Estações escrita por Emma


Capítulo 1
O Fim do Inverno


Notas iniciais do capítulo

Eu venho metalizando essa odisséia (como costumo chamá-la hauhauha) já tem anos, porém resolvi (dps de pedidos de duas amigas) escrevê-la esse ano. É minha primeira fic, então perdoem os erros ou seja lá o que for...
Esse primeiro capítulo é meio que uma introdução geral da história. Leiam e apreciem, ou não hauhauaha...



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Os poucos flocos de neve que ainda caiam na rua, anunciavam o final do mais terrível inverno que Genebra já presenciara. Heitor observava pela janela de seu luxuoso apartamento no centro da cidade, os corajosos que se aventuravam a sair naquele frio.

Uma caneca de café quente e projetos inacabados que espalhavam-se sobre sua mesa de trabalho, eram sua única companhia. Os vidros, presentes em quase todos os cômodos, refletiam uma imagem nada agradável do belo homem que ele fora um dia, a barba estava por fazer e os cabelos desgrenhados e sem corte já fazia um tempo, estava fora de forma, usava o mesmo moletom há uma semana e pensava na péssima decisão que tomara ao fugir com a noiva de seu melhor amigo.

Agora duramente colhia os frutos de sua escolha. Dois anos se passaram e o que ele havia ganho?! Fora traído inúmeras vezes, abandonado e roubado... Para Bianca, ele não passava de um brinquedo que ela tirou proveito o máximo que pode e depois trocou um mais... "caro".

O preço que pagou, aliás, ainda pagava, pela traição e deslealdade com Alexandre era muito alto. Sempre soube que o amigo não merecia tal punhalada, mas aquela mulher o havia enfeitiçado de tal forma que ficara cego de paixão, o envolveu ao ponto dele abandonar seus pais e os projetos para os quais fora destinado, e no conjunto, acabar enganando o amigo que era como um irmão e renunciar sua herança bilionária.

Seu único conforto e alívio era saber que mesmo dentro de circunstâncias horríveis, como ter partido o coração de seu irmão, assassinando a confiança e respeito construídos durante muitos anos de relacionamento, ele sabia que havia livrado o Alexandre de se casar com a mulher mais baixa e sem valor que ele conhecia.

Bianca era o seu nome e ela possuía lindos olhos verdes e o olhar mais envolvente que ele já vira. Tão sedutora que quando o belo par de esmeraldas se fixavam em alguém, dificilmente tal pessoa se safava de seu bote.

O rosto fino, era perfeitamente adornado por lábios carnudos e vermelhos como sangue. A pele constantemente vivia bronzeada, mesmo que onde eles morassem nos últimos anos não fizesse tanto sol. Os cabelos longos, escuros e lisos, desciam pelas costas até um pouco abaixo da linha da cintura. Seus seios, pernas e nádegas se encaixavam em seu corpo numa harmonia que Heitor nunca encontrou nas muitas mulheres que conheceu.

Além de muito bonita, era sensual, tinha boa lábia e facilmente conseguia enganar qualquer um que não conhecesse seu caráter detestável, como ele tardiamente conhecia agora. Seu objetivo era subir na vida à custa dos tolos e ricos homens que ela seduzia, ter status, fama, luxo e todos os prazeres que o dinheiro podia oferecer. Porém nenhum, com exceção dele, tinha sido estúpido e cego o bastante para colocar-lhe uma aliança no dedo. "O pior erro que cometi na vida - praguejou - foi ter me casado com essa vadia...".

Nas últimas semanas flashes de sua vida antes de Bianca não paravam de rondar sua cabeça... Refletia sobre o quanto era imaturo, o que talvez justificasse a estupidez de sua atitude, pois na época tinha acabado de completar 23 anos. Há um ano havia se formado em engenharia civil e concluía sua especialização em edifícios.

Na universidade onde estudou, Harvard, era disputado e "pegava" as garotas dos mais diversos cursos dentro do campus. Seu porte atlético vinha desde os tempos do high school, quando jogava futebol americano, todavia os músculos bem definidos vinham também do polo equestre o qual praticava há alguns anos. 

Heitor tinha o pacote completo de mauricinho com cabelos loiros e lisos, olhos azuis, sorriso encantador e recheado de "brinquedos" de luxo, sua paixão eram os carros, sempre era visto ostentando seu preferido, a Ferrari preta, o que não o impedia de vez ou outra se exibir com outros carros caros e populares. Sua vivacidade era incomum, não tinha medo do amanhã e gostava de curtir a vida, seria um típico "filhinho de papai" se não fosse por sua inteligência, humildade e sonhos nobres.

Seu pai, Philip, era o presidente da Herrera Construções, empresa fundada pela família há gerações, sendo reconhecida como a maior e mais respeitada construtora do país, tendo filiais em muitos estados americanos. E os planos eram que o único herdeiro, ele, assumisse seu assento na presidência do grupo em breve. Planos esses que foram abortados quando Heitor decidiu trocar sua estabilidade para se aventurar com Bianca na Suíça. "Deus, como fui estúpido! Insensato! Se pudesse voltar no tempo, consertar as coisas...". Desejava isso ardentemente em seu coração.

Quando decidiu ir embora, Philip jurou que não sustentaria aquele capricho, ainda mais por que o Sr. Herrera tinha uma afeição especial por Alexandre, tinha o rapaz como filho de consideração, nasceu apenas alguns meses antes de Heitor, e em nome da amizade que tinha com Bernardo, pai de Alexandre, seu braço direito e amigo há décadas, ele fazia questão que o garoto tivesse os mesmos privilégios que seu filho, e assim foram criados como irmãos. Mas a mãe, Victória, que era a principal culpada pelo lado inconsequente de Heitor, impediu que o marido cancelasse os cartões do filho quando partiu, questionando como ele iria se manter e argumentos do tipo. A Sra. Herrera não apoiava a atitude do filho, que ela chamava de "brincadeira", "passatempo" e acreditava que em pouco tempo ele estaria de volta. Seu propósito era casá-lo com a filha de algum dos ricos homens com quem conviviam.

O tempo passou e a única coisa relacionada a Heitor que receberam foi um convite de casamento. Após o primeiro ano, o pai furioso com as faturas milionárias e ignorando os pedidos de Victória, decide acabar com a "brincadeira" bloqueando os cartões do filho. A partir daí, Heitor teve que trabalhar para sustentá-los, o que ele não via como problema, mas sua Bianca reclamava constantemente pelos "cortes" em seu padrão de vida, por não poder fazer compras diariamente e etc... Então começaram as infidelidades - bem, pelo menos ele imaginava que iniciaram depois disso - e a rota de desgraças em sua vida.

Nesse mesmo ano, o agora doutor Del Rio, como Philip e Bernardo gostavam de chamá-lo, terminou sua primeira especialização, o rapaz acabava de se tornar cirurgião plástico, e continuou estudando, pois tinha descoberto uma paixão por neurologia e desejava que essa fosse sua próxima conquista. Por estar muito envergonhado pela atitude do filho, algumas vezes o "pai emprestado" tentava abordá-lo sobre como ele estava reagindo com a traição de Heitor, e ele dizia que apesar de ter passado muito tempo furioso, o ódio tinha acabado e estava agradecido por ele ter revelado a verdadeira natureza da mulher com quem pretendia casar e às vezes chegava até sentir falta companhia do "irmão". Esperava que ele estivesse feliz e que tudo o que ele havia abandonado e feito para ficar com Bianca tivesse valido a pena. Philip sempre admirou o caráter de Alexandre e depois de ouvir tais palavras tinha certeza que homens como ele eram raros e desejava que ele encontrasse a felicidade, mas sabia que seu foco era sua profissão e que por um tempo iria manter-se longe de relacionamentos sérios.

Alexandre além de ser um homem íntegro, bom, verdadeiro, leal, ter um caráter invejável, sempre muito educado, inteligente, dedicado ao que fazia, era muito bonito, com seus belos traços faciais, cabelo escuro, olhos castanhos e olhar sensível, pele clara, alto, tinha o físico forte, gostava de exercícios e praticava muitos esportes, tênis e Polo era um de seus preferidos, tinha um porte elegante, uma voz firme e cheia de sutileza e Heitor dizia-lhe que seu único defeito era a timidez que ele vinha aprendendo a vencer nos últimos anos. Era o filho que qualquer pai pedia a Deus e Bernardo e Cecília estavam muito satisfeitos com a educação que deram ao rapaz. "Alê" era o apelido que a única irmã, dez anos mais nova, Sophie, havia lhe dado. A princesa de Bernardo, Cecília e Alexandre também era amada e mimada por Philip, Heitor e principalmente Victória, que desejava ter tido uma filha e não pode, dedicando assim carinhos e atenções a pequena garotinha de seus amigos.

E assim todos viviam felizes, como uma verdadeira família, os meninos se adoravam e cuidavam um do outro, morriam de ciúmes de Sophie e à medida que iam crescendo o amor e amizade que tinham aumentava. Até que eles se tornaram homens, foram para universidade e em um triste dia conheceram a mulher que seria a causa do fim de sua amizade?!

 

* * *

 

Caminhava inquieto pela sala perdido em seus pensamentos: "Como eu pude nunca perceber a índole daquela desgraçada?". Apenas quando sua mulher partira com um milionário dono de joalherias, há cinco meses, que Heitor percebeu com quem realmente tinha passado os últimos dois anos. Roubou uma boa parte dos milhares de euros em sua conta e teve a audácia de despedir-se dele com um beijo. "Devia ter apertado o pescoço dela até deixá-la sem ar quando tive a chance!" "Por que fiquei imóvel? Burro, burro, burro..." repetia em sua mente. Foi só a partir desse evento que sua ficha caiu e se deu conta da loucura que tinha feito. Se deixou seduzir por ela e quando sabia que ele estava em suas mãos o fez trair o melhor amigo, casar com ela e deixar seus pais. Desde a primeira vez que dormiu com ela ficou perdido de paixão, desejava Bianca mais que qualquer outra coisa no mundo e se tornou escravo de suas vontades colocando o mundo aos seus pés. Ela era um vício do qual ele se tornara dependente... Agora estava se desintoxicando e como estava sendo difícil, o estrago que ela fez dentro dele era grande demais...

Sentia saudade de casa, dos pais e em especial do amigo sempre o aconselhava e exortava quando estava em crise, e não media esforços para guiá-lo pelo caminho certo. E agora a quem recorreria? Não tinha amigos em Genebra, os poucos homens que se aproximaram dele, ele mesmo tratou de afastá-los com ciúmes de Bianca. O pai havia rompido com ele e tinha receio de contatá-lo... Precisava falar com alguém, desabafar... Então decidiu ligar para a mãe, que apesar de estar chateada com sua ausência, sabia que seu amor maternal falaria mais alto...

Para sua surpresa quem atendeu o celular foi o pai, não sabia se falava ou desligava, quando a voz ao telefone disse que desligaria se quem estivesse do outro lado não se identificasse, impulsivamente falou:

— Pai, sou eu Heitor, por favor, não desliga!

— Heitor, o que quer? Não liberarei o cartão se...

— Não quero seu dinheiro pai, eu só... é... eu... Quero voltar para casa, para vocês, sinto saudades, tenho vivido num inferno... - e nesse momento sua voz falhava, pois ele começou a chorar.

— Ei rapaz, calma! Estou aqui e vou ajudá-lo... - o pai disse na tentativa de consolar o filho.

— Pai, estou tão arrependido pelo que fiz, aquela mulher destruiu minha vida, passei os últimos dois anos cego e sendo enganado, quero ir embora daqui, mas não sei como fazer... Sinto vergonha de vocês e principalmente de Alexandre - continuava a chorar.

— Filho, infelizmente você está colhendo o que plantou! Vamos fazer assim, não chore mais, se acalme... Já está muito tarde aqui, amanhã pego o jato e me dirijo para... aonde você está mesmo??

— Genebra.

— Como dizia, amanhã cedo preparo o jato e parto para Genebra, quando chegar ai te ligo e conversaremos melhor e eu te trarei para casa, tudo bem?!

— Você faria isso por mim pai? - perguntou surpreso

— Ah Heitor... Quando for pai um dia, entenderá esse meu gesto. Independente dos seus erros, você é meu filho e eu o amo, estou chateado contigo pelo que fez com Alexandre, mas nunca te negaria ajuda, ainda mais da forma que imagino que estás...

— Obrigado pai. Estarei aguardando você ansiosamente. Um abraço.

— Vou salvar seu número em meu celular e quando chegar te ligo. Juízo hein! Não contarei a sua mãe que estarei indo, quando chegar com você farei uma surpresa, ela ainda chora muito sentindo sua falta...

— Eu sinto tanto por ela pai, queria ter feito diferente... - ele ainda chorava.

— Tudo bem, eu sei... Agora tente se acalmar e me espere. Um abraço.

Depois de tudo o que lhe havia acontecido, aquele era o primeiro dia que ele conseguia sorrir. Nem acreditava no acabara de ouvir, provavelmente amanhã à noite o pai pousaria na Suíça e o ajudaria a resolver sua situação. Como ainda era cedo, por volta de uma hora da tarde, ele resolveu tomar um banho e depois comer alguma coisa, porém depois da ducha quente sentiu um sono imenso e dormiu por muitas horas... Acordou e já era noite, pela escuridão que o cercava já era tarde. O relógio em cima do criado mudo marcava 22:32h, e percebeu que depois de muitas noites sem dormir direito por causa da tensão que carregava, aquele tinha sido o primeiro descanso de verdade que ele teve. Apenas uma rápida conversa com o pai o fizera se sentir melhor, e agora ansiava por sua correção para dar total descanso a sua consciência.

As horas pareciam demorar uma eternidade para passar, mas até que enfim o telefone tocou e seu pai o informou que teve alguns imprevistos por isso o atraso, mas havia acabado de chegar a Genebra. Passou o endereço e em quinze minutos estacionou em frente a seu prédio. Heitor estava tão desesperado para se libertar de toda a tribulação que vivia, que desceu o mais rápido que pode para receber o pai. O porteiro se assustou quando o viu, quase não o reconheceu e achava que ele estava viajando, pois já fazia semanas que não passava pela portaria. Abraçou o pai por uns minutos e não parava de se desculpar. Guiou pelo corredor até o elevador e em seguida a entrada do apartamento.

Philip se assustou ao ver o estado em que o apartamento se encontrava, desorganizado, sujo, embalagens de comida e latas de bebidas por todo lugar. O lugar era bonito e luxuoso, mas da forma como estava parecia um depósito de lixo. Porém, o que mais o assustou era o homem que estava a sua frente... Por mais que fizesse dois anos que não olhava para o filho ele parecia um homem das cavernas moderno de trinta e tantos anos... Logo Heitor que sempre gostou de se vestir bem, estar arrumado e passar uma boa imagem, sempre foi organizado, agora estava barbudo e (não muito) acima do peso, usando moletons e calças largas de ginástica, cabelos embaraçados e compridos... "Que diabos fizeram com meu filho??" Ele se questionava em pensamentos. Quando ele percebeu que Philip reparava em sua aparência, se sentiu envergonhado, abaixou a cabeça e chorou...

O pai se aproximou, o abraçou e disse:

— Vamos dar um jeito em você, cadê o 'Don Juan' que eu conheço?! Não quero que chore mais, vou lhe ajudar a colocar as coisas em ordem, ok?

— Pai, já mandei chamar uma diarista, não precisa se preocupar.

— Não me referia apenas ao lixo espalhado nesse local, mas a tudo que está desajustado filho... Vamos por tudo no lugar, começaremos indo a um salão de beleza. Não tem espelhos nessa casa garoto?! Porque acho que você não está se vendo - ele riu para o filho - pois o meu filho Heitor não aceitaria ficar assim.

Heitor agradeceu o pai mais uma vez e o abraçou, depois disse:

— Senti tanta falta do senhor pai! Da mamãe, dos conselhos de vocês...

— Nós também! Agora conte-me o que aconteceu, depois você irá tomar um banho e sairemos.

— Como quiser.

Heitor começou a contar-lhe sua triste história, e a cada capítulo que relatava Philip ficava ainda mais indignado com o caráter baixo e sem escrúpulos da mulher que tinha o título de sua nora. Sentia muita pena do filho, de ver a vergonha a qual ele foi submetido e como ficou cego por uma golpista que lhe roubou o coração, jurou amor e depois o esmagou sem nenhum remorso...

— Ainda bem que ela decidiu ir embora por conta própria Heitor! Agora você não precisa mais se preocupar, vamos organizar suas coisas aqui e voltar para nossa casa.

— Pai, não é tão simples assim! Esqueceu que somos legalmente casados e ela tem direitos - o homem diante dele soltou um riso de tamanha ironia - Eu pedi o divórcio, mas Bianca é muito esperta e não quer sair perdendo nessa história, devolveu-me sem sua assinatura. Não sei o que fazer pai?

— Ora, essa mulher só pode ter sugado sua inteligência também... Heitor, sei muito pouco sobre direito, entretanto ela traiu você, o roubou e partiu com outro, não é preciso ser muito sábio para ver que diante deste quadro e com as provas que tens, ela não irá receber as regalias que uma boa esposa teria direito. Vou ligar para Campbell Advogados e pedir para tratarem desse assunto para nós.

Enquanto Heitor tomava um banho, a diarista chegou e o pai lhe apresentou a grande tarefa que a pobre servente teria pela frente. Disse que os dois sairiam e que demorariam, caso ela terminasse antes deles retornarem deveria deixar a chave na portaria e ele disse que lá também deixaria o pagamento combinado e mais um bônus por ela aceitar aquele desafio. A moça sorriu e começou seu trabalho.

* * *

Philip pediu que o filho os levasse em algum lugar onde pudessem fazer o desjejum primeiro e logo em seguida partiriam para o salão. Cortou os cabelos como costumeiramente usava, aparou a barba como gostava e o pai mandou que lhe fizessem uma massagem relaxante. As roupas e sapatos que tinha eram bons e por não usá-los muito ultimamente ainda estavam novos, não teriam necessidade de fazer compras. Saiu da sala de massagem um novo homem. Dava gosto de olhar agora.

Enquanto passeavam no shopping onde estavam, as mulheres não paravam de olhá-lo, o que levou o pai a dizer-lhe:

— 'Don Juan' voltou a todo vapor hein?!

— Pai, não sei se vou confiar em outra mulher tão cedo, vou manter minha distância desse gênero por enquanto.

— Oh Deus, não me diga que está pensando em jogar no outro time após essa decepção? - pai perguntou assustado.

Heitor sorriu da má interpretação do pai a sua resposta e disse:

— Ah papai, eu falei que manteria minha distância por um tempo, além do mais, apesar de ser muito sagaz, a mulher foi à melhor coisa com a qual os céus já presentearam o homem. Não saberia ficar muito tempo longe delas. - ele olhou o pai e piscou lembrando-lhe - Uma vez 'Don Juan', sempre 'Don Juan' pai!

 

* * *

 

Almoçaram e ligaram para o escritório de advocacia mais renomado de New York, os melhores advogavam ali e eles eram reconhecidos por raramente perderem uma causa. Dr. Edward Campbell, o sócio proprietário, era quem os ajudaria. Falou que era um caso fácil de resolver devido às provas, testemunhas e a própria conduta da mulher com quem estava casado. Heitor disse ao advogado que não queria deixá-la receber nenhum centavo seu, e que pagaria muito bem se ele conseguisse livrá-lo desse casamento no menor prazo possível. O Dr. Campbell pediu que retornassem o quanto antes para os EUA, pois ele já entraria com uma ação contra Bianca onde mesmo que ela se negasse a assinar os papéis, o matrimônio seria anulado.

Assim fizeram, Heitor arrumou as malas e entregou o local alugado ao dono, e na mesma noite partiram em seu jato para casa. Philip como todo bom pai, percebeu que o filho estava angustiado e suspeitava do que se tratava tal aflição. Mesmo tendo conversado bastante desde a hora em que ele havia chegado até o momento do retorno, eles ainda não tinham abordado a assunto mais dramático. "Como as coisas com Alexandre ficariam com seu retorno?"

— Filho o que você tem?

— Pai, quero pedir perdão ao Alexandre, mas não sei como me reaproximar... Tenho medo de olhar nos olhos dele novamente e saber que ele me odeia. Queria muito que ele voltasse a confiar em mim e que restaurássemos nossa amizade. Tenho grande apreço por ele e eu ainda me sinto tão envergonhado... Não sei se terei coragem de lhe dirigir a palavra...

— Eu imaginei que fosse isso... Olha, uns meses atrás eu questionei o Alê sobre isso e mais uma vez me surpreendi com seu comportamento.

O pai lhe relatou as palavras do amigo, lhe disse que no primeiro ano ele o odiou muito, ficou magoado, com o coração em pedaços, jurou que nunca mais olharia em sua face e etc... Mas que com o tempo, se deu conta de que já não habitavam mais seu coração esses sentimentos e que na verdade, Alexandre começava a sentir sua falta e desejava que ele estivesse feliz. Heitor não esperava menos de alguém como o amigo, o doutor tinha o coração mais puro e bonito que ele conhecia e tudo o que o pai lhe falou gerou esperanças de que pudessem reaver sua amizade e o fez ficar menos aflito. O deixou por dentro das novidades, como a conclusão da especialização em cirurgia plástica e os planos sobre neurologia, o aniversário de 15 anos de Sophie e como estava bonita e crescida, dentre outros assuntos de família que ele perdeu enquanto esteve ausente.

O reencontro com a mãe foi cheio de muitos beijos e abraços, ela agradeceu inúmeras vezes o marido pela surpresa, e estranhou que sua nora não estivesse presente. Eles lhe contaram resumidamente o motivo de sua volta sozinho, e Victória lançou um olhar reprovador e puxou a orelha do filho dizendo:

— Heitor, da próxima vez deixa que eu escolho uma mulher para você! E se aparecer aqui com uma que eu não aprove, juro, infernizarei sua vida, a dela, te amarro em algum lugar, mas não deixarei que você se permita passar por isso outra vez!

— Obrigada mãe, juro que aprendi a lição. A próxima mulher que eu colocar um anel no dedo, e isso vai demorar um bom tempo, - todos sorriram - será alguém que você e papai aprovarão, eu prometo!

Heitor havia conseguido mais um perdão, agora faltava o da pessoa que depois de seus pais, ele mais amava e tinha consideração, Alexandre, e que reconhecia que seria o mais difícil. Mesmo seu pai tendo lhe dito tudo o que o rapaz pensava sobre ele, sabia que quando estivessem frente a frente às emoções e sentimentos que ele tinha esquecido poderiam ser despertados de novo.

Como já haviam marcado horário com Dr. Campbell e provavelmente demorariam, Heitor decidiu que só procuraria o amigo no outro dia. Precisava descansar da viagem e renovar as forças para encará-lo.

 

* * *

 

A conversa com o advogado lhe esclareceu muitas dúvidas, o doutor informou que ele estava com toda a vantagem, e em um mês estaria livre dela, já havia entrado em contato com seus amigos na Suíça, se informou das leis sobre divórcio regentes lá e que tinha umas cartas na manga. O advogado que ela contratou não era alguém renomado e não poderia contra ele. Ele usaria primeiro de suas artimanhas, se não forem suficientes, iria expô-la na frente do juiz com as provas que Heitor possuía... Pronto, outro assunto que Heitor podia dizer que já estava "concluído".

Já deitado em sua cama, ele pensava: "Como é bom estar em casa de novo, ter meus pais por perto para me dar apoio. Não consigo acreditar na diferença de como eu estava ontem e de como me sinto agora! Para completar totalmente minha alegria em estar de volta, preciso de seu perdão meu irmão." Ele não era muito de orações, mas pediu a Deus que o ajudasse a ter as palavras certas ao conversar com Alexandre no dia seguinte.

 

* * *

 

De manhã cedo foi para empresa, ele e o pai combinaram que lá encontraria com Alexandre sem que ele soubesse, pois estava indo para o local acreditando que era Philip quem queria conversar com ele. Chegou e foi direto para sala do "tio" e quando abriu a porta se surpreendeu com que estava a sua espera:

— Heitor! - ele falou chocado.

Estava sentado na mesa do pai, e levantou-se apressadamente para falar com ele:

— Alexandre, por favor, entre... - disse se aproximando da porta.

Ele não conseguia tirar os olhos assustados da figura de Heitor. Ou ele estava sonhando, ou enlouquecendo...

— Eu, é... Eu... Não sabia que você estava aqui... Bom... é que Tio Phil pediu para eu dar uma passada porque ele queria falar comigo, mas acho melhor eu ir.

— Não era ele quem queria conversar com você, era eu meu irmão... - pausou a fala com receio, mas decidiu continuar - Pedi que meu pai o chamasse aqui para saber se é possível que me perdoe pela dor que causei a você? Eu sinto tanto - uma lágrima escorreu de seus olhos azuis - Se pudesse voltar no tempo, juro que teria feito diferente.

Alexandre continuava atônito e incrédulo quanto ao que ouvira. Uma onda de todos os tipos de sentimentos o atingira e não sabia o que responder... Pensou no que dizer, enquanto Heitor permanecia sentado e de cabeça baixa, esperando submissamente pelas respostas que merecia ter ouvido nesses dois anos...

— Sei que não mereço seu perdão. Trai sua confiança, sua lealdade e tudo mais, porém... acredite, paguei um preço altíssimo por isso. E eu senti tanto sua falta... - continuava com a cabeça inclinada para baixo e mais lágrimas rolavam por sua face.

— Bom Heitor, você me pegou de surpresa... Certamente não estava preparado para encontrá-lo... - Alexandre levantou-se e colocou a mão no ombro do amigo - mas já o perdoei há um tempo. Não tenho mais mágoas, na verdade - ele se inclinou na altura da cadeira do amigo - também senti sua falta irmão!

Os dois se abraçaram e choraram, Heitor não cansava de pedir perdão ao amigo e dizer o quanto se arrependia e era indigno da amizade dele, Alexandre o repreendia dizendo que ele havia errado, mas que a consideração e apreço que tinha por ele eram maiores que todo ressentimento. O herdeiro de Philip pediu que o doutor sentasse quando este lhe perguntou sobre sua esposa, pois queria contar o que aconteceu nos últimos dois anos. Depois de horas dialogando e ouvir toda história, o médico se expressou:

— Heitor, devo lhe agradecer por ter me livrado dessa mulher! Não acredito que pude ter sentimentos e estar tão apaixonado a ponto de propor casamento a alguém de caráter lastimável como ela. Agora sou eu quem diz, sinto muito por você.

— Alê, eu apenas colhi o que plantei. A única coisa da qual me orgulho em toda essa história foi tê-lo livrado de se unir a Bianca, ingênuo da forma que és, seria mais enganado que eu fui - Alexandre riu concordando com um movimento de cabeça.

— É bom te ter outra vez velho amigo - abraçou Heitor - Devo alertá-lo como médico que... não é saudável estar acima do peso! - ele riu enquanto Heitor fingia socá-lo.

— Ei... Nem estou tão acima do peso assim, talvez uns cinco quilos...

— Acho que o Heitor vaidoso que conheci ficou lá em Genebra.

— Você não viu nada! Pergunte ao meu pai como me encontrou - disse sorrindo.

— Irmão, eu preciso ir, tenho umas coisas para fazer no hospital, mas foi muito bom termos nos acertado. Estou muito feliz mesmo!

— Você não imagina o quanto eu estou feliz! Era o que faltava para completar minha felicidade.

— Ah - ele disse parado em frente a porta - te vejo no Polo hoje as 16h 'Don Juan'. Quero vê-lo em ação com esses quilinhos a mais.

— Não cara, 'Don Juan' está aposentado por uns tempos... Mas estarei lá!

Deram mais um abraço e Alexandre partiu. Logo depois, Philip entrou e perguntou como havia sido a conversa, o filho lhe respondeu que tinham se resolvido e que estava tudo voltando ao normal. Então o pai aproveitou para fazer-lhe uma proposta...

Contou que no ano seguinte ao que ele partiu, as obras para uma filial da construtora na Cidade do México foram iniciadas, e as instalações seriam inauguradas muito em breve, e ele desejava que Heitor presidisse a mesma. Como estava em débito com o pai não lhe negaria esse pedido, ainda mais estando ciente que o Sr. Herrera planejou isso desde quando ele foi para universidade. Agora era o momento de recompensar o pai por tudo o que ele já tinha lhe feito. Concordou sem aceitar o prazo que o pai lhe deu para pensar. Foi quando ele revelou a Heitor um segredo que tinha certeza que se agradaria.

Philip estava pensando em dar de presente a Alexandre desde que ele terminou sua especialização, ações de posse do renomado Hospital Vila Real, localizado na cidade do México, onde Alê já tinha expressado vontade de trabalhar, por terem um laboratório específico dedicado a pesquisas na área de cirurgias plásticas e grandes nomes desse ramo já terem passado por ali. Se o médico aceitasse, ele fecharia o negócio com o acionista.

— Hoje, após seu jogo com ele, chame-o para um jantar no Roxy's. Vou combinar com Bernardo para todos irem. Vamos jantar em família como não fazemos há muito tempo! - e abraçou o filho.

— Sim pai, pode deixar! Estou ansioso por isso... Se Alê aceitar, ficarei muito feliz de começar essa nova etapa no México ao lado dele.

 

* * *

 

Ao chegar a hípica, Heitor procurou por Alexandre, o amigo já estava no campo, então se juntou a ele e depois de umas partidas já estava exausto.

— Bem que você me alertou sobre estar fora de forma! Três partidas e estou 'morto'... - Disse para Alexandre que se posicionava ao seu lado, enquanto ambos com as rédeas nas mãos caminhavam na direção dos tratadores para devolver os cavalos.

— Não se pratica esportes em Genebra?! - perguntou de forma cômica - Por que não comemos algo para renovar as forças, e depois vamos procurar uma academia para você fazer uma avaliação física e assim perder esses quilinhos a mais?

— ok, ideia aceita! Mas, ficará para amanhã, pois hoje meu pai marcou um jantar com nossas famílias e ele quer lhe fazer uma proposta...

— Que proposta? - perguntou surpreso.

— Se eu contar perde encanto. Vá jantar conosco e descubra. Ah, e respondendo sua outra pergunta... É Genebra Alê, as únicas coisas que se fazem por lá são as Olimpíadas de Inverno - e soltaram uma gargalhada.

 

* * *

 

Mais tarde no jantar, a primeira coisa que Bernardo e Cecília fizeram ao chegar foi dar um longo e carinhoso abraço em Heitor. E ele pensava: "Alexandre não poderia ser diferente mesmo, com esses dois como pais...". Lhe disseram que quiseram puxar sua orelha, mas depois sentiram muito a falta dele... Sophie não sabia ao certo o motivo de Heitor ter ido embora, então não tinha como sentir aversão por ele. Chegou e correu para abraçá-lo e expressar o quanto sentiu saudade.

— Minha nossa Sophie, como está crescida! Uma princesa! Com certeza a garota mais bonita de Manhattan... E eu senti muito sua falta mocinha! - falou dando um beijo em sua testa.

Ele não tinha falado apenas para alegrar a moça, Sophie estava linda, suas curvas já estavam aparecendo, era charmosa, educada, divertida, diferente do irmão não era tímida, sua pele branca destacava os olhos e cabelos castanhos, que já estavam compridos e levemente ondulados, como o da mãe... Seu nariz continuava empinado e elegante, a face rosada e delicada... Tudo indicava que ela se tornaria uma bela mulher.

— Muito obrigada Heitor! Me sinto lisonjeada, porém seus elogios não me farão perdoá-lo por não ter vindo ao meu aniversário de 15 anos... Queria ter dançado a valsa com você. Terá que fazer muito mais para convencer-me a redimi-lo...

Enquanto todos sentavam, Heitor perguntou humoradamente a Alexandre:

— Quando foi que ela ficou tão esperta assim?! - Foi por isso que eu lhe trouxe isso! - E entregou uma média blue box nas mãos da menina.

— Como soube que era esse colar que eu queria? Oh Heitor...Muito obrigada! - e beijou-lhe a face para agradecer-lhe pela jóia que havia ganho.

— Digamos que um passarinho azul me contou - apontou para Alexandre - Deixe-me ajudá-la a por... - enquanto colocava na moça o cordão, continuou - Princesa, quando você encontrar um namorado, e nós esperamos que demore, não aceite dele menor atenção e mimos do que eu, seu irmão e nossos pais lhe atribuímos, ok?!

— Será difícil encontrar alguém que me trate tão bem quanto vocês! Eu te amo irmão! - disse a menina.

— Também te amo irmãzinha.

A continuação do jantar permaneceu repleta de conversas interessantes e divertidas, sem mágoas ou ressentimentos... Heitor parou por um segundo e analisou a cena diante dele: sorrisos, amor, honestidade, alegria... Pensou como teve coragem de trocar tudo isso e agradeceu por ter aberto os olhos e consertado as coisas. Quando o som de um talher batendo em uma taça o fez voltar...

— Queria fazer um brinde por estarmos todos juntos outra vez, pela volta do nosso "filho pródigo" - descontraiu Philip - e novamente pelo nosso novo cirurgião plástico.

Todos brindaram, e ele continuou:

— Sei que esse ano tem sido cheio de boas surpresas, a principal delas foi o retorno de Heitor. Mas, gostaria de informá-los que daqui três meses, após as festividades de final de ano, meu filho presidirá a nossa nova filial, na capital mexicana... - todos não conseguiram esconder suas expressões de tristeza por terem que se distanciar de Heitor novamente e então ele prosseguiu - No entanto não gostaria de ser a nova causa da separação dos dois irmãos, por isso Alexandre, quero presentear-lhe com isso - puxou de sobre a mesa um envelope contendo títulos de posse das ações do Hospital Villa Real e entregou nas mãos do médico.

Analisou rapidamente os documentos e ficou felicíssimo quando percebeu do que se tratava então disse:

— Tio Phil, muito obrigado, mas não posso aceitar! Acompanharia Heitor, se ele me pedisse, até sem isso.

— Não estou lhe dando essas ações apenas por que desejo que vá com ele, eu já venho negociando-as faz um tempo, desde quando me declarou seu desejo de trabalhar nesse Hospital. Queria lhe dar como presente por sua formatura e especialização. Você merece, e sei que a partir desse empurrão que te dou hoje, chegarás muito longe... Filho, só estou te dando impulso para que construas o futuro brilhante que tens pela frente! E então Alê? Aceita ou não?

— É claro que sim! Vai ser ótimo recomeçar em um novo lugar - colocou a mão no ombro de Heitor e continuou - México, ai vamos nós.


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Notas finais do capítulo

E então?! Digam suas opiniões, adorarei ouvi-las e até posso acatá-las, se não modificar muito o que já está escrito hehe... Bjuu



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