – Tipo envolve...sair da cidade, fugir de casa, talvez transgredir algumas leis, estar totalmente sozinhos em um lugar que não conhecemos, com pessoas que não sabemos se não vão nos traficar como escravos e... Matar aula – citei aquela lista como se ‘bad gril’ estivesse escrito na minha testa. Na verdade meu coração estava aos pulos, eu era bem santinha mesmo – Mas vale a pena, pelo menos pra mim – completei, como se isso influenciasse a sua decisão.

Vi uma centelha de racionalidade passar em seus olhos, ela provavelmente gritava ‘não’, com letras altas e vibrantes. Porém era pequena, e logo a emoção da adrenalina e a genialidade de um plano maluco e audacioso a afogou. FZ balançou a cabeça afirmativamente. – Explique melhor, acho que eu topo – ele tentou esconder a ansiedade em sua voz, mas foi em vão. Parecia uma criança prestes a ganhar um doce.

– Bom... Tem um negócio chamado ‘Departamento’, fica fora da cidade, eu até tenho um mapinha – balancei a cabeça, eu não estava sendo clara. Reorganizei as ideias – Minha avó meu deu uma pista sobre o que aconteceu com a minha mãe, é um lugar, e eu quero ir pra lá, mesmo que seja meio ‘ilegal’ – tentei resumir, tudo pareceu muito confuso.

FZ fez sinal para que eu continuasse. Tomei fôlego – Eu preciso descobrir o que aconteceu com a minha mãe, entende? –meu tom pareceu melancólico e forçado. Ajeitei a postura e pigarrei – Eu não sei o que deu em mim, mas...talvez eu....eu sei que o meu pai vai ficar furioso, mas... – me enrolei toda tentando explicar mais uma vez. Naquele momento o plano pareceu patético, mas eu respirei fundo, tentando ignorar as lágrimas cristalinas se formando lentamente em meus olhos.

–Nem a pau que eu vou deixar você fazer uma loucura dessas, assim, sozinha – ouvi a voz de FZ sussurrando quase grudada em meu ouvido. Ele havia me abraçado gentilmente de lado sem que eu percebesse. Senti um sorriso brotando de seus lábios e pude ouvir o me próprio coração batendo descompassado. – Além disso, essa coisa é mais a minha cara do que a sua. – ele completou, tentando quebrar a tensão.

Encostei a minha cabeça em seu ombro, a virando para cima para poder encara-lo. FZ era bem mais alto do que eu. Fiz um esforço para sorrir, e por fim, consegui. Respirei fundo, me recompondo, pude sentir o ar gelado entrando pelos meus pulmões. Com delicadeza, me soltei de seu abraço e deixei que um sorriso travesso tomasse conta do meu rosto.

– Então, você topa? – perguntei com uma animação repentina, batucando os dedos na perna. Comecei a enrolar uma mecha de cabelo no dedo, mordendo suavemente o lábio inferior.

– Bom, se nós vamos ir para esse tal de Departamento, nós precisamos de um ‘plano’ – FZ disse, acentuando a palavra nós. Um sorriso maroto brincava em seus lábios – Que tal amanhã você vir jantar lá em casa, porque temos um ‘trabalho’ pra fazer? – ele completou, sugerindo com muita veemência. Cruzei os baços e ascendi com a cabeça.

– Vou levar meu mapa, o papel que a minha vó me deu e mais algumas pesquisas impressas – listei, contando nos dedos e fingindo estar concentrada – A sim, concordo, só vou ter que falar com o meu pai, então, se prepare para um “horário limite” – FZ riu e eu também. Mas nós dois sabíamos que aquilo era verdade, teria sim, um horário limite bem rígido.

– Combinado então, mas eu vou indo – ele respondeu. Por um instante constrangedor em não soube se seria um abraço de despedida seria embaraçoso ou não. Decidi só acenar enquanto FZ saia da escola e acenava de volta para mim. Já era quase meio dia.

– Até – eu disse, ainda acenando. Não tenho certeza se ele ouviu. Então eu fiquei ali, observando sai figura alta desaparecer ao longe, imersa em meus próprios devaneios.


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Notas finais do capítulo

E aí, gostaram?
Que tal deixar um comentário respondendo a minha pegunta ali em cima???
Como eu sou querida, ai vai um trecho do próximo cap:
"Meu coração foi a cem por hora, será que Zeke e Shauna haviam nos ouvido? Não tomamos os devidos cuidados? Praticamente pulei da cama com a respiração pesada e as mãos trêmulas. FZ olhou para mim com cara que em não estava entendendo. Eu coloquei o dedo indicador sobre os lábios, em sinal de silêncio, ele obedeceu.
Fui andando trêmula até a porta. Agora eu podia ouvir o murmurinho de alguém tentando abri-la pelo lado de fora. Minhas palmas estavam suando quando eu toquei na estrutura de metal.
Quem estava lá fora consegui abrir a porta antes, e se eu não tivesse me desviado como eu desviei provavelmente estaria com o nariz roxo em consequência de uma portada. "



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