A Maldição da Wicca escrita por FireboltVioleta


Capítulo 41
The War - Part 3




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RONY

Enquanto voava de volta para a planície, subjugado pela maldição de Hermione, tentava romper esta mesma barreira, tentando me fazer voltar para a campina.

Mas não era por mero acaso que Hermione era um prodígio em feitiços: sua maldição, inquebrantável como correntes de ferro, me forçava á ajudar apenas os que estavam no castelo.

Por mais que fosse egoísmo de minha parte, eu desejava usar minhas vantagens como dragão ao lado de Hermione. Mas sabia que ela tinha razão. Os nossos amigos e minha família precisavam mais de mim do que ela.

Quando finalmente pousei em uma das torres, observando o cenário, eu vi que, definitivamente, não podia ter chegado em hora melhor.

Não consegui distinguir as baixas do nosso lado, apesar de perceber de imediato que nosso batalhão diminuíra levemente – o que me deixou angustiado e rezando para que houvessem apenas feridos. As manchas de sangue espalhadas no pátio não me deixavam otimista.

Para meu alívio, mais de cinquenta dos Comensais da Morte já se encontravam caídos na planície. Mas ainda havia dezenas de duelistas lutando ferozmente entre feitiços e adagas. Focalizei as selkies que atacavam os Comensais com uma violência ímpar. Não conseguia localizar meus amigos em meio á batalha.

Tentei calcular a melhor hora de atacar, querendo usar o fator-surpresa a meu favor, mas havia tantos de nós entre os inimigos que eu receava atingir ou ferir alguém.

Numa tentativa de dispersar os Comensais, finalmente rugi de cima do castelo, planando e pousando na escadaria de Beauxbatons em seguida.

Quase todos do nosso lado recuaram assim que me viram, se posicionando ao meu redor, com as varinhas erguidas. Os Comensais recuaram na direção contrária, gritando de surpresa.

Estendi minhas asas para proteger os demais atrás de mim, me aproximando da linha de frente dos Comensais, paralisados de choque.

– O que estão esperando? Matem! – gritou Dolohov, comandando uma saraivada de feitiços que atingiram minhas escamas com a força de plumas.

Expeli um jato de fogo na direção deles, atingindo mais de uma dúzia. Ao meu lado, os combatentes continuaram á disparar feitiços enquanto eu incendiava o exército inimigo.

Uma muralha de fogo, criada pelos jorros, se ergueu na fronteira entre nós e os Comensais, impedindo ambos os lados de se aproximarem.

– Rony! – ouvi alguém gritar. Desviei a cabeça ligeiramente, ainda observando as tentativas dos Comensais de passarem pelo fogo, e focalizei Gina, com a cabeça erguida para mim – Harry está tentando impedir os alunos menores de saírem... onde está Hermione?

Inclinei a cabeça para a campina, angustiado.

Deus do céu... Hermione quase morrera afogada á minutos atrás, o que não aconteceu só por que eu estava lá. O que acontecera com ela depois de minha partida?

Se algo acontecesse com ela... céus. Eu não aguentaria.

Aquele maldito Wicca Negro tinha que morrer.

A maldição me golpeou como um chicote, me fazendo voltar o foco para os Comensais.

A barreira de fogo se dissipou repentinamente. Os Comensais da Morte voltaram á tentar se aproximar, correndo aos berros.

Fiz uma nova tentativa de recriar a muralha de fogo, mas senti que não conseguiria mais realizar tal feito. Em menos de duas horas, eu fizera algo que nunca havia treinado para fazer, e agora o corpo do dragão cobrava seu preço, me impedindo de cuspir fogo novamente.

Enquanto via, desavisado, meus companheiros voltarem ao ataque aos Comensais, decidi simplesmente usar minhas outras armas.

Pateei os bruxos das Trevas mais próximos, conseguindo esmaga-los debaixo de minhas patas, só dando continuidade após ouvir o estralo dos esqueletos trincando embaixo de mim.

Vi Pio e mais três Comensais se aproximarem de mim, tentando me acertarem nos pontos mais fracos.

Para minha surpresa, não precisei de muito para enfiar as garras no peito de Greyback, pisotear Goyle ou empalar Pio com a minha cauda de cima para baixo.

– Á sua esquerda, Weasley! – berrou Jeniffer, surgindo ao meu lado direito, enquanto corria na direção de outro Comensal.

Virei-me para a esquerda, apanhando o Comensal de surpresa com a boca e triturando-o com os dentes. Usei o corpo que acabara de destroçar para lança-lo em outro Comensal que se aproximava. Infelizmente, não foi o suficiente para impedir que uma quartanista fosse alvejada por um feitiço.

Estupore! – ouvi mais de quinze Comensais berrarem, com as varinhas erguidas em minha direção.

Os feitiços ricochetearam em minha pele blindada, mas tiveram mais sucesso ao atingirem a parte mais vulnerável, abaixo das escamas do peito.

Senti meu corpo sofrer uma guinada inesperada e tombar no chão. Ainda estava consciente, conseguindo movimentar cabeça e pescoço, mas o resto do corpo do dragão parecia ter paralisado no chão, como num Feitiço do Corpo Preso.

– Fiquem longe dele! – gritou Madelaine, avançando nos Comensais.

Tive que segurá-la nas patas para evitar que fosse atingida pelo jorro de luz verde que voou em sua direção.

– Já chega – um deles disse para os outros – acabem logo com esse dragão e essa desgraçada.

De borco no chão, com todos os pontos fracos expostos á mercê dos Comensais, não demoraria nada para que me liquidassem agora.

– Não vou sair de perto de você, Weasley – Madelaine murmurou, respondendo minha rodem não dita de “fuja logo!” e levantando outra vez a varinha em meio ás minhas garras – devo isso á Hermione.

Sentia meu coração palpitar no peito, como se quisesse produzir todas as batidas que eu deixaria de ter com a morte que se aproximava. Ouvia os gritos e estampidos da batalha o meu redor, mas tudo parecia encoberto por um véu, como se minha mente tentasse me poupar desses últimos instantes.

O céu começou á se turvar, nublado, numa espiral que parecia uma premonição de meu destino...

E eu nem tivera chance de me despedir de Hermione...

Guinchei, protegendo Madelaine em minhas patas, tentando poupa-la mais alguns segundos de vida.

Vi, de relance, a saraivada de Maldições da Morte que surgiram das varinhas apontadas para mim, antes de fechar os olhos...

A terra tremeu debaixo de meu corpo.

Reabri os olhos, encarando, pasmo, a muralha de terra que se levantou na minha frente, abarcando os feitiços que quase nos atingiram.

Os Comensais estavam aturdidos, tão chocados que pareciam nãos saber o que fazer ao se voltarem para a figura ameaçadora que vinha em nossa direção, planando suavemente á poucos centímetros do chão, como uma belíssima e profana fênix negra.

Mesmo quando senti o quinto elemento milagrosamente quebrar o efeito do feitiço em meu corpo, estremeci ao senti-lo me encobertando. Era impossível não notar que ele parecia mais forte, quase revoltado por ser usado para algo tão banal quanto me libertar.

Aliás, era impossível não notar o poder que emanava da Wicca que se pôs diante dos Comensais.

E foi igualmente impossível não reagir á sua presença na planície, já que todos pararam de lutar apenas para encararem abalados a aura dos elementos ao seu redor.

Ela estava viva.

“Hermione!”, guinchei mentalmente, quase chorando de felicidade. “Está viva! Está bem!”.

Mas ela estava mesmo bem?

Por que, ao contrario de minutos atrás, eu não conseguia captar nenhuma reação ou sentimento em seu rosto vazio e feroz.

Assustei-me quando percebi seu estado de espírito. Aquela era a posição espiritual dos poderosos e invencíveis. Que não tinham nada á perder e que realizavam seu objetivo á qualquer custo. Era a expressão de uma deusa onipotente e onipresente, que mataria ou revitalizaria sem nenhum remorso ou emoção.

Aquela não era a minha Hermione.

Não como a conhecia.

– Atenção, todos! – ouvi sua voz inflar o ambiente, sendo levada pelo ar ao nosso redor – Rodrick Carrow está morto!

Ouvi gritos e vivas do nosso lado.

Rodrick morrera.

A gratidão e o temor se misturaram dentro de mim.

Mais ninguém parecera reparar que Hermione parecia diferente.

Hermione levantou apenas um dedo e todo mundo se calou outra vez.

– Ouçam muito bem o que vou dizer – ela continuou – vocês se reorganizaram em volta de um bruxo das Trevas achando que sairiam vitoriosos e que continuariam as tarefas que faziam em nome de Voldemort. Acharam que ele era digno de ser admirado, que seria um líder de verdade. Mas erraram. E vão pagar por isso, de uma forma ou de outra. Mas podem escolher a menor das punições, se rendendo agora. – me encolhi quando a terra cuspiu um jato de fogo rente ao céu – ou podem continuar lutando por seus ideais patéticos e arderem até morrer, como foi com o líder de vocês.

Vi, ao longe, Neville estremecer.

Gina acotovelou minha pata traseira.

– Só eu estou com mais medo da Hermione do que o povo tinha de Voldemort?

Os Comensais ainda mantinham as varinhas erguidas, estáticos, se entreolhando. Pareciam hesitantes.

Eu, pessoalmente, teria matado todos naquele mesmo momento.

Mas Hermione estava oferecendo rendição... ela estava oferecendo uma chance para eles se salvarem.

Meu coração se inundou de alívio.

Hermione não faria isso se tivesse sido contaminada pelo poder dos elementos.

Ainda era ela mesma – absurdamente poderosa, definitivamente amedrontadora, insanamente violenta, mas era ela mesma. Os elementos não passavam de meros serviçais debaixo de suas mãos.

Foi quando vi, pasmo, quase vinte Comensais jogarem suas varinhas no chão e erguerem as mãos.

Outros encaravam os desistentes com um misto de indignação e choque.

Scabior se adiantou, com os olhos saltados de fúria.

– Ficaram loucos? –ele berrou – eles vão matar todos assim que se entregarem! Acham que essa garota pode fazer alguma coisa contra nós? Quem garante que Carrow ainda não está vivo? Como podem desistir da nobre obra a que fomos designados por nosso mestre?

Hermione ergueu a mão, parecendo entediada.

Scabior acabara de cavar o próprio túmulo.

Juro que tentei não me apavorar ao ver o Comensal da Morte ser erguido do chão como um boneco, com a boca escancarada e o pescoço esticado, estrebuchando como um cão com raiva.

Os demais Comensais recuaram, apavorados, assistindo o colega começar á verter sangue por veias que estouravam por todos os lados de seu corpo, espirrando o líquido rubro ao redor. O vomito sangrento do Comensal sujou o chão.

Hermione fechou a mão num movimento rápido, sem demonstrar nenhuma reação quando o corpo sem vida de Scabior tombou no piso.

Senti Gina capengar de susto dependurada no espinho da minha cauda.

Vi Hermione erguer os olhos fixamente para a massa de bruxos das Trevas á nossa frente.

– Alguém mais quer continuar?

Os Comensais pareciam completamente amedrontados, paralisados de pavor.

Não demorou quase nada para que se ouvisse o som das varinhas tilintando no chão do pátio.

Hermione se voltou para nós.

E, para minha felicidade, no fundo do poço prateado de seu olhar, vi algo palpitar.

Não sabia ao certo o que era, mas era forte. Assustadoramente forte.

Ela me encarou, tocando meu rosto. Sua mão estava ironicamente gelada.

Mas senti todo o carinho e serenidade por trás de seu toque.

– Acabou, Rony. Tudo acabou.

Senti minha alma explodir de júbilo quando finalmente reconheci a verdadeira Hermione por trás daquela fachada.

Ergui-me, rugindo para os rendidos, sendo acompanhado pelos gritos alegres de todos que estavam do meu lado.

– Acabou, Rony! – Gina abraçou minha pata. Estava péssima, cheia de cortes pelo rosto, mas ridiculamente feliz.

Ninguém parecia perturbado com o que Hermione fizera, enquanto os combatentes prendiam e imobilizavam os Comensais que haviam se rendido.

Vi Neville chutar com vontade as costas de Rodolfo enquanto o amarrava. Um punhado de gente também aproveitou para descontar nos Comensais que haviam se rendido.

Se alguém estava com medo dela, soube disfarçar muito bem, já que ninguém tocou no assunto enquanto eu observava os prisioneiros sendo levados para as masmorras do castelo.

– Levem os feridos para a Ala Hospitalar. Vou tentar ajudar daqui a pouco – ouvi Hermione dizer á LeBrou, que estava tão acabada quanto Gina.

– LeBrou assentiu, acompanhando a escolta aos Comensais e entrando no castelo.

– Hermione! – Gina arfou, fazendo menção de erguer os braços para ela como se fosse abraça-la. Porém, ela hesitou repentinamente, recolhendo os braços timidamente e baixando o olhar – você... bom...

Vi, fascinado, a máscara sem expressão de Hermione distorcer-se. Um esgar se abriu em sua boca, contorcendo suas feições régias e amedrontadoras,

Forçando um sorriso.

E, finalmente, ouvi.

Uma gargalhada. Jovial, alegre e aliviada.

Uma Wicca, uma deusa encarnada, rindo como uma garotinha.

– Vem cá, sua cachorra – Hermione riu, puxando Gina para um abraço que eu achava ter doído um bocado.

– Ai, vagabunda – Gina guinchou, mas riu também, retribuindo o abraço da amiga.

Gina a soltou, e, desinibidamente, empurrou-a na minha direção.

– Achei que você tinha bandeado pro lado negro, mulher – Gina brincou – bom, acho que vocês precisam, hã... fui. Vou procurar o meu namorado que eu ganho mais – ela saiu correndo antes mesmo que eu rugisse no ouvido dela.

As pessoas restantes, feridas e sobreviventes, começaram á entrar aos poucos no castelo.

Distraído, não percebi Hermione se aproximando dos corpos caídos no pátio.

Sabia que estava tentando achar, dentre eles, um de cabelos ruivos e feições achatadas.

Vi toda a alegria se esvair de seu rosto, quando ela se deu conta de que tudo realmente acabara.

Inclusive a vida de nosso amigo.

Aproximei-me dela, afagando seus cabelos negros como a noite com o rosto.

Hermione ergueu os braços para mim, enlaçando meu focinho.

Senti seu corpo se encolher em meu rosto, sacudindo com soluços.

Ela esperara todos estarem longe o suficiente para desmoronar em mim.

Vi a Wicca desaparecer completamente, substituída por uma pobre garota que estava cansada de sofrer e lutar. Que se mantivera apática o suficiente apenas para tentar terminar uma maldita guerra.

Dobrei o pescoço ao redor de seu ombro, abraçando-a.

Queria falar tantas coisas.

O como ela havia sido corajosa e fantástica. O como tinha orgulho dela. O como sentia por tudo... por Leopold, pelo seu tio, por todos. O quanto ela valiosa e querida por todos... e por mim. O quanto significava na minha vida. O quanto significava naquele mundo bruxo. O como provavelmente salvara milhares de vidas sozinha.

Mas ser dragão provocava uma desvantagem horrível nesse quesito.

– Eu sei – ela sussurrou, me encarando, com os olhos turvos de lágrimas.

Hesitante, levantei minha pata, acolhendo as lágrimas que escorriam em seu rosto em minha garra. Ela abraçou-a, dando um sorriso sofrido.

Toda a aura sombria que a circulara momentos antes desaparecera de Hermione. Agora só se via poder... e uma garota completamente perdida, sem saber o que fazer com ele.

A desolação dela era quase palpável. Podia imaginar a sensação de angústia que a assolava.

– Não quero mais isso... – ela soluçou – não é o que eu quero... não quero ser idolatrada ou temida. Quero ser eu mesma. Não quero carregar isso...

Inclinei-me, tentando voltar á afagar seu rosto, mas ouvi um estrondo ensurdecedor acima de nós.

Ergui a cabeça, a tempo de ver uma das estacas afiadas da Torre Sul quebrar e escorregar em nossa direção juntamente com o telhado.

– Não! – Hermione berrou.

Abri as asas, protegendo-a com o dorso. O telhado bateu em minhas escamas, sem causar danos aparentes.

Foi quando a estaca me pegou.

Rugi de dor quando ela traspassou minhas costas. Senti algo arder em meu peito, quente, molhado e pulsante.

– RONY! NÃO!

Ouvi Hermione gritar, agoniada, mas minha visão se embaçou. Eu não conseguia focaliza-la. Senti meu corpo estremecer com a dor. Um torpor muito forte dominou minha cabeça enquanto eu sentia algo quente e úmido se espalhar debaixo de mim.

– RONY!

Oscilei até tombar no chão do pátio, quase cego com o torpor e a dor.

A escuridão estava me engolindo.

Tentei rugir, tentar ao menos tranquilizar os gritos de Hermione, mas finalmente afundei na inconsciência.


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Notas finais do capítulo

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