13 de Abril de 2014, também não sei que dia da semana é hoje, amor.

Querida Lily,

Eu escrevo isso com o pensamento que algum dia você vai ler. Acabei de terminar seu diário e... uau. Como pôde ser tão boa todo esse tempo? Se esconder atrás de sua própria sombra? Você já pensou em ser atriz? Todos estão escrevendo cartas para você nesse momento, eu não queria, não mesmo... Mas o que eu posso fazer? Não consigo parar de pensar que eu poderia ter impedido isso... Se eu ao menos estivesse com você... Se eu estivesse com você no Casulo (esse nome fez sentido para mim só algum tempo depois, desculpe por ser lerdo)... Se eu estivesse para impedir!

Não me deixaram ver seu corpo, não me deixaram ter uma última lembrança sua, sendo boa ou ruim. Eu queria. Queria mesmo. A única lembrança que tenho de você não é a realidade, então me recuso a tê-la. Não posso cultivar uma mentira dentro de mim, ainda mais se for sua. Isso me destrói por dentro. Eu queria tanto poder dizer que te amo, te abraçar no momento que precisava para pelo menos tentar reverter isso. E agora? Agora eu estou sentado, no seu Casulo, apertado entre uma parede e outra, com uma pena nas mãos e um pergaminho velho que achei no meu quarto, desculpe por não estar tão apresentável com em sua carta, eu realmente queria que estivesse. Faz tanto tempo que você se foi... Na verdade, nem tanto. Mas eu não consigo viver sem isso. Não consigo sair desse buraco. Não consigo imaginar que você já esteve aqui, deitada, sangrando até a morte. Bom, eu vou te contar como te acharam, tudo bem, anjo?

Me machuca pensar que você sangrou até... morrer.

Estávamos todos te procurando, claro, você nunca sumia por tanto tempo assim, dois dias não era seu forte. O tio Harry começou a entrar em pânico no meio do primeiro dia, exigiu que a tia Gina viesse para casa, ela veio. Começaram a te procurar por todos os cantos... Quem te achou foi a Anne Crawford e a Rose. Anne não consegue sair do quarto. Rose não para de chorar. Eu? Eu não consigo pensar em viver em um mundo sem você. Fico tentando ficar em seu lugar, me deitar aonde você se deitou e ver o que acontece. Nada. Não acontece nada. A cada dia que passa eu sinto sua falta. Lembro de você me dizendo que, mesmo se algo muito ruim acontecesse, você tinha que levantar a cabeça e seguir em frente, eu tentei fazer isso, tentei te deixar para trás... Mas eu simplesmente não consegui, entende? Não consigo te deixar para trás. Não consigo nem pensar na ideia de te deixar para trás.

Tio Harry se mantém forte, ele não chora na frente dos outros, não grita, não faz nada. Mas, eu sei que foi você quem pediu isso, pediu para ele ser forte, não é? Pediu para ele aguentar firme, se não quem cai é a tia Gina. Eu sei que pediu. Lily, não é tão fácil assim. Ele chora, e muito. Ele chora no escritório quando todos estão dormindo... Quer dizer, quase todos. Eu não consigo dormir, não mais. Vivo com a Rose, coitada, ela esta despedaçada Lily. Ela viu o seu corpo. Eu e ela ouvimos o tio Harry falando com meu pai um dia desses... Eu não sei narrar como você, tudo bem? Me perdoe.
– Ronald! Eu não aguento! Não aguento mais... - tio Harry gritava, socando a mesa. - Como vou proteger Ginevra se nem consigo proteger minha própria filha...?!
– Harry... - Meu pai tentou dizer, mas foi cortado por um soluço. - A culpa não foi sua, todos nós sabemos!
– Como não, Ronald?! Eu vivia nessa droga de escritório... Recebendo ordens... Eu nunca fui o pai que ela queria! Eu nunca fui seu herói! Como poderia protegê-la sem ser um herói?!
– Você foi o herói de muita gente! Muita mesmo! - Meu pai deu um soco na mesa também, não entendi nada dessa parada de socos. - Também foi o da sua filha!!
– Não!! Eu não fui!!

E depois disso ouvimos o barulho de algum livro voando. Eu e Rose fomos lá no dia seguinte. Era seu diário, Lily. O seu diário. Não sei se eu podia, mas eu li. Como você me amava e nunca disse? Por que? Por que Lily?

Acho que estou me sentindo como você se sentia, falando com uma folha de papel. É horrível não ser correspondido.

Não foi só o tio Harry que foi afetado tão forte assim, Dave esta ficando louco. Ele não sai do quarto desde que você... morreu... Uau, eu não consigo falar isso sem chorar. Que incrível, Hugo, perfeito. Molhe a carta que você esta fazendo para sua namorada, que lindo. Enfim, vi o Dave ontem de madrugada, enquanto saía para ir no jardim. Lily. Lílian.
– Dave? - Chamei pelo garoto, olhando para a piscina. - Você tá legal, cara?
– Como eu vou estar legal, Hugo? - Ele se virou para mim.
Lílian. Ele estava acabado. Os olhos fundos e vazios, como se tivessem perdido a vida, ele estava com o nariz e olhos vermelhos, de braços cruzados.
– Eu sempre amei aquela garota... Aquela ruiva idiota... - Ele olhava para baixo, abrindo um sorriso. - Ela era minha prima, cara. Que droga.
– Pois é.

Eu não consegui dizer mais nada, fiquei só olhando a água da piscina. Depois chegou a Domi, sem maquiagem e com os olhos inchados. Depois a Roxanne. Rose. Lucy. Molly II. Fred II. Fergus (que eu não sabia o que estava fazendo lá). Jeremy. Demetria.

Todos eles ali, Lily... Por você. Meu coração dói, dói demais. Eu sinto sua falta. Eu não posso continuar sem você.

Nós erguemos a varinha e deixamos o lampejo avermelhado subir no céu, com seu feitiço preferido: Expelliarmus.