Sobrenatural escrita por Francielle Santana


Capítulo 2
Capítulo 2 - Os rebeldes




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/558269/chapter/2

Todas as folhas eram douradas, e apesar do livro parecer mais velho por fora, poucas paginas realmente mostravam algum traço de envelhecimento. Se meus pais leram aquele livro, com certeza tiveram muito cuidado. Mas se eles tiveram tanto cuidado, por que não mostrar ou falar do que tinha nele?

Nas duas primeiras paginas haviam dois textos diferentes. O primeiro era uma advertência sobre o conteudo.

Uma mente sonhadora que anseia voar

No Livro respostas voce encontrará.

Seus principios e sua coragem tem lugar para pousar

Tão somente será necessario a sentença declarar.

Se prepare para a guerra começar a travar.

Verá coisas boas, e ruins suportará.

Habitante em um mundo que ja não lhe pertencerá,

Peregrino nesse mundo voce se tornará.

Li esse texto inumeras vezes antes de decidir ler a tal sentença. Assumo que fiquei curiosa, mas preferi continuar depois. Escondi o Livro em um buraco que havia no chão, em baixo da minha penteadeira e desci.

***

Era uma sexta-feira, a manhã estava do jeito perfeito pra mim, nem muito quente, nem muito fria. A feirinha onde as mulheres compravam mantimentos para a casa estava linda e diversa. Eu e minha mãe começamos a pegar tudo que era necessario. No reino Perushim, onde eu morava, tudo parecia perfeito, mas só eu via cansaço e tristeza nos olhos de quem passava por perto. Era impossivel me contentar com essa realidade. De fato, era como se eu tivesse desejos que nada desse mundo pudesse satisfazer*. Eu sonhava em romper as barreiras. Sim, existiam fronteiras naquele reino que o separavam de mais 11 reinos. Para aquele povo só havia 12 governantes supremos, como eles chamavam. Como se isso ja não fosse suficiente, meus pais sempre me recriminava quanto a ir ou saber sobre o que havia além dalí. Um dia eu descobriria, sabia disso. Meus pensamentos foram interrompidos por uma melodia distante. Como a feira era extensa, dei uma desculpa aceitavel.

– Mãe, vou procurar uma coisa.

Não havia mentido, mas omiti. Minha mãe interpretou da forma que julgou ser a melhor.

Aos poucos fui me afastando, a medida que o som ficava mais perto. Ao chegar em uma area pouco usada da feira, eu descobri a origem do som. Se tratava simplesmente de uma gaita, tocada por uma criatura digna de pena. Me agachei proximo a ele, no entanto ele não notou minha presença. Se tratava de um homem pequeno, de cerca de 31 anos de idade. Ele estava sentado no chão com roupas velhas. Seu semblante era de cansaço, acomodação, e muita coisa mais que não dava pra explicar. Seus olhos estavam fechados enquanto o som parecia tomar aquele ambiente como um frasco de perfume que cai e se quebra. Tentei fazer o mesmo, fechar os olhos e sentir, ouvir. Por um momento pareceu que todo ambiente tinha mudado. A melodia trazia muita tristeza, mas era forte como se houvesse confiança por tras dela. Me recordei dos meus proprios sonhos, da minha infancia, e da revolta que trazia dentro de mim, como cavalos que queriam galopar mais tinham suas pernas amarradas. O som foi mudando de ritmo, começou a agitar, como se aquele homem soubesse o que eu estava sentindo e pensando, lagrimas se formaram nos meus olhos. Me assustei quando o som foi interrompido abruptamente. Aquele olhar assustado na minha direção. O homem segurava a gaita com força, como se tivesse medo de perdê-la.

– Oi… Voce toca bem.

Seu olhar de medo se misturou com desconfiança. Estendi a mão para cumprimenta-lo. Sem retorno.

– O que houve com voce, hein? O gato comeu sua lingua?

Ele nao respondeu e eu ja estava perdendo a paciencia. Chegando mais perto pude observar que ele tinha uma deficiencia. Era corcunda. Talvez agora desse pra entender a rejeição que havia nos seus olhos. Para não assusta-lo ainda mais decidi mudar de assunto.

– Voce parece com fome, quer alguma coisa? Olha, tenho maçãs na sacola, pode ficar. Voce esta pior do que eu.

Estendi a sacola diante dele, que nao fez nenhum movimento.

– Olha só. Era pra EU estar com medo de voce. Eu estou tentando ajudar.

Ouvi gritos da minha mãe ainda distante me procurando.

– Ta vendo? Tinha esquecido que tinha uma mãe. Agora tenho que ir. - peguei uma maçã na sacola, dei uma mordida - Nos veremos por ai.

Dei as costas quando ouviu ele sentenciando:

– Não me procure, eu sou um rebelde.

Rebelde? Não podia ser!

– Mas voce não me parece ser um…

– Agora vá e não olhe mais para tras. Sua mãe ta te esperando, vá vá…

Sai rapidamente até alcançar minha mãe e desvia-la do caminho onde estava

– Oi mãe, estou aqui! Estava procurando melancia…

– Voce sabe que não esta na epoca das melancias, Lyah. Vamos sair daqui, esse lugar me da arrepios.

Atravessamos a grande feira indo na direção da propria casa.

***

– Mãe, me fale mais sobre os rebeldes.

A senhora Salete se assustou com minha curiosidade repentina, no entanto pareceu não ver mal algum em contar-me.

– Os rebeldes são livres…

Assumo que não entendi muito bem, mas meu pai interrompeu meus pensamentos.

– Livres? Eles são pessoas aprisionadas na falsa liberdade. Eles não cumprem com as leis descritas nos nossos livros. - Sim, tínhamos um livro cheio de regras que eramos obrigados a ler desde novinhos.- Eles querem promover uma rebelião.

Eles não pareciam ser assim.Pelo menos não o suposto rebelde que eu tinha encontrado. Desde nova acreditei que os rebeldes eram de extrema violencia. Afinal, quem seria contra as leis do nosso reino? Tudo parecia tao perfeito. Desde os tempos antigos os rebeldes brigavam com os perushins. Pelo menos foi isso que ouvia desde sempre. Mas ainda faltava uma peça desse quebra cabeça. Se os perushins viviam em plena paz, porque ser contra? Se eles eram tao violentos porque aquela criatura parecia tao vulneravel?... existia algo errado e eu descobriria.
Tomamos nosso cafe e fomos deitar.

***
No dia seguinte eu teria uma reunião com as mulheres mais velhas. Estava num grupo onde só havia meninas com a minha idade, entre 14 e 17 anos. Completaria 18 em alguns meses. Essa reunião era como uma escola para pre-casadas. Isso mesmo, aprendemos de tudo, bordado, cozinha, como se comportar, regras sobre o casamento, e tudo mais. Por sorte eu nao fui prometida a ninguem. Mas ja passava da data de começar a preparar o casamento. Eu sei que isso era uma vergonha para os meus pais, mas nao suportava pensar na hipotese de viver com alguem que eu odeio. Nesse dia resolvi fugir da reunião, precisava falar com o tal rebelde. Pra isso me escondi sob um véu e caminhei por areas pouco visitadas. Cheguei até onde estavamos no outro dia, mas nem sinal do meu mais novo amigo. Me afastei mais, saindo da area movimentada e indo para um jardim que dava inicio a um bosque. Sentei em um tronco cortado. Olhando adiante era só arvores, me perguntei quantas vezes ja nao senti vontade de entrar floresta a fora. Tudo pensamento. Por que querer ser livre faria de mim uma rebelde? De onde vinha essa lei que me prendia? Tudo parecia sem fundamento. Me levantei e caminhei mais um pouco. Seria uma ideia excelente se não tivesse sido presa numa armadilha. Uma rede que estava escondida no chão agora suportava meu peso suspenso numa arvore. Uma das piores sensações do mundo. Desconfortavel, irritante e angustiante.

– Ótimo isso! Agora estou presa como um animal. E sabe-se la que horas alguem vem me tirar daqui. - comecei a pensar na reuniao - . Nossa, vão sentir minha falta, e agora? Qual desculpa vou dar?!

Forcei meu peso pra baixo, na melhor das hipoteses eu cairia como uma jaca no chão. Mas nem isso aconteceu. A corda que me sustentava era bem firme. Comecei a gritar.

– Eiii!!! Alguem me ajuda? Alguem pode me tirar desse saco, por favor.

Gritei até que caí.

– Sua sorte é que estou sempre por aqui. Voce só anda nos lugares mais inapropriados.

Agora mais essa. A criatura veio ao meu encontro.

– Não precisa agradecer. - Ele falou de costas enquanto arrumava novamente a armadilha.

– Me desculpe, eu precisava muito falar com voce.

Senti seu suspiro fundo quando falando se virou pra mim

– Eu ja te disse que nao deve falar comigo...

Senti sua voz sumir, quando me arrumei e deixei a chave que agora usava como uma corrente pra fora da minha roupa.

– Como voce conseguiu essa...

Me senti um tanto vitoriosa. Conseguiria finalmente tirar minhas duvidas. A primeira era saber como e de onde ele conhecia aquela chave. Mas opinei por saber algo mais simples de inicio.

– Aalyah - estendi a mão.

Ele hesitou por um instante, mas cedeu.

– Symon.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sobrenatural" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.