Sobrenatural escrita por Francielle Santana


Capítulo 8
Descobertas




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Preciso me acalmar. Mas não consigo. O que aquele relogio estava fazendo na minha casa? É obvio, mas espero que haja alguma explicação diferente. Daquelas que surgem do nada, nos mostrando que sempre podemos errar. Simon me olhava angustiado. Ia, voltava. Perguntava se eu nao queria dormir.

– Pequena… Tudo tem um motivo pra acontecer. O universo é regido por leis que nao compreendemos por completo.

– É, não consigo compreender a traição, por exemplo.

Ele sentou do meu lado, com a barba ainda por fazer.

– Lyah, voce lembra do sonho?

– Claro, Symon. Aconteceu a mesma coisa por noites seguidas. Como não lembrar?

– Acho que descobrimos seu dom, ou um dos…

Olhei para ele, sem muito interesse. O que dom tinha a ver com a conversa? Com o caos que se formaria em minha casa dentro de poucos dias?

– Alyah, presta atenção. Observe os detalhes escondido nas coisas que parecem banais.

– Symon, nada de filosofias, nem suposições agora. - Levantei da cama, eu estava cansada. Meu espirito, minha alma. TUDO. Fui na direção da porta.

– Goel pode querer falar contigo por sonhos… E esse pode ter sido o primeiro. Voce nao entende?

A realidade me deu um golpe no estomago. Virei para olhar para Symon. Sua cara era preocupada e ao mesmo tempo curiosa.

– Se isso… for verdade? Então eles começaram a pouco tempo. - Meu sorriso espalhado no rosto - Pode ter sido só um deslize, Symon. Então Goel me avisou para eu alertar ao meu pai. Symon, muito obrigada. Eu te amo. Agora tenho que ir, não posso perder mais tempo. Minha missão é salvar minha familia!

Dei um beijo no seu rosto e ouvi sua voz atras de mim, provavelmente querendo saber como eu ia falar com meu pai. Querendo me dar conselhos extras. Mas com ele eu sei lidar.

Cheguei em casa com o coração acelerado.

– Pai!!! Eu ja sei qual minha missão. Pai, precisamos conversar... Eu tive um sonho e...

Minha mãe estava com o olhar longe, e se assustou com minha presença em casa.

– Alyah, o que ta fazendo aqui?

– Mãe, é que nao teve reunião hoje - sei que é errado mentir, mas ainda nao estava acostumada com esse tipo de coisa. - Cadê meu pai? Preciso falar com ele!

– Saiu faz pouco tempo. Um dos meninos mensageiros do povoado veio chamar ele. Pensei que era algo que voce tinha aprontado.

– Foi o Carlinhos?

Ela assentiu com a cabeça. Carlinhos tinha 9 anos, garotinho magro, que vivia correndo de um lado para o outro. Normalmente ficava perto do salão das reuniões. Fui direto pra la. Provavelmente era algum serviço novo para meu pai. O salão era enorme, e havia varias salas por dentro, como um grande predio que supria as principais responsabilidades do reino. Desde ensinar os pequenos a ler e escrever, até realizar casamentos e tribunais.

Minha sala era a terceira porta do 1° corredor. As paredes eram cheias de quadros. Só havia espelhos nos outros corredores, até por que perderiamos muito tempo na frente deles tentando ver o que podia ser melhorado.

Provavelmente estava tendo reuniao, e eu não poderia ser vista de forma alguma. Me aproximei do primeiro corredor, sem entrar nele e ouvi duas pessoas conversando.

– Isso não é possivel, por que voce não me avisou. Por que nao se cuidou?

– Eu não sabia...

– Me deixe, é claro que sabia. Somos maduros o suficiente... E voce vai tirar esse bebê.

Precisei apurar mais a audição, eles cochicavam. A voz feminina como num choramingo falou.

– Mas é nosso. E acho que não estou no 1° mês. Eu evitei durante todo esse tempo com as ervas que tenho em casa, mas agora não deu certo... Depois de tanto tempo, acho que era hora disso acontecer. Ja estou velha e...

– Hei, eu ouvi tudo.

Uma 3ª voz vinda do lado de fora me assustou e calou os outros dois. Me virei em direção a criatura, e nada menos do que meu irmão, Fred. Se meus olhos tivessem poder, teriam matado ele.

– Cala a boca, Fred! - Tentei falar baixo, mas não consegui.

Meu pai e dona Juditt estavam atras de mim.

– A quanto tempo voces estão aqui? - A voz dele era cortante, frio. Nem ansiedade consegui notar.

Senti nojo dele.

– Tempo suficiente.

– Pai, precisamos conversar… O senhor sabia que sua filha agora tem missão a cumprir?

Meu pai respirou fundo e tentou interromper.

– Frederich…

E o insuportavel do meu irmão nao tinha noção do que estava acontecendo. E ainda assim conseguia piorar tudo.

– Ela teve um sonho e coisa e tal.

– Alyah, do que o seu irmão esta falando?

Quando consegui me virar, mesmo sem encara-lo pude perceber que a Juditt ja tinha entrado.

– Do que importa?

– Não me responda desse jeito, Alyah.

– Sonhos, quem não tem? - Falei ainda fitando o chão.

Ele chamou Fred num canto, e cochichou algo em seu ouvido. Não consegui entender o que foi. Me pegou pelo braço e fomos pra casa. Quando cheguei la ele me largou no corredor que fazia divisão entre o porão e o 2° andar da casa. Tirou as chaves do bolso, abriu a porta do porão e me empurrou outra vez escada abaixo. O resultado era obvio, cai rolando, mas nada grave. Além de uma dor horrivel no braço e da raiva que nutria por ele. Me recuperei do tombo quando ouvi minha mãe chamando meu nome. Ela desceria, mas foi impedida por aquele ogro. Ele trancou a porta e começou a jogar alguns livros no chão?

– O que o senhor quer?

– Voce ja deve saber.

A brutalidade ia aumentando enquanto ele nao achava o que queria. Minha mãe batia na porta, e era como nada para ele. Num impeto de impaciencia ele gritou.

– Cala essa boca, Salete. - Seus olhos se voltaram pra mim - Voce achou ele, não é? E não se faça de desentendida. Onde voce escondeu o Livro?

Meu coração gelou.

– Não sei do que o senhor esta falando. - Mais mentiras.

Ele se abaixou e pegou meu rosto com uma das mãos, me forçando olhar para ele.

– Alyah, eu conheço bem esse assunto. Sei sobre missão individual, e sobre dons. Eu conhecia o livro. E se voce quiser me acusar não vai adiantar. Ninguem vai acreditar. Voce esta envergonhando minha familia. Alyah, eu amo voce, mas precisamos por um ponto final nisso tudo. - engoli em seco enquanto ele continuava - Quem mais sabe sobre o Livro? Sua mãe sabe?

Balancei a cabeça com medo.

– É... sua mãe é ignorante as vezes, mas ela teria medo suficiente pra me falar. Acredito em voce, querida.

Desconhecia aquele homem. Ele não era meu pai. Acho que nunca foi.

– Voce vai continuar com isso na cabeça?

Não consegui responder. Eu não abriria mão de Goel, de Symon e de tudo que aprendi até aquele momento.

– RESPONDA, ALYAH! - Ele gritou

– Pai, sou eu! Cheguei.

A voz de meu irmão na porta o transformou.

– É lamentavel, minha filha... Irei te visitar.

Como assim me visitar. Do que ele estava falando? Ele se recompôs como magia. Passou a mão no seu sobretudo, tirando sujeiras imaginaveis e amassados. Subiu os degraus me deixando ali em baixo. Quando abriu a porta minha mãe desceu desesperada me abraçando. Pensei que tudo estaria um pouco mais calmo, quando ouvi a voz de Fred.

– Pronto pai, eu trouxe os guardas do conselho que o senhor pediu.


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