8 anos mais tarde...

Heitor estava descendo as escadas com uma mala de couro marrom na mão esquerda, uma bolsa estilo carteiro no ombro direito e esperando-o logo abaixo do último degrau outra mala com rodas, bem maior que as outras duas. Ele continuou descendo, pondo as duas menores ao lado da maior. Com as duas mãos desocupadas ele pegou duas caixas, que mais pareciam dois mini baús, também colocando-os próximo aos outros objetos.

Do hall de entrada ele olhou ao redor e suspirou, com certeza sentiria falta de sua casa, dos filhos e principalmente dela, do cheiro, do gosto, dos toques, do sorriso sincero e que o iluminava, dos olhos escuros e olhares intensos, dos beijos saborosos e dos lábios macios, da paixão que ela exalava naturalmente. “Ah Helena...” Se perdia nos pensamentos da bela mulher, ter que ficar longe estava o devastando, se afastar dela era como tirar uma parte dele próprio.

Pensou nas crianças... Sua menina peralta e serelepe, que adorava correr pela casa com os fios loiros saltando de um lado para o outro. Heitor sorriu sentindo o coração apertar, ele era completamente apaixonado por aquela pestinha, Gabriela só tinha 2 anos e meio, entretanto dava muito mais trabalho que Henrique dera em 9, mas ele nunca quis tanto poder permanecer aqui e vê-la rodopiar os novos passos que aprendera no ballet para ele, o atrapalhar no meio de uma ligação importante só para lhe dar um beijinho doce, insistir, não, espernear para que ele trouxesse o cavalo que o nono lhe dera para casa...“Céus” ele disse em um sussurro abaixando a cabeça. Ela lembrava Helena em muitas coisas, a vivacidade do olhar, porém a cor dos olhos lhe pertencia, os cabelos com ondas e cachos, mas claro como os seus e principalmente a impetuosidade, a coragem, o amor pelo campo, pelos cavalos...

Tinha ainda seu parceiro, seu menino esperto e inteligente, com o sorriso tão verdadeiro e o caráter mais bondoso que ele conhecia. Todos os dias Heitor se impressionava com o filho, com a forma sábia que ele via as coisas, ele sempre soubera que ele seria um garoto diferente, especial e assim Henrique se mostrava. Tão atencioso e cuidadoso com Gabi, que o deixava orgulhoso por ter feito um ser tão iluminado quanto ele. Por vezes Heitor achou estar vendo seu pai ou mesmo falando com o velho Philip, tinham muito em comum. Outras vezes ele mostrava a garra de Inácio, a liderança e a justiça que ele só viu no sogro.

Ele sabia que Henrique e Gabriela tinham feito dele alguém melhor, completando sua família e feito dele um pai, consolidado o relacionamento com a mãe deles e criado entre os dois laços inseparáveis. Seu tempo livre se resumia neles, algumas reuniões perdidas e compromissos cancelados para poder estar presente em aulas de equitação, jogos de futebol, apresentações de ballet e recitais, campeonatos de natação, aulas de música, festas escolares e afins. Mas ultimamente até estava em falta com eles, o sucesso da Herrera Construções o tinha levado a perder alguns poucos eventos desses, isso o chateava, entretanto tudo era para que tivessem sempre o melhor.

Tudo o que vinha em sua mente o levava de volta a Helena e no quanto ele a amava, no quanto ele precisava dela. Como poderia se acostumar a dormir sem ela embalada ao seu lado, sem o perfume floral com um toque rústico, sem as repreensões e as habituais brigas, principalmente sem fazer as pazes?!Nesses 11 anos juntos eles haviam se tornado tão íntimos, conheciam tudo um do outro, todas as partes, boas e ruins, isso tinha amadurecido em níveis incríveis o relacionamento deles como casal nas diversas áreas. Fazer amor com ela nunca tinha sido tão bom, era como voltar a primeira vez só que com muito mais experiência. Heitor comparava a uma arte, exigia técnica e paixão... E como um bom marido ele procurou se aperfeiçoar com o que tinha de melhor.

Como ele poderia perder tudo isso? Como ele conseguiria viver um dia se quer longe deles? Doía demais, a sensação era aterrorizante!

— Você precisa mesmo ir? – aquela voz gravemente sensual ainda recheada com resquícios do sotaque italiano o despertou de suas indagações internas.

Seu olhar se voltou para o alto da escada e lá estava sua amazona, com o cabelo preso em um elegante rabo de cavalo alto, um vestido preto acentuado, destacando muito bem as belas curvas que o tempo bondosamente lhe dera, o brilho irradiante que vinha ao redor dela e o biquinho lindo com o canto da boca torcido que ela sempre fazia quando estava chateada. Heitor deu um sorriso torto e respondeu:

— Eu estava aqui seriamente pensando em desistir – subiu a escada e se pôs diante da esposa – Vou sentir muito sua falta meu amor!

— Você é mau... – uma das mãos dele estava em sua cintura e a outra subiu para afagar sua bochecha – Mas eu também vou sentir a sua! – ela olhou profundamente em seus olhos, foi ai que ele percebeu que eles estavam prestes a derramar algumas lágrimas presas.

— Não, não chore querida... Sabes o quanto eu odeio vê-la chorar... Cadê o sorriso pelo qual eu acordo todas as manhãs no intento de encontrá-lo? – ela olhou para baixo – Não torne isso pior do que já está sendo para mim! – ele segurou delicadamente o queixo dela e o ergueu – Vamos, sorria linda!

Helena o encarou e não resistiu sorrir para ele, estava chateada, mas não podia contra o olhar charmoso de seu marido. “Droga! Malditos olhos azuis encantadores...”.

— Seus flertes não vão servir para amenizar os 7 meses que você vai passar no Egito!

— Eu sei, eu sei... Nós já havíamos conversado antes e você concordou... Saiba que isso é torturante para mim também!

— Eu mudei de opinião! – ela parecia uma menina mimada e Heitor sorria – Agora quero que fiques...

— Isso tudo é por que você vai ficar com saudades minhas lovely? – ele levantou a sobrancelha sugestivamente e Helena revirou os olhos bufando uma risada – Eu sei que tínhamos planos de aumentar a família, eu quero muito ter mais filhos... Imagino que esteja mais chateada por causa disso, sei que você não queria esperar tanto, mas aconteceu tão de repente da última vez que...

— Não será preciso! – Helena olhou seriamente em seus olhos.

— Por favor Helena, eu não quero embarcar nessa viagem sabendo que você está com raiva e... – a amazona o interrompeu colocando o indicador sobre os lábios dele.

— Nós não vamos precisar tentar por que – os olhares continuavam cravados um no outro e um sorriso doce apareceu nos lábios dela – eu já estou grávida amor! – ela conduziu a mão dele na altura do seu ventre, encostando-a lá – É por isso que eu não quero que você vá!

— Oh meu Deus! Helena?! – ela acenou com a cabeça indicando que sim – Você está grávida amor! Que maravilha! Foi tão rápido dessa vez...

— Sim... Depois de 7 anos esperando pela Gabriela, agora foram praticamente 3... – ela sorriu, ele se inclinou beijando-a e erguendo-a do chão, rodopiando com ela.

— Querida você deveria ter me dito! Quando começou a suspeitar?

— Você vai rir de mim, mas quando nós fomos a Cancún celebrar nosso aniversário de casamento há dois meses,você tinha preparado tudo tão perfeitamente, foi incrível e...

— Eu tinha que ser, afinal 10 anos mereciam algo especial!

— Bom... Parece que sim – ela sorriu abertamente tocando sua barriga – Recebemos um presente muito especial naquela noite, eu acordei no dia seguinte com a certeza de que você tinha me engravidado... Esperei um tempo, fiz o exame para ter certeza e deu positivo. Eu fiquei receosa de te contar, eu sabia o quanto estavas animado com esse novo trabalho...

— Meu amor, você deveria ter me dito assim que soube, eu poderia ter tentado flexibilizar algumas cláusulas no contrato, tentado diminuir meu tempo lá... Vou odiar ter que assistir tudo de longe... Eu amo te ver grávida – ele se inclinou na direção do ouvido dela – principalmente quando seus hormônios ficam aquela loucura e você passa a me ter como seu principal desejo, pondo o fato de que a gravidez lhe cai muito bem, você fica extremamente sexy – ela sorriu.

— Ah Heitor, você é muito presunçoso! Eu deveria te odiar – ela riu – Mas pode deixar, eu sei uma maneira de arrancar esse seu sorrisinho insolente! – ela riu quase perversamente – Eu me pergunto quando não sou sexy para você querido?!

— Nunca! – ele a abraçou apertado – Agora, nós precisaremos ir ao hospital... Você já fez algum ultrassom?

— Não, não fiz... E você vai se atrasar, seu vôo é daqui poucas horas... Vamos nos apressar, preciso te deixar no aeroporto!

— Helena Soriano Herrera! – Heitor segurou os ombros dela – Se a senhora acha que eu vou conseguir viajar e te deixar aqui assim, grávida e sem saber como está nosso bebê, você está “gravidamente” enganada!

Helena sorriu:

— Você sabe que esse termo que usastes foi ridículo não é?! Como vamos fazer com sua viagem então?

— Eu sei – ele selou seus lábios – Não se importe com isso, eu só preciso estar lá oficialmente na terça feira, ia antes para dar uma olhada no apartamento e no que fosse preciso, porém, agora eu tenho algo mais importante para me preocupar... Ligue para Drª Bárbara e veja se ela pode te atender hoje, viajarei segunda no nosso jato – quando ele percebeu que ela ia retrucar algo – Fim de papo! Já tomei minha decisão...

— Obrigada amor! Por isso e principalmente pelo bebê...

— Eu que preciso agradecer... Você é maravilhosa – ele tocou no ventre dela – Eu te amo muito! Quando chegar procurarei uma forma de diminuir meu tempo lá querida, só que contratos com o governo são criteriosos, mas farei o possível!

— Só me prometa que vai estar aqui na hora do parto! Graças a Deus vou dar a luz provavelmente quando você já estiver de volta...

— Eu não perderia isso nem que me dessem a chance de construir uma quarta pirâmide para eles. Quando nosso bebê estiver nascendo pode ter certeza que vou estar ao seu lado como nas outras duas vezes! – eles sorriram apaixonados e deram um beijo intenso que roubou-lhes o ar.

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— Boa tarde Helena e Heitor! Como vão as crianças? – a médica perguntou.

— Muito bem doutora, obrigada! E seus meninos?

— O mais velho se forma em engenharia esse ano e o outro ainda está na graduação.

— Que ótimo Bárbara! Diga a ele que eu ficaria feliz em conversarmos, quem sabe não o chamo para minha equipe... Claro, se for do desejo dele.

— Acredito que ele ficaria muito feliz Heitor! Sua construtora é a melhor do país... Falando nisso, parabéns pelo novo trabalho com a restauração das pirâmides e da esfinge, acredito que eles convocaram os melhores – eles sorriram.

— Obrigado!

— Agora vamos ao ponto importante – a médica começou a olhar sua prancheta – primeiro, parabéns pelo bebê! Eu sempre lhe disse querida, tudo é questão de tempo, você com medo de ter ficado infértil depois de Henrique e Deus lhe agraciou com o terceiro filho... Pelo que vi do resultado de seus exames, você está muito bem, mas existe algo ao qual precisamos nos atentar... Suas taxas de glicose e seu nível de ferro estão baixos, vamos ter que montar um cardápio novo, parece que esse bebê está absorvendo muita energia da sua mamãe – Bárbara sorriu.

— Ok! Eu realmente tenho sentido mais enjoos do que normalmente eu sinto no primeiro trimestre...

— Sim, isso é devido a carência de algumas vitaminas no seu organismo. Com o cardápio que vou lhe passar e alguns compostos vitamínicos logo esse enjoo findará. Então, vamos para a sala de ultrassom?!

— Estamos ansiosos! – eles cruzaram as mãos e se dirigiram ao cômodo ao lado do consultório.

Deitada sobre a cama hospitalar, Bárbara passava o gel sobre a barriga ainda plana de Helena, que olhava para o marido e sorria. Ele devolvia o sorriso e deslizava o polegar suavemente pelo dorso da mão dela. A médica começou a mover o aparelho e uma imagem distorcida foi aparecendo no monitor. A doutora começou a focar o olhar tempo demais na tela, fazendo a amazona ficar levemente preocupada. Heitor como um bom conhecedor de sua esposa, sentiu sua apreensão e apertou sua mão.

— Bárbara... Está tudo bem? Tem algo errado com o bebê? – a médica percebeu um leve temor na voz de sua paciente.

Ela voltou-se sorrindo para Helena, respondendo:

— Eu só estava prestando bastante atenção para ter certeza... – o casal se olhou um tanto intrigado.

— Certeza de que doutora?! – Heitor se manifestou.

— De que você está grávida de gêmeos querida! Veja – ela apontou para duas minúsculas formas no monitor diante deles.

— Oh meu Deus! Eu não acredito! Gêmeos Bárbara? – ela olhou para Heitor que se inclinou sobre ela e a beijou rapidamente, com um sorriso enorme no rosto.

— Gêmeos?! Minha nossa, meu amor, que incrível!

— Nossos pais vão surtar Heitor... – o engenheiro estava em êxtase, não sabia se sorria, beijava Helena ou focava no monitor, só se aquietou quando a médica ligou o som que os permitiu ouvir os batimentos cardíacos de seus filhos.

Heitor beijou a testa de Helena e limpou uma lágrima boba que saltou dos olhos escuros dela. Bárbara os deixou a sós por um momento, para que ela pudesse trocar de roupa. O par se olhou ainda amortecidos pelo efeito prazeroso da notícia. A senhora Herrera abraçou o marido com toda sua força, recebendo um aperto confortável dele, suspirou de felicidade. Só ela sabia o quanto tinha sofrido antes de Gabriela nascer, com todas as tentativas para engravidar, nenhuma dando certo e os alarmes falsos que a destruíam.

Foi só quando ela desistiu da ideia de conceber outra criança naturalmente, não querendo ainda apelar para uma inseminação ou tratamentos de fertilidade, decidindo relaxar e esperar a hora certa, então conseguiu engravidar de novo. Agora ser recompensada com dois bebês de uma só vez era muito bom, eles sempre quiseram uma família grande, quatro filhos era o ideal e ela não poderia estar mais feliz.

— Eu estou tão feliz Heitor! São gêmeos, são dois bebês meu amor! – ela disse contra o pescoço dele, fungando um pouco.

— Eu também estou muito feliz, você acabou de me dar dois dos presentes mais preciosos que eu poderia receber em toda minha vida... Tenho certeza que as crianças vão adorar!

— Henrique vai adorar! Gabriela vai fazer manha e ficar com ciúmes – eles riram e se beijaram mais uma vez – Agora vamos, tenho que contar para eles, nossas famílias, para Sonia e Alê...

— Será que até isso você e Sonia combinam?! Vamos... Vou pegar as imagens e sua receita com Drª Bárbara enquanto você se troca.

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— Dr. Del Rio... Posso entrar? – Alexandre estava analisando alguns papéis e perdido com os resultados de testes diante da tela de seu computador, quando foi distraído por uma leve batida na porta.

— Oi Melissa... Sim, entre! – a mulher sorriu e se encaminhou para uma das cadeiras vazias na mesa de carvalho escurecido e envernizada do amplo consultório do atual dono do hospital – Eu já disse que não precisa de toda essa formalidade quando estamos só nós dois – ele a fitou por cima dos charmosos óculos de leitura – você é minha pupila mais antiga, é quase da família...

— Eu sei... É só que, eu gosto de como soa... É charmoso! – ela sorriu e ele balançou a cabeça discordando com outro sorriso.

— Sonia diz a mesma coisa! Não sei de onde vocês tiram isso... Todos me chamam assim...

— Eu vim saber se você lembrou-se de enviar sua tese sobre o Alzheimer que vamos defender no próximo mês na conferência em Genebra?! O prazo era até as 17h... – ele olhou para o relógio em seu pulso e quase teve um “mini infarto”, já eram 19:30h.

— Merda! Eu não acredito que trabalhamos tão duro nela e nesses testes para no fim eu perder o prazo! Vou ligar para eles, preci...

— Calma Alexandre... – ela esticou um documento impresso com uma validação digital diante dos olhos dele – Eu sabia que você estaria muito envolvido com as análises finais desses benditos testes – a loira bufou um sorriso – por isso eu enviei para você! Estamos inscritos e aqui – ela apontou para alguns horários e datas na folha – são os dias em que palestrará, conseguinte a avaliação dos peritos e PHD’s sobre sua tese, caso seja aprovado, o que eu duvido não acontecer, sua apresentação final para a sociedade médica mundial e o depois creio que essa sua magnífica prateleira recebera um Nobel pela cura do Alzheimer.

— Eu não sei o que seria de mim sem você aqui nesse hospital! – ele se levantou e beijou a testa dela – Você é um anjo! Tomara que tudo dê certo, gastei meus últimos 8 anos em prol dessa tese, trabalhei muito por isso... Mas acalme-se, acredito ainda estar muito longe de um Nobel, depois de aprovada e divulgada na Conferência, ainda haverá um longo processo para que seja anunciada ao público, teremos muito a desenvolver, isso é só o começo. A cura é algo que vira depois de muitos mais estudos, pesquisas e testes

— Ok! O que importa é que no final você vai ganhar um prêmio, toda a sociedade médica vai te aclamar ainda mais, outras filiais da rede de hospitais Del Rio vão ser abertas pelo mundo e continuarás a ser a jovem mente brilhante da neurologia, que teve a sorte de fisgar o coração da bela Sonia Colucci... Acho que essa eles nunca vão superar...

— Melissa as vezes eu acho que você ainda é aquela menina chorona que eu encontrei por acaso naquele corredor... Sua boba! Vá para casa descansar, a cirurgia no Sr. Carlson foi bem puxada e você está falando bobagens já...

A médica estava debruçada sobre a mesa de Alexandre, que havia levantado do seu lugar e agora estava escorado na lateral do tampo ao lado da jovem que realmente aparentava estar cansada, mas observava e passava os dedos distraidamente por uma foto da linda família Del Rio estampada em um porta retrato de metal prateado. Ambos ouviram uma leve batida da porta e viraram-se para contemplar a bela mulher pela qual o doutor ainda era perdidamente apaixonado...

— Com licença... Posso entrar querido? – Sonia tinha colocado a cabeça para dentro do escritório e sorriu docemente para os dois.

— Claro meu amor – ele foi ao encontro dela.

— Espero não ter atrapalhado nada! – a Sra. Del Rio se inclinou e beijou o marido rapidamente – Olá Melissa, como vai?

A médica se endireitou na cadeira novamente e com um sorriso respondeu:

— Muito bem e você? Como vão as crianças?

— Oh, estão muito bem... Por sinal amor, Cristal ficou na recepção da sua sala conversando com Clarissa... Ela adora aquela senhora! – Alexandre se mantinha ao lado da esposa, com a mão envolvida em sua cintura e atento ao que ela falava, enquanto Melissa os fitava e tentava esboçar um sorriso feliz – Eu fui pegá-la na aula de violino. Helena e Heitor nos convidaram para jantar essa noite...

— Pensei que Heitor ia para o Egito hoje – Alexandre franziu a testa em confusão.

— Eu também... Será que Helena resolveu ir com ele?! Quando me ligou ela disse que tinha algo importante para falar...

— Eu tenho até medo do que seja querida... Esses dois sempre surpreendem a gente – eles sorriram e se beijaram novamente.

— Acho melhor eu deixar o casal apaixonado a sós, eu já estou sobrando – eles riram e ela se levantou caminhando para a porta.

— Desculpe-nos, é difícil evitar quando eu vejo essa mulher – Alexandre dizia com os olhos voltados para a esposa, o mesmo fervor de anos atrás – Boa noite e obrigado por salvar minha vida!

— Ah, que isso Alexandre! Estou aqui sempre que precisar... Boa noite para vocês!

— Boa noite querida... Você nunca mais foi lá em casa... Alexandre disse que tens um namorado novo, deveríamos marcar um jantar, as crianças sentem sua falta!

— Claro... Eles são umas fofuras! Vamos marcar sim Sonia, se depois de todos esses meses de dedicação intensa a essa tese eu ainda tiver meu namorado, nós marcaremos!Tchau...

— Tchau – eles responderam juntos – Até mais – Sonia continuou – Vamos amor? Precisamos passar em casa antes de irmos até nossos amigos, trocar de roupa e buscar as crianças.

— Sim vamos, deixe-me apenas arrumar esses papéis e desligar esse computador...

Sonia sentou-se na cadeira onde Melissa estava anteriormente, prestando atenção no marido, suas expressões eram suaves, mas mostravam claramente o quanto ele estava cansado, havia dedicado muito do seu tempo e perdido diversas noites de sono em prol dessa tese, tanto que ela desejava com todo seu ser que tudo estivesse correto e ele fosse aprovado. Apesar disso ser quase certo. Seu doutor era fascinante, tinha uma mente brilhante e um coração maravilhoso, que ainda lhe arrancava suspiros. Como agora, quando ficava com um sorriso doce admirando-o...

Alexandre ergueu os olhos, encontrando os da esposa e sorriu também, terminando de por uns papéis na gaveta. Sonia levantou-se e pôs-se atrás dele, massageando seus ombros.

— Você parece tão cansado ultimamente meu amor – ela se inclinou ainda fazendo movimentos relaxantes com os dedos e beijou sua bochecha – Tenho certeza que todo seu esforço valerá a pena!

— Isso está muito bom – sorriu – Acho que vou contratá-la para passar os dias aqui comigo, tenho certeza que tudo seria mais fácil se eu tivesse você por perto, mandando a tensão e o estresse embora...

Sonia foi para frente dele e sentou-se no seu colo o beijando, sua mão direita foi para sua nuca, continuando uma massagem com os dedos ali e a outra acariciava seu ombro e braço.

— Prometo que mais tarde – beijou seu pescoço – vou tirar toda sua tensão – depois atrás da sua orelha – Já estou com saudade, essa tese tem me roubado você!

— Não exagere, fizemos amor antes de ontem e eu jamais saberia ficar longe de você! Enlouqueceria certamente! Sabes que és a coisa mais importante em todo esse mundo para mim – sua esposa sorriu abertamente e ele a beijou novamente, quando tudo estava ficando muito intenso para o momento (não que aquele escritório nunca tivesse presenciado atos muito mais intensos dos dois do que uma mão passeando ousadamente pelas coxas da senhora Del Rio, entrando pelo vestido e um beijo caloroso) Cristal entrou no cômodo chamando por eles.

Sorrindo como quem foi pego, Cristal não chegou a ver a mão boba de seu pai, por isso a menina não tomou o beijo deles como algo constrangedor, até mesmo pela inocência de sua pouca idade, Sonia ainda sim corou e ambos foram atender a filha.

— Nós já vamos minha flor! – eles se levantaram e Alexandre foi à direção da menina, abraçando-a – Como foi sua aula hoje? Sua professora sempre te elogia, estou orgulhoso princesa!

— Obrigada papai – a garotinha sorriu – Foi muito boa, eu aprendi uma escala nova! – Cristal vibrou alegre e seu pai a suspendeu no colo, rodopiando com ela.

— Você ouviu isso Sonia? Nossa garotinha aprendeu outra escala... Parabéns meu amorzinho!

— Ela será nossa violinista adorável! Estamos orgulhosos de você Cacau, te amamos baby.

— Amo vocês papai e mamãe!

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Chegando pelo hall de entrada, de mãos dadas a Cristal – a menina no meio – Sonia e Alexandre tiveram que se segurar para não cair, quando duas pequenas criaturinhas extremamente fofas correram na direção deles e agarraram suas pernas.

— Mamãe – Charlotte disse sorrindo.

— Oi bonequinha – ela se inclinou e tomou a menina no colo.

— Papai – César abriu um sorriso semelhante ao da irmã, enquanto Alexandre se curvava e o pegava nos braços.

— Hey campeão! Como está meu homenzinho? – ele balançou a cabecinha indicando que estava bem – Você cuidou das nossas garotas enquanto estive fora?

— Cuidei papai! Não é verdade mamãe?

— Sim meu príncipe! – Sonia se esticou e beijou o rosto do garotinho, enquanto seu esposo fazia o mesmo com a menina em seus braços.

— E você minha princesinha? Eu já estava com saudades da minha bailarina linda...

— Eu também papaizinho – os olhinhos azuis da pequena brilhavam e Alexandre não resistia de amor, ela se inclinou em sua direção e eles trocaram os gêmeos de colo.

— Cadê o beijo da Cacau? – Cristal falou sorrindo para seus irmãos.

— Maninha – Charlotte falou e eles deram um beijo lambuzado nas bochechas rosadas da irmã mais velha.

— Eu amo vocês! – Alexandre dizia orgulhoso – Todos os quatro! Vocês são minha vida...

— Nós também te amamos querido! – Sonia disse sorrindo, dando-lhe um rápido selinho – Não é mesmo amorzinhos? – os filhos concordaram com um aceno de cabeça e sorrisos doces – Agora vamos nos aprontar, temos um jantar na casa da Tia Helena!

— Ebaaa!

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— Estamos curiosos para saber qual era a surpresa Helena... – Sonia disse enquanto tomava um gole do vinho que acabara de receber de Heitor.

Os dois casais estavam em uma sala, o anfitrião servindo algumas bebidas, enquanto as crianças brincavam na brinquedoteca.

— Bom... – Helena olhou para o marido, sorrindo largamente. Sonia logo percebeu aquela troca de olhares, o sorriso incorruptível que Heitor estampara durante toda a noite, a própria Helena exalava uma áurea cativante e reluzente, ela conhecia a amiga bem demais para não interpretar os evidentes sinais, e claro, o fato da italiana amante de vinhos, estar com um copo de água nas mãos – Estou grávida!

— Eu sabia! – a Sra. Del Rio disse sorrindo e os outros três olharam para ela cismados – O que?Eu apenas li os sinais... Esse vinho é o seu preferido e você não está bebendo, todas as vezes que engravidas, Heitor te olha como se fosses uma deusa e convenhamos Helena... A gravidez foi feita para ti! Ficas extremamente radiante quando começa a gerar uma vida dentro de você!

— Obrigada... Nós nos entendemos não é mesmo querida? – elas piscaram cúmplices – Mas o que talvez você não tenha percebido minha amiga, é que eu estou esperando dois bebês e não apenas um! O que faz esse um momento ainda mais especial!

— Oh minha nossa! Helena honey... Gêmeos! Que maravilha! – a ex-modelo rapidamente se levantou e envolveu a amiga em um abraço carinhoso e seu esposo fazia o mesmo com seu ‘irmão’.

— Parabéns cara! Não acredito que até isso vocês duas combinam... – Alexandre dizia sorridente.

— Se elas combinarem de fato, se prepare para ser papai de novo então meu amigo.

— Oh não! Acho que paramos nos gêmeos – Sonia se manifestou divertidamente – E as crianças? Já sabem?

— Vamos contar para eles esse fim de semana na fazenda, meu pai já sabe, ele insistiu até que contei o que era que tinha adiado a ida de Heitor para o Egito. Acho que o Sr. Soriano pensou que nós íamos junto com ele, provavelmente queria me fazer desistir da ideia. Então pediu para irmos até lá com as crianças vê-lo. Quer dar uma conferida na minha saúde... Posso até ver o complô que eles farão contra mim – elas riram.

— Seu pai está certíssimo... Gravidez de gêmeos é muito arriscada Helena, assim como tudo, o cuidado deve ser em dobro! Digo por experiência própria querida...

— Eu sei. Tive alguns enjoos horríveis, coisa que dificilmente aconteceu comigo no primeiro trimestre nas outras duas vezes...

— Comigo foi da mesma maneira. É comum em gravidez de gêmeos, sorte minha ter um médico em casa, eu tomei vários remédios para passar os mal estares que persistiram até a 18ª semana...

— Doutora Bárbara me receitou algumas vitaminas, espero que comigo não seja assim...

Sonia tomou outro gole do vinho e acenou com a cabeça. Depois de um silêncio agradável, ela perguntou:

— Você falou com sua mãe sobre a nova gravidez?

—Sim, ela apareceu por aqui hoje de tarde e Heitor achou melhor eu comentar...

— Eu fico feliz em ver que vocês estão se dando melhor Helena, por mais que você ainda não a tenha perdoado por completo, vejo quanto avanço fizeram. Isso é muito bom...

— Eu aprendi a conviver com ela, aceitá-la como parte da minha família também, por muita insistência de Heitor, não sei por que, mas ele é o maior incentivador do nosso relacionamento. E depois que deixei-a entrar na vida do meu filho, não tinha mais como voltar atrás... Elizabeth me vez ver o lado dela, apesar de não compreender ainda, acho que a dor já foi embora, eu não a odeio mais, porém deixaram cicatrizes que uma hora ou outra vem me lembrar do quanto ela pode me machucar... sabe?! – Sonia acenou com a cabeça, compreendendo – Espero que um dia tudo isso vá embora.

— Eu também! Não gosto de nada te incomodando. Lembre-se que eu e Alexandre estaremos aqui durante o tempo de Heitor no Egito, mais que nunca conte conosco.

— Obrigada! – respondeu com um sorriso sincero.

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— Queria te pedir um favor irmão!

— Diga

— Cuide da minha família enquanto eu estiver lá, por favor! Estou com o coração apertado em ter que deixar Helena grávida, de gêmeos ainda, sozinha aqui... Isso é torturante!

— Então cancele esse contrato Heitor, sei que era um sonho seu, mas será que vale a pena o que irás perder?!

— Alê, não é tão simples assim... Vou pagar uma multa milionária se quebrar o contrato agora e o nome da minha empresa virará motivo de piada na mídia... Vou ver o que posso fazer para flexibilizar meu tempo lá, entretanto, romper com as cláusulas é inviável agora!

— Eu entendo, mas pense bem Heitor! Quanto a sua família não se preocupe, tomarei conta deles! Você sabe que os tenho como se fosse a minha própria... Vou dar atenção em dobro a Helena e seus bebês. Fique tranquilo!

— Obrigado Alexandre, você é sem dúvida um irmão!

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— Meu Deus – Alexandre ofegava tentando acalmar a respiração - Quando? – ele tomou outra respiração profunda – Quando... Você ficou tão boa nisso meu amor? – Sonia se ergueu de entre as pernas dele e se debruçou sobre seu peito que ainda arfava – Você acabou comigo querida! – ela mordeu o canto do lábio inferior e um sorriso atrevido, mas recheado de timidez apareceu.

O doutor se impressionava como mesmo diante do que acabara de fazer com ele, ela ainda parecia uma menina. Depois de 9 anos e 3 filhos, aos seus olhos ela sempre seria aquela menina que roubara seu coração e alma, lhe dando em troca plena confiança para entregar a ele tudo de mais precioso que possuía: seu coração, sua alma e a essência de sua pureza. Todos imaculados e intocáveis, aos quais ele explorou e cuidou como se fossem os bens mais preciosos que possuía. De fato eram!

Alexandre nunca esteve mais feliz de poder fazer de Sonia a mulher que ela era hoje, sua companheira e amiga, a mãe de seus filhos e sua amante apaixonada. Ela era uma menina de 20 anos quando o conheceu e em seus braços se transformou na mulher maravilhosa que ele tinha o prazer de chamar de sua. Sua Sonia.

O jovem senhor estava com os olhos fechados e sua esposa deitada em cima dele, com o queixo apoiado sobre as delicadas mãos, descansando em cima de do seu peito já mais estável, encarando o belo rosto de seu marido.

— Ainda estás acordado? – ela riu quando ele gemeu um “hmm” e começou a afagar suas costas nuas – Eu prometi que mandaria sua tensão embora meu amor... Você precisa parar um pouco com essa tese e descansar Alexandre! – ele abriu os olhos a encarando. Os dela eram duas esferas azuis suaves encarando suas írises castanhas culpadas – Me prometa que vais parar um pouco e tirar um tempo para si...

— Querida me perdoe, sabes o quanto sou perfeccionista e essa tese é o trabalho de uma vida, começou na minha monografia e fui aprimorando-a até meu doutorado e se for aprovada, em alguns anos quem sabe teremos uma cura concreta para o Alzheimer...

— Alê, não estou questionando isso, eu o admiro seu talento querido! O que estou querendo é que descanse, seu coração é muito bom, sei que não estás preocupado com as honrarias que receberas quando tudo for aprovado e sim com quantas pessoas conseguirão ser beneficiadas por seu trabalho. O amo ainda mais por isso. Porém eu amo muito mais meu marido do que o doutor em ti! Você perdeu muitas noites de sono, esquece de comer muitas vezes e sempre está aqui por nós, procurando se fazer presente na vida das crianças, entretanto, não lhe sobra um momento para gastar um tempo de qualidade para você...

— Eu sei amor... eu estava pensando, o que achas de passarmos esse fim de semana em algum lugar? Apenas eu, você e as crianças?! Podemos até ir para nossa casa em Cancún... Falta pouco para minha viagem e vou sentir tanta falta de vocês, quero curti-los um pouco...

— Claro amor, nós vamos! Será ótimo – ela selou seus lábios rapidamente.

— Você vai comigo para Genebra e ficar o fim de semana mês que vem, certo?!

— Sim, vou com você na abertura da conferência no domingo, mas só se me levares naquele chalé nos Alpes que me prometeu quando chegarmos na sexta! – com uma piscadela sexy, Sonia montou no colo do doutor, que logo se sentou também, envolvendo a cintura dela enquanto sua esposa enlaçava seu pescoço.

— Tenho como negar algum pedido seu? Ainda mais quando você joga sujo assim? Se aproveitando do quanto sou apaixonado por você, pelo seu corpo e a forma como gosta de me seduzir...

— Então termine o que eu comecei “doutor” – ela começou a movimentar-se sensualmente contra o corpo dele, logo Alexandre sibilou sentindo tudo acender dentro dele novamente e como afirmara, diante de um pedido de sua amada Sonia, ele não tinha argumentos. Logo, tudo o que se ouvia no quarto era o som do amor que sentiam e exalavam um pelo outro.

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2 meses depois

— Então Melissa, tudo saiu conforme o planejado?

— Sim, não se preocupe! A qualidade do material ficou incrível, logo mais darei continuidade ao plano...

— Ok! Qualquer nova informação ou alteração ao que foi determinado me avise...

— Sim, não se preocupe, desejo isso tanto quanto você! Adeus.

— Até logo!

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— Amanhã é minha consulta – ela ajustou melhor o laptop sobre a cama onde estava sentada com as pernas cruzadas – espero que a ultrassom finalmente nos mostre o sexo dos nossos bebês – ela sorriu para o marido.

— Querida, estou ansioso para descobrir o que nossos filhos serão também – Heitor também estava sentado sobre a cama do apartamento caro alugado por ele ao chegar no Egito – Prometa que me contatará assim que souber? Seu pai vai mesmo poder estar com você amanhã durante a consulta?

— Eu prometo amor e não, ele não conseguiu voar, uma tempestade de neve cancelou os vôos... – ela passou a mão carinhosamente sobre a saliente barriga de 19 semanas – Eu queria mesmo você aqui, estou sentindo tanto sua falta Heitor... – Helena fez um bico fofo e abaixou a cabeça para esconder os olhos marejados, isso cortou o coração do marido, pois mais do que qualquer coisa ele desejava estar lá com sua Helena.

— Meu amor – ele chamou, porém ela continuou com a cabeça abaixada – Helena minha vida – chamou doce, mas com firmeza – Olhe para mim! – ela finalmente ergueu os olhos – Você sempre conseguiu ver profundamente dentro de mim, olhe nos meus olhos e veja o quanto isso está sendo devastador para mim meu bem... Queria poder estar contigo, com Henrique e Gabriela, com os bebês tanto que dói... Me perdoe, prometo que logo arrumarei uma forma de vê-los...

— Eu sei, eu entendo querido, não ligue para mim, são os hormônios falando... – ela sorriu e esfregou novamente sua barriga – Poderíamos facilmente resolver isso se você me deixasse voar até ai com as crianças...

— Helena não vou mudar minha opinião sobre isso! – ela bufou revirando os olhos – Sua gravidez é de risco, a pouco você saiu do primeiro trimestre e doutora Bárbara pediu repouso e cuidado redobrado...

— Ok, eu sei de tudo isso... Não preciso de um sermão... Eu só estou com saudades, mas acho que nem deveria estar na verdade, você não se importa! – a amazona ficou amuada e Heitor riu do outro lado do monitor, admirando como os hormônios trabalhavam rápido, causando uma mudança de humor que era no mínimo cômica.

— Sua mulher teimosa e encrenqueira que eu amo mais do que qualquer outra coisa – ela sorriu se gabando, mordendo o lábio inferior propositalmente – Eu queria te beijar agora tanto Helena... Jogá-la sobre essa cama e fazê-la deixar de ser tão petulante!

— Pena que você vai ficar só na vontade querido! E és o único culpado – ambos deram uma gargalhada gostosa e continuaram sua conversa.

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— Amor que saudades! – Sonia correu e se jogou nos braços do seu marido, abraçando-o e sendo envolta pelos braços fortes.

— Eu também estava quase enlouquecendo de saudades sua querida! – ela se inclinou alcançando sua boca e beijando-o com avidez, mostrando a ele o quanto sentiu sua falta.

— Vamos! – suspirou sorrindo enquanto se afastava dele, procurando sua mão o conduziu até o carro.

— Onde estão as crianças? Estou com saudades deles também...

— Estão com Helena... Preparei um jantar especial para nós dois, uma comemoração ao seu retorno, por sua aprovação... Eu sabia que sua tese seria classificada, você é incrível! Não me canso de parabenizá-lo querido – ela o fitou com os olhos brilhando de admiração e orgulho – Realmente me sinto extremamente abençoada por ser sua mulher...

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— Não meu amor, eu sou o sortudo nessa história, muito por sinal! Você é maravilhosa e se eu sou tudo o que sou, é por sua causa!

— Agora vamos! Tenho surpresas para você e não posso sobrecarregar Helena grávida tanto tempo com 5 crianças – eles sorriram e entraram no carro.

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Passando pelo limiar da porta e tomando lugar no hall de entrada de sua casa Alexandre logo percebeu que eles estavam sozinhos, se havia algum empregado ali tinham sido bem instruídos a não aparecerem, a iluminação estava baixa e logo o doutor sentiu as mãos da esposa tirando seu casaco.

— Venha, o jantar foi servido na varanda do nosso quarto – ele recebeu um beijo na nuca que o fez estremecer, virando-se encontrou o rosto de sua amada enfeitado com um sorriso largo e feliz, ela guardou o casaco em um armário próximo e o guiou até a suíte principal da casa.

No cômodo que dispunha da maior sacada do andar superior, o ambiente seguia o ritmo do restante da mansão, iluminação baixa e um silêncio convidativo. A mesa posta na varanda era aquecida por velas e decorada com um arranjo simples, pratos de porcelana, talheres de prata e taças de cristal.

Sonia caminhou até a cama, pegou uma caixa branca envolta por um laço azul royal e entregou ao marido que a havia seguido. Ao desembrulhar ele viu um relógio fino, sorriu para a mulher que lhe pediu para virar e ler as inscrições na parte posterior do objeto:

“A.D,

Para o melhor esposo, pai e médico.

Te amamos!”

— Querida, é lindo! Obrigado!

— Queríamos que soubesse nos deixaste ainda mais orgulhosos, você mereceu! Estamos tão felizes por ti meu amor – sua esposa sorriu e ele se curvou, beijando-a suavemente.

Não conformada com a leve carícia dos lábios do marido, Sonia abriu a boca e reivindicou mais dele, suas mãos descendo para abrir a camisa de botões, as do doutor afagando-a. A ex-modelo suspirou quando se desfez da peça e conseguiu tocar o peito dele, sempre exalando um calor natural que para ela era representava conforto e aconchego, mas agora, sentindo cada contorno bem definido dos músculos sob seus dedos, era paixão pura, desejo ardente.

Ao senti-la desafivelar seu cinto, parou suas mãos e segurou seu olhar:

— Meu bem, acho melhor não – Alexandre recuou um pouco de seu toque e Sonia se intrigou, suas sobrancelhas arqueando e formando um vinco entre elas – Não me entenda mal amor, há poucos dias você estava muito doente, não quero prejudica-la – ele explicou segurando sua cintura.

A expressão dela suavizou, claro, não seria ele se não demonstrasse a preocupação excessiva de sempre.

— Alexandre eu não sou de vidro! Estive doente há duas semanas, tomei todos aqueles antibióticos que me receitou e um deles tomo até hoje, então não existe motivo para tanta precaução querido – Sonia puxou o cinto e aquele sorriso doce, mas repleto de malícia que o médico adorava apareceu – A não ser que não tenha sentido minha falta como senti a sua... Meu doutor! – a ultima frase foi um sussurro nos ouvidos dele.

— Só acho que deveríamos comer prime – foi cortado por um beijo rápido – e eu só estava me certificando de que nad – outro beijo – ia lhe acontec – outro beijo, zíper aberto e calça caindo.

— Oh pelos céus Alê! Cale a boca e faça seu trabalho! – eles sorriram e logo o vestido que o Sra. Del Rio usava pousava no chão, amontoado as roupas do marido que agora havia se esquecido do jantar, se ocupando em desfrutar do momento especial que ela tinha preparado para aplacarem a saudade que sentiam pelo tempo distantes.

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Quase uma hora depois, Alexandre saiu do closet apenas com uma toalha enrolada na cintura, ele havia ido ao banheiro para uma ducha enquanto Sonia mandava uma mensagem para Helena para saber como seus filhos estavam. O doutor havia ido primeiro, pois sua esposa tinha deixado a promessa de que logo que conseguisse contatar a amiga se juntaria a ele para um rápido “segundo round” antes do jantar.

Estranhando a demora ele terminou o banho, fechou o chuveiro, enrolou-se e se dirigiu para o quarto na intenção de verificar sua mulher. Ao entrar na suíte, Alexandre notou Sonia completamente vestida, sentada no canto da cama com as mãos pressionadas contra sua face e o celular no colo.

Correu até ela, sua mente logo viajando até as crianças, silenciosamente ele pediu ao céus “Que não seja nada com meus filhos, por favor!”. Se ajoelhando de frente a esposa, Alexandre descansou as mãos nas laterais de suas coxas, abrindo a boca para perguntar o que havia ocorrido, quando foi surpreendido por sua rispidez em praticamente empurrá-lo no chão ao retirar suas mãos de sobre ela e se levantar.

— Sonia, está tudo bem? – ele perguntou firme, sem entender o que estava acontecendo, por que dela estar tratando-o tão grosseiramente sendo que a pouco eles estavam trocando juras de amor enquanto se perdiam de paixão – O que aconteceu? São as crianças? – perguntou mesmo achando improvável, enquanto se levantava e procurava encará-la.

Só então ele percebeu que seu rosto estava marcado por rastros de lágrimas, os olhos azuis indicando tantos sentimentos que era difícil absorvê-los de uma vez... Traição, ódio, tristeza, decepção, mágoa... Em todos esses anos ao lado dela, Alexandre nunca recebera um olhar como aquele de sua amada, a percepção disso quase o levou ao chão novamente.

— Você é um mentiroso! – ela bradou indignada – Como pode fazer isso comigo?! – agora realmente ele estava assustado... “Do que ela estava falando?” – Como pude ter sido tão idiota assim?! – ela colocou as mãos na cintura, bufando sarcasticamente um sorriso – Estava diante dos meus olhos esse tempo todo eu não quis ver...

Aquilo só poderia ser produto de algum tipo de sonho, ele pensou, só poderia estar dentro do jato sonhando, não tinha outra explicação... Resolvendo se defender, ele começou:

— Meu amor... – ele se aproximou, tentando tocar seus braços que agora estavam cruzados diante do seu corpo, porém ela se afastou antes mesmo que ele conseguisse.

— Não me chame assim nunca mais, muito menos encoste em mim! Eu tenho nojo de você!!!

Alexandre recuou como se tivesse levado um soco na cara, sentindo-se zonzo pela profundida do que ela havia acabado de expressar...

— Desculpe-me Sonia, mas você pode me explicar por favor o que está acontecendo aqui? – ela apertou a testa com os dedos das duas mãos, fazendo movimentos circulares, nem ela mesma estava acreditando no que tinha visto, mas era real e ele não continuaria brincando com ela assim.

— Isso aconteceu Alexandre! – a mulher caminhou até a cama e pegou seu celular, desbloqueou a tela e lhe indicou as muitas fotos que acabara de receber de um número anônimo – Meu Deus! Eu sou uma estúpida mesmo – o doutor olhava intercaladamente, confuso e extremamente pasmo, para as fotos no celular e para sua esposa. Só podia ser uma brincadeira de muito mau gosto, aquilo nunca tinha acontecido.

— Sonia, isso é... – o que ele deveria dizer? – isso é uma mentira! Uma brincadeira estúpida e inconveniente, tenho certeza que Melissa vai confirmar isso...

— Alexandre, eu acredito que diante dos seus olhos, todos esses anos, eu aparentei ser uma menina tola a quem você poderia facilmente enganar, de fato fui, mas não caçoe de mim mais do que você já deve ter feito sei lá por quanto tempo... Eu estou vendo! Essas imagens não são montagem, posso claramente perceber você e aquela vadia bem despidos nessa cama!

— Não sei explicar quando isso aconteceu, juro, não me lembro! Isso é mentira, é o que posso lhe dizer!

— Claro! Uma mentira assim como nosso relacionamento! Helena me alertou tantas vezes sobre aquela cadela sonsa, porém eu nunca desconfiei nem por um só momento que meu marido “perfeito” teria coragem de me trair, ainda mais com a “pobrezinha” da Melissa... Você não se envergonha? – ela respirou descompassadamente, andando de um lado para o outro – Você trouxe essa mulher para dentro da nossa casa, deixou-a se relacionar com meus filhos – ela o encarou, seu olhar não mais caloroso e apaixonado como horas atrás, sim gélido e amargurado, a dor da traição transbordando – O que mais você fez com ela aqui? Dormiu com ela na nossa cama também? Na sua sala de estudos, onde passavam horas trancados “trabalhando”? Agora posso enxergar como fui cega e literalmente uma idiota!

— Isso só pode ser brincadeira de alguém! Eu nunca tive nada com ela Sonia, nem com ninguém! Desde que conheci você não toquei em nenhuma outra mulher...

— Como vou acreditar em ti agora? Eu estou com a prova nas minhas mãos Alexandre... Você era perfeito demais para ser verdade, eu deveria saber que não existem homens assim! Eu agi como uma garota imatura, confiei cegamente em você e me dediquei inteiramente a te ajudar e é assim que me recompensas? O que fizeste foi imperdoável! Agistes como um canalha, como mais um homem vulgar... Mentiu, enganou e manchou nosso relacionamento de forma irreversível!

— Sonia... – ele tentou, mas logo ela o cortou e continuou.

— Não! Você vai me ouvir agora! Estou profundamente magoada contigo, você me traiu com uma qualquer, acredito que por anos, ainda por cima trouxe-a para compartilhar a mesa comigo e seus filhos, não demonstrou um pingo de respeito! Você acabou de passar um mês na companhia dessa mulher e ainda teve coragem de ir para cama comigo quando chegou, de me dizer palavras de amor... Estou me sentindo suja, violada... Com raiva de mim por ter sido estúpida, por te amar tanto que não conseguia ver o que estava acontecendo debaixo do meu nariz... – ela suspirou, tentando conter as emoções, porque droga, ela realmente o amava, porém o odiava profundamente nesse momento, uma lágrima escorreu – Há quanto tempo vocês tem um caso?

O homem suspirou, todas essas acusações infundadas estavam deixando-o irritado e confuso, será que ela não conseguia perceber que ele realmente a amava? Que tudo isso era uma espécie de gozação ou levante contra ele?

— Eu nunca tive um caso com Melissa nem com ninguém! Me ouça Sonia! Isso tudo é mentira...

— CHEGA! Alexandre seu segredo sujo foi descoberto! Eu estou vendo, não sou tola, sei reconhecer uma adulteração em fotografias, posso hoje ser a dona de casa atenciosa ao marido cafajeste, mas conheço muito bem fotos quando são manipulados por softwares, já fui modelo, sei como funciona, e essas ‘querido’ são reais...

— Você pode deixar eu falar?!

— Falar o que? Vais me explicar como Melissa foi parar nua na sua cama? Obrigada, mas eu prefiro não saber os detalhes! Já estou enojada o suficiente! Você é falso, assim como tudo o que vivemos – ela engoliu em seco e Alexandre a olhou chocado – Isso termina aqui!

— O que? Acho que não entendi direito...

— Estou dizendo que se você queria se livrar desse casamento, era só ter me dito, eu preferia a ter que ser submetida a isso! Vou libertá-lo desse fardo, estou saindo, fique com sua casa e com tudo nela...

— Sonia, essa casa é sua – ele tentou falar outra vez.

— Não a desejo, não depois de tê-la manchado com sua leviandade! – ele deu um passo a frente, foi ousado, mas não perderia a oportunidade, tentou tocá-la outra vez. Foi nesse momento que ela segurou seu pulso firmemente, seu toque frio como um iceberg, duro, acusador... – Não toque em mim nunca mais, você não tem essa permissão! Se você imaginasse o nojo que estou sentindo de ti, até de mim, por ter compartilhado da mesma cama que você tanto tempo, agora sabendo que nos intervalos tomavas outra mulher... Acabou Alexandre! Acabou! Não irei mais aceitar isso, agir como uma tola... Estou indo embora e... – era isso mesmo? Ela ia pedir o que ele achava que ia? – EU QUERO O DIVÓRCIO!