Estações escrita por Emma


Capítulo 24
Névoa dos Segredos


Notas iniciais do capítulo

Ari, Mico e Thaise, que tanto me cobraram, eu abdiquei dois dias de estudo para postar esse capítulo, não está revisado, então relevem os erros. Até a próxima folga :*



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“Olho o mar, a maré me faz chorar ao lembrar que ainda estás em mim. Foi ruim, tivemos um triste fim e assim não conseguirei viver. Te esquecer, é fácil te dizer, impossível fazer, eu vivo para te amar. Aah, o outono vai chegar e esfriar. A minha mágoa o vento vai carregar e esperarei você voltar e me esquentar com todo seu calor...” Outono – Chimarruts

 

New York, Universidade de Columbia, 6 anos atrás...

— Ei ruivinha – Alice chamou – Quero que vá comigo na festa da irmandade dos veteranos hoje. É uma ordem! Me custaram caro esses convites...

— Quando você diz caro, se refere a dormir com um deles não é?! – ela enviou um sorriso maroto para a amiga – Eu sei que com certeza é o Patrick Nolan, você tem uma queda por ele desde o primeiro semestre... Então não será esforço nenhum, você vai fazer com muito gosto.

— Ok, talvez não tenha sido tão difícil assim o “preço” pelos convites – Ally riu desdenhosa – mas ainda sim você não pode recusar. O anfitrião é o herdeiro da Campbell Advogados – os olhos da jovem brilharam, era o sonho de qualquer acadêmico de direito estagiar naquele escritório – ele está no último ano e todas as festas que oferece são incríveis, calouros quase nunca são aceitos, vamos lá, me diga que não está tentada a relaxar um pouco?!  

— Ally, eu tenho uma pilha de exercícios para fazer, leis para aprender e um seminário para apresentar na segunda feira... Não posso parar para ir a festas e encher a cara, você é uma péssima influência e vai me fazer passar da conta, amanhã terei uma enxaqueca horrível e não produzirei nada...

— Laura please, vamos lá, é só uma festa, quem sabe você não faz amizade com um deles, alguns dos caras do último ano tem muita grana, influências, podem te ajudar com os estágios mais na frente.

 A garota passou a mão pelos fios lisos e ruivos, pensando, suspirou se jogando na cama do dormitório que dividia com amiga, um semestre na sua frente. Alice era uma ótima companheira, divertida e sempre pronta para qualquer programa, fizeram o colegial juntas, Laura perdeu meio semestre por conta de um curso que ganhou dos pais na França para aprender o idioma. Agora Alice estava no final do quarto período, enquanto ela ainda em meados do terceiro.

Alice era uma morena de pele brilhante e sedutora, sua ascendência brasileira contribuía para o corpo escultural que tinha, as curvas que faltavam no corpo típico de uma jovem americana de Laura, ela tinha de sobra, mesmo que ambas tivessem os mesmos 18 anos.

Sentando-se ao lado dela na cama, a morena a importunou até que a amiga se rendesse e aceitasse a proposta.

— Você não vai se arrepender, tenho certeza!

— Mas você vai, porque vai ter que me ajudar com toda a atividade que eu acumular...

Oh God!— elas sorriram e se levantaram para procurar uma roupa.      

—______________________________________

— Relaxe Laura – Alice disse assim que elas passaram pela porta da irmandade – procure se enturmar e quem sabe até achar alguém, você precisa, aquele seu último namoradinho era um otário...

— Oh Ally, não diga isso, Matthew tinha um ego muito grande, mas seu coração era bom...

Revirando os olhos ela rebateu:

— Só você que enxergava isso... O garoto se achava o mundo e não era nem a metade dele, fiquei feliz que a universidade que o aceitou era bem longe daqui e que você resolveu pensar corretamente e terminar com ele... Laurinha, as vezes é tão estúpida que não acredito que seja minha amiga.

— HEY! – ela deu um tapa no braço da amiga, que se desviou ao mesmo tempo em que avistou Patrick vindo em sua direção – Não voltarei para nosso quarto hoje, tome – ela estendeu a chave do carro – quando achar que deve, vá para casa, mas curta a festa pelo menos um pouco, qualquer problema me chame – ela beijou sua bochecha no momento em que o rapaz parou ao seu lado a cumprimentando. Depois de apresentá-lo a Laura, eles desapareceram no meio dos convidados.

—___________________________________

Sentada na escada de poucos degraus, que unia o casarão a calçada, ela olhava sem interesse para a rua e para os casais se agarrando pelo gramado e varanda. Pelo menos uma coisa ela tinha que admitir, a música era boa e estava curtindo enquanto deliciava-se da visão do céu estrelado. Sempre gostara, lembrava de quando era menina e seu pai a levava para acampar, ou quando subia para o telhado da casa escondido e ficava contando estrelas, entretida junto com sua amiguinha da rua, imaginando cenários e mundos encantados através o universo sem fim esculpido na imensidão do céu.

— Você vem a uma festa e não bebe nada? Precisa me dizer onde encontro mais convidados como você, porque assim não vou a falência depois de bancar as bebidas – ela riu, virando a cabeça 180° para avistar quem falava com ela e lhe estendia um coquetel.

— O tipo que não conhece ninguém e que foi trocada pelo cara que a amiga queria pegar a tempos – aceitando o copo, Laura afastou convidando o estranho para sentar – Mas não se engane, no momento eu não estou afim, entretanto poderia lhe causa um belo prejuízo.

— Duvido! Perto desses marmanjos você não teria chance...

— Você pagaria para vê?! – sorrindo ele tomou um gole do seu whisky.

— Só se for outro dia, hoje minha conta já sofreu demais – ele jogou um convite discreto, ela não era tola para não perceber... - Então?

 - Hum... Não costumo sair com quem não sei nem o nome...

— Não seja por isso – estendendo a mão vazia ele prosseguiu – Victor Campbell.

Surpresa, porém disfarçando bem, ela sorriu e apertando a mão do homem.

— Laura. Laura Aldrin.

— É um prazer senhorita Aldrin... Agora que nos conhecemos, quando será que terei o desprazer de vê-la me fazer falir ao pagar suas bebidas...

— Oh, se depois que essa matéria acabar e eu ainda estiver viva...

— Deixe-me adivinhar... Mr. Collins está lhe dando aula?

— Como você...?

— Oras, eu já passei por ele e realmente é o pior dos professores. O que lhe falta em tamanho lhe sobra em palavras, o homem não cala a boca... Ele ainda faz aqueles...

— Elogios ensaiados a reitora Katherine? – eles reviraram os olhos juntos, Laura acenou com a cabeça.

— Sempre me causaram essa reação automática. – sorrindo juntos, eles se olharam pela primeira vez, na verdade, Laura parou para olhá-lo pela primeira vez, porque desde que chegara Victor a observou de longe. Sua beleza era suave e incomum, os cabelos ruivos estavam soltos e cortados poucos centímetros abaixo dos ombros, os olhos eram quase do mesmo tom de laranja, uma combinação atípica.  Ela vestia jeans escuro, uma blusa branca soltinha que deixava sua clavícula e ombros expostos e botas ankle boos preta de salto médio.

Victor usava jeans Calvin Klein, coturnos e uma camisa da Jhon&Jhon. Diferente do perfil que tinha traçado, Laura se surpreendeu ao ver que ele não era um narcisista metido, pelo contrário, era extremamente divertido e espontâneo. Os olhos azuis, eram um tom diferente, os cabelos pretos eram lisos na medida certa, a barba por fazer lhe atribuíam um charme a mais. Para um playboy como o taxavam, ele tinha um estilo bem despojado.

— Próximo sábado. 19 horas.

— Ok, vou me preparar para a falência então.

Ele entregou seu celular nas mãos dela que o olhou confusa.

— Seu número ou você me deixa te dar uma carona até em casa?

— Estou de carro – enfiou a mão no bolso e puxou o chaveiro balançando-o – vou te dar meu número, mas por favor, não distribua para os jogadores bêbados ali no gramado com intuito de me ‘trolar’ depois. – brincou.

— Oh, e correr o risco deles embebedá-la antes de mim?! Ah, eu não sonharia com isso. – ele sorriu abertamente e Laura sentiu uma sensação de euforia nova crescendo dentro dela, devolvendo o sorriso ela se levantou e se despediu. Até que a festa não tinha sido em tudo uma ideia estúpida, ainda sentado na escada observando-a entrar no carro, ela lhe deu um último sorriso quando entrou no veículo e jogou tchau pela janela.

—_________________________________

 Sábado seguinte...

— Não, pela milésima vez Victor, eu não vou pular nessa piscina com você, às 1h da manhã num frio que está faze... – ele não a deu a oportunidade continuar, segurou-a pela cintura e pulou na água.

Emergindo, Laura quis ficar brava, mas não conseguiu e os dois riram, ela começou a tremer, realmente fazia frio e Victor envolveu os braços ao redor dela.

— Você é louco – ela riu e o saiu vapor quando o fez.

— Eu estou louco por uma coisa nesse momento – fitando a boca dela, ele se inclinou e parou a milímetros, dando-lhe tempo de se afastar caso ela não quisesse. Laura passou os braços ao redor do pescoço dele e com um pequeno movimento uniu suas bocas, que se encaixaram perfeitamente, numa mescla de movimentos, ora suaves, ora cálidos. O frio outrora esquecido, começou a incomodar, então saíram da água e Victor envolveu-os com as várias toalhas que encontrou ali. Deitando-se em uma espreguiçadeira, ela se acomodou sobre o peito dele coberto pela camisa molhada. Em meio a carícias discretas e tímidas, eles passaram a contemplar o céu.

— Acho que estou me apaixonando por você. Isso é um problema? – ele perguntou depois de um longo silêncio.

— Não... – Laura corou, feliz por ele não poder ver seu rosto, um sorriso tímido apareceu, a mão dele desceu para encontrar a dela que descansava sobre seu peito, o polegar deslizando suavemente – Porque se fosse, eu também estaria encrencada.

—_______________________________________

 3 meses depois...

— Eu não quero forçá-la a nada – Victor dizia ofegante após interromper o beijo para puxar uma respiração, depois de senti-la tirando seu casaco.

— Eu sei, não me sinto forçada – ela riu e encostou seus lábios no dele – mês passado quando você tentou e eu hesitei porque disse não estar preparada para perder minha virgindade ainda, também lhe disse que quando estivesse pronta eu deixaria você saber... – levando sua mão até a bochecha dele e afagando-a continuou – Vic, sei que é cedo, que sua mãe me odeia, mas... eu amo você.

— Laura, por favor, retire o que disse – encarando-o assustada ela viu o canto da boca do namorado formar um sorriso – Eu queria ter dito primeiro – o jovem fez um biquinho fofo – Acho que esperei tanto o momento certo que acabei perdendo a vez – eles sorriram.

— Idiota!

— Linda! – ele sorriu e beijou sua testa gentilmente.

— Você me deu um susto...

Sorrindo Victor segurou o rosto dela entre as mãos e prendeu seus olhares.

— Você faz meu coração bater num compasso apenas seu, realmente aconteceu rápido e não sei o que tem de tão especial em ti Laura, talvez sejam seus olhos cor de âmbar ou essas suas leves sardinhas que te deixam tão meiga, ou quem sabe o jeito como você sorrir quando está envergonhada ou como você é descontraída e inteligente, mas de uma coisa eu tenho absoluta certeza: te amo minha ruivinha!

— Eu te amo e confio em você Vic, então me faça sua.

— Nada me deixaria mais feliz.

Victor tinha convidado Laura para acampar no fim de semana, sua família tinha uma propriedade no Maine, sua intenção com a viagem não tinha sido essa, mas agora com sua namorada o olhando tão ardentemente e distribuindo beijos doces pelo seu pescoço, como poderia ele negar-lhe algo?

Eles estavam deitados sobre um colchão inflável, estirado sobre a carroceria da sua Dodge Ram, cobertos por uma manta aconchegante. Laura adorava o fato de que Victor também amava admirar a noite estrelada, o som da natureza, seus aromas.

Hey linda, se vamos mesmo dar esse passo hoje, não vamos fazer isso aqui no carro como se ainda estivéssemos no colegial – eles sorriram – Quero que seja especial para você e para mim também, vou te levar lá para dentro, colocá-la sobre a cama da suíte e amá-la como você merece.

E assim ele fez, deixou a janela do cômodo aberta, acendeu umas velas aromáticas que encontrou no banheiro, apenas a luz do luar e a fraca chama das velas lhe deixavam apreciar a graciosidade de Laura. Ele despiu-a vagarosamente, deixando um caminho de marcas avermelhadas sobre a pele branca, onde ele não resistia beijar e sugar.

Mesmo envolvida pelas carícias, Laura fazia questão de participar do momento, puxou a camisa de Victor até expor seu peito definido, nada muito tonificado e cheio de músculos, ela agradeceu porque não fazia seu tipo, preferia músculos no cérebro e ele já era bastante sexy do jeito que era.

A conexão entre eles crescia a cada toque, podiam jurar que era quase mágico a maneira como se encaixavam em cada espaço um do outro, o próximo passo apenas testificaria isso. Ao contrário do que achou que sentiria, a jovem não tinha receio ou ansiedade alguma, cada vez que as mãos de Victor descobriam um novo caminho pelo seu corpo, ela só tinha mais certeza do quanto aquilo era certo e do quanto o amava.

Quando enfim o desejo que construíram ao longo dos meses se consumou, Victor sentiu mais que prazer, a sensação era nova até para ele que perdera a conta de com quantas garotas tinha ficado. Precisaria conversar seriamente com Pietro, seus dias de ‘pegação’ chegaram ao fim, haviam chegado desde quando beijou Laura naquela piscina. Não saberia mais viver sem ela, sem o sabor dos lábios, a sutileza dos toques, o cheiro de baunilha dos cabelos alaranjados, o sorriso cativante e o calor que enchia seu coração quando estava com ela.

Prestou atenção sobre cada movimento e expressão, cuidou para que nada lhe fosse desagradável e nem excedesse-a, explorou e amou cada parte que lhe era revelada e permitida. Laura lhe entregou tudo, sem reservas e sem receio. Seus corpos conversaram por horas, sem palavras, numa linguagem que só o amor conhece com intensidade.

—_______________________________________

7 meses depois...       

— Mamãe, por favor, pare com isso! Laura é minha namorada e a senhora precisa aceitá-la! Eu a amo!

— Victor, por favor, seja realista, você não a ama, só está encantado com aquela moça. Entendo, ela é realmente muito bonita, mas você precisa crescer e assumir suas obrigações. Amelie está esperando que a peça em casamento.

— Mãe! Pelo amor de Deus, não vou fazer isso, quantas vezes tenho que dizer? Eu não gosto de Amelie, nunca gostei, a senhora, o papai e os pais dela alimentaram um desejo que é infundado, quando éramos crianças tudo bem, era bonitinho vocês planejarem nossas vidas, mas nunca demonstrei sentimento por ela e isso não vai mudar.

— Victor Estevan Campbell eu não te criei e eduquei nas melhores escolas para você terminar se casando com alguém de classe inferior a nossa. Eu não permitirei! Desista dessa ideia, se divirta o quanto quiser com a garota, mas tenha em mente que essa aventura está com os dias contados, assim que acontecer sua formatura você irá oficializar seu pedido a Amelie.

— Nunca! Não sou mais um garotinho a quem a senhora pode manipular mamãe, se vocês continuarem insistindo com essa história estúpida vou embora dessa casa.

— E vai viver de que? – ela riu desdenhosa – Victor, meu filho, assim que você der de cara com o mundo real voltará correndo para o conforto “dessa casa” como disse. Vou marcar um jantar com os McCulloch.

— Faça o que a senhora desejar, não vou me casar com Amelie, não podem me obrigar!

—_____________________________________

Victor saiu de casa totalmente irritado com as imposições de sua mãe, ele não se casaria com Amelie só para satisfazer os desejos de suas famílias, a moça sempre teve interesse nele, mas nunca a quis, era bonita, porém fútil, não lhe despertava nenhuma afeição, o máximo que conseguira dele fora alguns beijos na época do colegial, depois do baile de formatura e de muitos drinks.

Ultrapassou alguns sinais, estava apressado para chegar ao seu destino, só havia uma pessoa que podia acalmá-lo e ele precisava dela agora, precisa acreditar que ficariam juntos, que a teria, precisava da segurança que só o amor de Laura lhe proporcionava.

—_______________________________________

Laura estava deitada com um livro de filosofia em mãos, quando ouviu fortes batidas contra a porta. Não seria Alice, ela dormiria na irmandade de Patrick hoje. Estranhando devido a hora avançada, olhou no olho mágico, sorrindo ela destrancou a porta.

— O que vo... – não pode continuar, Vic a puxou pela cintura e beijou-lhe, não um comum beijo de recepção e sim um sofrido e lânguido, que pegou-a desprevenida. Se afastando para deixá-la respirar, Laura ainda estava atônita, ele percebeu. A ruiva não deixou de notar a apreensão transbordando de seus olhos azuis e a própria tensão nos ombros dele. Abriu a boca para perguntar, mas ele falou primeiro.

— Vamos embora comigo Laura, vamos nos casar e começar a nossa vida juntos em outro lugar...

A ruiva sorriu solidária e fechou a porta, pegando na mão do namorado o guiou até a cama e sentou-se no colo dele. Começou a massagear seus ombros até senti-lo relaxar aos poucos.

— O que sua mãe aprontou agora?

— Ela esta ficando louca... Você não tem ideia do que eles estão me obrigando a fazer...

— Diga Vic, eu estou aqui para te ouvir – ela beijou sua bochecha e diminuiu os movimentos dos dedos, prestando atenção ao que ele iria dizer.

— Meus pais querem que eu peça Amelie em casamento após a minha formatura – Victor sentiu Laura tremer, mesmo que ela tenha tentado disfarçar. Olhando-o séria, mas compreensiva ela perguntou:

 - E o que você disse?

— Eu me recusei é claro, não posso me casar com alguém enquanto estou tão apaixonada por outra pessoa... Laura – começou a afagar sua cintura – eu falei sério quando propus a você que fosse embora comigo – ele enfiou a mão no bolso da jaqueta e puxou uma blue box da Tiffany— Case comigo e vamos fugir para um lugar onde possamos ser felizes juntos, onde ninguém possa nos impedir de viver a nossa vida...

Laura aceitou o anel, deixando seu namorado colocá-lo no dedo anelar da mão direita, era clássico, mas com uma pitada de exuberância, perfeito!

— Meu amor, é claro que eu aceito, porém não agora, veja bem, nós não podemos fugir, temos responsabilidades aqui das quais não podemos abrir mão, tenho meus pais e um curso para terminar, você não pode desistir do seu diploma, falta tão pouco...

— Eu desistiria de qualquer coisa por você – tocada, ela se o abraçou, aproveitando para beijá-lo outra vez – Eu te amo tanto Laura.

— Eu também. Por isso nós iremos passar por qualquer obstáculo, juntos!

— Você não conhece meus pais, quando decidem algo, não descansam até conseguirem.

— Você não pode pedir outra em casamento, não quando já tem uma noiva – ela sorriu apontando o anel para ele – Eu te entendo Vic, mas você já disse que não vai aceitar e eu confio em ti, eles não vão obrigá-lo, só tentarão dissuadi-lo e tenho certeza que não conseguirão, pois seu coração é meu tanto quanto o meu é seu.

—_________________________________________

Cidade do México, dias atuais...

Heitor chegou ao hospital em 15 minutos, ligou solicitando o helicóptero da empresa e pousou no heliporto da rede Del Rio. Pegando o elevador, foi recepcionado por uma apreensiva Elizabeth e um irritadiço Inácio andando de um lado para o outro.

— Heitor?! Como você conseguiu chegar aqui tão rápido? – Inácio se assustou ao vê-lo.

— Eu já estava num vôo para casa, por isso vocês não conseguiram me contatar.

— Oh, graças a Deus você chegou! – Elizabeth o abraçou.

— Como ela está? Alexandre e Bárbara, onde estão?

— Vou pedir para chamá-los – Elizabeth se dirigiu a uma enfermeira e esta rapidamente foi a procura dos médicos.

— Não sabemos como ela está. Apenas que a situação não é das melhores...

— Droga! – ele passou as mãos pelo rosto – Como isso foi acontecer?

Inácio veio com uma resposta afiada na língua sobre a irresponsabilidade dele em deixar Helena sozinha durante toda a gravidez, mas quando o encarou viu toda a tensão presa nos seus ombros, os olhos vermelhos e cheios de desespero. Um reflexo seu. Então se conteve.

— Foi um acidente Heitor – a voz do sogro soou menos ríspida que momentos atrás – Ao que tudo indica, ela caiu da escada e bateu a cabeça o que a deixou inconsciente. Gabriela quem a encontrou e Henrique ligou para Alexandre.

— Oh meu Deus, eles viram a mãe nesse estado? Com que eles estão?

— Preferimos deixá-los com a babá. Eles já estavam assustados demais para que os trouxéssemos para cá.

— Certo, também concordo – ele sentou-se no sofá e esfregou a testa. Sua cabeça começando a latejar – Era para eu estar chegando em casa e encontrar outro cenário, Helena irritada, Gabriela fazendo birra e Henrique sendo Henrique... Queria fazer uma surpresa, por isso não avisei – engoliu um nó que se formou na garganta – e quem acabou sendo surpreendido foi eu... Cadê Alexandre? Preciso de alguma notícia da minha mulher! – ele se levantou e começou a andar pela sala impaciente.

— Calma amigo. Já estou aqui – ele o abraçou forte, lhe passando o máximo de conforto possível – Senti sua falta.

— Eu também - se desvencilhando do abraço ele perguntou ansioso - Me diga qual é a situação de Helena e dos bebês por favor? – Inácio e Elizabeth também se aproximaram do doutor.

— Helena teve uma rotura uterina, por isso a hemorragia intensa. Nós conseguimos estancá-la, mas a batida na cabeça foi muito forte e ainda não conseguimos fazê-la reagir. Precisamos de sangue urgente, o tipo sanguíneo de Helena eu não tenho no banco de sangue, estamos fazendo uma sondagem na lista de pacientes do hospital e ver se achamos alguém compatível para conseguir a doação... Inácio, Elizabeth, um de vocês tem o tipo dela ou quem sabe conheçam alguém que possa ter?

— Gabriela tem – Heitor se pronunciou.

— Gabriela não pode doar sangue Heitor.

Inácio olhou para Elizabeth e esta desviou o olhar. Pegando no braço dela, ele a levou pelo corredor.

— Aonde vocês vão? – Heitor perguntou.

— Temos algo para conversar. Já voltamos – Alexandre e Heitor se olharam confusos. O engenheiro pode vê-los sumindo pelo corredor. Soriano seguro-a pelo pulso até acharem uma sala sem ninguém, parecia um almoxarifado e ele entrou junto com ela.

—_____________________________________

— Porque você ainda não voltou lá para dentro? – o doutor encarou-o temeroso – O que foi Alexandre? Diga de uma vez! Estou tão angustiado, sinto como se duas placas de aço estivessem me esmagando.

— Estamos monitorando os três, os gêmeos estão bem, mas se não os tirarmos logo eles vão começar a ficar sem oxigênio, porque a bolsa rompeu com a queda.

— Então faça a maldita cirurgia! – Heitor bradou.

— O problema é que o corte nas proporções do necessário para a cesárea vai provocar uma hemorragia em Helena outra vez.

— O que você está quer dizer?

—________________________________________

— Elizabeth, você tem o mesmo tipo sanguíneo de Helena. Por que não disse isso ao Alexandre?

Ela o encarou por alguns segundos, como diria isso? Abriu a boca, mas não pode responder.

— Por que? – ele gritou irritado.

— Eu não posso doar sangue para ela.

—_______________________________________

— Conheço essa cara Alexandre, não banque o doutor agora, nós somos mais que isso, não me venha com aquela conversa de médico me pedir para escolher entre minha mulher e meus filhos... Sabe que não poderia.

— Não é isso que estou querendo dizer Heitor, mas preciso perguntar, estou ali dentro supervisionando tudo, mas não sou capacitado para esse procedimento, Dra. Bárbara sim, aquela mulher tem um carinho especial por Helena, está dando o seu melhor. Contatamos o Dr. Simon Robert, obstetra mais conceito da atualidade. Ele está dando instruções a ela agora... Infelizmente não depende de nós dois apenas, quem dera, é o organismo de Helena quem manda nesse momento. Ambas as escolhas são arriscadas.

— Então se fizer o corte outra hemorragia começará, se não fizer a cesárea, meus filhos morrem, então sim Alexandre, você está me pedindo para escolher entre minha mulher ou meus filhos...

— Eu sinto muito, sinto muito – ele suspirou, Heitor sentou-se no braço do sofá e esfregou o rosto frustrado – Estamos estudando o melhor procedimento junto com Dr. Simon, você sabe que isso não é só mais um caso de cirurgia complicado para mim, Helena é minha amiga, estou tão angustiado quanto você.

Heitor levantou-se apontando o dedo indicador para ele, os olhos azuis estavam vermelhos e lágrimas ameaçavam cair.

— Você sabe que não posso, não posso tomar uma decisão desse nível e mesmo que pudesse, se eu escolhesse Helena ela jamais me perdoaria e se não a escolher, seria eu quem nunca me perdoaria.

Alexandre suspirou pesaroso, qualquer passo que dessem era arriscado como pisar em ovos, estava se vendo quase sem saídas. Uma decisão precisava ser tomada o quanto antes, os gêmeos precisavam ser retirados de dentro de Helena ou logo ficariam sem oxigênio e morreriam.

— Alexandre, faça o que for necessário para salvar minha mulher e meus filhos. Eu não tenho ideia do que você vai fazer lá dentro, mas faça! Estou te pedindo como amigo, como irmão, salve-os... Não vou suportar perdê-los, eu não aguentaria – sua bochecha estava molhada por lágrimas desesperadas que caiam desenfreadamente, a voz embargada pelas emoções – Por favor meu irmão, vá lá dentro e só volte aqui para me dizer quando posso entrar para vê-los.

Alexandre respirou fundo, enchendo-se de confiança. Heitor tinha razão, estudara e se qualificara com tudo que a medicina tinha de mais atual, Simon e Bárbara eram profissionais excelentes, juntos eles eram um time imbatível, restava agora pedir a Deus que o corpo de Helena colaborasse e eles conseguissem uma saída de salvar os três. Heitor precisava de esperança e como seu melhor amigo, seu dever era enchê-lo disso. Abraçando-o ele falou:

— Você tem razão, nós vamos dar um jeito de salvar Helena e os bebês, faremos acontecer, apenas tenha fé – ele sorriu se afastando dele, mas ainda segurando seu ombro – Eu vou ver a que conclusão Bárbara e Simon chegaram.

— Obrigado.

—______________________________________

— O que Simon disse Bárbara? – Del Rio perguntou ao entrar na sala onde Helena ligada a algumas máquinas era controlada, juntamente com os bebês, os sons dos equipamentos, comum aos seus ouvidos, agora o deixavam tenso.

— Quando ligamos, ele estava com o Dr. Klaus Lownshafen, você o conhece?

— Sim, o cardiologista alemão.

— Então, eles estavam em São Petersburgo, testando novas técnicas de cirurgias em pacientes de risco, uma tese de doutorado de um novo membro da academia.

— E qual o parecer ele nos deu sobre o caso de Helena?

— Dr. Simon citou um método novo, que ainda está no papel, Dr. Klaus está lá para aprová-lo, mas eles não tiveram a chance de testar. Acabou de me enviar o processo por email e para isso precisaremos do nosso melhor cardiologista.

— Por que um cardiologista Bárbara?

— Porque o procedimento exige que o coração do paciente seja parado.

Alexandre balançou a cabeça.

— Não. Céus! Com Helena inconsciente é quase como se assinássemos sua sentença de morte.

— Dr. Alexandre, eu sei que é arriscado, mas veja o monitor, o oxigênio desses bebês vai acabar a qualquer momento dentro da próxima hora. Não temos como retirá-los sem uma cesariana que acabaria matando Helena por causa da hemorragia. Então voltamos ao ponto onde paramos, ao labirinto sem saída ao qual sempre empacamos. O que o Dr. Simon e o Dr. Klaus sugeriram, foi que desligássemos o coração dela, tirássemos as crianças e usássemos um laser para fechar a incisão da rotura.

Alexandre suspirou e andou na direção da maca hospitalar em que sua amiga estava deitada. Colocou as mãos sobre a barra lateral e o olhou para a figura mórbida. Helena sempre fora tão cheia de vida e energética, tinha um dos sorrisos mais lindos que ele já vira, os lábios avermelhados que tanto encantara Heitor, agora estavam sem cor tal qual ela. Ele esticou a mão e acariciou-lhe os cabelos.

— Eu sei que Helena significa muito para o senhor Dr. Del Rio, acredite, para mim também, cuido dela desde adolescente. Eu sei que a técnica é arriscada e seria como atirar no escuro, nossa razão nunca nos pedirá para segui-la, porém, agora precisamos crer que esse é o nosso melhor golpe de sorte.

— Você tem razão, peça para prepararem a sala de cirurgia e ligue para o Dr. Muller.

— Desculpe minha audácia doutor, mas eu já fiz isso – ela sorriu.

— Muito bem – ele devolveu o sorriso – mãos a obras.

— Conseguiram a bolsa de sangue? Vamos precisar, ela está muito anêmica e no final precisará receber sangue.

— Ainda não, mas vamos encontrar.

—_______________________________________

— Porque você não vai doar sangue para sua filha Elizabeth? – Inácio perguntou furioso, suas narinas dilatando-se de tanta raiva, segurando seu braço, impondo-se sobre ela, seus rostos a centímetros de distância.

— Por que eu estou morrendo! – ela respondeu elevando a voz, carregada de angústia, o encarando com olhos cheios de lágrimas e amargura.

—______________________________________

— Mamãe – a garotinha pulou no colo de Laura assim que a mulher passou pela porta do apartamento em que as duas moravam, soltando a pasta de processos no chão abraçou a filha.

— Oi minha princesa! O que você e seus avôs estão aprontando? Tem um cheiro maravilhoso vindo da cozinha...

— Nós estamos preparando o jantar. Lasanha de carne.

— Soa tão bom quanto cheira – Laura sorriu e beijou a bochecha da filha, ainda suspensa em sua cintura. Habilidosamente como só uma mãe consegue, sem tirar a menina do colo, descalçou os saltos e caminhou até a cozinha. Conrad e Rebecca riam de algo enquanto misturavam ingredientes numa panela.

— Pai, mãe. Boa noite.

— Oi filha – disseram juntos e com um sorriso.

— Louise já tomou banho?

— Não, nós dispensamos a babá mais cedo e nos distraímos com o jantar, ela estava nos ajudando – sua mãe falou.

— Vá ficar com sua filha um pouco, deixe a cozinha por nossa conta hoje. Afinal, com essa distância, não é todo dia que podemos fazer um agrado para vocês...

—_____________________________________

— Mamãe, esse seu anel é tão lindo. De quem você ganhou? – a menina de 4 anos e meio perguntou, enquanto sua mãe ensaboava seus bracinhos.

A respiração de Laura se desestabilizou, mas antes que a menina percebesse ela suspirou se acalmando.

— Do seu pai.

— O moço bonito da foto que você me deu.

— Sim.

— Eu gostaria de conhecê-lo, por que ele nunca veio me ver?

— Por que seu pai não sabe onde a gente mora.

— Mas você sabe onde ele mora não é?

— Sim... – ela engoliu a seco.

— Podemos ir até ele?! Eu queria muito conhecê-lo mamãe.

—Eu vou pensar sobre isso, prometo – ela sorriu e deu-lhe um beijo de esquimó.

— Mamãe?

— Oi Loulou...

— Você e meu pai se amavam?

Laura nunca se sentiu mais sem resposta para um pergunta. Sua garganta secou e quando abria a boca, as palavras lhe faltavam.

— Sim. Por que a pergunta meu bem?

— Porque a babá Karen disse que quando duas pessoas se amam, elas se olham diferente, naquela foto que você me deu, vocês dois se olhavam como o vovô olha para a vovó.

— Eu amei tanto seu pai que não pude deixá-lo ir, sem que antes ele me deixasse um pedacinho dele.

— Mas eu sou bem parecida com você, nossos cabelos são da mesma cor – sorrindo, ela desligou a ducha e pegou a toalha da menina.

— Sim, você se parece bastante comigo, mas seus olhos são iguais aos do seu pai, o mesmo tom de azul, a mesma doçura – ela beijou a testa da filha e a pegou no colo enrolada na toalha – agora vamos nos aprontar para o jantar com seus avôs, minha curiosinha.

 


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