RONY

Tirando as fofoquinhas maldosas sobre a nota que Vitor Krum deu á Hermione na primeira tarefa, todo o resto decorreu tranquilamente pelas semanas seguintes.

Eu andava estranhamente exibido, como se ser o namorado na “salvadora de selkies” (apelido ridículo que Jeniffer McKinnon havia dado á Hermione) fosse a maior honra do mundo.

E, pensando bem , era mesmo.

Hermione ficou de repente absurdamente popular, com um fã-clube de menininhas de Beauxbatons que começara a persegui-la pelos corredores.

– Quando eu chegar no sétimo ano, vou me inscrever no Torneio e ser uma campeã, que nem a senhorita! – ouvia uma delas sempre dizer, com os olhos brilhantes de admiração.

Hermione parecia sem graça ao ser tão adulada... lembrei0me do como ela ainda se sentia desconfortável com as reverências de Becky, e aquelas meninas estavam agindo exatamente como um bando barulhento de elfazinhas.

Quem não parecia muito satisfeita com aquilo era Madelaine, que esperava ser admirada e apoiada pela própria escola. Ela só não devia estar mais aborrecida por que parecia perceber a relutância de Hermione em receber atenção. Para minha surpresa, ela continuava sendo muito simpática conosco.

Andrey Borislav, ao contrário, andou ridiculamente carrancudo nas semanas seguintes. Como um ser humano que ficou em primeiro lugar em qualquer coisa nesse mundo conseguia ficar com aquela cara de bunda sem lavar? Eu estaria completamente feliz...

Rita já havia, como era previsível, publicado uma materiazinha enjoada insinuando sobre as segundas intenções da nota de Krum na primeira tarefa. A única criatura sem criatividade e ocupação que tentou – com ênfase no “tentou” – fazer piadinhas de desprezo sobre isso foi, como sempre, Mila Bulstrode.

– Então, Granger? Qual dos seus dois “amiguinhos” você vai trair hoje? – ela cuspiu, me dando um olhar sarcástico.

– Ah, não sei... eu tenho sorte... posso escolher entre duas opções... e você? – Hermione bocejou, com um sorrisinho afetado.

As risadas na ponta da mesa de Noble encerraram o assunto, já que Mila simplesmente fuzilou-nos com os olhos e se escondeu no meio dos alunos mais á frente.

Para meu choque, Draco, que tinha todas as oportunidades do mundo para fazer o que Mila já fazia, não dirigira uma única palavra á nós desde a batalha de Hogwarts. O que era ótimo, claro. Mas também muito estranho.

Todas as vezes que nós havíamos encontrado o garoto, ele sempre parecia ridiculamente reservado e pensativo. Até Hermione parecia estranhar, mas, já que qualquer coisa que envolvesse Draco não era de nossa conta, preferimos ignorar.

O Feitiço de Contenção que McGonagall conjurara em Hermione parecia estar ajudando muito. Não ocorrera mais qualquer incidente com os elementos ou com a aparência de Hermione enquanto estávamos em Beauxbatons. O feitiço só perdia efeito enquanto nós estávamos na redoma, enquanto Hermione treinava – íamos agora uma vez por semana, assim que Hermione tinha um período livre. Ainda haveriam algumas semanas até que a segunda tarefa começasse.

E era impressão minha, ou Hermione estava ficando surpreendentemente mais bonita e confiante. Nunca a vira com tanta autoconfiança e ânimo. Era quase contagiante.

A ameaça do Wicca Negro ainda pairava como uma sombra desagradável em nossas alegrias ocasionais, mas Hermione parecia ter entrado numa de “viver o momento”, e parara de se estressar com aquela birosca de Wiccas.

Quando chegasse o momento, nós estaríamos preparados – ou, pelo menos, era esse o discurso de Leopold quando alguém comentava sobre a profecia.

De qualquer forma, não demorou para que algo varresse qualquer coisa sobre Wiccas de nossas cabeças.

Eu estava na mesa do Salão Principal, lendo o jornal que Pichitinho havia acabado de me entregar, enquanto Harry e Gina revezavam-se para colocar as mãos na barriga de Nyree, tentando sentir o bebê chutar, sob os olhares encantados de Darel, Luna e Neville.

– Olha isso... – murmurei – mais cinco mortes no sul da Inglaterra... acham que é obra de Comensais revoltosos que estão foragidos...

– Ainda? Os aurores não estão caçando todos? – perguntou Gina.

– Nem todos foram capturados, Gina – Neville revirou os olhos.

Ouvimos passos apressados vindo em nossa direção. Virei-me, surpreso, olhando para a figura estabanada de Gabrielle Delacour.

– Uau, Gabrielle... aonde é o incêndio?

– Desculpa... – ela resfolegou – é que... eu vim avisar... vocês... – obrigada – ela apanhou o copo de água que Harry lhe estendeu, bebendo e continuando em seguida – a diretora mandou avisar aos campeões... que o Baile de Inverno vai ser amanhã á noite... para todos escolherem seus pares...

Pulei no banco, engasgando com o suco de abóbora. Droga... tinha esquecido do maldito Baile de Inverno!

Todos olharam para mim, mordendo os lábios como se refreassem risadas. Ah, que legal. Parecia que ninguém se esquecera daquela picuinha da escolha de pares do último Torneio.

– Obrigado, Gabrielle – agradeci, olhando feio para Harry, que me encarava sugestivamente – para de me olhar assim, cara. É o campeão que escolhe o par, esqueceu?

– Ah, é – Gina revirou os olhos, sarcástica – e ela vai escolher o Krum, né?

– Só se ela quiser que acabe em funeral – rosnei, franzindo a testa para minha irmã.

– Você vai convida-la sim – Harry falou, taxativo – ou quer um fiasco como o do quarto ano?

Arrepiava-me lembrar de toda a merda em que terminou o último Baile de Inverno. Raios, Harry tinha razão. Dava para eu evitar pais palhaçadas como aquelas com uma coisa muito simples.

Agora, onde estava coragem para convidar uma menina que eu magoara tanto há três anos, depois de tudo que acontecera?

Como se caída dos céus, Hermione surgiu atrás de mim, parecendo curiosa com minha expressão martirizada.

– Bom dia, pessoas... tudo bem,Rony?

– Tudo... – Harry deu de ombros – e aí, já escolheu algum par para o Baile de Inverno?

– Vai ter um Baile de Inverno? – ela arregalou os olhos, que se voltaram para mim... ansiosos... esperançosos?

Ai, não. Era agora ou nunca.

Levantei-me do banco, fazendo todos da mesa de Noble voltarem o olhar para mim. Céus, que vergonha. Senti minhas orelhas esquentarem.

“Qual é, Rony!”, arfei mentalmente. “Você já fez todo tipo de loucura com essa garota... e está com medinho de convida-la para sair??”

– Hermione...? – engrolei, tenso – você quer... quer ir ao Baile comigo?

Hermione arregalou os olhos, apenas para estreita-los logo em seguida. Atrás dela, vi Harry enfiar a mão no rosto, e Gina revirar os olhos.

Credo... todo mundo estava olhando... que mico.

– Por que você quer ir ao Baile justo comigo? – Hermione falou lentamente, fingindo (fingindo?) desconfiança e surpresa. Qual era a do joguinho dela?

Foi quando eu entendi. Ela estava me testando. Como se pedisse uma senha de quadro.

Suspirei, sorrindo.

– Por que, da última vez que isso aconteceu, uma menina irritante e nervosinha me disse que, se fosse para convida-la, não deveria ser como último recurso, e sim o primeiro – senti meu sorriso aumentar – desta vez... só consegui pensar nela, e em mais nenhuma... é meu único recurso agora.

Harry arfou, e Gina se boquiabriu, entreolhando-se pasmos.

Hermione também arfou e ficou boquiaberta, com o lábio inferior tremendo, como se quisesse dizer algo. Parecia não esperar ouvir o que eu disse.

– Então? O que me diz? – continuei, encarando sua expressão abobada.

Hermione quase me derrubou no chão ao me abraçar.

– Sim, quero ir sim! – senti seu sorriso enorme em meu pescoço, retribuindo seu abraço e rindo.

– Awn... – ronronou Nyree, se derretendo.

E então, aconteceu. Aplausos e assovios inundaram as quatro mesas do Salão Principal. Céus, todo mundo ouvira aquilo? Que vergonha...

– Que fofinho, gente – ouvi Jennifer dizer atrás de nós.

– Finalmente, desgraça – Gina bufou, com um sorriso satisfeito que desmascarava sua indiferença fingida.

Hermione sentou-se junto comigo de volta na mesa, vermelha como um pimentão.

Ela evitou até falar comigo pelo resto do café da manhã, de tão envergonhada que estava... o que não me impediu de ficar completamente feliz, com o coração definitivamente mais leve e animado com a noite seguinte.

E, á não ser que eu estivesse enganado, Hermione também parecia estar.

_______________O_______________

– E aí, Neville, com quem você vai?

– Pergunta besta... com minha namorada.

– Idem – disse Harry.

– Quem pediu a sua opinião, Potter?

– Ai... receba essa pedrada, Harry! – foi a vez de Dino.

–QUEM PEDIU A SUA OPINIÃO, DINO?

– É, quem pediu a sua opinião, Dino? – Gina, sendo amável como sempre...

– Parem com isso... vê se cresce, Dino... toma Biotônico Fontoura... – fungou Hermione, revirando os olhos.

– Eu sou o único que vai ir ao Baile com duas mulheres? – brincou Darel, expondo pela quarta vez o sexo da criança.

– Sim – disseram todos, enquanto Nyree quase se afogava no leite de tanto rir.

Foi mais ou menos essa a conversa que ocorreu na manhã seguinte, enquanto nós caçávamos quem ia com quem no Baile á noite.

Era sabido que Madelaine inventara de escolher Simas – que ainda estava atordoado por ter dito “sim” – para ir ao baile.

Andrey havia – pasmei – convidado primeiramente Mila Bustrode, sendo enxotado sem delicadeza alguma pela menina. Em seguida, o pobre moleque foi pastar, encontrando – pasmei de novo - a vaca da Pansy Parkinson, que aceitou o convite. Mila dispensou Andrey para ir com um aluno da Perséver de cara apagada... vai entender.

O resto foi bem previsível: Dino com Cho, Jeniffer com Douglas, Madame Maxime com Hagrid, Draco com Astoria – uma menina depressiva da Sonserina -, e, obviamente, Harry com Gina, Nyree com Darel e Neville com Luna.

Eu estava ansioso para a noite chegar. Não entendia por que estava tão animado... até por que minhas lembranças da última vez que fui á um baile não eram das melhores.

Será que era pelo simples fato de que estava indo com a garota pelo qual eu estava irremediavelmente e insanamente apaixonado? Ou por que essa era mais uma nova e – esperava - maravilhosa experiência que eu passaria o lado dela?

Eu não sabia descrever o porquê estava me sentindo assim. Mas preferi também não ficar remoendo algo tão estranho.

Eu estava pensando, quando o dia se pôs, já no dormitório, em pegar emprestado algum traje á rigor de Harry, já que me esquecera de comprar um novo desde o casamento de Gui e Fleur. Mas, para minha agradável surpresa, uma caixa de presente turquesa estava em cima de minha cama quando cheguei lá.

Abri o presente, descobrindo um belo conjunto de trajes á rigor pretas com lapela, gravata e bolso frontal. Devia ter custado um bom punhado de galeões.

Anexado na lapela com um delicado alfinete, havia um bilhete.

Espero que sirva em você. Achei a sua cara.

P.S. Não quero saber de devoluções nem pagamentos. E quero que use HOJE MESMO. Se tentar fazer qualquer uma das três gracinhas, vou mandar um megalodonte de pegar. E eu não estou á fim de ir ao Baile com um par de mãos decepadas.

Da completamente sua,

Hermione

Sorri, revirando os olhos. Minha namorada, riquinha, irônica e maravilhosa.

Vesti o conjunto, que caiu como uma luva em mim. Eu estava bonito... parecia até o galã daquela novela gráfica do Profeta Diário, O Encantador de Bruxas.

Quando desci as escadarias, dei de encontro com meus amigos e minha Irmã, todos já vestidos para o Baile. Harry vestia um conjunto parecido com o meu – só que de cor azul-marinho -, Gina um delicado vestido de tafetá, Neville e Darel com ternos muito semelhantes de cor marrom, Luna um vestidinho meio rococó e Nyree um vestido fino de chita, que deixava sua barriga bem evidente – o que, por mais bizarro que fosse, a deixava muito bonita.

– Caramba, Ronald – Gina ficou surpresa – está bonito... quem diria...

– Verdade... – Luna comentou, aérea, vacilando sobre o olhar indagador e chocado de Neville – mas é verdade...

– E Hermione? – indaguei.

– Disse que te encontra lá... está se arrumando... – Gina deu de ombros – e falou que espera te encontrar com o presente que ela te deu, se não eu vou ser responsável por pagar a fiança dela de Azkaban depois que ela cometer o homicídio...

Ri, seguindo todos para fora da Torre de Noble.

_______________________OO_______________________

Chegamos ao Salão de Festas– que, àquela altura, já havia sido devidamente decorado e preparado – ficando surpresos com as imponentes esculturas de gelo que circundavam onde estavam as pilastras ao redor do Salão. Uma pista extensa de cor perolada se estendia de uma ponta á outra do recinto, tornando tudo mais claro e animado.

– Nos vemos mais tarde – disse Gina, se despedindo de mim e acompanhando os outros para dentro do Salão. Como par de uma dos campeões, eu teria que aguardar a entrada fora do Salão.

McGonagall veio em minha direção, sorrindo.

– Ah, aí está você, Sr. Weasley. A Srta. Granger pediu para que o senhor aguardasse com os demais campeões aqui na sala ao lado, que dá para a escadaria do Salão de Festas. Ela já está vindo.

– Obrigada, professora – sorri, enquanto ela me encaminhava para a tal sala de espera.

Quando entrei, dei de cara com a sorridente Madelaine, que estava usando um vestido azul-marinho com babados, segurando o braço de Simas, que revirou os olhos para mim, ajeitando a lapela de seu traje. Andrey estava mais á frente, conversando com Pansy, vestida em algo que lembrava uma camisa de força em versão de vestido.

– Bam, bam – Madelaine murmurou – estou tam animada para abrir o Baile!

– Eu também – sorri.

– Onde esta Hermione? – ela perguntou, curiosa.

– Disse que já está vindo – comentei, sem muita convicção. Onde diabos Hermione se enfiara? Só faltava ela para darmos início á abertura do Baile.

– Desculpe... me atrasei... já começou? – ouvi uma voz apressada entrar na sala.

Todos se viraram na direção da porta, incluindo eu.

O que, se era para eu me manter lúcido e equilibrado, se revelou um terrível erro.

Ai, Meu Deus.

Aquela ali era a Hermione...?

Senti meu queixo descer em queda livre até o pescoço.

Meu Deus...

Ela estava linda.

Na verdade, linda era uma palavra muito fraca para descrever.

Os cabelos estavam soltos, presos superficialmente no alto por uma pequena presilha. Usava um vestido brilhante – céus – que se moldava perfeitamente ao seu corpo, preto como a noite, que ia até seus joelhos, com um delicado decote que me fez arfar. Um conjunto de brincos compridos ornava suas orelhas.

Mas foi o colar que ela usava que me deixou sem fôlego.

O colar prateado... com o símbolo do infinito.

Senti meus olhos formigarem quando as lembranças enxurraram minha mente.

Hermione sorriu, tímida, o que foi o estopim para eu ficar completamente estarrecido.

Ela era tão linda que dava até vontade de chorar... por Merlim...

– Desculpa a demora – ela sussurrou, me observando cautelosa.

Foi a insanidade que me fez dizer o que eu disse sem seguida?

– Eu poderia esperar mil anos para ver você assim.

Madelaine se virou, boquiaberta. Até Andrey ergueu o olhar, interessado.

Hermione corou. A cor era tão linda em sua pele... eu nunca ia conseguir entender como uma garota forte, corajosa e durona como ela conseguia ser também tão tímida, sensível e delicada. Nunca.

Peguei sua mão na minha, acariciando seus dedos. Ela estremeceu, mas sorriu, me olhando com um misto de vergonha e expectativa.

– Vamos? – perguntei, beijando delicadamente as pontas de seus dedos finos, recentemente com as unhas pintadas de vermelho.

Ela deu uma risadinha, rindo bobamente ao ver os outros campeões e seus pares nos encarando pasmos.

A maquiagem leve, seu vestido de gala, seus adornos, tudo fazia Hermione parecer ainda mais o anjo que ela já era em minha vida.

– Claro... vamos lá...

Demos as mãos, indo em direção á porta da escadaria. Senti-me muito bem... feliz. O suficiente para ficar confiante de que aquela seria uma noite inesquecível...

Ah... se eu soubesse como a noite acabaria...