Estações escrita por Emma


Capítulo 2
Construindo Novos Alicerces


Notas iniciais do capítulo

Eu sei que prometi capítulo todo dia, mas devido uns compromissos da faculdade não tive tempo de postar... Como recompensa, postarei dois ou três capítulos hoje...
Ah... Aqui começa o desenvolvimento da relação de Heitor e Helena, que preciso admitir, é minha preferida



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“Com a força um furacão ela passou por minha vida e destruiu tudo pelo caminho. Como qualquer obra desse gênero, o estrago deixado era grande e muito difícil de consertar, os alicerces foram ao chão e se quisesse reerguê-los mais fortes, teria que começar outra vez, do zero.”

O aniversário de 27 anos de Heitor se aproximava, Alexandre pensava em algo para presentear o amigo e não conseguia chegar a uma decisão. “Um carro novo? Não, acho melhor não... Talvez aquele Rolex da coleção nova que ele gostou... Também não... Já sei! O quadro de Monet que ele queria e não conseguiu comprar, é isso!”.

Os últimos dois anos passaram rápido, eles haviam amadurecido e crescido naquele lugar. O médico refletia sobre si próprio, quando chegou para trabalhar no Hospital Villa Real possuía apenas 30% das ações, agora já era sócio majoritário e proprietário de 65% delas. Ganhou reconhecimento, seu nome era conhecido em todo o país e tinha bastante repercussão nos EUA também. Constantemente estava em território norte americano fazendo palestras, onde compartilhava as novas técnicas de cirurgia plástica que desenvolvia com as pesquisas realizadas em seu hospital. Teve que adiar o sonho de se tornar neurologista por causa dos muitos compromissos relacionados à sua profissão, como cirurgias, palestras e assuntos do hospital. Com toda essa bagagem, mulheres não lhe faltavam, mas não gostava de brincar com os sentimentos alheios, por isso era difícil se envolver, o médico ainda não tinha encontrado alguém a quem desejasse dar o sobrenome Del Rio.

Seu amigo não ficava atrás, reconstruiu sua vida, assumiu seu lugar, suas responsabilidades, trabalhou esforçadamente e fazia da Herrera Construções a melhor do ramo pelo segundo ano consecutivo, os melhores profissionais do país trabalhavam para ele. Se tornou mais sábio quanto a tomar decisões, estava em ótima forma e seu charme continuava a conquistar o afeto de muitas moças, só que agora, latinas. Se apaixonar era algo que Heitor descartava no momento. As mexicanas eram muito bonitas, sabiam como encantar, mas ele estava precavido, seria necessário muito mais que um físico bonito para roubar-lhe outra vez o coração. Enquanto a futura senhora Herrera não aparecia em sua vida, ele aproveitava para desfrutar dos “encantos mexicanos”.

Moravam no mesmo prédio e todos os dias se encontravam para fazerem alguma coisa juntos. Na noite anterior ao aniversário de Heitor, estavam malhando quando o amigo médico perguntou:

— Que horas você sai da construtora amanhã?

— Acredito que só depois das 17h. Amanhã teremos reunião com os novos arquitetos que esperamos contratar, quero conhecê-los e mostrar o projeto estrutural do condomínio novo, escutar as idéias e a partir disso escolher os que mais me impressionarem. Porque, você tem algum plano em mente?

— Bom... Como seu melhor amigo, tenho o dever de lhe proporcionar o mais incrível aniversário de 27 anos. Digamos que tenho planos... Ah, quero conversar contigo depois sobre esse novo condomínio, quero comprar uma casa nele...

Heitor se surpreendeu, mas deixou o assunto para depois, resolvendo focar no assunto que tratava a respeito de seu aniversário:

— Muito bom saber! – e sorriu para o amigo – Espero que esse novo ano continue me trazendo coisas boas.

— Eu também! Desejo que encontre uma boa moça e aquiete o “facho”!

— Pois seu desejo vai demorar um tempo amigo! Estou fugindo de um relacionamento sério por enquanto. Com tantas moças bonitas por ai, quero aproveitar minha solteirice por mais tempo...

— Às vezes acho que você não vai tomar jeito mesmo! Você fala assim porque não encontrou uma mulher que tenha qualidades suficientes além da beleza para fazê-lo se apaixonar.

— Talvez Alê, talvez... Confesso a você que tenho muito receio de me deixar envolver de novo, o estrago feito da primeira vez foi muito grande e você sabe...

— Heitor, nem todas são como Bianca... Quando você encontrar a garota certa, esse medo sumirá sem que notes. E quando menos perceber, você estará casado e com filhos.

— Pode ser, pode ser... Mas agora, espero que esses planos que tens para amanhã envolva muitas mulheres bonitas e solteiras, por que já que a senhora Herrera não apareceu ainda, eu procurarei candidatas – sorriu cinicamente para o médico que como resposta lhe lançou um olhar repreendedor. E ambos continuaram sua série de exercícios.

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Alexandre foi para casa aquela noite refletindo sobre os conselhos que deu ao amigo, ele próprio não estava desesperado, mas desejava encontrar uma mulher para se casar. Tinha tudo que qualquer homem solteiro em sua idade desejava ter, dinheiro, formação, um bom emprego, carros, apartamento... Porém, faltava algo, ele queria mais que lances de uma noite, ele queria encontrar alguém por quem valesse a pena se apaixonar. As mulheres que encontrou ultimamente não se davam o valor, ele tinha o que queria delas sem esforço algum... Entretanto, ele queria encontrar uma mulher para ser a mãe de seus filhos, com valores, alguém que para conquistar o coração tivesse que batalhar, que fosse segura de si, delicada e principalmente que não estivesse com ele por interesse.

Heitor até concordava com o que Alê disse, mas acreditava estar muito longe de encontrar essa mulher e por isso decidiu aproveitar a vida que tinha até lá. Deitado na cama da suíte principal do espaçoso e luxuoso apartamento em que vivia, começou a pensar no quanto mudar-se para o México havia lhe feito bem, a cultura era diferente, as pessoas, não tinham tantas coisas incríveis como em New York, mas ele se pegou gostando de comida apimentada e das diversas novidades que encontrou nesse novo lugar. Sempre que podiam os dois iam visitar suas famílias e aproveitavam para matar a saudade de sua querida Manhattan.

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Pela manhã, o engenheiro levantou-se feliz, animado e disposto, pois tinha muitos planos para esse dia, contratar novos arquitetos, acrescentar idéias ao seu projeto e colocá-lo em prática o mais rápido possível. Tomou um banho e colocou um terno Armani muito bonito e que ainda não havia usado, logo em seguida recebeu ligações do pai e da mãe felicitando-o, depois de Bernardo, Cecília e Sophie. Alexandre estava em sua porta, com seu presente e pronto para levá-lo para tomarem café da manhã juntos.

— Bom dia irmãozinho! Parabéns e muitas felicidades – e abraçou o amigo – espero que goste, foi muito difícil consegui-lo...

Após abrir rapidamente o embrulho e constatar que era o quadro de Monet que tanto queria disse:

— Não acredito que você conseguiu comprá-lo! Como??? Eu tentei tanto, mas o cara não queria se desfazer...

— Ora, ora... Quando ele soube quem eu era, disse que a tempos desejava falar comigo e que faria a troca se conseguisse um espaço em minha agenda para que eu fizesse uma abdominoplastia em sua esposa, então eu disse: “trato feito!”. E aqui está o quadro, agora só preciso achar um tempo para operar a senhora – os dois riram.

Findando o desjejum foram cada um para seus ofícios. Ao chegar na empresa, Heitor, que era muito querido por seus funcionários, foi recebido por eles com faixas de “parabéns para você”, um bolo e muitas felicitações. Depois de passarem um tempo na recepção comemorando, ele subiu para seu escritório e em seguida para a reunião que começaria as 10:30h.

Organizou os papéis que utilizaria, pegou os slides contendo os projetos em 3D do local, olhou a hora em seu Rolex e partiu rumo a sala de reuniões. Ainda faltavam 15 minutos para o início da reunião e os possíveis futuros empregados da construtora começavam a chegar, cumprimentavam Heitor e sentavam. Dos dez chamados para a reunião apenas cinco seriam escolhidos. Faltando dois minutos para o horário estabelecido, uma única cadeira no meio da lateral direita da mesa estava desocupada, ele permanecia sentado na ponta, de costas para o projetor, olhou novamente no relógio e resolveu começar.

Levantou-se e quando ia cumprimentar a todos, a secretária abre a porta dando passagem a uma mulher, provavelmente a que ocuparia o lugar que faltava a mesa. Ela entrou rápida e segura de si, sentou-se sem fazer barulho, falou educadamente com os presentes, e olhou nos olhos de Heitor dizendo:

— Bom dia senhor! Desculpe e espero não ter interrompido nada...

Ele estava estático, não conseguia parar de olhá-la. “Que mulher linda!” Ele pensava... Ela trajava um terninho preto discreto com uma blusa branca de seda por dentro, mas que ainda sim, não escondiam suas curvas bem acentuadas, os cabelos eram pretos e estavam presos em um coque frouxo, os olhos negros que com o contorno do lápis se destacavam ainda mais, a pele branca entrava em um contraste perfeito com os traços escuros que possuía, as sobrancelhas pareciam ter sido desenhadas pelo mais perfeccionista dos pintores, na boca estava impecavelmente estampado um batom vermelho escuro, usava um pequeno brinco com o que ele acreditava serem pequenos diamantes, apesar de usar um salto, ela era alta, devia medir em torno de 1,70m de altura.

Se perdeu por alguns segundos admirando-a, então voltou a si esperando não ter parecido um idiota e respondeu-a:

— Não se preocupe! Ainda não tínhamos começado. Seja bem vinda – e sorriu focando os olhos azuis e expressivos nela – Aliás, sejam todos bem vindos a Herrera Construções, bom dia! Sou Heitor Herrera, presidente e o engenheiro supervisor das obras em geral. É um prazer recebê-los aqui ainda mais sabendo que, a partir de amanhã alguns de vocês irão compor nosso corpo de funcionários.

Continuou falando sobre a empresa, mostrou algumas obras executadas por eles, a forma como trabalhavam e finalmente chegou no projeto do condomínio... Disse-lhes que queria a opinião deles acerca do projeto, em tudo, modificações, complementos, inovações... E enquanto eles falavam, cada um por sua vez, ele anotava as sugestões e analisava os candidatos, de vez em quando olhava para mulher que havia atraído sua atenção em especial, algumas vezes teve a impressão de que ela estivesse lhe observando também, mas acreditou ser apenas impressão mesmo. Ansiava por sua vez de falar, pois queria saber o nome da bela figura a sua direita.

Ela se apresentou como Helena, e de todas as idéias dadas e sugestões de modificações, as dela foram as que mais o agradaram. Os pontos que ela havia citado tinham sido exatamente os que ele tinha identificado como “frágeis” e precisariam de mudanças. A forma como falava, prendia sua atenção, tinha firmeza, mas não era autoritária, era fina na maneira de se expressar e no seu porte, conseguia ser docemente inflexível, tinha elegância e classe distintas... Era uma líder nata, discursava muitíssimo bem. Ele tinha que contratá-la! Como foi a última a chegar, falou por último também, fechando aquela reunião com chave de ouro.

Ele convidou todos para um almoço, procurou conhecer cada um melhor, inclusive a bela Helena. Além de bonita, tinha qualidades incríveis, educadíssima com todos, tentou conversar mais com ela, só que ela não lhe dava atenções além das necessárias, sempre muito profissional. Heitor gostou disso nela, talvez fosse a primeira mulher que não lhe dispersava atenções especiais mesmo sabendo quem ele era... Um deles sabia que era aniversário de Heitor, e incitou os outros a cantarem parabéns para ele. E em seguida, abraçaram-no. Esperou pelo abraço de Helena, mas apenas apertou-lhe a mão.

Depois do almoço com os sete homens e as três mulheres, Heitor os informou que estavam dispensados, analisaria os currículos e considerações de todos e até as 16h os escolhidos receberiam uma ligação, informando o horário e a documentação com que deveriam apresentar-se na empresa na manhã seguinte.

Retornou a construtora para fazer sua seleção e não conseguiu parar de pensar naquela mulher: “Helena... Por que você chamou tanto minha atenção? Percebi que és bonita, claro, só um cego não veria... Mas não consigo tirar sua imagem da cabeça... Tem algo diferente em você, algo que não vi em mais ninguém...”. Voltou a si e se repreendeu por estar pensando nela.

O primeiro currículo da pasta era o dela, parecia até brincadeira, e ele riu. Uma coisa lhe chamou atenção em especial nele, seu nome, mais precisamente, seu sobrenome. “Helena SORIANO... Será possível que ela seja a filha de Inácio Soriano?! Não – balançava a cabeça - se fosse a filha dele, não iria querer ser subordinada a alguém, o pai pode comprar uma construtora e lhe dar de presente se ela desejar... Mas, o nome é o mesmo...” Tentou se lembrar da imagem da moça que ele uma ou duas vezes vira de longe em festas sociais, mas não teve êxito. Então entrou no Google, procurou por ‘Helena Soriano’ e fotos da mulher com quem almoçara mais cedo e seu famoso pai surgiam pela tela de seu computador. “Era ela mesma! Por que essa mulher quer trabalhar aqui? Não entendo...” Analisou mais seu currículo, e viu que estudou em Harvard, sempre entre os primeiros da turma, especialização em Interiores, nenhuma referência ao pai e aquele seria seu primeiro emprego... Mesmo sem experiência, ela era ótima para preencher uma das vagas, já tinha sua primeira contratada! Três homens e mais uma mulher, juntos com Helena formariam sua equipe de arquitetos.

Fez questão de ligar para todos, e claro, queria uma desculpa para falar com Helena mais uma vez. Heitor havia se encantado com a voz dela, e se fosse apenas com a voz estava tudo bem... Aquela mulher era linda demais, tinha algo de especial nela que ele ainda não sabia o que era, mas esperava descobrir... “Droga, por que eu ainda estou pensando nela?!”

—________________________________________

— Filha, boa tarde! Te esperei para almoçar e você nem veio...

— Oh papai, me desculpe! Esqueci de ligar... O Sr. Herrera nos convidou para almoçar com ele, queria ter um contato maior com todos antes de selecionar-nos e precisei fazer algumas compras na volta, por isso demorei...

— Querida, eu já te pedi para deixar-me ligar para Philip, você nem precisaria disso... Poderia muito bem ter seu próprio escritório agora – falou franzindo a testa.

Helena arqueou a sobrancelha, empinou o nariz, olhou bem nos olhos do conservado homem de 51 anos a sua frente e disse:

— Senhor Inácio Soriano... Eu já lhe disse que não vou me aproveitar do meu sobrenome para conseguir emprego, primeiro vou ganhar experiência, depois que tiver reconhecimento pelo meu trabalho, volto a dizer, PELO MEU TRABALHO, ai sim te deixarei me dar o escritório!

Ela estava certa, e ele sabia... Mas sempre gostou de mimar sua única filha, e não suportava a idéia de vê-la como empregada de alguém, queria sempre dar a ela o melhor, morria de ciúmes de sua Helena... Porém, isso o levava a admirar ainda mais o caráter da mulher que ele tinha ajudado a se tornar.

Helena tinha decidido que passaria o restante da tarde na fazenda com o pai, aproveitaria o pouco tempo que teriam juntos, visto que teria que se mudar integralmente para seu apartamento no centro, caso fosse chamada. E também por que seu pai viajaria de madrugada a negócios e só retornaria duas semana depois. A moça convidou o pai para montar e conversar, tinha muito o que lhe confidenciar...

Estava se arrumando quando o celular tocou, não conhecia o número então pensou ser da construtora e atendeu com um “alô”:

— Boa tarde senhorita Helena!

— Boa tarde!

— Aqui é Heitor Herrera, liguei para informá-la que fostes uma das escolhidas. Espero você na empresa amanhã as 08:30h com seus documentos pessoais em mãos para check in e finalização do contrato.

— Ok. Obrigada pela atenção e confiança. Espero ser muito útil!

— Por nada! Então é... Até amanhã senhorita.

— Até Sr. Herrera – e desligou o telefone sorrindo.

Helena terminou de se arrumar rápido, pois queria contar a novidade ao pai. Quando o encontrou ele já estava na lateral da casa com as rédeas do seu cavalo nas mãos esperando-a. Ela radiante de alegria lhe contou sobre sua contratação e que desejava que o dia passasse rápido, pois estava ansiosa para por em prática suas milhares de ideias sobre o projeto do condomínio, exceto pelo fato de que não o veria por uma semana e beijou-lhe a face. Os dois subiram em seus cavalos começaram a cavalgar pela gigantesca propriedade.

Enquanto cavalgavam, Helena continuava a falar e o pai a olhava com admiração... Pensava em como o tempo tinha passado depressa e sua menina cresceu e se tornou uma belíssima mulher. Tinha seu caráter e personalidade, mas externamente parecia com a mãe, os cabelos negros, longos e ondulados que Elizabeth tinha, Helena herdou, os olhos escuros e marcantes, a boca rosada, o corpo bonito e formoso... Talvez as únicas características suas que recebeu foram a altura e a pele alva...

Eles montaram por horas, os dois adoravam esse tipo de programa. Quando nasceu, o pai a carregava em seu cavalo para todos os lugares de sua propriedade em Soriano, Itália. Ao completar quatro anos, ganhou seu primeiro potro e Inácio ensinou-a a montar, desde então Helena começou sua paixão por cavalos. Quanto maior ficava, com mais destreza e habilidade cavalgava. Era difícil até para o pai acompanhá-la, tinha leveza e garra, o vento parecia favorecê-la quando corria... Assim, ele passou a chamá-la de “Minha Amazona”.

O Sr. Soriano olhava para filha como um troféu, não apenas por ser encantadoramente linda, mas por que ela foi a única pessoa amada que lhe restou e fez companhia. Depois da morte de sua filha caçula, Isabel, quando ainda era uma garotinha de oito anos. Elizabeth, sua esposa, muito deprimida com a perda, partiu deixando ele e Helena sozinhos. Na tentativa de amenizar o sofrimento da filha, com dez anos na época, e o seu próprio, decidiu que recomeçariam suas vidas em seu novo aras na capital mexicana.

Helena era seu mundo, e apesar de seus inúmeros compromissos com ministros, presidentes, cooperativas, fornecedores e compradores, Inácio Soriano que ocupava a quinta posição no ranking de homem mais rico do mundo, de acordo com a revista Forbes, monopolizava praticamente todo comércio agropecuarista de continentes como Europa, partes da Ásia e África e Américas do Norte e Sul, possuía um grande império, mas não negava atenção a sua menina. Ela cresceu o tendo como seu melhor amigo, e ele a criou como uma princesa.

A tarde foi muito agradável, correram pelos campos e colinas banhados por grama verde, algumas vezes paravam para admirar parte da beleza contida naquele lugar... Havia ali um suntuoso bosque como o de sua fazenda em Soriano, com árvores de grande poste, muitas trazidas da Europa e algumas nativas, um caminho de 800 metros até o riacho, cheio de pedrinhas brancas e cascalhos ao lado, um pergolato de madeira enfeitado com orquídeas e trepadeiras naturais cobriam 200 metros de sua extensão, cadeiras de balanço e bancos no estilo provençal estavam espalhados por todo o ambiente e próximo ao bosque foi erguida uma magnífica estufa que de acordo com o ambiente reproduzia a temperatura necessária para o crescimento das mais diversas flores... Era um dos lugares favoritos de Helena.

—_______________________________________________

Quando saiu do trabalho Heitor ligou para Alexandre que marcou de encontrá-lo na recepção do prédio que moravam as 20:00h. O rapaz assim fez, desceu e o médico já o aguardava. Na portaria, uma limusine preta estava a espera deles, grande foi sua surpresa e alegria quando abriu a porta e viu seu pai, sua mãe, Bernado, Cecília e Sophie. Os dois entraram e todos abraçaram o aniversariante.

— Bom Heitor, mostre-nos as maravilhas mexicanas – disse Philip.

— Pode deixar tio Phil, nosso cronograma já está montado... – respondeu Alê.

Foram a um ótimo restaurante tipicamente mexicano, com direito a banda de chapeleiros e música tradicional, fizeram um brinde em homenagem ao aniversariante, provaram das apimentadas iguarias locais e os visitantes que não estavam acostumados com tanto ardor, tiveram que cantaram os parabéns e comer o bolo para aliviar a ardência. Victória foi quem mais sofreu!

Eles se divertiram muito em um programa “A La México”, mas infelizmente se aproximava da meia noite e pela manhã todos tinham suas obrigações. Antes de levá-los ao aeroporto, Heitor os conduziu à construtora. Sempre que executava um grande projeto, um protótipo em escalas reduzidas era colocado na recepção, e os que iam sendo substituídos eram encaminhados a um anexo bem ao lado do gigantesco prédio, que Heitor batizou de “Museu de Projetos Herrera”. Todos se admiraram dos excelentes trabalhos que ele desempenhava ali e partiram.

No caminho de volta do aeroporto, Heitor perguntou a Alexandre:

— Ok, fizemos uma social com a família, foi ótimo, mas onde é a festa de verdade agora?

O doutor conhecia muito bem o amigo para saber que o jantar com a família o agradaria, porém ele esperaria “curtir” ainda mais, então já tinha pensado em um segundo programa para fechar em grande estilo a noite do rapaz:

— Por um momento tive esperanças de que você ia nos levar para casa – e riu continuando – Sabe aquele DJ que você adora?! Muito bem, contratei-o para tocar na FLY (boate badalada da capital) hoje e separei um camarote vip para nós.

— Você é o cara Alê, o cara! Nessa boate vão as mexicanas mais bonitas que já vi... – ao dizer isso, lembrou-se automaticamente de Helena Soriano, depois de vê-la seu conceito de beleza se modificou, aquela sim era a mulher mais bonita que ele já vira na vida!

— Tenho concordar com você... – Heitor o interrompeu.

— Não...

— Não o que?! – Alexandre perguntou confuso.

— Esqueci de te falar cara, mas depois da mulher que tive o prazer de conhecer hoje, as garotas que vemos na FLY não passam de “bonitinhas”.

— Hum... Quem seria essa deusa? Seu novo affaier? – questionou Alê imaginando que seria mais uma conquista do amigo.

— Seu nome é Helena Soriano. E não, não é mais uma conquista minha, apenas a nova contratada da constru...

— Espera ai, você está falando da Helena Soriano, filha de Inácio Soriano? – perguntou surpreso.

— Sim, ela mesma! Agora trabalha para mim. Você a conhece?

— Só pode estar brincando... Não acredito! Está trabalhando para você agora? Por quê? O pai pode lhe dar uma construtora se ela quiser... Eu não a conheço, já vi fotos suas... Ela é realmente tão bonita pessoalmente?

— Eu me fiz essa mesma pergunta. E sim, é incrivelmente linda, daquelas que raramente se encontra... Agora o que eu não entendo é como ela com tanto dinheiro ia querer ser subordinada a alguém? Talvez descubra quando a conhecer melhor! – e piscou para o amigo.

— Heitor, cuidado! – sua expressão passou de humorada para séria – Não brinque com essa mulher, sei pouco sobre essa família, mas o Sr. Soriano mataria pela filha se fosse necessário, tudo o que sempre ouço é que Helena significa o mundo para ele.

— Relaxa amigo – abriu um largo sorriso – Só falei que era muito bonita e que trabalhava para mim, espero conhecê-la melhor profissionalmente falando, ok?!

— Se eu não te conhecesse tão bem ficaria aliviado após o que me disse...

Chegaram na balada meia noite e meia, depois de duas horas Heitor saiu acompanhado de uma bela moça e partiu para casa, Alexandre foi logo em seguida, sozinho. Conheceu uma moça muito bonita também, mas não aconteceu nada além de alguns beijos.

Alexandre bateu oito horas na porta de Heitor, ele precisava estar na empresa as 08:30h, sabia que não era irresponsável quanto aos seus compromissos, mas depois da noitada dificilmente conseguiria acordar, só que para sua surpresa ele já estava arrumado e servindo seu café da manhã, até a moça com quem estava acompanhado já havia ido embora...

— Meu Deus, eu só posso estar delirando ou sonhando? Não é real...

Heitor soltou uma risada propositalmente falsa e respondeu:

— Eu tenho compromissos, ok?!

— Ou os 27 anos lhe fizeram muito bem ou tens uma motivação muito forte para ir trabalhar...

O engenheiro entendeu o que ele estava insinuando e disse:

— Tenho que assinar cinco novos contratos hoje e alavancar meu projeto do condomínio, já são duas motivações boas não!?

— Ok, ok... Vou fingir não saber suas reais motivações...

— Eu já disse que você sabe ser bem chato quando quer?! - Os dois sorriram e Heitor convidou o doutor para se sentar e comer.

—______________________________________

Heitor era apaixonado por carros, ganhou de presente dos pais uma Ferrari preta 599 GTB Fiorano.Resolveu estreá-la. Ao chegar, estacionou o novo veículo ao lado de um Audi A5 também preto que ele ainda não tinha visto pelo local. Imaginou que seria de Helena e sorriu. Apressou os passos e subiu para seu escritório no elevador particular, ao chegar a secretária informou que apenas uma mulher o aguardava na sala de espera.

A manhã estava fresca, porém quando a viu, Heitor sentiu um calor estranho, ela conseguiu estar mais bonita que ontem, trajava um vestido azul marinho com um leve decote nas costas, sandálias altas de cor marrom claro e os cabelos dessa vez estavam soltos, aliás, algumas mechas laterais estavam puxadas para trás e presas por uma pequena presilha... O batom dessa vez era um tom rosado e a maquiagem tal qual ontem, suave... “Céus, ela conseguiu me hipnotizar outra vez, quando eu pensei que não ela não poderia ficar mais bonita, me surpreendi... Imagina como ela estará quando a convidar para sair... O que? Estou ficando louco?! Chamá-la para sair, nós apenas trabalhamos juntos e só...”

— Senhor, bom dia! ... Sr. Herrera... – ela o chamava parada em pé poucos metros a sua frente – Está tudo bem com o senhor? – Heitor pensava no quão tolo poderia ter aparentado diante dela outra vez, voltou a si e ela prosseguiu – Hoje não quis atrapalhar e pelo visto não só fui a primeira, como cheguei cedo demais – sorriu e esticou a mão para cumprimentá-lo.

— Bom dia senhorita Soriano! – esticou sua mão e apertou a dela devolvendo-lhe o sorriso - Desculpe pela distração, bem a senhorita não atrapalhou ontem, mas veja pelo lado bom, será a primeira contratada da lista e se livrará primeiro da parte burocrática - ambos sorriram e Heitor lhe apontou a direção do seu escritório e pediu para que ela o acompanhasse.

Já sentados, Helena observava o lindo e amplo local, algumas obras de arte contemporânea casavam com as relíquias e antiguidades espalhadas pelo ambiente. Uma em especial chamou sua atenção e perguntou-lhe:

— Sr. Herrera, esse é um jarro egípcio de marfim e madre pérola de 30 a.C que pertenceu à própria Cleópatra e que foi leiloado há um ano?

— Como você sabe quando foi leiloado? – eles começaram a esboçar um sorriso como se tivessem feito uma descoberta engraçada - Oh meu Deus, não me diga que você era a outra pessoa ao telefone que me deu um baita trabalho cobrindo meus lances?!

Ela sorriu novamente balançando a cabeça afirmativamente e disse:

— Pelo visto, meus esforços não foram grandes...

— Não? – fez uma expressão cômica de incredulidade – das muitas obras de arte e raridades que costumo comprar, essa foi uma das que me saíram mais caro, agora sei que, graças a senhorita...

— Perdoe-me, vi uma réplica desse vaso no Cairo quando ainda era adolescente, anos depois quando descobri que o haviam encontrado e que leiloariam, eu tinha que comprar...

— Eu que me desculpo, afinal fui o felizardo. Sou apaixonado por antiguidades e artes, é como fujo dos números... Estou aqui me perguntando quantas vezes isso já não pode ter acontecido...

— Não tenho ideia, já atrapalharam muitos lances meus, senhor – os dois riram – Eu também sou apaixonada por antiguidades e obras de arte, já até desejei ser arqueóloga, mas meu pai surtaria com a idéia, então preferi abandoná-la...

Heitor olhava aquela mulher e não acreditava que ela pudesse ser real, era bonita, tinha bom gosto, era fã de antiguidades e obras de artes... O que mais ele descobriria nela que o agradaria?! Acreditou estar conhecendo uma grande mulher e que seria muito bom tê-la como... Amiga?!

O setor de RH havia mandado o contrato e a secretária bateu na porta para entregá-lo interrompendo a conversa. Helena assinou, agradeceu e se dirigiu a porta para sair, Heitor levantou-se e a acompanhou até a mesma. Abriu a porta e indicou o caminho até sua sala, abriu uma outra porta e falou:

— Bem senhorita, essa é sua sala, espero que goste!

— Sim, é confortável! Posso dar meu toque a ela?

— Claro, fique a vontade, é toda sua daqui por diante – sorriu.

— Obrigada senhor.

— Por favor, me chame de Heitor!

— Me desculpe, não quero ser grosseira, mas prefiro manter as formalidades!

— Tudo bem, você quem decide. Se acomode e quando todos estiverem fichados, nos encontraremos na mesma sala de reuniões de ontem.

—______________________________

O dia foi muito produtivo, conseguiram alavancar e organizar muitas coisas no projeto, todos os lotes já estavam comprados, o terreno já estava sendo terraplanado e logo começariam as obras. Helena como ele esperava, foi direta e prática e fez contribuições valiosas. Cada palavra que falava parecia uma coluna que ia ser erguendo, bastaram dois dias e ela mergulhou de cabeça com ele naquele sonho, era bom ter alguém assim na equipe, que incentivava os outros, pois o condomínio ia ser uma das maiores obras que Herrera Construções já fizera, e era bom saber que agora ele tinha alguém com quem contar para fundamentar aquela obra que precisava de total dedicação e esforço de todos.


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Notas finais do capítulo

E então? Gostaram do começo da relação deles??? Muita coisa vai acontecer, eles dois são personagens incríveis... Espero que se apaixonem por eles como eu :D



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