Estações escrita por Emma


Capítulo 4
Quando fantasmas do passado aparecem...


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo com desenvolvimento do romance de Heitor e Helena... Espero que gostem...



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/558080/chapter/4

“Oh não, eu cheguei muito perto? Oh, eu quase vi o que está lá no fundo? Todas as inseguranças, toda roupa suja, algumas vezes me fizeram vacilar. Mas, venha como você é pra mim, não precisa de desculpas, você sabe que é valioso. Eu levarei seus dias ruins como os bons, eu andaria por essa tempestade, por que te amo! Vou te amar incondicionalmente, não há medo agora, liberte-se e seja livre, pois vou te amar incondicionalmente. Então abra seu coração e deixe isso começar, abra seu coração. A aceitação é a chave para ser realmente livre, você me aceitaria como te aceitei? Incondicionalmente, incondicionalmente vou te amar, não há medo agora, liberte-se e seja livre, porque vou te amar incondicionalmente.”

 

Depois de uma hora conversando, o doutor deixou o amigo, pois tinha uma palestra no meio da manhã e precisava descansar. Heitor tomou uma ducha quente e relaxou na banheira, pensava nela constantemente, deitou em sua cama e desejou que a noite passasse rápido para poder encontrá-la pela manhã. Olhava para o lado vazio em sua cama e a imaginava ali, dormiu com um sorriso estampado no rosto e a certeza de que sonharia com sua Helena.

Helena estava em êxtase, lutou muito contra esse sentimento, sempre foi difícil para ela ligar-se profundamente a alguém, não tinha amigos, mas quando Heitor roubou-lhe aquele beijo, destruiu os últimos tijolos de sua muralha, não tinha dúvida de que estava apaixonada por ele e muito perto de amá-lo. Tomou um banho frio para tentar amenizar o turbilhão de emoções que sentia, ela sabia que aquela noite sonharia com ele... Resolveu ligar para o pai e contar-lhe a novidade, afinal ele era seu único e melhor amigo.

— Pai, desculpa ligar para o senhor essa hora...

— Não querida, tudo bem! Aconteceu algo? Filha você está...

— Calma papai! Estou muito bem sim, na verdade estou melhor que bem, estou feliz, muito feliz!

— E eu poderia saber a causa, ou melhor, imagino que seja, o causador de tal estado?

— Eu liguei justamente por que queria que fosse o primeiro a saber, não duvido algum paparazzi ter nos visto ontem no restaurante e amanhã será a fofoca do dia... Mas enfim, pai hoje fui jantar com o...

— Sr. Herrera! Não é?!

— Como sabia?! – perguntou sorrindo

— Helena meu bem, eu já lhe disse que a conheço como a palma de minha mão, quando você começou a falar nesse senhor, eu sabia que estava gostando dele, não te vejo tocar no nome de nenhum rapaz e de repente um em especial lhe chama atenção, eu sabia que isso ia render... Prossiga...

— Nós saímos para jantar, mas fomos eu, ele e um amigo dele, Dr. Alexandre Del Rio, já ouviu falar? – Inácio respondeu que se lembrava do nome de algum lugar - É um ótimo homem, incrível, educado e tem uma conversa agradável... Eu ia fazer um briefing com ele, na verdade esse era o propósito do jantar. Heitor se ausentou por uns minutos, então aproveitei para tirar minhas dúvidas acerca de seu caráter e gostei do que ouvi... O jantar terminou estranho, ele parecia irritado com algo, imaginei que havia sido pelo que Alexandre me confidenciou mais cedo, que ele estava enciumado por eu ter dado, propositalmente – ela riu para seu pai – mais atenção ao doutor do que a ele. Ora papai, o jantar era justamente para que conversasse com ele não?!

— Claro querida! – soltaram uma grande risada – E??

— Voltamos para o condomínio, eles estavam mais a frente e chegaram primeiro, claro, eu entrei na recepção normalmente e estava parada na frente do elevador, esperando o mesmo chegar, quando ouvi uma voz familiar chamar meu nome, virei-me para olhar e vi Heitor saindo do carro correndo na minha direção, não tive nem tempo de perguntar o que ele queria, fui surpreendida com um beijo – Helena contaria ao pai apenas a parte do beijo, o pouparia dos detalhes dos quais ele certamente não se agradaria de ouvir – depois conversamos sobre nós dois, eu deixei bem claro que não estava interessada em uma coisa passageira e que se ele quisesse ter algo comigo teria que levar a sério...

— Então ele te beijou?! Mais que atrevido! Eu quero ter uma conversa muito séria com esse senhor! Vou dar um crédito a ele por conhecer Philip há anos e acreditar que se ele for tal qual o pai é alguém um pouco merecedor de você... – Inácio estava feliz pela filha, mas não conhecia Heitor para saber se ele era digno de ganhar sua jóia rara, se preocupava demais com a Helena e não queria vê-la com o coração partido outra vez.

— Pai, ele me pediu em namoro e eu aceitei! Marcaremos um jantar para vocês conversarem na próxima semana, quando o senhor voltar de viagem, ok?!

— Querida, prometa que irá tomar cuidado?! Ainda não sondei esse Heitor o suficiente para confiar nele...

— Pai, eu tomarei! Prometo! Nós estamos nos dando uma chance, ele também teve seu coração partido no passado e ambos arriscamos quando decidimos namorar, mas eu gosto muito dele para não ter fé de que dará certo... – falou com esperança.

— Tudo bem princesa, apenas tome cuidado! Eu amo você e estou com saudades...

— Te amo mais! Volta logo...

—______________________________________

Heitor levantou cedo e extremamente feliz, estava ansioso por rever Helena, abraçá-la, beijá-la... Tomou um banho rápido e caprichou na produção, escolheu um terno Dolce&Gabbana esporte fino feito sob medida, colocou o melhor perfume, deu uma arrumada no cabelo e percebeu que não conseguia desfazer o sorriso desde ontem.... Imaginou com que visual ela iria surpreendê-lo hoje, e esperou para conferir pessoalmente, ainda mais agora que ele poderia verbalizar os elogios que antes ele só dizia com os olhos.

A senhorita Soriano acordou tão feliz e cedo quanto o namorado, tomou um relaxante banho de banheira, abusou dos cremes e óleos corporais, demorou bastante, enquanto estava em seu mini SPA pensou na roupa que usaria, em Heitor e quanto queria estar com ele... “Céus eu preciso parar de pensar nele todo tempo – e sorriu – Eu estou começando a amá-lo Heitor, só te peço, não parta meu coração também...”. Colocou uma calça jeans escura, uma blusa de seda preta e soltinha e uma jaqueta vinho que ela tinha trazido de Milão e adorava. Deixou os cabelos soltos, destacou os olhos com um lápis preto, passou um batom nude e colocou sandálias altas na cor marrom.

Helena fez um rápido desjejum e correu para a construtora na intenção de ver Heitor, esperando que os outros arquitetos ainda não estivessem lá e eles pudessem desfrutar da companhia um do outro. Ele fez tal qual ela, parecia ter sido combinado, demorou se arrumando, tomou café depressa e dirigiu-se para a construtora com o objetivo de vê-la...

Ele chegou primeiro, trazendo consigo um suntuoso buquê de rosas. Como não viu o Audi dela, resolveu subir e colocar as flores e um cartão em sua mesa. Voltou ao seu escritório e ficou espiando através da vidraça que dava para o estacionamento... Não demorou mais que 15 minutos e ela chegou, desceu depressa do carro ao perceber que a Ferrari de Heitor já estava estacionada. De longe era difícil contemplar o quão bonita ela estava, ele esperaria para ver de perto...

Helena chegou em sua sala e se surpreendeu ao ver flores, olhou no corredor e ninguém estava ali ainda, percebeu um cartão e leu:

“Minha Helena,

Desde ontem não consigo tirá-la de meus pensamentos, na verdade, já faz um tempo que não... Trouxe essas rosas vermelhas, pois me lembram seus lábios que quase sempre estampam essa cor e me encantam, noite passada em especial.

Anseio por vê-la,

H.H”

Suspirou e tentou não sair correndo em direção a sala dele, controlou-se para não parecer uma louca na frente da secretária e pediu que ela a anunciasse. A moça disse que ela poderia entrar, pois Heitor já a aguardava.

O escritório era bem grande, tinha vários ambientes, desde uma mesa para reuniões a uma sala com sofá, TV e mini cozinha, e era neste lugar que Heitor estava sentado. Ela entrou e ele se apressou em sua direção, sorriu, passou os braços ao redor da cintura dela, puxou-a para si colando seus corpos e disse com um sorriso enorme:

— Bom dia meu bem! Você consegue ficar mais linda a cada dia! Gostou da surpresa?

— Bom dia bonitão! Gostei muito, principalmente em saber que pensou em mim a noite toda... – mordeu o canto inferior dos lábios provocando-o.

— Não só essa noite, todas desde que a conheci... E se você continuar mordendo os lábios assim eu não responderei por mim...

— Ohh, por favor, não responda! – abriu um largo sorriso para ele.

Heitor sem hesitar beijou-lhe apaixonadamente, caminhou com ela ainda entre seus braços até a sala em que estava anteriormente, e no caminho pressionou-a contra uma parede, descendo sua boca pela região do pescoço e ouvido, dizendo-lhe palavras doces que faziam seu coração derreter e outras nem tão doces assim, mas que levavam o coração e corpo de Helena a queimar... Permaneceram naquela atividade por mais alguns minutos, depois tentaram se recompor e sentaram-se no sofá... Ali continuaram a trocar mais carícias, não menos intensas que as de poucos minutos atrás...

Helena voltou a si e interrompeu o ato, antes que ele não pudesse mais ser parado, ele pediu desculpas e a culpou por ser linda e provocante, ela sorriu e respondeu-lhe que a culpa não era apenas dele, já que tinha uma “queda” por olhos azuis... Olharam em seus relógios, dali a poucos instantes os demais funcionários chegariam, aproveitaram o restante do tempo para conversar...

— Eu contei ao meu pai sobre nós – disse esperando uma reação temerosa dele.

Para sua surpresa, Heitor parecia tranquilo - “poderia ele ser o primeiro a não temer o poderoso Inácio Soriano?” – e respondeu:

— E o que ele disse?

— Bom, ele é muito ciumento Heitor, vai pertubá-lo o quanto puder... Mandou mil recomendações, disse para tomar cuidado, que só não voaria pra cá ontem mesmo por que conhecia seu pai e etc... Mas, apesar de tudo, ele quer conhecê-lo melhor, falei que marcaríamos um jantar quando ele estivesse na cidade... O que você acha?

— Acho ótimo! Eu quero conhecê-lo também, meu pai sempre falou tão bem dele... Acredito que seu pai seja um grande homem, só pelo fato de ter feito de você essa mulher incrível, ele já merece todo meu respeito...

— Ele é mesmo! É um homem maravilhoso, meio orgulhoso e insociável, mas o dono do coração mais lindo que eu já vi... Ele vai te dar trabalho, me escute – Helena sorriu para ele – tem um ciúme de mim maior que sua fortuna...

— Se eu tivesse como única filha uma moça tão linda quanto você, - se aproximou para beijá-la - também me desmancharia em ciúmes de qualquer um que se aproximasse!

Antes de completar sua ação, Helena o interrompeu, penetrando os lindos e vívidos olhos negros nos dele, segurou sua face delicadamente com as duas mãos e disse-lhe:

— Por favor, não me machuque, eu estou gostando muito de você, muito mesmo, porém estou sentindo um medo tão grande quanto, por que eu não consigo controlar isso, acho que, posso até dizer que nunca senti isso antes, não sei dizer se é amor, mas... – ela parou e olhou mais profundamente em seus olhos, sondando-os – só prometa-me que não destruirá isso...

Ele manteve seus olhos nela, nunca havia sentindo algo tão doce, puro, tão cheio de paz e agradável dentro de si como diante daquele olhar, Heitor reconhecia que tal sensação ninguém fora capaz de proporcionar-lhe, nem mesmo sua ex-mulher que ele acreditou amar, se ele tinha dúvida, agora não mais, Helena de fato, era a mulher da sua vida! E soube disso ali, no momento em que conseguiu derrubar o último tijolo ainda em pé em sua muralha e admitir para si que a amava antes mesmo de terem tido uma noite juntos sequer.

— Você é a mulher da minha vida! Minha Helena, eu cuidarei muito bem do seu coração, pois se ele for machucado, automaticamente o meu será!

Deu segmento a ação de Heitor que ela própria tinha interrompido, mas dessa vez para os dois o beijo teve um sabor diferente, não era só desejo, tinha algo mais envolvido e a sensação era maravilhosa para ambos...

Combinaram que dentro da construtora seriam discretos e manteriam a distância que pudessem, uma vez que não queriam ninguém se intrometendo e comentando sobre o relacionamento deles, até porque os dois tinham uma vida pública... Saíram da sala e voltaram a fazer suas funções. Mas os olhares que trocavam denunciavam seus sentimentos, por respeito ao patrão ninguém tocava no assunto, mas a maioria sabia que rolava algo entre eles...

—______________________________________

A semana passou rápido, e chegou o dia do jantar com o sogro, Heitor não estava assustado ou algo do tipo, tinha certeza do que sentia por Helena e apenas confirmaria isso diante do Sr. Soriano. Helena sentia-se imensamente feliz, ela estava mais segura com relação ao seu namorado, ele fazia com que ela se sentisse a mulher mais amada e desejada do mundo, durante toda semana não houve um dia sequer sem que Helena chegasse a empresa e não houvesse sobre sua mesa um presente. Um a agradou em especial, um par de brincos de pérolas negras, e no cartão dizia: “Sei que essas pérolas brilham intensamente minha querida, mas adoraria ver a luz dos seus lindos olhos ofuscá-las...”. Ele a mimava de todos os jeitos, e apesar de não gostar de se sentir dependente e bajulada, ela estava apaixonada demais para não gostar das muitas atenções que ele lhe dispersava...

Estavam muito apaixonados, ele estava sendo muito paciente, porém no ápice dos beijos, abraços e carícias ficava cada vez mais difícil fugir dele, Helena sabia que mais cedo ou mais tarde, teria que ceder. Ela não adiaria quando sentisse que era o momento e também não queria que a primeira vez deles fosse de qualquer forma, teria de ser especial e única. Para Heitor cada dia que passava era mais difícil resistir, ela era tão linda e sabia bem como encantar qualquer homem, sempre tinha algo novo para surpreendê-lo, ele só queria amá-la e ficar com ela, mas não desejava que fosse de qualquer forma, amava-a demais, então começou a idealizar um momento e lugar especial para a primeira vez deles...

— Ei bonitão, tudo certo para hoje a noite? – ela perguntou enquanto entrava na sala dele e ia em sua direção...

O casal tinha combinado de almoçar junto, ali mesmo, para acertar os últimos detalhes sobre o jantar...

— Ei bonitona, já estava com saudade – deu um beijo rápido em sua boca – Só estou terminando de mandar esse email, então poderemos comer e falarmos sobre o jantar...

— ok! – ela foi andando para a sala que ficava mais distante da mesa de trabalho. Ali era uma espécie de adaptação de sala e cozinha, tinha uma bancada que já estava servida com uma refeição e talheres, sentou-se olhando o que estava diante dela e o aroma despertou-lhe ainda mais a fome. Não demorou muito e Heitor já estava ao seu lado lhe fazendo companhia, como ambos estavam famintos se deliciaram com a comida e iniciaram a conversa acertando os últimos detalhes do jantar...

— O que você está achando disso? – disse enquanto colocava a última garfada na boca.

— Está maravilhosa querida, vou pedir comida nesse restaurante mais vezes...

— Não bobo – ela sorriu – eu não me referia a comida, eu me referi a nós, como está sendo para você essa história de compromisso?

Ele já havia terminado e tomava um pouco de água, colocou a taça sobre a mesa, segurou sua mão e disse:

— Eu ia perguntar a mesma coisa a você, mas vou lhe responder primeiro... Olha Helena, eu sinceramente não esperava que fosse tão bom assim, meu último relacionamento foi muito complicado e doloroso, minha visão de amor estava deturpada, quando te beijei aquele dia, não esperava que você fosse me mostrar o quão sublime pode ser amar e ser correspondido – ela corou – ... E quanto a você?

Helena beijou o dorso da mão dele e depois pressionou-a com delicadeza sobre sua face, respondendo:

— Estou felicíssima em estar com você, a cada dia tens me surpreendido, mimando-me até demais, quando você me olha eu sinto um frio na barriga inexplicável, quando me abraça os meus medos se vão... Eu aprendi a confiar em ti e a cada dia, sem receio, vou me apaixonando pela pessoa incrível que descubro ao meu lado.

Ele se aproximou e beijou-a com muita paixão, guiou-a até o sofá e ali desfrutaram da companhia um do outro... Helena permanecia com a cabeça encostada no peito dele, até que perguntou:

— Não quero que você se chateie e se não quiser, não precisa responder, mas eu sempre o ouço falando dessa pessoa do passado que o magoou, o que aconteceu Heitor?

Ele a levanta com delicadeza e a põe de frente para si, fica um pouco temeroso e fala:

— Essa história é mais complicada do que pensas, eu fui magoado, porém fui um estúpido com alguém muito estimado... – ela o interrompe.

— Querido, se não quiser não precisa...

— Não, você merece saber, mas tenho medo de como isso afetará sua visão com relação a mim...

— Apenas me conte e deixe as conclusões por minha conta...

— Eu e Alexandre somos amigos desde... É... Desde sempre – sorriu – O pai dele trabalha para o meu pai há muitos anos, Alê é apenas alguns meses mais velho, minha mãe tinha dificuldade para engravidar e por isso quando ele nasceu (mesmo ela já estando grávida), ele foi meio que o “primeiro filho”, entende?! – Helena balança a cabeça afirmativamente e tentando entender onde ele queria chegar com aquela história – Então, fomos criados e fazíamos tudo juntos, como irmãos mesmo. Crescemos e fomos para faculdade, no último ano dele, eu já havia terminado e estava fazendo uma especialização... – Helena percebe que a voz de seu namorado começa a falhar e segura em sua mão incentivando-o a continuar – Foi ai que tudo começou... Ele conheceu uma moça, Bianca, ficaram noivos, ela era muito linda e provocante, mas uma golpista sem nenhum valor! Quando percebeu que apesar de ter uma vida muito confortável, Alexandre, não era filho de Philip Herrera como ela pensava, trocou a presa... Então ela conseguiu me enfeitiçar de tal forma que não pensei muito, fugi com ela para Genebra, lá nos casamos – nessa hora Helena fez uma expressão de incredulidade – e vivemos por dois anos... Eu me sentia feliz, pensava que ela me amava, era imaturo demais para entender que sexo é diferente de amor... No final do primeiro ano meu pai cancelou os cartões, não vi problema, porém ela começou a me trair com qualquer um que tivesse mais dinheiro que eu, não tenho coragem de voltar a Suíça depois da forma como ela expôs meu nome, só que eu estava literalmente cego, e não quis ver nada disso, foi só quando ela foi embora com um joalheiro milionário e levando quase todo meu dinheiro que realmente eu acreditei...

— Meu Deus Heitor, que mulher “baixa”... E então? – Ela perguntou ainda perplexa com o que ouvira...

— Passei uns meses muito mal, estava acabado, não tinha ninguém, rompi com meus pais, com Alê... Nunca senti sensação mais horrível do que aquela, e entendi que era o preço por ter traído meu melhor amigo. Eu nunca dormi bem por causa disso, e nesses últimos meses haviam sido pior, queria voltar para casa, ter minha vida de volta, mas não sabia como... Meu pai estava furioso, então resolvi ligar para minha mãe, para minha surpresa ele atendeu o celular, eu contei o que tinha acontecido, pedi perdão e ajuda... Ele correu para Genebra, me trouxe de volta, consertamos as coisas em casa e logo depois com Alexandre. Me divorciei... Sabe Helena, eu sempre admirei o meu amigo, mas depois da forma como me perdoou e me aceitou de volta em sua vida, eu entendi que ele era, de longe, o homem mais incrível que eu conheci. Sobre vim para o México eu já lhe contei antes, não foi?! – ela balança concordando – Desde isso, eu evito relacionamentos sérios...

— Nossa, parece até mentira, vocês se dão tão bem que é difícil acreditar que já se desentenderam dessa forma no passado... E essa mulher?! Não acredito que se casou com ela!!! Mas depois disso, eu até entendi seu medo de ter algo sério com alguém...

— Pois é, eu fui um perfeito idiota, burro e tantos adjetivos do gênero! Me arrependo disso todo dia...

— Agora eu entendi uma coisa Heitor – ela sorriu.

— O que? – ele pergunta assustado.

— Semana passada, no restaurante, quando você pensou que eu estava interessada em Alexandre, não quis nem “lutar” por mim, por que se sentia em dívida com ele, não é mesmo?

— Também, mas a grande verdade é que além da “dívida”, ele é um grande homem, dificilmente conhecerei outrem com sua integridade e caráter, por isso eu o achei mais merecedor de você do que eu!

— Oh Heitor, nunca mais diga isso! – o abraçou com muita força e carinho – Você é sim digno de mim, por mais que meu pai diga o contrário hoje no jantar – eles riram – você é um homem maravilhoso, cometeu um erro no passado, mas demonstrou sua grandeza ao se arrepender e pedir perdão, isso fez com que eu o admirasse mais... Quero contar-lhe minha história, porém ficará para outro dia...

Passou a mão pelos cabelos dele, beijou seu queixo, depois subiu vagarosamente até sua boca, onde os pequenos ósculos aumentaram de intensidade. Em meio as carícias, Heitor instintivamente a deita no sofá e começa a levantar sua blusa, Helena trava e ele percebe, então para e pede desculpas dizendo:

— Acho melhor pararmos por aqui! – Heitor riu.

— Também acho! – ela responde desconcertada e com um sorriso suave.

Eles se levantam e arrumam suas roupas, estavam divertidamente envergonhados, ele por ter tentado e ela por não ter deixado... Heitor tenta quebrar o silêncio constrangedor:

— Você acha que eu devo fazer a barba para falar com seu pai hoje?

— Se você tirar essa barba, - ela o olha arqueando a sobrancelha direita – eu termino com você, entendeu bonitão?!

— ok! – levantou as duas mãos para cima sorrindo.

— Agora vamos voltar aos nossos afazeres que nosso horário de almoço já findou... – ela disse.

Ele a acompanhou até a porta e deu um beijo em sua testa:

— Para não arriscar.

—_______________________________________

Mais tarde no jantar, Heitor chegou no horário, Helena e Inácio estavam sentados na mesa o aguardando, o rosto da moça se iluminou ao vê-lo entrar e os dele também, o pai percebeu a ligação deles e continuou a observá-los durante o decorrer da noite... Como de praxe, ela estava deslumbrante e ele não deixou a desejar as expectativas dela. Se aproximou da mesa, e os dois se levantaram para cumprimentá-lo, Soriano mostrou-se muito reservado, sério e algumas vezes lança-lhe um olhar ameaçador, e Heitor olhava para Helena e sorria, já que ela o tinha precavido de que ele agiria assim, em nome do zelo e ciúmes que tinha da filha...

O jantar seguiu agradável, eles descobriram muitas coisas em comum, falaram sobre suas famílias, aspirações e projetos. Soriano elogiou muitos prédios que Herrera Construções ergueu, inclusive todas as casas dele, até mesmo as da Itália... Heitor o agradeceu e parabenizou pela diligência e eficácia ao conduzir seus negócios... Depois de terem conversado bastante, Inácio lança um olhar para Helena e ela pede licença para ir ao banheiro, e ele fala:

— Nossa conversa tem sido muito boa, Heitor, mas não estou aqui apenas por que queria conhecer melhor o filho de um velho amigo, e sim por desejar saber quais são suas reais intenções com minha filha?

Heitor estava surpreso da atitude, mas no fundo esperava por este confronto:

— Sr. Soriano, eu vim a esse lugar hoje ciente de que me abordaria assim, dado sua fama de protetor com relação a ela, mas gostaria de lhe dizer o quanto eu a aprecio, Helena é uma mulher incrível, ela não é apenas bonita, ela é linda, pois interiormente tem um bom caráter. Me surpreendo, com a educação que deu a ela, diariamente. Sua filha conseguiu algo que eu julgava quase impossível, ela me ensinou a amar de novo, fez com que eu me apaixonasse outra vez! Tal qual o Sr., o que eu menos quero é vê-la sofrer. Meu desejo é fazê-la a futura Sra. Herrera.

Inácio tinha uma facilidade de analisar as pessoas, sabia que Heitor não mentiu ao dizer-lhe aquilo. Sorriu para o rapaz, estendeu o copo e brindou com ele dizendo:

— Então, a Heitor e Helena!

— A Heitor e Helena - ele repetiu.

Helena vinha se aproximando, e ele sussurrou para Heitor:

— Sei que gosta muito da minha filha, vejo uma pequena luz crescer nos olhos de ambos, mas vou deixar bem claro para você, meu jovem, Helena é tudo, tudo para mim, e se magoá-la, se ferir o coração dela, eu juro que o matarei! Entendido?!

Heitor não tinha medo dele, apenas sorriu e disse-lhe:

— Ok! Mas isso não acontecerá.

— Tudo bem rapazes?!

— Sim – disse Inácio.

— Claro – respondeu Heitor.

Soriano levantou-se para atender um telefonema, e os dois permaneceram na mesa. Ele a olhou por alguns segundos, ela percebendo lhe pergunta o motivo, então ele diz:

— Só admirando o quanto está magnífica hoje! – revelou a ela o sorriso que tanto a encantava e ela amava.

— Obrigada! – disse e beijou-lhe delicadamente.

Um barulho como de tosse os interrompe e percebem que Inácio havia voltado...

— Vou atender o celular aqui ao lado e vocês aproveitam para se beijar, imagina se eu tivesse ido longe... – os três sorriem.

— Papai o senhor é um bobo...

— É por isso que hoje vou dormir no seu apartamento querida!

—______________________________________

Os dias se passaram, era quinta-feira a tarde e o último fim de semana do mês se aproximava. Heitor estava ansioso demais, tinha planejado uma viagem a Cancún com Helena, onde teriam um final de semana romântico, mas devido aos muitos compromissos com as obras do condomínio, teve que mudar os planos, organizou tudo em um chalé de luxo a poucos quilômetros da cidade, o jantar, as flores e a jóia... Ainda não era o anel de noivado, era um colar de ouro com rubis cravejados, que ele pediu que fizessem exclusivamente para ela...

Segurava a jóia recém chegada e a apreciava imaginando como ficaria perfeita no pescoço dela. Alexandre chega e entra em seu quarto elogiando a peça em suas mãos:

— Nossa Heitor, muito lindo esse colar! Tenho certeza que Helena vai adorar...

— Ah, eu tenho certeza que vai sim. Eu quis agradá-la pegando um dos desenhos dela, mandei uma cópia para a joalheria e pedi exclusividade, claro! Esse colar meu amigo, foi ela quem projetou...

— Você definitivamente sabe como encantar uma mulher, ainda mais quando quer algo não é? – e sorriu.

— Alê para! Você sabe que minha história com Helena é séria, eu quero que essa nossa primeira noite juntos seja especial e única, e o que eu puder fazer para torná-la isso, eu farei...

— Eu sei irmão, eu só estou brincando contigo! Mas, sério, ainda não sei como você conseguiu esperar tanto tempo...

— Foi o mês mais difícil da minha vida, três meses desejando-a e quando consigo conquistá-la, tenho que esperar mais um “para tê-la”, e ainda, Helena não colaborou nenhum um pouco, quase me deixou louco... - e respirou fundo – Quero surpreendê-la com cada detalhe...

— Espera aí, ela não sabe? – perguntou confuso.

— Ela sabe que vamos ter uma “noite especial”, antes ela sabia da “viagem especial”, porém devido aos imprevistos, tivemos que ficar e eu mudei o nome do programa... Ela imagina o que vai acontecer, mas não como vai acontecer, nem aonde...

— E que lugar seria esse? – Alexandre pergunta curioso.

— Você se lembra de um uns chalés para hospedagem de luxo que projetamos ano passado e que nos rendeu um prêmio?!

— Sei sim, aqueles que ficam a uns poucos quilômetros da cidade não é?!

— Isso, esses mesmos! Já está tudo organizado para amanhã a noite... Finalmente ela será minha por completo!

—____________________________________

Já era manhã de sexta, Helena acordou extremamente feliz, mas um pouco tensa também, hoje seria o grande dia deles e ela queria estar perfeita. Tinha contratado um cabeleleiro e uma esteticista particular para lhe atenderem em casa quando terminasse o expediente, encomendou um vestido Valentino vermelho escarlate que mesclava recato e ousadia, e um salto Laboutin preto. Depois do banho matinal, deixou tudo organizado em um canto do seu closet e vestiu-se para ir a construtora. Foi para a cozinha tomar café da manhã e checou o celular, tinha uma mensagem de Heitor que dizia:

“Quero tornar esse dia perfeito para você, surpreendê-la nos mínimos detalhes, por favor não demore, sinto falta dos teus beijos e anseio em vê-la!”

Helena suspirou ao ler a mensagem, Heitor conseguia fazê-la perder o chão, mesmo sendo tão racional e meio bruto, ele conseguia ser romântico, agradá-la e a deixava encantada. O modo como a olhava, tocava, era tão intenso e cheio de desejo, mas ao mesmo tempo doce, sutil... Ela pensava: “Conseguiu, você conseguiu Heitor, é o dono do meu coração e desejo, e eu não tenho dúvidas de que o amo!”

Chegou na construtora e antes de ir ao encontro dele, acelerou os passos até sua sala para deixar a bolsa, grande foi sua surpresa ao ver aquele ambiente repleto de flores, muitas rosas vermelhas espalhadas por vários lugares, ela sorria sem acreditar, se o seu propósito era deixá-la sem reservas para a “grande noite”, ele estava conseguindo, pois Helena estava completamente rendida... Em cima da mesa, uma caixa de jóias com um par de brincos de ouro com rubis cravejados continha um cartão com o seguinte texto:

“Bom dia para a mulher mais linda que eu conheço e que roubou meu coração! Hoje eu acordei desejando-a ainda mais, sei que já és minha, entretanto hoje isso se consumará, e uma vez que fores completamente minha, será por toda a vida!

P.S: Vá com esses brincos hoje a noite e deixe seu pescoço livre, pois a outra peça eu mesmo quero ter o prazer de colocá-la em você.

Beijos, seu H.H”

Bateu na porta de sua sala e ele correu para abrir, ela entrou dando-lhe um beijo apaixonado, impedindo-o de falar qualquer coisa e fechando a porta atrás de si, ele se surpreendeu com a atitude, mas gostou muito, passou os braços ao redor de sua cintura e trouxe para mais perto de si, quando pararam para respirar ela disse:

— Bom dia meu bem! Eu amei tudo, tudo, tudo! Não imaginas o quanto desejo essa noite também...

— Não tanto quanto eu! – ele sorri beijando-a novamente - Ah – ele interrompe o beijo – eu adorei sua recepção hoje! – riu de novo.

— Espere até mais tarde então e ficará muito mais satisfeito! – ela arqueou a sobrancelha direita e lançou-lhe um olhar muito malicioso.

— Helena, Helena, não me provoque antes do tempo, se eu trancar aquela porta, você não sai dessa sala até me dar o que eu quero! – continuava com uma mão na cintura dela, a outra elevou até seu rosto fazendo carinho e sorriu.

— Você é o culpado! Sabe como envolver uma mulher muito bem – eles riram.

Continuaram olhando-se por algum tempo, tanto ele quanto ela tinham em seu coração a certeza de que se amavam, mas não sabiam se era hora de dizer aquilo, apesar da troca de olhares os denunciarem, permaneceram calados, inertes, apenas mergulhados na imensidão de seus olhares, Heitor encantado com aqueles olhos negros e cheios de vida, e Helena com aquela tonalidade de azul, era como ver o mar, as vezes sutil querendo acalmá-la, outras forte e intenso, desejando-a. Ambos permaneciam completamente perdidos em sua observação, ela respirou fundo ainda encarando-o, ele mal piscava para não deixar de contemplá-la... Beijou a testa dela e com leves beijos desceu até seu ouvido e sussurrou:

— Está mesmo preparada para hoje a noite?

Ela inclinou-se um pouco, chegando bem próximo ao ouvido dele, e respondeu:

— Tenho me preparado para ela há um mês!

E mais uma vez beijaram-se com intensidade, ele a abraçava com força, ela também. Ficaram por mais uns minutos ali e ela parou o momento dizendo:

— Querido, por mais que eu queira muito ficar aqui, preciso ir adiantar meus projetos se não, não conseguirei sair daqui a tempo de me arrumar!

— Eu sei meu bem, então vá – ele disse soltando-a com certa dificuldade – antes que me arrependa...

Despediu-se com um beijo em sua face e voltou para sua sala, os outros arquitetos já tinham chegado e sorriram para ela quando viram a sala repleta de flores, todos desconfiavam do relacionamento deles, apesar de serem muito profissionais ali dentro, (com exceção de quando ficavam sozinhos na sala de Heitor) as rosas foram a confirmação que faltava. “Muito bem Heitor, me colocou em maus lençóis, isso é por que eu pedi para sermos discretos...” ela pensou rindo. Heitor não se importava que soubessem, ele planejava casar-se com ela, então não daria para esconder para sempre...

—_____________________________________

Como era sexta feira o expediente terminaria as 17h, Heitor estava terminando de enviar emails e revisando alguns documentos importantes acerca do condomínio, olhou em seu Hublot e ele marcava 17:18h, interfonou para sua secretária e ninguém respondeu, então lembrou-se que hoje todos sairiam mais cedo, pois era véspera de um feriado importante no país. Levantou-se e foi em direção a porta, abriu e percebendo que tinha esquecido o celular em cima da mesa volta para pegá-lo deixando-a aberta, de costas para a entrada, ele sente uma mão delicada e feminina tampando-lhe os olhos, sorriu, virou-se puxando-a contra seu corpo, e disse-lhe ainda de olhos fechados:

— Senti sua falta querida! – então abriu os olhos.

— Eu imaginei! – falou uma voz conhecida, mas não a que ele imaginava que fosse.

Sem que ele pudesse reagir, ela beijou-lhe e passou os braços ao redor do pescoço dele. Heitor estava completamente perdido, não sabia se estava tendo um pesadelo ou se era real... “O que Bianca faz aqui?” Pensava completamente atônito.

Ela continuava com os braços nele, e ele estava perplexo demais para reagir, ela disse-lhe:

— Eu sabia que tinha sentido minha falta! Por isso voltei...

— Eu não... É... Eu não estava... Não senti... – disse confuso.

Não pode terminar de falar, pois foi atrapalhado por uma outra voz familiar:

— Desculpe atrapalhá-lo senhor, vim apenas entregar esses papéis e informar-lhe que a reunião de mais tarde está cancelada! – Helena disse perplexa pela cena que virá e virou-se saindo da sala.

— Helena, espere! – ele se inclinou tentado sair.

— O que foi querido? Deixe-a ir – Bianca disse passando a mão em seu rosto – com certeza é só mais uma secretariazinha que se encantou por você!

Heitor se desvencilhou dos braços de Bianca e correu atrás de Helena. Ela estava completamente perdida, confusa e com muita raiva da cena que acabara de presenciar... Queria chorar, mas não daria esse gostinho a ele... “Canalha, idiota, cretino! Como pode fazer isso comigo na noite em que... Burra, como fui burra!” Estava perdida em seus pensamentos, quando olhou ao redor da sala, todas aquelas flores, sentiu uma vontade tremenda de jogar todas no chão, respirou fundo e saiu, estava no corredor, com sua bolsa na mão, quando conseguiu alcançá-la.

— Helena, por favor, espera! Deixe-me falar com você...

— O que você quer me dizer Heitor? Acho que eu já vi e ouvi o bastante por hoje – disse visivelmente alterada.

— Helena, eu ainda não consegui racionalizar o que aconteceu ali? Quando eu percebi, Bianca estava me beijando e... – continuava perdido.

— Então, essa é Bianca?! E você ainda teve coragem de beijar essa mulher depois de tudo que ela lhe fez?! Você é um estúpido mesmo! Ainda bem que ela apareceu hoje, ou eu poderia me arrepender de muito mais do que apenas tê-lo beijado! – Helena fala furiosa, mas sem fazer vexame.

— Helena, eu não a beijei, ela apareceu na minha sala do nada e... – ela o interrompeu.

— Eu sei o que eu vi Heitor! Você estava com as mãos na cintura dela, seus corpos estavam colados e eu o ouvi dizendo que sentiu saudades... – A voz saiu falha dessa vez, quis chorar, mas segurou-se puxando a respiração.

Heitor se deu conta que ela realmente viu tudo! “Droga, droga, droga... Dessa vez eu mato aquela mulher!”

Ele respirou fundo e disse:

— Meu bem...

— Não ouse me chamar de meu bem outra vez! – falou duramente.

— Helena, por favor, me escute! Eu só disse aquilo por que pensei que era você, eu estava de olhos fechados...

Helena deu uma risada sarcástica:

— Você é ridículo Heitor! Depois que abriu os olhos por que não saiu dos braços dela então?!

— Por que eu não tinha conseguido processar aquilo, achava que estava sonhando...

— Tchau Heitor! Volte para sua Bianca, vocês se merecem... – seguiu para o elevador.

Ele correu e segurou-a pelo braço com certa força que a fez virar-se:

— Me solte, está me machucando e não pode me manter aqui, pois meu expediente já acabou! – disse tentando soltar-se dele.

— Helena, pare e me escute! – disse com seriedade – Você não pode ir assim, e a nossa noite, nós dois, como ficamos?

Heitor não pensou no que tais palavras significariam para Helena, falou sem pensar apenas em seu desejo de estar com ela, queria realmente resolver a situação entre eles, mas ela entendeu de outra maneira, sentiu-se extremamente ofendida e foi dura com ele:

— Nós dois? Nossa noite? Sério isso? Faz assim então – a ironia em seu tom aumentava a cada palavra dita – já que você a “confundiu comigo” enquanto estava de “olhos fechados”... Leva-a em meu lugar e feche os olhos que tudo estará resolvido! Adeus Heitor!

— Helena... – disse enquanto o elevador se fechava a sua frente.

—_________________________________

Helena entrou no carro e desabou em lágrimas, se sentia traída, humilhada, magoada... “De novo não, eu devia saber que isso não ia acabar bem...” Batia com força no volante... “Não devia ter confiado em você Heitor, nunca devia ter aberto meu coração para que você entrasse...” Passou cerca de dez minutos ali dentro, parada e chorando muito, se acalmou mais, respirou fundo e dirigiu para casa.

Heitor voltou para sua sala tomado de ódio e raiva, se ele não matou Bianca há dois anos, ele certamente a mataria agora! Pensava como ela era eficaz em destruir sua felicidade, desejou com todas suas forças voltar no tempo... Se por causa dela ele perdesse Helena, ela pagaria caro... Entrou no escritório muito irado, ficou observando, analisando-a... Ele percebeu um sorriso em seu rosto, ela acreditava mesmo que poderia dominá-lo outra vez?! “Você nunca mais brincará comigo Bianca, nunca mais! Sua mascará caiu para mim...” por vezes quis esganá-la, e agora mais que nunca...

— Você é louca ou o que? Tem noção do que acabou de fazer?! Quem te deu permissão para entrar na minha empresa e sentir-se na liberdade de me beijar? Eu não tenho mais nada com você...

Ela apenas sorriu e disse:

 

— Ora, beijei você por que disse que sentiu minha falta... E foi você quem me puxou...

— Só fiz isso por que pensei que fosse Helena! Eu deveria matá-la Bianca, você não tem escrúpulos mesmo não é?!

— Nossa, não imaginava que a secretária fosse tão importante e... – ele a interrompeu.

— Você realmente não a reconheceu? – Heitor soltou uma risada sarcástica – Ela não é uma “secretariazinha”, é a arquiteta chefe do novo projeto e minha namorada! Ou pelo menos era graças a você! Não cansa de estragar minha vida?!

— Oh, Heitorzinho venha cá – e abriu os braços – deixe-me consolá-lo. Tenho certeza que ela nunca lhe proporcionou o que eu lhe dei, vamos, venha...

— Cale-se agora! E realmente, ela nunca fez comigo o que você fez, pelo contrário, trouxe alegria e amor a minha vida... Suma daqui Bianca!

— Heitor – disse com sagacidade, tentando provocá-lo e levantou a mão para tocar sua face.

Antes que ela conseguisse tocá-lo, ele segurou seu pulso com firmeza e disse:

— Eu mandei você ir embora daqui, agora! Suma daqui e vá logo, antes que eu chame os seguranças, e nunca mais ouse vir aqui, nunca mais ouse aparecer na minha frente, ou eu mato você, eu juro que te mato...

Ela se retirou indignada, percebeu que seu feitiço sobre Heitor havia acabado.

— Desgraçada! Desgraçada! – falou derrubando alguns objetos pelo chão.

Ele imediatamente ligou para Alexandre e pediu que fosse com urgência para a construtora... Alexandre preocupado chegou no menor tempo que pode... Encontrou Heitor com os olhos vermelhos, com um copo de uísque na mão e alguns cacos espalhados pelo escritório, correu na direção do amigo e perguntou:

— Heitor, o que aconteceu aqui? Por que está assim?

Heitor estava arrasado, Alê sentou ao seu lado e ele tomou um gole para conseguir falar. Contou-lhe a história e ele incrédulo expressou-se:

— Você está brincando, eu não acredito! Bianca aqui e Helena viu tudo?! Minha nossa, não sei nem o que falar... Que cretina!

— Alexandre eu nunca desejei matar alguém como desejei fazer com Bianca agora a tarde! Aquele olhar de desdém, esnobismo, cheio de vaidade e soberba, depois sorriu quando viu o que fez... Odeio aquela mulher, odeio!

— Você tentou conversar com Helena, explicar a situação?! – perguntou aflito.

— Tentei, mas ela estava muito chateada para me ouvir, ela me ouviu dizer que sentia falta dela e abraçando-a... – parou e bebeu mais um gole

Alexandre fez uma expressão de surpresa:

— Como assim?! Eu não sabia que ainda sentia... – Heitor o interrompeu.

— Claro que não, não sinto nada! Não sinto nada a não ser nojo daquela mulher... A questao é que eu pensei que fosse a Helena, já estava tarde, todos tinham ido, quem costumava ficar até mais tarde era ela, então alguém entrou e fechou meus olhos com as mãos e eu acreditando que fosse Helena, puxei Bianca e disse que senti falta... Depois fique tão confuso que não consegui pensar e sair dos braços dela... Helena viu tudo e saiu da sala perplexa, não quis me ouvir... Alexandre, se eu perder Helena, não sei como farei...

— Heitor, calma! Pare de beber, se recomponha, vamos para casa tomar um banho e mais tarde, quando ela estiver com cabeça mais fria você passa na casa dela e tenta conversar...

— Ela não vai querer me ouvir, se ponha no lugar dela amigo, era para ser a primeira noite comigo e me ouve dizendo que senti falta de outra, e não qualquer mulher, mais justamente minha ex-esposa e aquela que quase acabou com minha vida! Ela me odeia!

— Heitor pare de se torturar, ela está magoada agora e realmente não vai querer te ouvir, mas... – Heitor o interrompe.

— Mas nada Alê, acabou! Você não entende, não é? Eu finalmente encontrei a mulher da minha vida, entendi o que é amar, prometi que cuidaria do coração dela e agora o apunhalei! Eu perdi Helena! – tomou o resto da bebida toda de uma só vez para encobrir o choro.

— Eu entendi tudo isso! – falou agravando a voz – Só acho que quem não está entendendo as coisas é você! Heitor, só a perderá se não for atrás dela, se não lutar por ela, ela o ama, está ferida, mas ama você! Levante desse sofá, vamos para casa, tome um banho, se arrume e vá conversar com Helena, ela já vai estar mais calma e lhe escutará...

— Você acha que irá me ouvir? – disse esperançoso.

— Eu tenho fé que sim! Helena tem um coração bom, vai lhe dar outra chance.

—____________________________________

Helena chegou em casa e não conseguia acreditar, ainda chorava muito, entrou no quarto e se jogou na cama. Não demorou muito e o recepcionista ligou dizendo que duas pessoas a aguardavam na lá em baixo, pediu que os dispensasse e que a desculpassem, mas ela estava se sentindo muito mal e teria que cancelar. Ficou deitada por um tempo, pensando nas cartas, nos presentes, nas flores, nos beijos e carícias, e não conseguia acreditar que ele estivesse mentindo o tempo todo, depois lembrava da cena que viu, ele segurando a cintura de outra, sorrindo, o sorriso encantador que acreditava ser apenas para ela. E chorou ainda mais... Resolveu ir tomar um banho gelado e exterminar aqueles pensamentos, arrancar Heitor da sua mente e coração.

Saiu do chuveiro e foi para o closet se trocar, deparou-se com os preparativos para a “grande noite” e sentiu muita raiva, trocou de roupa rápido e voltou ao quarto. Deitou novamente na cama e procurou o celular, queria falar com o pai. Ao abrir a bolsa encontrou ali o cartão e os brincos, sentiu um aperto no peito. Muitas coisas lembravam Heitor, e ela precisava sair dali. Ligou algumas vezes e a chamada caia na caixa postal, lembrou-se então que seu pai estava indo para China e que devia estar no avião ainda... Queria fugir, recordou do seu lugar de fuga quando era mais nova... Arrumou uma bolsa e partiu para a fazenda.

—_______________________________________

Alexandre acompanhou Heitor até seu apartamento e resolveu ficar com ele até que estivesse se sentindo melhor. Esperou que ele tomasse banho e enquanto isso preparou um café forte. O rapaz saiu da ducha mais tranquilo e sentou-se no balcão da cozinha...

— E então, sente-se melhor? Eu espero que sim, temos uma grande missão pela frente – disse tentando motivá-lo.

— Só estaria melhor se estivesse com Helena naquele chalé agora!

— No chalé eu não sei será possível hoje! Mas, pelo menos falar com ela você deve...

— Como você pode ter tanta certeza que ela me ouvirá?! – perguntou confuso.

— Eu já te disse que não tenho certeza, tenho fé! E acho que você está precisando um pouco disso...

— Você, sempre otimista não é doutor! – finalmente ele sorriu.

— Alguém tem que ser! – ele devolveu o sorriso.

Esperou mais um tempo, trocou de roupa, entrou no carro com Alexandre e dirigiu para a torre 4, o amigo estacionou e disse que o esperaria. Heitor saiu, respirou fundo e acenou para o amigo. Alexandre abaixou o vidro e o chamou:

— Se por um acaso você não for voltar me avisa para eu poder ir embora ok?!

Heitor sorriu incrédulo e disse:

— Ou você tem muita fé e ingenuidade, ou está tirando graça comigo! Tchau.

Ao chegar na recepção pediu ao funcionário que ligasse para Helena Soriano e dissesse que ele queria falar com ela. O rapaz o informou que ela havia saído fazia uma hora. Heitor sentiu um aperto no coração, preocupou-se com o fato dela sair a noite e sozinha... “Se algo acontecer a ela serei o culpado!”

— Você não saberia para onde ela foi, ou saberia? – perguntou Heitor.

— Senhor, bom, tenho pouco tempo aqui, dois anos no máximo e a Srta. Helena dificilmente ficava aqui, sempre passou mais tempo na fazenda e mudou-se de vez faz poucos meses...

Heitor pensou... “Isso, ela está na fazenda!”

— Ok, rapaz! Boa noite e obrigado!

— Boa noite! – respondeu o recepcionista um tanto confuso.

Correu para o carro e disse a Alexandre que ela estava na fazenda, não sabia se era uma boa idéia ir até lá e sentiu-se desanimado. O médico resolveu não falar nada e ambos voltaram calados para sua torre. Ao chegarem no estacionamento, Heitor falou alto:

— Não! – Alexandre se assustou e ele abaixou a voz – O que eu estou fazendo? Desistindo dela assim tão fácil?! Não vou dar a Bianca o prazer de destruir minha vida de novo!

— Isso mesmo irmão! Assim que eu gosto de ouvir! Corra atrás da sua felicidade. – Incentivou Alexandre.

Continuou dizendo ao amigo que só não ia agora para a fazenda por não saber o caminho, e também daria essa noite para Helena apaziguar a raiva, de amanhã pegaria seu helicóptero, um mapa e iria para lá. Estava decidido que não ia perdê-la e lutaria por ela até conquistá-la outra vez...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então?! Digam o que estão achando da história... No próximo capitulo teremos um passo importante no relacionamento H&H hauhauha



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Estações" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.