Estações escrita por Emma


Capítulo 21
Surpresa de Outono


Notas iniciais do capítulo

Fui rápida dessa vez o
Mas eis que as férias chegaram e atualizações mais rápidas viram! hauahua
Aproveitem...



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“Alguém me disse que você tem uma amiga nova, ela te ama mais do que eu? Há um grande céu negro sobre minha cidade, sei onde você está, aposto que ela também esteja por perto. Sim, eu sei que é burrice, mas preciso ver por eu mesma. Estou no canto, vendo você beijá-la, estou bem aqui, por que você não me nota?! Estou dando tudo de mim, mas não sou a garota que você está levando para casa...” Dancing on my own

 

Alexandre acordou no chão do escritório que tinha em casa, escorado contra o sofá e com a garrafa de Blue Label que havia ganhado de Heitor no seu último aniversário ao lado. Ao contrário do que ele pensava, beber não amenizou sua dor, apenas ratificou sua solidão, movido por esse entendimento ele ignorou a bebida após o quarto copo e jogou a cabeça para trás, vencido pelo cansaço da viagem e pelas emoções conturbadas, acabou dormindo.

Levantando a cabeça sentiu uma fisgada em seu pescoço, dormir ali foi uma péssima ideia, massageando a região da clavícula e nuca, tentou orientar-se. A vibração do celular largado pelo chão chamou sua atenção, pensando ser Sonia ele rapidamente o pegou.

“Você tem 8 chamadas perdidas e 10 novas mensagens”. As notificações registravam, nenhuma delas era da pessoa esperada. Bufando enquanto passava a mão pelo rosto, olhou a hora, percebendo que precisava estar no hospital para examinar um relatório médico complicado de um paciente com um tumor raro.

— Droga! – puxando uma longa respiração ele retornou a chamada para o hospital – Dr. Del Rio.

— Senhor, bom dia! Sou eu Clarissa – a senhora dizia espontaneamente – Desculpe incomodá-lo. É por que já são mais de 10 horas e o senhor tinha que dar seu parecer no laudo do Sr. Stuart e o Dr. Charles o espera...

— Olá Clarissa, bom dia – tentou soar o mais cordial possível – Diga ao Charles que tive um problema pra resolver de última hora, preciso cuidar disso, vou fazer o possível para estar no hospital hoje de tarde.

— Tudo bem senhor, darei seu recado... A propósito, ainda não tive a oportunidade de congratulá-lo pela tese, parabéns!

— Obrigado – respondeu simpático –... Melissa está no hospital?

— Dr. Del Rio eu não sei, gostaria que eu verificasse?

— Não, não será preciso, eu mesmo vou entrar em contato com ela. Tenha um bom dia!

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— Mamãe?! – Sonia foi despertada pela voz suave de sua primogênita, que estava de pé diante dela, os gêmeos ao lado, na borda da cama, todos vestidos em seus pijamas, ela permanecia deitada, olhos piscando devido a claridade, mas logo ela prestou atenção nos filhos – Tia Helena disse que a senhora estava se sentindo mal... – a menina falava com seu habitual sorriso doce, idêntico ao de mãe.

— Oh sweet mamãe realmente não está muito bem – Sonia se esforçou ao máximo para sorrir, todavia o que conseguiu foi um esboço disso, estendendo a mão ela afagou suavemente as bochechas de Cristal.

— Tia Helena também disse que o beijo do amor verdadeiro cura qualquer coisa. Então... – as crianças se olharam cúmplices – viemos te encher deles – sorrindo alegremente a menina suspendeu os irmãos, um de cada vez, os colocando sobre a cama e unindo-se a eles, os três pularam em cima da mãe, beijando e abraçando-a carinhosamente.

Uma lágrima escorreu dos olhos de Sonia, a primeira de felicidade depois da noite passada, rindo espontaneamente ela envolveu seus pequenos num abraço de urso desajeitado, salpicando beijos e esgueirando os dedos sagazmente para iniciar uma sessão de cócegas neles.

A jovem senhora foi constatando o que sua filha disse, realmente o amor verdadeiro podia curar tudo, e não existia amor mais puro e forte do que este que ela sentia por suas crianças e eles por ela. Ontem a ex-modelo achava que sua vida tinha perdido o rumo, que não existia um motivo coeso para seguir em frente, agora, sentindo o rastro molhado do beijo dos gêmeos a lambuzando e o sorriso sincero de Cristal brilhando especialmente para ela, tudo voltava a fazer sentido outra vez, Sonia simplesmente percebeu que se pudesse ser acordada assim todas as manhãs, seria a mais feliz entre todas as mulheres.

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— Bom dia Alexandre! – a moça colocou o aparelho no viva voz sobre um porta celular em cima do criado mudo, enquanto tirava peças de roupa da mala e arrumava no roupeiro.

— Oi Melissa! Você está no hospital?

— Não, em casa... Pensei que você Dr. Del Rio, tinha nos dado folga hoje – ela sorriu divertida do outro lado da linha, como Alexandre não respondeu ela continuou – Estou brincando chefe, mas eu realmente ia aproveitar o dia de folga, porém se estiver precisando de mim eu pos... – Alexandre resolveu falar cortando-a gentilmente.

— Mel, aconteceu uma coisa muito estranha noite passada, preciso conversar contigo, mas pessoalmente... Será que Daniel se importaria se eu passasse no seu apartamento agora?

— Não, Daniel precisou sair cedo para o trabalho e ele jamais se incomodaria com você, venha a hora que quiser... Tchau!

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— Então Melissa?

— Alexandre não desconfia de nada, está vindo para meu apartamento...

— A própria inocência dele o destrói – Vicente riu perversamente – poderia facilmente criar uma armadilha para Sonia pegá-lo em sua casa, mas sigamos com o plano original, acho que será muito melhor...

— Vicente, depois disso estou livre do nosso contrato, vou sumir por um tempo...

— De forma alguma! Seu contrato permanece até que eu diga o contrário. Melissa entenda algo de uma vez por todas – ele disse ríspido – você é tão parte disso como eu. Não queria fazê-lo pagar por tê-la rejeitado?! Essa é a chance de ver seu “doutorzinho” na lama, pagando por tudo que ele nos causou...

— Tudo bem Vicente, qualquer surpresa eu o avisarei.

— Boa garota! – ao desligar o telefone Melissa suspirou e Vicente riu sombriamente.

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— Oi – a médica disse ao abrir a porta. Alexandre se mantinha com as mãos nos bolsos dianteiros da calça, um tanto apreensivo – Entre Alexandre – ela sorriu e se inclinou para dar um beijo de comprimento na sua bochecha quando ele passou pelo umbral.

— Oi Melissa – ela foi andando em direção a sala e ele a seguiu, indicando o sofá ele sentou-se.

— Você não está bem, diga o que tem roubado sua vivacidade e bom humor de sempre... Com certeza, esse não é o Dr. Del Rio que conheço – sorriu solidária enquanto tocava o ombro dele e Alexandre voltava seus olhos para ela.

O homem olhou para baixo mais uma vez e quando levantou a cabeça, respirou profundamente, acalmando suas emoções e tomando coragem para tratar de um assunto delicado e que tanto o estava machucando.

— Melissa, é só que...

O encarando com um sorriso incentivador, ela disse:

— É só...

— Ontem a noite eu e Sonia tivemos uma briga horrível...

— E você quer que eu acredite nessa mentira?! – ainda sorrindo ela continuou – Vamos lá Alê, ver você e Sonia brigarem é quase tão impossível como ver um unicórnio colorido – a médica sorriu, porém Alexandre continuava com sua expressão mortificada – Oh meu Deus – fingiu surpresa – Isso é verdade mesmo?!

— Infelizmente sim – ele suspirou cansado dessa história.

— E por que eventualidade atípica do destino isso aconteceu?

— Por que ela acha que estou tendo um caso – Melissa o encarou novamente arqueando uma sobrancelha curiosamente – com você!

— Não pode ser! – sua boca se abriu formando um O e ela ficou de pé – Como assim? Meu Deus!!! É claro que nunca tivemos nada... Por que de repente ela foi supor esse tipo de coisa?

— Ontem nós estávamos em casa, Sonia tinha ido me buscar no aeroporto, tudo ia bem até que ela recebeu uma mensagem e o estranho vem agora – a médica o encarou séria – essa mensagem estava repleta de fotos minha e suas, num daqueles chalés que ficamos hospedados até a conferência começar, nus e abraçados numa cama...

A expressão de espanto e surpresa no rosto de Melissa era tão perfeita que qualquer um seria enganado, sua mandíbula havia caído aberta, seus olhos castanhos arregalaram, suas sobrancelhas quase tocaram a linha do cabelo e as mãos que repousavam na cintura cederam soltas. Manteve-se alguns longos segundos olhando para o doutor, fingindo perplexidade e ele retornava o olhar, com o semblante abatido, indicando pesar.

— Não sei como explicar isso... Logicamente é uma mentira, uma espécie de montagem... Depois da festa você me acompanhou até meu quarto e só nos vimos na manhã seguinte para virmos embora...

— Não cheguei a ver todas as fotos com clareza, fiquei tão horrorizado com aquilo e com a reação de Sonia que minha única atitude foi tentar persuadi-la a não acreditar nisso – ele suspirou – Minha mulher conhece fotos adulteradas Melissa, ela disse que com certeza aquelas não eram... Foi uma péssima ideia voltarmos ao chalé com os outros médicos, devíamos ter ficado no hotel e partido de lá para o aeroporto... Alguém se aproveitou e armou para nós. Tenho certeza disso! – engolindo o nó que se formou na garganta, Melissa tentou parecer calma, porém seu coração batia forte contra o peito.

— E você sabe quem foi essa pessoa? – ela se virou de costas e caminhou até a cozinha que era dividida por um balcão, servindo água em dois copos, tentando esconder os traços de ansiedade que a consumiam.

— Sim – novamente o encarou sem nenhuma expressão, esperando pela resposta, tendo cautela para não entregar a si própria e o jogo ardiloso do qual fazia parte – Há muitos anos, eu demiti um homem que estava agindo de má fé comigo e com o hospital, ele jurou vingança... É a única pessoa que poderia me querer mal!

— Você tem certeza disso? – ela ofereceu o copo na bandeja – Por que esse homem viria atrás de você depois de tantos anos?

— Pelo visto ele esteve me observando, sempre aos arredores... Por que algumas pessoas não sabem reconhecer quando estão erradas e sempre querem achar um culpado para as misérias que acontecem em sua vida – Alexandre fechou os olhos, erguendo a cabeça para o alto e puxando uma longa respiração, tentando empurrar de volta umas lágrimas teimosas – Ele jurou que tiraria o que mais amo e conseguiu, Sonia não quer olhar para mim e saiu de casa levando meus filhos...

— Oh Alê, não fique assim! – Melissa acariciou seu ombro, o confortando – Vamos resolver isso, marque um momento para conversarmos com Sonia e eu irei desmentir toda essa história, ela vai acreditar quando nós dois negarmos, isso é a coisa mais sem cabimento que existe, você jamais teria um relacionamento extraconjugal, em especial comigo, não se preocupe, tudo vai dar certo – ela sorriu e o abraçou.

Devolveu o abraço, em seguida se afastou dizendo:

— Obrigado Melissa, vou tentar falar com ela e ligo para você combinando como faremos... Agora preciso ir e ver se ainda consigo recuperar minha família – forçando um sorriso ele levantou-se e caminhou na direção da porta – Mais uma vez obrigado!

— Sempre que precisar – sorrindo ela fechou a porta.

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A sra. Del Rio estava sentada na sacada do quarto de Helena, admirando seus filhos mais novos e Gabriela brincando no gramado próximo a piscina – que estava coberta por segurança – o dia estava fechado e os ventos sopravam fortes, desarrumando alguns fios do rabo de cavalo alto que ela tinha feito.

As crianças eram tão livres de qualquer carga ou problema, correndo e sorrindo tão alegremente, de certa forma ela os inveja um pouco, depois da adorável recepção matinal Sonia tinha realmente se sentido melhor, porém não podia negar que ainda doía, ainda era difícil aceitar uma tão dura verdade como aquela.

— Sonia querida, qual seu fetiche com sacadas? – a voz de Helena a tirou de seus pensamentos – O motorista já deve estar retornando da escola com Cristal e Henrique, por que não desce comigo para pedirmos para servirem o almoço e pegarmos nossos pequenos para darmos um banho... Gabriela está adorando a companhia, ela estava tão triste ultimamente devido a partida de Heitor, tê-los aqui melhorou significativamente o humor dela – Sonia sorriu e levantou-se, indo com Helena rumo a cozinha, não notando o conhecido carro que passava pelo portão juntamente com veículo que o motorista de sua amiga dirigia.

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— Papai – Cristal foi a primeira a chamar eufórica, largando sua mochila no chão próximo ao carro e correndo na direção de Alexandre saltando em seu colo e o envolvendo no abraço mais cheio de bons sentimentos que ele sentiu desde um bom tempo, em especial depois da noite passada.

— Filha! – Alê falou saboreando o beijo que sua garotinha dispersava no seu rosto, ainda colada no colo dele, ele segurou em vão, pois lágrimas felizes escorreram de seu rosto.

— Que saudade papai – a menina respondia alegremente – Por que o senhor está chorando? – Cristal passou tão suavemente o polegar pela bochecha dele, Alexandre a apertou mais um pouco contra si, beijando sua cabeça e respirando seu perfume doce.

— Nada meu amorzinho, papai só estava com saudades também – ao terminar de falar sentiu um baque suave conta suas pernas, os gêmeos tinham chegado até ele. Ajoelhando-se e pondo sua primogênita no chão, o doutor abraçou os caçulas que sorriram felizes.

Helena e Sonia vinham caminhando e pararam ao escutar a euforia das crianças chamando pelo ‘papai’. A amazona correu rumo a porta na expectativa de que finalmente Heitor tinha vindo visitá-los, sua amiga a acompanhou e quando abriram a porta, a ex-modelo estancou instantaneamente, soltando um sussurro ao ver seus filhos abraçados ao pai:

— Alexandre...

Helena a olhou, tocando seu braço, enquanto ela sentia seu estômago se contorcendo por dentro, o coração batendo fortemente. Seu marido ainda estava ajoelhado, com os filhos evolvidos em um abraço, beijando e recebendo beijos carinhosos deles.

— Sonia? Tudo bem?

— Sim... Não... Não estou bem Helena. – ela a encarou com os olhos assustados – Não sei o que fazer...

— Eu acho que você deveria ir até lá e conversar com Alexandre... – Sonia desviou o olhar de sua amiga e voltou para sua família, suspirando e acenando com a cabeça, ela desceu os poucos degraus que ligavam a porta de entrada do jardim e foi até eles.

Alexandre só a percebeu quando ela estava poucos metros a sua frente. Sua mulher usava um vestido cor de rosa que ele julgou ser de Helena, pois estava um pouco folgado na cintura, mas marcava levemente suas curvas suaves em algumas partes, o rabo de cavalo alto bagunçado e sandálias sem salto. Os olhos azuis cansados e tristes, o sorriso que ele amava não embelezava seu rosto hoje, ainda sim ela parecia incrível para ele, não precisava de muito, a beleza que Sonia tinha era natural, conseguia encantá-lo em um deslumbrante traje caro ou numa camiseta velha e shorts.

Olhando profundamente nos olhos de sua esposa Alexandre não queria de forma alguma quebrar o contato, estava sendo consumido pela vontade de correr até ela e abraça-la, beijá-la, deslizar o polegar pela bochecha macia, sussurrar palavras doces de amor em seu ouvido até que estivesse calma e nada mais importunasse seu coração.

As crianças se viraram ainda dentro dos braços do pai, Cristal sorriu para sua mãe e disse:

— O papai veio nos buscar mamãe!

Sonia olhou para Alexandre e de volta para seus filhos que exibiam sorrisos largos, abriu a boca, porém não achou palavras. Até ser salva pela voz grave e acentuada de Helena:

— Crianças, vamos subir, tomar um banho rápido e nos aprontar para o almoço?!

— Não titia – Charlotte falou com um biquinho – Quero ficar com o paizinho mais um pouco.

— Sim titia – César se manifestou, ambos se aconchegando mais ao pai, Alexandre beijou a têmpora dos dois.

— Mamãe diga a tia Helena que nos vamos almoçar com o papai – Cristal respondeu feliz.

Sonia se ajoelhou próximo aos filhos, olhando nos olhos de cada um, falou mansa e docemente como só ela conseguia:

— Meus amores, por favor, vão com tia Helena por um momento, prometo que logo eu subirei, mas preciso ter uma conversa com seu pai agora.

— Por que?

— “Assunto de gente grande” Cacau – Henrique disse quando surgiu ao lado de sua mãe – Quando papai e mamãe nos mandam para brinquedoteca enquanto eles conversam no escritório é sempre por causa disso...

Cristal olhou para seus pais e ambos acenaram com a cabeça, Alexandre antes de se levantar deu mais um beijo nos filhos. Pegando nas mãos dos irmãos, eles passaram pela mãe que sorriu para cada um enquanto afagava seus cabelos, seguindo Helena e Henrique com Gabriela montada nas suas costas, eles entraram na casa e subiram as escadas. A primogênita dos Del Rio olhou para trás uma última vez e viu o quanto seus pais estavam perto, mas ainda sim longe, estranhando ela continuou seu caminho calada.

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Sonia se mantinha com os braços cruzados abaixo dos seios, olhando para qualquer lugar menos nos olhos de seu marido. Alexandre estava com as mãos no bolso, também olhando para o chão, uma curta distância de três passos entre eles. O doutor pensou em como começar o diálogo, até que a voz dela, menos suave e mais imponente do que minutos atrás ao falar com suas crianças soou:

— Por que você veio até aqui? Eu pedi para nos dar um tempo...

— Primeiro porque eu estava com saudades dos meus filhos e pelo que presenciei, eles também sentiram muito minha falta – Sonia desviou os olhos dele um pouco envergonhada – e também porque eu... – seu peito encheu de ar e coragem com uma respiração profunda – Eu precisava ver você! – ela o encarou sentindo os batimentos acelerarem.

“Droga Alexandre! Pare de me olhar assim...”

— Alexandre eu ainda estou tão decepcionada contigo...

— Não Sonia – ele a interrompeu suavemente – Me ouça, por favor!

Fechando os olhos, sentindo pesar e tantas emoções fluindo agitadas dentro dela, apenas concordou com a cabeça. Ele caminhou até um cadeira balanço suspensa de madeira, branca e larga, tinha um acento acolchoado e recebia a sombra de uma árvore próxima. Depois de sentarem-se, Sonia ficou mexendo os dedos e olhando para as mãos. A postura impecável como sempre, porém existia uma fragilidade quase infantil nela, o coração de Alexandre se corroía apenas por vê-la dessa forma, tão vulnerável e sofrendo.

— Eu sei que você está chateada, mas por favor, olhe nos meus olhos – ela não levantou a cabeça. Ousadamente Alexandre pegou um dedo e levantou seu queixo, depois deslizou a mão e encaixou entre o maxilar e o pescoço, deixando o polegar livre para deslizar pela bochecha, ela fechou os olhos com a carícia, sentindo uma mistura de dor e amor, não conseguindo fugir dele, se inclinou ao seu toque – Abra seus olhos querida – depois de alguns minutos ela obedeceu – Quero que veja que não estou mentindo quando digo que não trai você!

Sonia continuou olhando para ele, era tão fácil se perder nos olhos castanhos doces e convidativos de Alexandre, sua voz macia e masculina, invadindo seus poros na medida certa, ouriçando seus sentidos, seu rosto estava tão cansado e ainda sim tão belo, ela o amava tanto que deveria ser proibido sentir algo tão intenso por alguém, todavia seu coração estava tão magoado. Ao mesmo tempo em que queria envolver seus braços ao redor do pescoço dele e beijá-lo, ela também queria correr, correr para bem longe do que sentia, porque ontem ela conseguiu presenciar o quanto isso podia machucar.

— Eu te amo tanto Sonia, por favor acredite em mim! – Ele continuou, ela abaixou a cabeça. Alexandre não parou os movimentos suaves do polegar por nenhum segundo.

— Não sei se acredito em você... – ela o fitou novamente, olhos azuis tão sinceros e singelos, cheios de sentimentos e medo. Alexandre estava se odiando por ser o causador, mesmo sem querer, de tanta dor a sua amada.

— Você não acredita que eu te amo?! Não parecia ontem enquanto fazíamos amor e eu te dizia essas mesmas palavras enquanto você me sussurrava elas de volta...

— Para – ela suplicou baixinho – por favor, para... – fechando os olhos mais uma vez, flashes da noite passada invadiram sua mente, os beijos entorpecentes, as mãos fortes e envolventes tocando os lugares certos, os lábios macios percorrendo seu corpo, as palavras sopradas contra sua pele e ela adorava cada sensação, amava sentir o contato do corpo pesado contra o delicado dela, sentir os braços envolvendo-a, os dedos acariciando o rosto numa dança lenta e quase arrebatadora como agora... – Está me machucando ainda mais trazendo tantas lembranças...

— Você sabe tão bem quanto eu que meu objetivo não é machuca-la, só quero que lembres que o que sinto por você é verdadeiro... – ele suspirou, estava conseguindo derrubar a barreira que tinha sido posta entre eles – Céus! – as íris azuis de Sonia o fitaram – Você é minha vida querida, desde que te conheci eu amei e desejei apenas a ti – uma lágrima solitária escapou de seus olhos e ele gentilmente a enxugou – Será que acreditas mesmo que tudo, cada pequeno momento, de amor e alegria, dessa primavera tão linda e intensa que vivemos juntos, foi mentira?!

Quase automaticamente, sua cabeça balançou negativamente para o alívio de Alexandre, por mais magoada que estivesse para admitir, ela sabia que não, não podia ser tudo uma mentira, pelo menos seus filhos tinham que terem sido concebidos por amor, não seria tudo uma farsa cruelmente arquitetada por ele, seria? Alexandre, seu doutor, seu querido e estimado marido não poderia ter vivido um papel por tantos anos... Sonia já não sabia o que pensar, estava tão confusa, uma batalha enfurecida entre sua mente e seu coração. Essa já nem parecia sua vida, seu casamento, suas emoções, desde que vira aquelas fotos ela parecia ter se tornado uma espécie de atriz coadjuvante de tudo, sem saber o que fazer, como agir, como tomar o controle outra vez.

Sentindo a respiração instável de Alexandre contra sua bochecha, ela permaneceu olhando em seus olhos, teria adorado a forma como sua outra mão subiu e tomou posse do seu rosto, segurando as maçãs delicadas, finas e rosadas da face dela, com ambas as mãos agora, se não fosse por tudo isso, porém a verdade é que ela adorou da mesma forma... Seria muito errado saborear a sensação agradável e o calor que ela sentia com os afagos?! Mesmo se fosse, ela estava desfrutando.

Seu corpo respondia tão bem aos toques do homem a sua frente, homem esse que conhecia cada parte sua e tinha desvendado cada segredo, gosto e desejo seu. Sonia queria ser forte, mas quando se tratava de Alexandre ela era tão fraca...

Uma batalha interna também se formava dentro do doutor, ele queria tanto beijá-la, abraça-la tão forte quanto pudesse, prendê-la em seus braços para que ela nunca mais o deixasse, bastava um movimento e suas bocas se tocariam, mas e se ao fazê-lo Sonia o repelisse e tudo se tornasse pior do que já estava sendo?!

Inclinando-se os poucos centímetros que os separavam ele parou, tentando ler uma última vez seus olhos e ver o que eles diziam a respeito de seu coração, as mãos ainda encaixadas entre o maxilar e pescoço, os polegares continuavam deslizando pelas bochechas como se tivessem sido criados especialmente para essa função específica, ao encontrar o jardim florido, regado pelo céu azul límpido e calmo que eram os olhos de sua esposa, Alexandre viu um reflexo de seus próprios sentimentos, dessa vez o ar estava turvo, cheio de nuvens densas, não se avistava o céu azul de sempre, tal qual o seu, o que se via era medo.

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— Mãe... Mamãe? Mãe? – Depois de 3 vezes sendo chamada Helena voltou a si...

— Oi filho, que foi?

— Você está a um tempão segurando minha camisa e não terminou de vesti-la – o garoto sorriu simpático e a amazona se tocou que segurava a camisa do menino, rapidamente a desceu por sua cabeça e braços, terminando sua ação.

— Tá tudo bem mamma? – Henrique a encarou por um tempo, sorrindo, era incrível como ao mesmo tempo em que parecia com seu pai, ele tinha tanto de Philip, esse sorriso simpático e solidário Helena sabia que pertencia ao sogro.

— Está sim mio bello bambino, só estou ansiosa para saber se você vai ter dois irmãos, duas irmãs ou se vai ganhar um de cada – sorriu e o filho repetiu o gesto, ela jamais diria que o motivo de sua apreensão estava em seu jardim.

— Eu acho que vou ganhar duas irmãs, papai disse que acha que são dois meninos, Gabi já disse que não quer uma menina – Helena balançou a cabeça divertida olhando para a menina que estava sentada no canto da cama do irmão entretida com um tablet – E você mamãe?

— Sua irmã é uma ciumenta – ela afagou a barriga e Henrique repetiu o gesto sorrindo, ao ouvir seu nome a menina voltou sua atenção para as outras duas pessoas na sala, deixando o eletrônico sobre a cama e indo até eles – Eu acho que vamos ter uma surpresa... As vezes acho que são meninas, mais ultimamente eles tem estado tão agitados, acham que estão em um campo de futebol e chutam bem, você vai ter ótimos parceiros Henrique – Gabriela observava o irmão se inclinar, sua mãe sentando para que o menino tivesse melhor acesso a barriga enquanto falava com os irmãos.

— Oi vocês ai dentro, aqui e seu irmão mais velho, Henrique... Como é estar ai? – ele colocou a orelha na barriga da mãe. Gabriela foi se achegando aos poucos, observando tudo calada, o que era atípico da garota – Não demorem, nós queremos conhecer vocês...

— Eu sou a Gabi – a menininha tocou a barriga de sua mãe também, Helena estranhou o gesto, mas ficou calada, atenta ao discurso dela, encantada em como a voz de seu bebezinho de cachinhos loiros tinha se desenvolvido, mas ainda recheada com tom infantil de um criança de 2 anos e meio – sua outra irmã. Eu sei que disse outro dia que não queria que vocês fossem meninas, mas não é verdade. Eu quero sim, não tem problema. Henrique não gosta de brincar de boneca comigo – ela torceu a boca e Helena não entendeu porque uma lágrima boba escorria de seus olhos “benditos hormônios!”. Estava tão envolvida com o momento que não percebeu que Gabriela a olhava curiosa – eu disse algo errado mamãe?

— Não coração, mamãe só está sensível esses dias, seus irmãos ficaram felizes com o que você disse e isso reflete em mim princesa – ela a colocou no colo, Henrique continuava encantado com a barriga, falando com os gêmeos e sentindo-os mexer – Você realmente não se importa se forem meninas?

— Não – a garota sorriu – O Henrique é legal, mas ele não sabe brincar de casinha, eu gosto dele, gosto quando a gente brinca com os Legos e quando montamos a fazendinha, mas as vezes eu quero brincar com minhas bonecas e ele é chato – ela se inclinou cochichando no ouvido da mãe – vou te contar um segredo mamãe, eu acho que é porque ele tem vergonha – as duas sorriram cúmplices – e também o vovô disse que eu sempre vou ser a preferida dele, a primeira neta...

— Gabi, você é uma figurinha baby! Você é especial, tem seu lugar no coração de todos na nossa família, seus irmãos não viram para roubar esse lugar e sim para somar mais alegrias a nossas vidas, ok?! – ela acenou com a cabeça – Venham, vamos buscar Cacau, César e Char e descer para o almoço...

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— Será que você pode confiar em mim? – ele sussurrou contra seus lábios, o coração de Sonia martelava tão rápido e forte contra seu peito que ela podia jurar que Alexandre ouvia as batidas – Eu tenho te dado provas e mais provas de minha lealdade ao longo desses 9 anos que estamos juntos... Você pode confiar em mim Sonia e no meu amor por ti? – engolindo o nó que se formou em sua garganta, ela balançou tão lentamente a cabeça para cima e para baixo que se Alexandre não estivesse tão desesperado por uma resposta talvez não tivesse percebido.

Um sorriso rápido e singelo apareceu, fechando os olhos, ele finalmente pressionou seus lábios nos dela com um toque suave. Logo sentiram a necessidade de um contato maior, ambos aprofundaram o beijo, inclinando suas cabeças cada um para lados opostos, a língua dele deslizou pelos lábios dela pedindo entrada que rapidamente foi concedida.

Tanto estava sendo derramado naquele contato, o desespero da noite passada sendo sentido, o medo de nunca mais poder tocá-la o levou a descer uma das mãos do rosto dela e envolver ao redor da cintura fina, as dela logo o abraçaram, subindo e descendo pelas costas do doutor. Sem quebrar o beijo eles se apertaram o máximo que podiam, pressionando as mãos o mais forte e firme que conseguiam, precisando sentir um ao outro, para acreditarem que era verdade, que estavam ali.

Naquele momento ele queria não precisar de oxigênio, estava com tanto receio de separar-se daquele contato íntimo e perdê-la outra vez. Sonia não sabia dizer se já tinha recebido e dado um beijo tão intenso quanto aquele, que além do ar roubou-lhe as forças, se não estivesse sentada certamente suas pernas teriam traído-a, pois não as sentia...

Já não podendo mais suportar a falta de ar eles se separam, porém ainda continuaram perto, completamente ofegantes, tentando acalmar suas respirações. Ela colocou a mão sobre o seu peito e descansou a cabeça contra seu coração, os batimentos cardíacos se estabilizando aos poucos. Alexandre sussurrou em sua mente um “graças a Deus” e envolveu seus braços ao redor dela.

Ainda era incerto, para ela ainda doía, ele sentia isso, todavia Sonia estava outra vez buscando consolo em seu abraço, a barreira tinha se desfeito, só seria preciso acertar as arestas, colocar as coisas em ordem e tudo seria como sempre fora. O que importava para Alexandre era que enquanto sua mulher se sentisse bem em seus braços e afagasse seu peito tão discreta e docemente como agora, ele estaria bem.

— Venha comigo conversar com Melissa depois do almoço, para esclarecermos essa confusão maluca, por favor?

Sonia hesitou um pouco, ele a sentiu contrair-se em seu abraço, o nome dessa mulher ainda a perturbava. Alguns minutos em silêncio e ela se pronunciou:

— Prometi a Helena que mais tarde eu iria com ela para a consulta com doutora Bárbara – ela não se mexeu, apenas falava calma, ainda reclinada contra ele – quando terminarmos eu passo em sua sala, por volta das 17h.

— Tudo bem, prometo que vamos resolver isso e tudo voltará a ser como antes – Sonia acenou, suspirando ele beijou sua testa e afagou suas costas, seu queixo descansou contra o topo da cabeça de sua esposa. Alexandre fechou os olhos desfrutando do momento, embalando seu amor em seus braços, ele podia parar o tempo ali para sempre.

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Melissa tinha ido até a ala de obstetrícia/ginecologia e se informado a mando do Dr. Del Rio, o que era uma mentira, que horas sua esposa que acompanhava a amiga sairia da consulta, onde ela descobriu através da secretária da Dra. Bárbara que foi adiantada e a qualquer momento as duas senhoras seriam liberadas. Agradecendo a informação, a médica se apressou de volta ao escritório de Alexandre.

O médico tinha voltado a poucos minutos do consultório do Dr. Charles, estava sentado ainda olhando o relatório do Sr. Stuart enquanto aguardava sua esposa chegar. O caso do paciente era complicado, fazer a cirurgia era arriscado e não fazê-la era como andar sobre um campo minado, uma vez que o tumor poderia estourar a qualquer momento causando uma morte instantânea. Ambos os especialistas chegaram a conclusão que a melhor chance do homem seria o procedimento cirúrgico, mas antes ele teria que tomar algumas medicações que estabilizarão o tumor para a retirada sem danos.

Melissa passou por Clarissa com um sorriso falso e parou no modesto hall que havia antes da porta do escritório de Alexandre. No ambiente existia um sofá de linhas modernas e mais três poltronas confortáveis, um revisteiro próximo, um quadro com pintura contemporânea, um tapete que cobria boa parte do espaço, uma mesa de centro no meio, um aparador de linhas retas e um espelho acima fixado na parede. Rapidamente ela tirou o celular do bolso do jaleco e o segurou. De onde estava a secretária não podia vê-la, continuou parada e atenta esperando o momento de agir.

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— Feliz? – Sonia perguntou ao fechar a porta da sala.

— Sim – sua amiga respondeu com um sorriso – Preciso contar a Heitor e meu pai o quanto antes... – desfazendo um pouco o sorriso e entortando um canto da boca ela continuou – Eu só senti como se Bárbara estivesse me escondendo algo, você não?!

— Não se preocupe com isso querida – Sonia fugiu do assunto – e eu tenho certeza que eles ficarão muito felizes – respondeu com um sorriso – Eu preciso encontrar Alexandre agora e por um ponto final nessa história...

— Eu não sei se estou mais feliz pelos meus bebês ou por você ter decidido pensar um pouco e ouvir seu marido – Helena apertou a mão dela incentivando-a – Agora vá até lá o mais rápido possível e se acertem, vocês não nasceram para brigarem, deixe isso para mim e Heitor, já estamos mais habituados – as duas mulheres sorriram e Sonia respirou enchendo o peito de ar e esperança ao mesmo tempo.

— Ok, obrigada! – ela a abraçou grata pelo apoio e como se fosse um aviso, o telefone de Helena tocou e a foto de Heitor apareceu na tela.

— Pelo visto alguém está ansioso para saber o gênero dos nossos bebês! Vou atender meu belo homem também, te espero na lanchonete do hospital, por favor não demore tanto, se resolverem fazer as pazes esperem até chegarem em casa a noite...

— Helena!!! – corando, Sonia a empurrou gentilmente para o elevador e sorriu – Você realmente é o par perfeito para seu marido!

— Assim como você baby!

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— Boa tarde Clarissa! – cumprimentou-a com um sorriso gentil – Alexandre está desocupado?

— Boa tarde Dona Sonia – devolvendo o largo sorriso de volta a senhora continuou – sim, ele e Melissa estão na sala esperando pela senhora...

— Obrigada.

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Ao ouvir a voz de Sonia conversando com a secretária de Alexandre, Melissa rapidamente ficou de costas para a entrada, pegou seu celular e quando o salto da esposa de seu patrão começou a soar mais alto ela deu início a uma narrativa insana.

— Eu não sei o que fazer... Alexandre me pediu para negar tudo para Sonia – ao ouvir seu nome ela parou imediatamente – Mas por outro lado eu penso que seria a oportunidade que procurávamos para contar a ela... – será que realmente estava escutando aquilo? – Não queria mais nos manter assim, as escondidas... Ele me explicou que por enquanto seria melhor, a forma como ela descobriu foi muito ruim, eu realmente não sei como conseguiram aquelas imagens, nós fomos cuidadosos quando voltamos ao chalé no nosso último dia na Suíça, aquele lugar é tão lindo e ele foi tão romântico – Melissa suspirou como uma apaixonada – Alexandre acha que ela pode fazer uma loucura e denegrir a imagem dele, o que seria da sua carreira se ele agora fosse taxado como infiel?! Se a mídia descobrir nosso caso não seria bom para popularidade da rede Del Rio...

Sonia sentiu seu coração se estilhaçar outra vez, como se uma afiada adaga tivesse cravando em cima da ferida recém tratada e aumentando-a em dimensões exorbitantes, seus olhos encheram de lágrimas enquanto permanecia parada escutando a mulher poucos metros longe dela confessar a alguém o que ela menos esperava ouvir quando caminhou para este lugar.

— Por isso preferiu nos omitir por mais um tempo... Eu sei, eu sei que preciso tomar uma atitude, odeio ter que viver nosso amor dessa maneira, ter que dividi-lo com ela, esperar para podermos formar nossa própria família e vivermos nossa vida... Eu o confrontei nessa viagem, disse-lhe tudo o que penso, que não posso mais aceitar me submeter a isso, até tentei terminar nosso romance, porém ele não deixou e me pediu um pouco mais de tempo, prometeu que logo resolveria essa situação, que eu tivesse paciência, pois os gêmeos ainda estão muito pequenos para que ele saia de casa... O que me levou a pensar seriamente em deixar de me proteger e finalmente gerar um filho de Alexandre, talvez, ele mude logo de opinião, você não acha?!

Seu estômago inteiro embrulhou e Sonia podia jurar que vomitaria, absorver tudo aquilo que ouvira estava sendo como receber choques pelo corpo, ela ouriçava-se sentindo uma enorme repulsa, a raiva enchendo seus poros, algumas sensações eram novas, mas não de uma forma boa, como se parte do seu coração estivesse enegrecendo, simplesmente não podia ser! Alexandre não poderia estar brincando com os sentimentos dela tão vilmente...

— Entendo que seria loucura minha sim, estaria me precipitando se trouxesse mais uma criança inocente para essa nossa complicada história... Eu só o amo tanto, não vejo a hora de poder dizer que ele é meu para todos e não apenas quando estamos sozinhos... Eu preciso ir, depois conversamos mais, são 16:40h e logo Sonia sai da consulta com sua amiga, preciso entrar no escritório de Alê e combinarmos melhor o que falaremos para ela. Até mais, beijos!

Melissa virou lentamente e ao ver Sonia parada atrás dela fingiu espanto, seus olhos arregalaram-se e sua boca abriu. A expressão desolada da mulher quase a fez se arrepender do que fizera.

— Oh meu Deus! Sonia espe... – ela foi friamente cortada.

— Não, não dirija a palavra a mim novamente! – passando por ela, abriu a porta do escritório de seu marido, que ao notá-la rapidamente se levantou sorrindo e saindo de trás de sua mesa, enquanto ela avançava ligeiramente até ele. O homem estava tão feliz em vê-la que não percebeu a fúria queimando nos olhos de sua esposa, ele só a sentiu quando ao invés de um doce cumprimento como esperava receber ele foi surpreendido por uma palmada forte da mão dela em seu rosto.

— Você é um mentiroso da pior espécie Alexandre!

Espantado pelo tapa e pelas palavras, o médico segurou o lado da bochecha golpeada, sentindo a ardência, olhou para sua esposa completamente estarrecido. Melissa entrou imperceptivelmente no escritório assistindo-os do canto da sala.

— Uou – massageando a bochecha perguntou surpreso – Sonia... O que foi isso? – aquela tinha sido a primeira vez que ele sentia o peso da mão dela.

— O que foi isso? Um aviso para que mantenha distância e dessa vez eu estou falando sério! Suma da minha vida Alexandre, nunca mais chegue perto de mim, nunca mais! Você acha que sou o que? Eu até achei que tudo isso fosse uma espécie de mentira, de trama ardilosa contra você – ela esfregou a testa indignada – Como posso ser tão estúpida?

— Sobre o que está falando? Não estou entendendo o que está acontecendo aqui...

— Eu já sei da sua história suja com sua pupila, pode parar de negar porque dessa vez eu ouvi dos lábios dela...

Alexandre deixou seus olhos varrerem o cômodo em busca de Melissa na esperança de que ela pudesse lhe explicar sobre o que sua mulher falava. Ela o olhou sem qualquer expressão e Sonia puxava longos suspiros tentando acalmar-se.

— Como assim? Melissa pode me dizer algo sobre o que Sonia acabou de falar?

— Alexandre você é ridículo e um péssimo mentiroso! Se seu medo é de eu vá prejudicar sua bela carreira, não se preocupe, o que menos quero é meu nome na mídia, sendo a fofoca do mês, darei entrada no divórcio da forma mais discreta possível...

— DIVÓRCIO?!

— Isso! DI-VÓR-CI-O... Você brincou comigo, com meus sentimentos e isso não se faz com ninguém, eu joguei fora todo meu orgulho e me expus para ti essa manhã... Só para descobrir o quão frio és e como me fez de boba por tanto tempo... Você manipula as pessoas Alexandre, mas seu jogo comigo acabou!

— Não Sonia, por favor... Melissa diga alguma coisa – ambos olharam para a médica.

— Alexandre, eu acho que é hora de pararmos de mentir e conversarmos com Sonia sobre a decisão que tomamos, ela vai entender eu sei...

O doutor Del Rio olhou atônito para sua pupila, sem entender suas palavras, Sonia apenas suspirou.

— Nós estamos juntos há tanto tempo Sonia, perdoe-nos, queríamos te contar, porém foi ficando complicado, depois quando finalmente decidimos assumir...

— Que história é essa Melissa?

— Deixe-a continuar Alexandre, eu mereço a verdade!

— Mas essa obviamente não é a verdade!

— Bom, quando finalmente resolvemos te contar, porque já estávamos apaixonados demais para manter tudo escondido, você engravidou dos gêmeos e preferimos manter o sigilo por mais tempo...

— Meu Deus – encarou-o com um misto de surpresa e asco – Alexandre nós planejamos outro bebê juntos... E se caso eu não tivesse engravidado você ia me deixar?! A mim e sua filha?

— Não! Claro que não, Melissa está mentindo Sonia...

— Me desculpe, eu não queria traí-la, ainda mais quando eras tão gentil comigo, porém, eu amo demais Alexandre para me distanciar.

— Não se preocupe quanto a isso, logo ele estará livre para poderem viver tudo o que sonharam para suas vidas...

Sonia se virou para Alexandre, seus pulsos se fechavam com tanta força, seus olhos cheios de lágrimas, raiva e ira.

— Não venha mais atrás de mim, dessa vez acabou, vou contratar um advogado e ele vai procurá-lo par tratarmos do divórcio e de como serão seus horários de visitas... – Alexandre estava aflito, não sabia o que fazer, ao invés de resolver o problema, acabou piorando-o – Eu realmente sou estúpida não é?! – ela fechou os olhos, abaixou a cabeça e bufou uma risada dolorosa – Por isso foi tão fácil me enganar... Eu nunca imaginei que você fosse tão falso assim, que desceria tão baixo... Mas isso me fez descobrir que o homem que eu amei nunca existiu, portanto, é mais fácil para mim apagá-lo de vez da minha vida... Juro que se não fosse pelo amor que meus filhos tem por ti, você jamais nos veria outra vez... Adeus!

— Sonia espere – ela passou por ele, seguindo para a porta e se inclinando contra a parede ao lado, seu coração batendo forte contra o peito, pancadas e mais pancadas de dor caindo como escombros sobre ela, lágrimas já molhavam seu rosto outra vez, enquanto ela descia o mais discreta e rapidamente que podia até a garagem onde seu carro estava estacionado, pegando seu telefone no percurso e discando o número de Helena.

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— Por que você fez isso? Está louca? – Alexandre avançou em direção a Melissa, segurando seu pulso e arrastando-a em direção a porta na expectativa de encontrar Sonia, quando uma figura conhecida apareceu diante dele, bloqueando sua saída.

— Porque ela trabalha pra mim! – Del Rio soltou Melissa e caminhou alguns passos para trás surpreso.

— Vicente! – Alexandre grunhiu raivoso, tudo ficando claro – Como conseguiu entrar aqui?

— Você não acha que como eu consegui chegar até aqui é o menor dos seus problemas?!

— Os dois, saiam daqui, agora! Melissa sua... Como você pode?! Eu sabia que tinhas algum aliado, mas jamais suspeitei que era essa cínica!

— Oh, se acalme Alexandre – Vicente sorriu sarcasticamente – E nós não sairemos...

— Eu vou chamar os seguranças!

— Seria perda de tempo, porque agora esse lugar também é meu – Alexandre o olhou incrédulo.

— Não posso estar ouvindo direito... Isso é impossível!

— Claro que não é meu caro, me diga se essa não é sua assinatura validando esse contrato de transferência onde me concede por livre e espontânea vontade parte das ações da rede Del Rio?!

— Isso é uma fraude, nunca assinei nenhum papel des... – Alexandre parou automaticamente, sua ficha caindo, havia assinado sem ler diversos papéis que Melissa lhe entregou.

Suspirando, tentando se acalmar e odiando a si próprio por ter sido tão estúpido, ele deixou Vicente continuar:

— Sorte sua o novo contrato que fizeste quando a rede começou a se expandir ser protegido de alterações com a assinatura de sua esposa e de seu pai, se não todo seu patrimônio estaria no meu nome agora.

— Eu o fiz isso justamente para evitar golpes como esse – Alexandre sorriu, ele podia ser ingênuo e acreditar nas pessoas, mas era esperto o suficiente para proteger o que ele trabalhou arduamente para conseguir e por direito pertencia a sua família – Na verdade Vicente, o contrato só pode ser alterado quando meus filhos atingirem a maioridade e suas assinaturas tiverem validade judicial. Sonia, meu pai e eu só podemos mexer em 50% das ações, a outra metade pertence a eles.

— Eu percebi doutor, meu advogado encontrou uma brecha no seu contrato, dos seus 25%, 12,5% pertencem a sua esposa, não podemos tocar, o que é uma tristeza, mas eu consegui metade do que é seu. Como eu quero que Sonia acredite que tens realmente um caso com Melissa, esses 6,25% eu deixei no nome dela.

— Seu cretino! E você Melissa – a médica permanecia em pé, apenas observando toda conversa entre os dois homens sem esboçar nenhum sentimento – Eu confiei em ti, investi tempo e dinheiro em você garota, para me pagar dessa forma?! Minha mulher abriu as portas da nossa casa para você, nós deixamos você se relacionar com nossos filhos e todo tempo esteve por trás desse plano diabólico... – Alexandre estava vermelho, num ímpeto de ira socou a mesa fortemente, assustando as outras duas pessoas na sala. Vicente se levantou, o encarando do outro lado da mesa – Sumam daqui antes que eu não responda por mim – Ainda incrédulos diante da atitude explosiva do Dr. Del Rio, resolveram que era hora de sair.

— Nós iremos, mas voltaremos porque agora esse hospital também nos pertence! Passar bem Dr. Del Rio – Vicente dizia enquanto fechava a porta, Alexandre alcançou um objeto em cima da mesa lançando-o em direção a porta. Do outro lado, o homem mais velho ria ao ouvir o barulho de algo se estilhaçando e sorriu, sua vingança caminhava perfeitamente. Agora era uma questão de tempo até conseguir o que mais desejava: destruir o nome de Alexandre Del Rio.

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2 meses depois...

— Cadê sua mãe meu amor? – Helena perguntou a Cristal ao ver as crianças na companhia de duas babás brincando no playground— Pensei que vocês tinham ido tomar um sorvete...

— Nós fomos tia... Depois a gente parou na farmácia para comprar um remédio pro meu corte – ela apontou a palma da mão com um curativo pequeno – e voltamos para casa.

— Ah ok... Está doendo querida?

— Não tia, foi só um cortezinho... Nós chegamos ainda pouco. Mamãe subiu para ir ao banheiro e ainda não voltou.

— Titia – César correu na direção de Helena, se escondendo por trás da irmã – Gabi está querendo me empurrar do escorrega – o garotinho exclamou enquanto Gabriela corria atrás dele.

— Gabriela Soriano Herrera! – a menina de cachinhos loiros estancou imediatamente – Por que você está empurrando César? Não faça isso!

A loirinha olhou desconfiada para a mãe e sorriu:

— Por que ele é um bobão e está com medo de descer do escorrega... Até Char já desceu – ela colocou as mãos na cintura e seu rosto apresentou a mesma expressão de desdém que sua mãe fazia. Helena teria sorrido se não precisasse repreendê-la.

— Filha, venha aqui – ela se aproximou encarando a mãe, Helena a puxou para um banco próximo e sentou-se, uma vez que sua barriga enorme não permitia que ela se curvasse mais sem dificuldade, sentando Gabriela no colo ela prosseguiu – Você não pode forçar as pessoas, muito menos sair por ai empurrando seus coleguinhas – a amazona passou a mão pelo rosto da menina suavemente, tirando os fios que se prenderam ao suor e tentando arrumar os cachos teimosos que voavam soltos – Cada um tem sua hora, se César ainda não está preparado para descer o escorrega maior, não o force ok?! – Gabriela concordou acenando com a cabeça – Se fosse você meu amor, gostaria que estivessem fazendo isso contigo?!

— Não mamãe – ela disse cabisbaixa – Desculpe!

— Tudo bem – ela beijou a testa da filha – Agora vá até César e peça desculpa a ele...

Helena sorriu e deixou as crianças brincarem mais um pouco, ainda não estava tão escuro, logo ela os chamaria e colocaria todos para jantar. Preocupada com a demora de sua amiga, ela decidiu subir e verificar se algo estava errado.

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— Sonia? – chamou batendo de leve na porta do quarto que agora ela ocupava em sua casa, sem obter respostas ela decidiu entrar - Sonia? – Helena caminhou até o banheiro e viu a amiga sentada na tampa do vaso, olhando para o nada, a porta estava aberta, ela se aproximou e pôs a mão no ombro dela – Querida... está tudo bem?

Sonia a olhou e logo a abraçou, ela devolveu o abraço, passando o máximo de conforto que podia nele.

— Sonia, estou ficando preocupada – ela a afastou para olhar em seus olhos – o que está acontecendo contigo? Sai daqui para ir ao hospital e você estava bem... Alexandre ligou ou te procurou? – a ex-modelo suspirou fechando os olhos com pesar enquanto negava a pergunta com a cabeça – Então me diga o que é? – ela beijou sua têmpora e se afastou, Sonia a encarou por alguns longos segundos pertubadores, até que enfim falou temerosa lhe entregando uma pequena haste branca:

— Estou grávida Helena!


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Notas finais do capítulo

Temos o Xabi Alonso no gif pq se eu fosse escolher alguém para interpretá-lo seria ele hauhaua
Sei que terminei numa parte crucial, me perdoem, logo sai o próximo! As coisas vão melhorar, não vai demorar tanto...



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