Sobre Ruivas e Loiros escrita por Bia


Capítulo 2
Capítulo dois: o meio do começo


Notas iniciais do capítulo

Oláaaaaa o/// Depois dois meses eu finalmente atualizei SRL, eu estava em uma batalha mental sobre escrever o epílogo ou escrever o segundo capítulo dessa fic quando uma ideia relâmpago me atingiu e eu tive que escrevê-la! *w*
BOM, esse capítulo está mais focado no Pepê, na forma em que ele lida com tooda essa confusão sobre sua vizinha doida. Particularmente, adorei escrever, achei que está muito bonitinho! AOJAOJAJOAOJAJOJOAOJA Antes de vocês lerem, quero agradecer IMENSAMENTE às quatro recomendações no PRIMEIRO CAPÍTULO, OMFG!!! Obrigada ApplePie, Manu, Sonhadora e Luh Sthepanie, adorei-as de verdadee! *wwww* ~dançando~
Espero meeeesmo que vocês gostem do capítulo,
Boa leitura!



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– Você é louco. - Derek constatou depois de ouvir a parte do Pedro da história. A cara dele quando o loiro lhe contou que estava apaixonado foi hilária. - Louco. Pirado. Maluco. Tem certeza de que não fumou nada?

– Caramba, já disse que não. - Pedro riu, balançando negativamente a cabeça. Agachou-se e pegou uma caixa do chão, botando-a em cima da cama. - Olha, fazia décadas que eu não via essas coisas… - Nostálgico, pegou seu vidro de bolinhas de gude. - Lembro que eu brincava com isso aqui quando ainda estava na Itália… Bons tempos…

– Todos os tempos eram melhores antes de você ter se apaixonado pela Katrina, cara. Ela vai te fazer chorar. Vai te fazer sofrer. - Tentou avisá-lo, todo dramático, catando uma bola de borracha de dentro da caixa. Apertou-a com força, suspirando. - Aquilo não é humano, Pedro… Ela é a personificação do mal. Ela é o próprio demônio, você não tá entendendo.

Pedro riu, revirando os olhos.

– Você é o único louco aqui. Agora me ajuda com essas coisas. Para mim ela é somente uma garota que possui alguns problemas, sabe? - Disse, abrindo seu guarda-roupa e enfiando lá o pote com bolinhas de gude. - Não acho que ela seja má porque ela gosta, e sim má porque… - Pensou por alguns instantes. - Não sei, afasta as pessoas.

Derek suspirou novamente, deitando na cama.

– Você sabe que mesmo bancando o vidente, não vai conseguir se aproximar dela, né? Você mesmo disse, ela afasta as pessoas sendo má.

Pedro deu de ombros, voltando a se concentrar na sua caixa-nostalgia.

– Acho que você não pegou o espírito da coisa, né, Derek? - O moreno resmungou um “não”, bocejando logo em seguida. - Olha, são medidas inversamente proporcionais… Quanto menos uma pessoa quer os outros perto de si, mais ela precisa, entende? - Fez um teatrinho com as mãos, feliz por poder explicar. Tirou um coelho de pelúcia de dentro da caixa, atirando-o no amigo, que estava de olhos fechados. Derek riu.

– Tô acordado, tô acordado… - Bocejou de novo, se virando de lado na cama confortável enquanto apertava o bichinho contra o peito. - Eu entendi bem, mas não consigo entender essa parada de ficar apaixonado à primeira vista. Para mim isso não existe. O que existe é amor que vem com o tempo. E nem vem com o argumento de que o bebê já ama a mãe, porque não é verdade. O bebê precisa da mãe, e só com o tempo ele começa a amá-la. Precisar de alguém e amar alguém são coisas diferentes. E a mesma coisa se aplica com a mãe; ela meio que sente a necessidade de protegê-lo do mal alheio. Isso não é, necessariamente falando, amor.

Pedro pensou no caso.

– Ah, cara, é difícil. Acho que, quando falamos dessa parada sinistra que é ter sentimentos por alguém, não há certo ou errado. Há muitas formas de amar… Não podemos dizer que “é certo” só porque nós vivenciamos isso… O que é estranho para você, às vezes é normal para os outros.

Derek sorriu, concordando.

– Sim, sim… Fico imaginando quando, como e por quem eu irei ficar apaixonado. Credo. - Quando pensou nisso, seu corpo todo estremeceu de forma ruim. - Pedro, quando eu for me confessar à pessoa que gosto, vai ser publicamente… - Pensou em algo vergonhoso. - Vou estar usando saias. Vai ser piegas. - Riu em deboche. - Tá, como se isso fosse realmente acontecer.

Pedro suspirou e jogou “O Pequeno Príncipe” na cara dele, que se contorceu em desgosto.

– Chega de tentar se acomodar, você tem que me ajudar com essas caixas, se esqueceu?

*

Pedro pressionou os olhos com força quando um aviãozinho de papel se chocou contra sua cabeça pela quinta vez. Olhou com raiva contida para a sala, onde Derek e seu irmão mais novo, Rodrigo, estavam fazendo aviõezinhos com folhas de seu caderno.

– Tá divertida a brincadeira? - Perguntou áspero, fazendo os dois na sala rirem.

– Sim, aliás, quem te acerta mais vezes na cabeça ganha um pedaço de bolo! - Rodrigo contou animado, arrancando mais uma folha do caderno do irmão, fazendo Derek rir.

– É esse o espírito! - Disse o moreno com orgulho, batendo levemente nas costas do menor. Forçou a dobradura em seu aviãozinho e lançou-o em direção à cozinha, vendo-o voar pertinho do pescoço do italiano. - Aaah, quase! Pô, Pedro, vem um pouco para sua esquerda!

Pedro revirou os olhos, a faca cortando de maneira habilidosa os tomates em cima da tábua de madeira. Eram umas sete horas e ele já adiantava o jantar para sua mãe, que estava tomando banho. Derek iria passar a noite em sua casa, já que não tinha nada melhor para fazer em sua própria residência.

Na realidade, o moreno se sentia completamente à vontade. E isso só se fez provar quando ele se levantou e foi até a cozinha, descalço, e abriu a geladeira dos Marconni, coçando sua barriga.

– E uns sucos? Têm não? - Perguntou, pegando uma uva do cacho e enfiando-a na boca. - Hmm, tá docinha… - Acabou por pegar o cacho todo.

– Não, Derek, não tem. - Pedro respondeu enquanto revirava os olhos por conta da gula do outro. Abaixou a cabeça bem a tempo e não foi atingindo pelo aviãozinho lançado pelo seu irmão. - Rodrigo, para com isso! - Censurou-o, as sobrancelhas bem juntas.

O mais novo lhe mostrou a língua, uma careta sapeca no rosto.

– Mãe, o Pedro tá me ameaçando com a faca! - Berrou matreiro quando viu sua mãe descendo as escadas. Dona Isabel parou no penúltimo degrau, lançando um olhar de repreensão para o filho que estava na cozinha.

– Pedro… - Avisou-o, vendo-o encolher os ombros, inocente. Acabou de descer a escada e foi à cozinha, dando um tapinha nas costas de Derek, que comia como uma deusa o cacho de uvas, sentado numa cadeira. - Filho, agora você larga isso aí que a gente vai passear pela vizinhança e nos apresentar, o.k.? Você sabe como é, temos que nos enturmar para não sermos roubados.

O garoto riu pelo nariz, pensando em quem ainda se apresentava para a vizinhança. Não é um “boa noite, moramos naquela casa ali, somos legais, por favor não nos roube” que iria ajudá-los realmente.

– Tá bom, tá bom… - Apenas concordou para evitar futuros conflitos. Passou a faca que estava em sua mão para Derek, que olhou-o, confuso. - Corte todos os tomates e os coloque naquele pote vermelho ali. Quando voltar, quero ver todos picados. Cuidado para não decepar os dedos.

– Quê? Pera, hã? Cê quer que eu corte esses tomates aqui? Não, Pedro, isso não tem lógica, você é o cozinheiro aqui. - Protestou com a boca cheia, mas foi completamente ignorado.

O italiano já estava enxugando as mãos, sua mãe na porta, esperando-o. Passou por Derek, dando-o um tapinha na nuca, e foi até sua mãe, fechando a porta atrás de si.

– Puto maldito… - Derek resmungou, solitário na cozinha, Rodrigo subindo para seu quarto. - Vou cuspir no pote só de raiva também…

Pedro já começava a andar pela calçada quando as mãos pequenininhas de sua mãe pegaram-o pelo braço. Virou-se, as sobrancelhas arqueadas em surpresa.

– O que foi?

– Vamos começar pela casa em frente. - Decidiu. Isabel havia visto que, pelo jeito, aquela casa era a única com residentes um pouco mais “normais” e menos balofos.

Ah, pobre inocente.

Pedro engasgou-se com saliva, pego de surpresa. Logo no primeiro dia iria à casa dela? “Ai meu Deus do céu” pensou, realmente nervoso, olhando para os lados. E se ela o expulsasse de casa? Pedro sabia que Katrina não gostava muito dele, então visitá-la no mesmo dia em que se conheceram era igual a colocar a mão na boca de um dinossauro e pedir para não ser comido.

Olhou para os lados, perdido.

– Temos mesmo que ir nessa casa? Não pode ser naquela ali, que tem umas roseiras? Olha, é bem mais legal…

– Não, não pode ser. - Isabel negou completamente, puxando o filho para que atravessassem a rua pouco movimentada. Pisou no quintal mal cuidado, vendo todas aquelas flores podres perto dos muros e a piscina cheia de… Coisas. - Nossos vizinhos não são tão limpinhos, mas tenho certeza que são bonzinhos, não acha? - Perguntou com expectativa, mais para ela mesma do que para o Pedro.

O italiano contraiu as sobrancelhas, um ímpeto desejo de dizer “não, não acho, vamos sair daqui”.

– Com certeza. - Enfatizou a última parte, também mais para ele mesmo do que para sua mãe.

Dona Isabel deu três batidinhas sutis na porta, com o filho olhando para os lados, realmente envergonhado de ter de encarar sua affair.

*

– Vou mijar e tomar banho, tá? - Katrina avisou para sua mãe, se arrastando preguiçosamente do sofá. Serena Dias estava jogada no chão, uma camisola desgastada dos Ursinhos Carinhosos, o cabelo preso no coque desmanzelado por conta da preguiça, seus fios louros revoltados.

– Vai na fé. - Respondeu ela, mudando de canal. Sempre foi de gostar de novelas, mas com Katrina por perto, era impossível. Ela só queria saber daquela porcaria de programa envolvendo gordos. Aproveitou para ter um momento a sós com seu protagonista mais bonitão de sempre da novela das sete.

Katrina atravessou a casa, descalça, usando apenas uma camiseta enorme da sua mãe e sua calcinha de bolinhas azuis. O cabelo estava igual ao de sua mãe: preso num coque horrível, todo revoltado.

A família Dias não era do tipo que gostava do calor. Odiavam sua piscina, por isso nunca tratavam dela.

Katrina acendeu a luz de seu banheiro ridiculamente pequeno e fechou a porta de plástico atrás de si, tirando toda sua roupa. Prendeu seu cabelo mais fortemente no coque, fechando a tampa da privada e botando sua saboneteira em cima. Girou com rapidez o registro do chuveiro, já sabendo que cairia uma água de temperatura vulcânica.

Depois de alguns segundos vendo a água jorrar no chão e voltar em forma de vapor, Katrina colocou seus dedos sob o esguicho, sentindo que a temperatura estava boa. Entrou embaixo do chuveiro, fechando os olhos com força e inclinando a cabeça para cima.

Gostava da sensação da água batendo em seus ombros e em seu rosto. Era, de certa forma, relaxante. Sentia alguns choquinhos em seus pés, já que estavam quentes no contato frio do piso. Passou os dedos sobre a cara, tirando o rosto do alcance da água. Abriu os olhos e percebeu um certo falatório na sala.

Juntou as sobrancelhas. Por que teriam visitas a esta hora? Tipo, justo elas. E, além do mais, quem se preocuparia em visitá-las?

“Não, não…” pensou, por um momento confusa. “Deve ser aquelas testemunhas de Jeová… Mas eles só vêm de domingo, não é?”.

Decidiu deixar isso de lado e acabar seu banho.

*

Serena Dias estava muito concentrada em sua novela quando bateram à porta. Suspirou e olhou para ela, sem vontade de atender. No fim, grunhiu preguiçosa e se levantou, ajeitando seu coque.

– Só porque eu estou de pijama… - Murmurou, um pouco envergonhada, mas não deixou de atender quem batia.

Surpreendeu-se quando viu uma mulher baixa, delicada e com aparência de trinta e poucos, com um garoto ao seu lado. Ele era bastante bonito, talvez um pouco malhado para a idade. Como não estava com suas melhores roupas, ofereceu-lhes seu melhor sorriso.

– Em que posso ajudá-los? - Perguntou afetiva, abrindo um pouco mais a porta.

Pedro não esperava ser atendido por uma mulher tão bonita. Tinha aparência jovem, a camisola confundindo-o. “Ela é uma garota com aparência madura ou uma mulher com fetiches infantis?” perguntou-se, realmente confuso.

Seus traços de rosto eram realmente parecidos com os de Katrina. Será que ela era sua irmã?

– Ah, olá… - Sua mãe deu o segundo passo, estendendo a mão para cumprimentá-la. - Eu sou Isabel Marconni e este é o meu filho, Pedro. Nós nos mudamos recentemente para essa casa - apontou para trás, seguida com o olhar da mulher.

Serena assentiu, apertando a mão de Isabel.

– Bem-vindos ao bairro, queridos. Eu sou Serena Dias, é um prazer conhecê-los! Espero que apreciem sua casa, é difícil arranjar boas residências por aqui… - Confessou, suspirando em seguida. Ela escancarou a porta, apontando para dentro. Era uma mulher realmente receptiva; gostava de pessoas. - Por favor, entrem e tomem um pouco de… - Ia dizer “café”, mas notou que não tinham, já que eram pobres. Toddy.

Pedro e Isabel se entreolharam, surpresos com o convite. Entraram mesmo assim; não era todo dia que pessoas o convidavam de cara, oferecendo toddy. O italiano não deixou de rir. Seguiram Serena pela casa simples e desgastada, porém confortável, sentando-se numa mesa retangular, pequena e simples.

Pedro observou a cozinha com atenção, sorrindo inevitavelmente. “Então é aqui que ela vive…” pensou um pouco mais feliz, percebendo o copo de vidro cheio de achocolatado pousando em sua frente.

Ele e sua mãe bebericaram seus respectivos copos. Dona Isabel observou, atenta, quando Serena sentou-se em frente a eles, suspirando.

– Então, quando foi que se mudaram? - A dona da casa perguntou, apoiando o queixo no punho.

A italiana sorriu, satisfeita pela pergunta.

– Há mais ou menos uma semana. Já vivíamos em São Paulo, mas o Grande Centro é completamente diferente! - Falou entusiasmada, bebendo mais um pouco do chocolate.

– É verdade… - Serena assentiu. “Há mais casas de prostituição aqui…” pensou. - A casa de vocês é boa?

– Ah, sim, excelente! Um pouco grande demais para nós, mas estamos confortáveis lá… - Então ela se inclinou sobre a mesa, como se fosse contar a Serena o segredo do universo. - Me diga… Aqui, há muitos casos de roubos?

Serena pressionou os lábios, balançando levemente a cabeça.

– Sim, há muitos casos por aqui. Eu e minha filha já fomos assaltadas três vezes, aliás - contou, lembrando-se amargamente do episódio em que roubaram um botijão de gás cheio, e elas ficaram sem utilizar o fogão durante duas semanas.

Pedro engasgou-se com a bebida, tossindo violentamente. Dona Isabel socorreu-o, dizendo a ele para olhar para cima enquanto o garoto realmente entrava em desespero, nenhum ar entrando em seus pulmões. Alguns segundos se passaram antes que ele conseguisse respirar normalmente de novo, o rosto vermelho.

– Tudo bem? - Serena perguntou, a mão sobre o peito, surpresa.

– Ah, sim, obrigado… - Pedro disse com dificuldade, dando duas batidinhas no peito, pigarreando e arrumando-se na cadeira. - Me desculpe, mas… Filha? - Chegou ao ponto em que lhe causou uma explosão mental.

Serena Dias sorriu. Na realidade, o sorriso mais bonito em que dera aquela noite (talvez ainda mais bonito do seu julgado ‘melhor sorriso’, no qual recepcionou seus novos vizinhos).

– Ah, sim, querido, eu tenho uma filha! - Falou toda orgulhosa, arrumando-se pomposamente na cadeira. - Ela tem, eu presumo, a sua idade. Está no banho agora - contou, apontando para o cômodo ao lado. - O nome dela é Katrina. - Disse o nome de seu filhote de maneira doce.

Pedro sentiu como se suas veias cerebrais congestionassem. Sentiu-se extremamente bobo naquele momento.

– Eu pensei que você era a irmã dela… - Confessou, realmente chocado.

Serena soltou uma risadinha de Papai Noel, algo que significou um ‘oh, não seja falso! Hohohohohoho, continue, continue!’

Enquanto os três conversavam agradavelmente sobre assuntos aleatórios, Katrina desligou o chuveiro, sentindo que toneladas de suor haviam ido para o ralo juntamente com o seu estresse. Suspirou, relaxada, pegando sua toalha e enxugando seu corpo, enrolando-se nela logo em seguida.

Passou a mão levemente úmida pelo espelho embaçado, encarando-se por um breve instante. Dali do banheiro podia ouvir os risos de sua mãe e outras vozes não reconhecidas por ela. “Não são testemunhas de Jeová…” constatou, dando dois passos e abrindo a porta do banheiro, estremecendo ao sentir o piso gelado na planta do pé. “Então são parentes…”

– Mãe, você já tirou minhas calcinhas do vara- - começou dizendo, mas interrompeu-se bruscamente ao ver aquilo ali.

Pedro Marconni estava sentado à mesa de sua casa, tendo uma conversa aparentemente animadíssima com sua mãe e outra mulher, que ela julgou ser a mãe dele. E só para servir de cereja no bolo, tomavam o seu toddy. Ficou estática ali, observando a cena com os olhos faiscando.

Já o italiano quase morreu. Bebericava o copo de achocolatado quando seu objeto de interesse apareceu na cozinha apenas de toalha, algumas gotas de água escorrendo por seu corpo. Ela trazia consigo um cheiro adocicado, extremamente hipnotizante.

Cuspiu todo o toddy de volta no copo e, por algum motivo obscuro do universo, levantou-se da cadeira de forma brusca, fazendo um baita barulho, já que a coitada da cadeira foi para trás com o movimento, batendo contra o armário da cozinha com força.

Ficou encarando-a arfante, sentindo que começava a suar por conta da tensão. Vê-la daquele jeito num primeiro dia era demais. E, para piorar, ela lançou-lhe uma levantada de sobrancelha interrogativa, extremamente atraente, com um toque sutil de superioridade.

Katrina Dias era demais para ele. Isso era um fato imutável.

Ninguém jamais o fez sentir-se desse jeito antes. Na realidade, em relacionamentos passados, ele era a pessoa que transmitia esse tipo de aura nos outros.

– Pedro, querido, tudo bem? - Isabel perguntou, preocupada com a sanidade de seu filho. Botou a mãozinha em cima da mão dele, cuidadosa.

– Ah, eu estou ótimo… - Pedro gaguejou, arrastando a cadeira pateticamente para o lugar e sentando-se.

Serena olhou cuidadosamente para o rosto do italiano, olhando logo em seguida para a própria filha, que encarava a cena com imparcialidade. Mordeu a unha do polegar, voltando a encarar o italiano.

Nem precisou de dez segundos para entender o que se passava ali. Tinha total noção de que, se Pedro fosse levar sua filha realmente a sério, teria de ralar. Muito.

Ninguém conhecia Katrina Dias tão bem quanto a mãe dela. Serena também entendia perfeitamente que, através dessa fachada de ‘durona’ e ‘vem quebrar minha cara’ da filha, a ruiva era uma garota doce… O.k., não tão doce assim…

Ficaram um certo tempo os quatro se encarando, sentindo uma espécie de “clima tenso” pairando. Foi Katrina quem deu o primeiro passo.

Avançou na mesa e pegou o pote de toddy com certa obsessão e egoísmo, colocando-o sob o braço, um sinal claro para ‘encostem nesse toddy de novo que vocês irão morrer’.

Serena pigarreou, segurando o pulso fino, porém fortíssimo, da filha.

– Isabel, Pedro… Katrina… Katrina, Isabel e Pedro… - Apresentou-os, indicando com a mão cada um.

– Olá, querida… - Isabel cumprimentou-a, levemente intimidada com a aura assassina da garota.

– E aí. - Katrina respondeu ríspida, encarando logo em seguida o italiano, que a encarava de volta, bem nos olhos. Ele sorriu, meio nervoso, meio constrangido, meio tudo. - Oi - ela decidiu dizer, vendo-o engolir em seco.

– Oi, Katrina. - Acabou por falar, mas ele na verdade queria dizer em alto e bom som: “EU NÃO ESTOU TE PERSEGUINDO!! DESCULPE POR ENTRAR EM SUA CASA LOGO NO PRIMEIRO DIA!”.

Katrina manteve-se com o rosto inexpressivo. Não gostava de gente em sua casa, ainda mais o chato do mercadinho, mas percebeu que a culpa de estar ali não era necessariamente dele, e sim da mulher. Entendia bem porque também tinha uma mãe daquele jeito. O que ela não pôde perdoar foi o fato do toddy: ah, não, isso era imperdoável.

Ignorou a situação com uma carranca, apertando possessivamente o achocolatado embaixo do braço, andando devagar até a sala, subindo as escadas, deixando-os ali, à deriva.

Serena Dias soltou uma risada de pura vergonha, batendo uma palma.

– Desculpem por isso, minha filha é meio rabugenta! - Disse sem graça, um falso sorriso no rosto, que murchou depois de alguns segundos, enquanto ela arrumava o coque desmanzelado.

Dona Isabel pigarreou, olhando para o filho, que encarava um ponto na mesa, sem piscar, provavelmente perdido em pensamentos.

– Hã, Serena, acho que nós já vamos… Preciso dar a janta para as crianças! - Isabel anunciou com bom humor, levantando-se da cadeira.

Pedro acordou para a vida naquele momento, também se levantando e sorrindo para a mulher à sua frente.

– Obrigado pela hospitalidade, a conversa foi muito agradável - mostrou-se confiante pela primeira vez naquela residência. Serena sorriu, levantando-se também e acompanhando os dois até a sala, abrindo a porta graciosamente. Pedro olhou para as escadas uma vez, talvez na esperança de que Katrina as descesse.

Sua mãe despediu-se da dona da casa, começando a andar lentamente até a calçada. Pedro foi desperdi-se de Serena quando ela pegou-o pelo braço.

– Eu sei que você se sente atraído pela minha filha, de muitas formas possíveis - confessou. - Não vou mentir para você: quanto mais próximo você tentar ficar dela, mais ela te odiará.

– Sim, eu sei - Pedro respondeu, sorrindo de lado. - Mas eu não sou o tipo de cara que desiste na primeira ou na trigésima tentativa. Não sei se vou conseguir fazê-la se apaixonar por mim, mas com certeza vou me tornar próximo dela… - Falou, realmente confiante.

Serena ficou por dois segundos sem reação. Apenas soltou uma risadinha de satisfação e observou os dois entrarem na casa em frente. Girou os calcanhares, entrando em sua própria residência, fechando a porta com a cabeça nas nuvens.

– Ora, ora… - Murmurou para si mesma, sentindo que a vida monótona que as duas possuíam iria mudar drasticamente.

*

Pedro assistiu com desânimo o andar mais desanimado ainda de Derek enquanto ele voltava para onde estava sentado. Trazia consigo latinhas de refrigerante compradas na cantina da escola.

Estavam no horário de almoço, sentados lá fora, numa mureta abaixo de uma arvorezinha. Derek voltou, sentado-se novamente ao lado do loiro, dando-lhe o refrigerante sabor uva.

– Gosto mais do outro… - Cobiçou a bebida laranja do amigo.

– Problema é seu… - Derek respondeu, avulso, abrindo a latinha com tédio e bebendo-a. - Mas, me explica essa história direito… - Começou, combatido pelo calor. - Katrina Dias apenas de toalha na sua frente?! - Acabou por exaltar-se na última parte.

– Shiii! - Pedro repreendeu, olhando rapidamente para os lados, abrindo sua própria bebida. Somente aquela ruiva endemoniada para fazê-lo se animar nesse calor de três mil graus. - Sim, é isso mesmo. Lá estava eu e minha mãe, fazendo os cumprimentos para dona Serena. Bebíamos um achocolatado lá, quando, tipo, do nada, a Katrina me aparece na cozinha, o corpo molhado enrolado numa toalha! Eu quase tive uma síncope!

– Puta merda! - Derek exclamou, os olhos arregalados e uma expressão divertida no rosto. - Mas, sério, como você não morreu de pau duro? - Perguntou, tentando parecer sério.

Pedro encarou-o por um tempo, uma cara de “quê” no rosto, cético. Suspirou ao ouvir a gargalhada do outro, esfregando o rosto com força.

– É só uma brincadeira, mano! - Derek tentou animá-lo, dando-lhe uma ombrada fraca. Mas parou de rir quando viu Carolina e as amigas “gostosas” dela. - Agora, pelo amor de tudo o que é sagrado, vamos redirecionar nossas mentes para essas mulheres reais por um segundo?

Pedro revirou os olhos, erguendo rapidamente a cabeça. Não conseguia mais se sentir atraído por aquelas garotas; toda vez em que olhava para elas, sentia que estava fazendo uma coisa extremamente errada…

– Ei, gata, pode me chamar de gandula porque eu tô te dando a maior bola, hein… - Derek lançou sua pior cantada para Carolina, que olhou-o com certo deboche.

Isso foi uma cantada? Melhore - disse com acidez para o moreno, que levantou-se quase que arrependido.

– É verdade, é verdade, como eu fui idiota! Uma garota como você não merece uma simples cantada. Merece uma sinfonia! - Disse, poético, provocando na garota um ataque de risos.

Enquanto Derek jogava suas melhores cartas para cima de Carol, Pedro notou uma certa aproximação. Olhou para os lados, percebendo que o grupinho de idiotas, digo, de Max estava próximo, olhando fixamente para Derek e sua conversa animada com Carol. Pedro sabia muito bem como aquele cara era irritante, de como sempre pegava no pé deles, como se tivesse uma espécie de inveja enrustida e excruciante.

– Ah, não… - Resmungou consigo mesmo quando ele começou a andar na direção dos dois, atrapalhando a conversa. Derek encarou-o de cima a baixo, quero dizer, mais de baixo do que de cima, já que ele era terrivelmente baixinho em comparação a Max.

Mas apenas isso foi o suficiente para Carol perder o interesse no moreno e sorrir amistosamente para Max, aproximando-se dele. Pedro entreabriu a boca, sentindo-se mal pelo amigo. Derek jogou as mãos para a cintura, encarando a cena com certo ceticismo.

– Você malha? - Carol perguntou apertando o bíceps bem mais definido de Max em comparação ao dos garotos. “Com anabolizante, até eu cresço!” Derek pensou com uma carranca na cara, seus ataques de subjugação despontando.

– Só o quadril, gata - Max respondeu, levemente orgulhoso por fazer aquele nanico se tocar de seu posto ao fazê-lo sentar-se ao lado de Pedro.

O italiano quase engasgou com o comentário infeliz do outro, olhando para o rosto mal-humorado de Derek.

– Só se for de tanto dar esse quadril, né… - Pedro comentou alto demais, fazendo muitas pessoas rirem baixinho. Tomou um gole de seu refrigerante, não se arrependendo nada de tê-lo dito quando Max virou-se para encará-lo. Até devolveu o olhar, cem vezes mais debochado, porém.

Se ele tivesse a idade atual, dezessete, com certeza ele nunca teria feito essa espécie de comentário alto demais, apenas teria dito para animar o amigo, mas Pedro era um pouco inconsequente quando mais novo.

– Ei, ei, ei… - Max começou a dizer, deixando Carol de lado e andando até os garotos. - Nós temos um problema aqui? - Perguntou com uma pose irritante aos olhos do italiano.

Ele deixou a latinha em cima da mureta onde estava sentado, erguendo-se e encarando-o bem nos olhos. Pedro tinha uma postura até que calma, mas seus olhos estavam fulminando.

– Temos? - O italiano perguntou, espremendo levemente as sobrancelhas.

Max riu forçadamente, quase ousado, notando uma certa tensão no ambiente enquanto algumas pessoas paravam para olhar.

– Eu ouvi a sua conversa com o Derek sobre a Katrina… - Cuspiu as palavras como se elas tivessem um gosto amargo na boca. - Eu conheço aquela lá… Estudei com ela ano passado, quando ela estava na sétima e eu na oitava. Vi que você está interessado nela… Realmente, ela não é de se jogar fora, tem um corpo bonito, uns peitos grandes e um cabelo com cheiro de… - Ele pausou, procurando em sua mente a palavra correta - morango, eu acho… É, eu senti o aroma de seu cabelo antes de convidá-la para tomar um sorvete comigo. Todos diziam que ela era meio reclusa, mas eu tinha certeza que por debaixo daquela fachada tinha a maior put-

Max não conseguiu terminar seu lindo discurso de como levou um fora da Dias. Não conseguiu porque, ao ouvi-lo dizer aquelas coisas tão imundas sobre Katrina, Pedro definitivamente não teve outra alternativa senão oferecer-lhe de presente seu melhor soco de direita.

Modéstia à parte, seu soco de direita era espetacular. Sentiu a dor da pressão exercida sobre seus dedos instantes depois, enquanto via Max cair como um saco de batatas no chão. Agitou seu punho direito, os dedos doídos como se ele tivesse dado um soco no chão. “Narizinho duro…” pensou em desgosto.

Pedro ainda verificava se seu punho estava ferido quando um bolinho de gente se formou em volta dele e de Max, o Saco de Batatas desmaiado no chão. Todos faziam comentários altos demais de como o nariz dele sangrava, completamente eufóricos.

– Puta que pariu, cara, puta que pariu!– Derek gritou enquanto enfiava-se entre as pessoas, chegando até onde Pedro estava, olhando-o com ceticismo. - Você não fez isso! Pelo amor de Deus, alguém me dá um tapa! - Balbuciou, a mão contra a cabeça, olhando para os lados.

– Fiz bosta, né? - Pedro murmurou para ele, só agora se tocando do que havia feito.

– Com toda a certeza! - Derek exaltou-se, encarando o corpo caído de Max. Parou um pouco para pensar. - Quer saber? - O moreno deu de ombros, olhando para o amigo orgulhosamente. - Fez bosta, mas fez uma bosta muito boa, cara! Soco espetacular! - E começou a rir descontroladamente da situação do panaca caído no chão. - Tô com vontade de pisar no saco dele, otário! - Berrou a última parte, ameaçando ir para cima do corpo no chão.

Pedro teve vontade de rir e deixá-lo pisar onde quisesse, mas impediu-o, decidindo que seria covardia demais. Pegou-o pelos ombros, trazendo-o para perto, sinalizando que não com a cabeça enquanto ele mostrava o punho para Max.

– Relaxa, Derek. - Começou, ouvindo os comentários abafados e uns gritos desesperados de algumas garotas, que pensavam que Max havia morrido. Não demorou nem dez segundos e logo a vice-diretora apareceu entre aquele bolinho, os saltos altos oscilando vez ou outra na terra enquanto encarava aquela situação. - Ferrou - Pedro exclamou, trincando os dentes.

– O que significa isso?! - A vice berrou, olhando todos ali de maneira acusatória. Algumas pessoas explicaram o ocorrido para a mulher, que olhou boquiaberta para Pedro, que sorriu amigavelmente enquanto acenava. - Pedro?! - Ela parecia incrédula. Um aluno tão bonzinho como aquele podia mesmo provocar um desmaio em terceiros? Mas ela não podia levar-se tão fácil. Endureceu a postura e andou até o garoto. - Pedro Marconni…

Pedro riu, coçando a cabeça desajeitosamente.

– Oi, vice, como vai a vida? - Cumprimentou-a educadamente, percebendo que o céu era realmente interessante. Derek pigarreou, desconfortável com a situação e acabou por pescar os óculos escuros da gola da camiseta, limpando as lentes na barra do tecido.

Péssima, Pedro, péssima… - A vice balbuciou, jogando as mãos na cintura.

– Menopausa? - Derek sussurrou em dúvida para o italiano, colocando seus óculos; Pedro teve vontade de rir, mas percebia que a situação não proporcionava esse tipo de atitude.

– Rapaz, você é louco, por acaso? Não pode simplesmente dar um soco nas pessoas! Venha comigo agora para resolvermos isso na sala do diretor! Uma bela punição vai clarear essa sua mente violenta! - A mulher soltou os cachorros em cima do italiano, que apenas a olhava com uma careta sofrida de quem mal acabou de voltar à rotina escolar e já está se ferrando.

Enquanto acompanhava a vice pelos corredores da escola, Pedro começou a pensar em Katrina. Se ela soubesse que o motivo dele ter levado sua primeira advertência fora ela, como será que reagiria?

Provavelmente soltaria um “foda-se” bem grande na cara dele e andaria para dentro de sua casa.

Sorriu com o pensamento.

No fim, gostava - e muito - daquilo que não podia controlar.


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Notas finais do capítulo

JOAOJAOJAOJAJOJAJOAOJAOJ Megera com olhar setenta e três de "vai tomar meu toddy na pqp, infeliz" Amo escrevê-la dessa forma, hahahahaha! xDDD
Pobrezinho do Derek, tomando toco porque é baixinho HHUEHUEHUEHUEHUEHUEHUE Sorte que ele encontrará uma pessoa que o aceitará da forma que é, né? *w* (hihihihi)
ENFIM, espero que tenham gostado, de verdade!
Comentem bastante!