Motsatt escrita por Monique Góes


Capítulo 13
Capítulo 12 – Caminhos incertos


Notas iniciais do capítulo

É... Eu peguei uma gripe lascada, espero que passe até o meu aniversário x.x Ainda tive uma apresentação de trabalho hoje que fui vestida de Deméter, mas acho que estou bem. Como não tive aula, tirei hoje para escrever este capítulo. Espero que gostem!



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Capítulo 12 – Caminhos incertos

Arenai despertou com o som da terra se movendo. Não ergueu a cabeça, não se moveu, apenas ergueu ligeiramente o olhar, seu rosto coberto por seu capuz e a máscara de pano – aquele local era tão frio que chegava a ser horrendo -, vendo Aegis aparecer da terra carregando consigo dois grandes vasos de argila.

– Onde esteve? – Rarac questionou, parecendo não perceber que já despertara. E provavelmente não havia.

– Fui a Aurtrai. – Fez uma careta, sendo ajudada pelo homem a pôr as coisas no chão. – Não sei como tirar aquela maldita água de dentro dos meninos, mas talvez eu possa fazer algo para apaziguar os efeitos... Pelo menos por hora. Talvez eu possa ajudar Arenai também. Me surpreendi de como ele é resistente. Qualquer outro teria desmaiado ou morrido imediatamente com aquela chifrada.

– Pelo visto ele não é apenas fama e um rosto bonitinho.

Arenai sentiu seus lábios se torcendo dentro da máscara, irritado.

– Por quê esta implicância com ele? Por que ele é um Esben? Isso seria hipocrisia Rarac, você lembra que o próprio pai dos meninos era um!

Ah... Isso já explicava muita coisa. Recordava-se que na época do nascimento dos Galrdai, Nirllys encontrava-se sob a ameaça constante dos Xintzas, um grupo de selvagens, e que a gravidade da situação fora tamanha que um grupo – grande – do Esben fora mandado para lá. Poderiam ser filhos de um dos soldados...

Mas uma dúvida a mais se instalou na mente de Arenai.

– E provavelmente eles seguiriam o mesmo caminho, se aquela covardia não houvesse ocorrido... Aegis, você não trouxe água, certo? Os Bergais apenas nos encontrariam muito mais rápido se...

– Eu não sou estúpida Rarac, eu trouxe néctar. Vai servir. – retrucou, pegando algumas ervas, frutos e flores que havia trazido. Pegou a terra, moldando-a em um pilão e um socador, e acendeu-os em chamas, provavelmente para garantir que não fariam mal. Quando encontrava-se incandescente, ela pegou primeiramente algumas das flores, pondo-as dentro, esmagando-as com o socador. Arenai não podia dizer quais eram pois alquimia e botânica eram coisas que jamais lhe interessaram. Aegis deu um suspiro e desabafou num tom cansado – Que Kasihan abençoe esta poção, pois a situação é séria.

– Não quer dormir primeiro? Posso ficar acordado até...

– Não! Pode ser que algo aconteça com eles de novo, e quando mais rápido isto ficar pronto, melhor.

– Se você diz...

O ambiente ficou em silêncio, apenas o som do pilão sendo batido e a respiração das pessoas ali podia ser ouvido durante algum tempo. Os Denores estavam certamente cansados e a impotência era o que mais podia se ver em seus rostos, certamente por não saberem exatamente o que fazer pelos garotos. Arenai reconhecia pois sabia muito bem a sensação, quando tivera de observar seu segundo filho, Dragol, morrer sem poder fazer nada. Já fazia trinta e seis anos, mas ainda doía lembrar.

–... Eu não consigo descansar com Arenai por perto.

Teve de se esforçar para não enrijecer quando escutou aquilo.

– Por quê?

– Você sabe com quem ele se parece.

– Rhelt...?

Controlou sua respiração. Este era o nome de seu filho preso. Então eles sabiam sobre ele.

– Quem mais? Sabe que esses garotos só estão aqui por causa dele.

–... Ontem Arenai mencionou que Rhelt foi aprisionado pelos Bergais.

O silêncio retornou, e o choque estava bem impresso na expressão de Rarac.

–... Preso?! Aos Sthanom, como os Bergais conseguiram pôr as mãos em Rhelt?! – sibilou. - Aquele homem é mais escorregadio que peixe!

Esta era uma verdade.

– Não sei, mas isso é grave. Talvez ele fosse a melhor ajuda que poderíamos ter agora. Sabe que ele aparecia de vez em quando. Certamente Klodike e Naphees só não foram encontrados antes por obra dele. Prenderam-no e PUF! Caminho livre para os Galrdai.

Arenai sentia sua pulsação martelando em seus ouvidos. Então seu filho sabia sobre os Galrdai, mas mantivera o fato escondido. Era seguro, mas perigoso, pois havia duas hipótese: Uma ocorrera, já que ele fora aprisionado pelos Bergais, e a segunda seria que ele poderia ser preso por traição pelos próprios Talbordais devido ao fato de esconder a localização dos garotos.

–... Me pergunto sobre Vannes e Esben.

– Devem ter sidos salvos por Nasi. Se me lembro bem, estavam com a mãe quando atacaram Nirllys.

– Sim, e principalmente Esben... Lembro como ele era...

– Era o mais novo, o mais apegado a mãe, o mais...

– Fraco.

– Phaeron deve estar cuidado dele com certeza. – Aegis constatou rapidamente.

– Ou não. Toda essa situação pode transformar alguém. Lembra-se como Naphees e Klodike estavam ficando durante aqueles dois anos? Se o pai deles não houvesse pensado no melhor, sabem os deuses como essas crianças estariam agora.

Arenai quase ouviu Aegis engolindo o seco. Seus olhos foram até a mochila de Naphees... Era algo do Esben, seu pai era do Esben... Então o mais óbvio a se dizer era que aquele garoto provavelmente fora treinado por pelo menos aqueles dois anos citados.

E o treinamento do Esben era algo que Arenai não gostava nem de lembrar.

–... Crianças não deveriam matar tanto...

– Naquela época, era matar ou morrer. Lei da selva. Infelizmente era como todos viviam, nem um mísero pedaço de paz. E agora que eles haviam conseguido ao menos um pouco, esta maldita guerra vem e toma tudo novamente.

A mulher suspirou.

– Arenai comentou sobre leva-los de volta a Aurtrai.

– Creio que é uma boa ideia. Mas isto significaria recomeçar o treinamento deles.

– O problema é que o comandante do Esben é Akhter Bardisan.

–... Quem foi o idiota que o pôs no comando?!

­- Este é o grande problema. Pelo que entendi, Arenai é o subcomandante. – ela estava certa.

– Então nossas chances de leva-los para Aurtrai estão praticamente vetadas. A maneira mais segura de leva-los para lá é pelo exército!

– Mas o Esben não é o único esquadrão, lembre-se.

– Sim, porém o problema é que eles provavelmente serão levados para o exército, para o Esben. Então Akhter é quem dá a palavra final!

– Não gosto disso... Sinto como se eles não pudessem mais controlar a própria vida.

– Infelizmente, nunca puderam. Nem nós.

Aegis pareceu se recusar a responder, retornando a sua poção. Rarac voltou sua atenção para outro lugar, e assim permaneceram por tempo o suficiente para Arenai perceber que eles não retornariam a falar. Já ouvira o suficiente, mas agora possuía ainda mais dúvidas.

Moveu-se como se só então estivesse acordando – algo que dominava desde muito antes de entrar para o Esben -, e os dois pareceram acreditar no fato. Olhou para os dois garotos ainda inconscientes – com os olhos fechados - e então para os Denores.

– Quanto tempo...?

– Algumas horas. Menos do que eu esperava. – Aegis respondeu, pegando uma das frutas do vaso e atirando-a em direção de Arenai. Teve de admitir que estava agradecido por aquilo. – Estou fazendo uma poção. Talvez você deva beber depois.

– Obrigado. – respondeu, seu olhar indo distraidamente a Klodike, e sentiu como se seu interior tropeçasse. – Ei... Klodike... Ele está cinzento ou é impressão minha?

Rarac levantou de supetão e praticamente correu até o ruivo, enquanto Arenai se arrastou em sua direção, ouvindo como se Aegis começasse a se apressar para deixar tudo pronto. Com o brilho do fogo que emanava de Arenai, era realmente possível ver que sua pele assumia um tom cinza. Suas pálpebras e lábios estavam se tornando roxo-azulados, e quase sentiu o desespero do Denor ao constatar aquilo. Levou suas mãos até o pescoço do garoto, sentindo que este ainda possuía pulsação, mas ela se encontrava bem fraca.

– Merda, estão o matando por dentro...

– Eles o querem vivo, então por que...

Como se respondendo a Rarac, os olhos de Jake se abriram, mas como aconteceram com Naphees, estavam completamente brancos. Um som agonizante pareceu sair do fundo de seu peito, e ele começou a tremer, não demorando muito para começar a convulsionar de tal maneira que Arenai temeu que o garoto acabasse quebrando alguma coisa além do que já havia quebrado.

– Deem espaço para ele! – Aegis gritou atrás dos dois. Rarac pegou Nero, afastando-o de Jake, e quando Arenai pensou em se afastar, a Denor exclamou. – Acabei! Preciso que o segurem para que eu possa fazê-lo beber!

O Esben pegou-o pelos braços, pondo no chão com esforço devido à violência de seus espasmos. Rarac veio, segurando sua cabeça e a erguendo ligeiramente, quando Arenai sentiu um frio terrível se apoderar do ambiente, antes da dor profunda vir aos seus braços. Gritou e largou Jake, vendo o gelo que subia por seus braços e o impossibilitando de sentir seus membros.

– Ele congelou os meus braços!

Rarac grunhiu, esforçando-se para mantê-lo parado sozinho enquanto o gelo se espalhava pelo chão, e Aegis se aproximou com uma pequena tigela. O Denor levou uma das mãos até a boca de Jake, apertando-a e forçando-o a abri-la, vendo a língua quase que completamente enrolada dentro dela. Aegis pôs a borda entre seus lábios, vertendo o líquido dourado.

Não precisou sequer contar até dois, o corpo de Jake pareceu simplesmente relaxar, e sua cabeça se soltou. Seu cabelo encontrava-se num tom extremamente claro de azul, tremulando fracamente e a pele parecia brilhar minimamente com um brilho invernal.

Como um Bergal.

– Certo... Deu certo... – ela murmurou aliviada. Olhou para Arenai, que tentava em vão formar fogo em suas mãos. – Você está bem?

– Nunca vi gelo tão resistente. – respondeu agoniado. – Não consigo derreter, nem mover nada dentro dele.

– Bem, esse é um dos motivos que os Bergais estão atrás deles... Deixe-me ver se consigo quebra-lo.

Um gemido atrás deles disse que Nero estava despertando. Ele ergueu sua cabeça minimamente, sentindo-a pesada e dolorida, enquanto suas entranhas pareciam se devorar dolorosamente dentro de seu corpo. Aegis imediatamente largou Arenai à ajuda de Rarac e foi até ele, que sentou-se, sentindo o mundo rodar a sua volta.

– Como se sente? – perguntou, já trazendo um pouco da poção para ele. – Beba.

– Mal... – murmurou rouco, as cenas que haviam se passado em sua mente passando rapidamente pelos olhos vagos, aceitando sem reclamar. Fez uma careta diante o gosto doce até demais. – Eu preciso sair daqui.

Os três olharam-no surpreso, questionando sua sanidade.

– A polícia irá daqui algumas horas a minha casa, e serei considerado cúmplice por não estar lá, o que será ainda pior para nós. Segundo, Klodike não poderá ficar aqui por muito tempo, precisa ir a algum lugar onde possa receber cuidados médicos.

– O que sugere? – Rarac questionou entre dentes. – Os Bergais...

– Terei de sair... E alguma visão vai ajudar, tenho certeza. – disse, sem sequer perceber os olhares surpresos, que perceberam que ele não lembrava sobre a profecia que fizera. Levantou-se com certa dificuldade, bambeando algumas vezes para manter o equilíbrio. Olhou para Arenai. – Você tem que voltar a Talbor o mais rápido quanto o possível, senão vai arranjar problemas com seu comandante. Akhter, não é?

Arenai assentiu, chocado. Aquele garoto parecia mais capacitado do que parecia.

– Aegis, preciso sair daqui, rápido.

– Mas Naphees, eu não acho que...

Rápido.

Ela suspirou, pegando uma fruta, indo em direção a uma das paredes e abrindo-a para Nero. Deu-a a Nero quando saiu e fechou a passagem, transformando-se no camundongo de sempre. Abaixou-se, pegando-a com uma mão e a pôs em seu bolso, comendo rapidamente o alimento oferecido. Era doce e pastoso, revigorando-o de maneira surpreendente.

Olhou para o céu, vendo a escuridão tomando outra cor, anunciando lentamente a alvorada, fazendo-o morder os lábios. Tinha de correr e chegar antes de alguém acordar, pois teria problemas seríssimos se alguém soubesse que havia desaparecido depois de toda essa confusão com seu irmão.

Mesmo com sua fraqueza, correu o caminho todo numa velocidade que nem sabia que possuía, recusando-se a reduzir a velocidade. Chegou ofegante a sua casa, destrancando a porta e indo silenciosamente para o seu quarto nos fundos, tentando não bater em nenhum dos muitos símbolos religiosos dispostos como uma verdadeira armadilha lá.

Pôs Aegis sobre a mesa, pegou algumas roupas limpas, indo tomar um banho rápido para não levantar suspeitas. Quando retornou, escondeu suas roupas sujas de sangue e terra sob uma tábua solta do compensado. A Denor movia-se nervosamente de um lado para o outro da mesa, e finalmente se sentando e deixando um longo suspiro escapar de seus lábios.

Sonhara com alguém idêntico a Jake, mas tinha certeza de que não era ele. Era o que possuía cabelo mais comprido, que vira há dois dias naquela alucinação com Jake. Ele estava sentado no chão, o gelo o rodeando, seus cabelos se tornando loiro platinados. Parecia desesperado e assustado, seus olhos estavam inchados como se estivesse chorando.

Sua visão mudara então para alguém que nunca esperaria: Far. Não conseguia lembrar-se perfeitamente, mas tudo o que restara era a sensação de que poderia confiar nela. Talvez... Talvez pudesse ir atrás dela, e contar ao menos em parte o que ocorrera. Talvez ela pudesse ajudar...

Todos esses “talvez” deixavam-no doente.

– Aegis, eu preciso que você abra uma passagem daquele túnel para a superfície. – Viu os olhos vermelhos se arregalando. – Confie em mim, vai dar tudo certo.

Ela tremeu os bigodes nervosamente, antes de entrar em um buraquinho disposto na parede. Assumiu como se ela houvesse acatado seu pedido, então se jogou na cama, levando sua mão até sua garganta.

Parecia que ainda sentia a água entalada ali.

Permitiu-se afundar em si mesmo por um tempo, o que ocorrera em tão pouco tempo vindo a sua mente.

A campainha tocou, fazendo-o sentar de supetão. Por quanto tempo havia permanecido daquele modo?!

Maldição. Já sabia quem eram.

– Nero! O que você arranjou, hein moleque?! – ouviu a “sua mãe” berrando do lado de fora enquanto batia violentamente em sua porta. – A polícia está aí!

Revirou os olhos, levantando-se. Parou um mísero instante para conter a tontura, antes de sair do quarto. Ignorou a Sra. Clearwater resmungando algo e acusando de algo que nem deu atenção, pois era o que ela sempre fazia. Quando fugia de casa era normalmente porque se sentia demasiadamente sufocado por aquela mulher, e ao retornar a encontrava fazendo diversas teorias de onde estiver e o que fazia quando estivera fora, sempre acusando-o de todo o tipo de baixaria possível.

Na sala de estar havia dois homens. Um era alto – ainda assim mais baixo que Nero -, usando um sobretudo negro sobre uma camisa social branca impecável sob ele, com uma gravata vermelha. Trazia seu chapéu entre as mãos e possuía o cabelo bem arrumado, loiro, e olhos verdes, inquietos e observadores. Ele olhou de Nero da cabeça aos pés ao vê-lo, analisando-o.

O outro era baixote, meio careca de cabelos negros, em torno dos cinquenta anos, com um casaco marrom e uma camisa também branca. Seus olhos eram de um tom incrivelmente verde, ausentes. Foi impossível não notar suas olheiras. As de ambos, para falar a verdade.

Apenas de olhar para eles viu flashes de suas vidas e dificuldades que quase fez Nero cair sentado. Teve de se esforçar para manter-se neutro, enquanto o que realmente queria era arregalar os olhos e encará-los, perguntando-se como fora capaz de tal proeza.

– Nero Clearwater? – O loiro chamou-o, tentando manter sua compostura. Seus sentidos apitavam, dizendo que havia algo terrivelmente errado com aquele garoto. – Eu sou o detetive David Johnson, e este é o delegado Christian Manson. Estamos trabalhando no caso dos Silverman.

– Hm. – resmungou, sentando-se numa das poltronas – tirando antes uma bíblia do caminho. -. Os homens assumiram que poderiam fazer o mesmo, e assim o fizeram.

– É uma surpresa saber que está aqui neste horário, esperava que estivesse na escola.

– Eu não estudo.

Os dois pareceram surpresos, mas não fizeram nenhuma objeção. Apenas se entreolharam, falando algo consigo apenas por aquele ato, e conseguiu entender que eles iriam então pular as formalidades e ir direto ao assunto.

– Soubemos que esteve com o principal suspeito, Jake Silverman, no dia do crime.

– Sim, e tenho certeza que vocês já perceberam que somos irmãos.

–... Sim, exato. – Manson disse, sua voz soando arrastada. – Foi por esta informação que viemos até aqui.

– Percebeu algo errado com seu irmão no dia do crime? Comportamento estranho, ou talvez até mesmo algo que tenha comentado?

Aquilo o irritava. Acreditavam tão piamente que Jake havia matado a própria família, enquanto na realidade era uma vítima! Entretanto, não havia nada que pudesse dizer... Ou haveria? Obviamente não poderia dizer que não era humano, algo que sequer cogitara, e a história de não possuir memórias poderia ser arriscada, mesmo sendo a verdade... Mas valia a pena arriscar.

– Não, ele estava perfeitamente normal. Fui com ele resolver uns problemas, então retornamos para sua casa. O Sr. Silverman chegou logo após, e estava tudo bem. Eles chegaram até a brincar e fazer piada.

Pareceu que os dois franziram o cenho.

– Algumas testemunhas afirmam que ele andava irritadiço.

– Porque infelizmente muita gente tentava se meter na vida dele. – deu de ombros. – Ele mencionou que na escola dele as pessoas agiam por algum motivo como se sempre quisessem saber tudo sobre ele.

– Até mais ou menos que horas permaneceu com ele?

– Entre seis da tarde e sete da noite. O Sr. Silverman emprestou o carro e pediu para que ele fizesse algumas compras. Jake me trouxe para casa e saiu para fazer o resto. No dia seguinte soube do assassinato.

– Você era muito próximo da família dele?

Nero negou com a cabeça, despertando então uma questão na mente de Manson.

– Se você é o irmão gêmeo de Jake Silverman, porque vivem separados?

– Fomos adotados. – foi a resposta óbvia.

– E não houve resistência alguma por parte de vocês em serem separados.

Nero negou com a cabeça.

– Até pouco tempo atrás, sequer sabia da existência de Jake. – era tão estranho chama-lo de Jake! Já estava ficando agoniado com aquele tanto de perguntas.

– Mas segundo os registros que obtive, ele foi adotado aos dez anos. E você também.

– Nós não temos memórias. – soltou. – Não lembro de nada anterior à minha adoção. A mesma coisa ocorria com ele.

Os dois homens fitaram-no em silêncio. Sabia que era um silêncio incrédulo, mas era nada além da verdade. Sentia-se cansado, tão extremamente cansado... E queria muito ajudar seu irmão, queria tirá-lo daquela situação, mas nada parecia vir para lhe socorrer.

– Como assim ... Nada?

– Perda de memória, amnesia, chame como quiser, mas é a verdade. Só fiquei sabendo sobre Jake por uma coincidência.

– E que coincidência seria esta?

– Ele foi adotado pelo melhor amigo do homem que chamo de pai. John Silverman.

– Vocês dois se reencontraram há quanto tempo?

– Está fazendo umas duas ou três semanas.

– E como nunca haviam se visto antes?

– Eles não me deixam sair de casa... – disse num tom baixo, gesticulando com o queixo para a cozinha. – Dizem que sou louco, retardado, coisas do tipo e me trancam, enquanto saía e iam visitar os Silverman. Minha irmã adotiva me contou sobre isto e fugi de casa para conhece-lo.

Manson franziu o cenho. Percebeu que era obviamente ele quem comandava ali, enquanto Johnson mais parecia uma sombra do que um detetive.

– Esta história me soa muito estranha.

– Nada além da verdade.

Em sua mente, lhe veio a resposta, dizendo-lhe que seria melhor que assustasse logo os dois e se livrasse logo deles. Apenas olhou de Manson para Johnson, vendo e repassando todos os seus problemas em sua mente, para então a clarividência dar a resposta. Quase sorriu a perceber o que poderia fazer.

– Por que eles diriam coisas como essa?

– Ora... – pendeu ligeiramente a cabeça para o lado, os olhos tornando-se vagos, e para os policiais, pareceu-lhes que havia se tornado completamente insano. – Eu vejo coisas que ninguém mais pode ver ... Como por exemplo, Christian Manson, está tão desesperado atrás do sua filha, mas já tentou olhar no porão do seu vizinho? – Viu o choque gravado nos olhos do homem calvo. – Sabe... Sam Jaf pode não ser tão boa pessoa quanto parece. Talvez haja um longo histórico de um maníaco por trás dele.

Olhou para Johnson, apoiando o rosto em uma das mãos.

– E... Sua aliança está no porta luvas. Sério que não olhou lá? É meio óbvio. E não se preocupe, sua mãe terá alta semana que vem, os médicos estão o assustando à toa.

Johnson levantou-se rapidamente. Parecia... Quase que ofendido. Admitiu que queria rir da cara dele.

– Obrigado por seu testemunho, agora temos que ir.

Christian olhou-o sem reação, enquanto o colega seguia e abria a porta, saindo rapidamente, seu olhar voltando para Nero rapidamente que lhe deu um sorriso amigável, porém o olhar pedia desculpas.

– Só não avise Sam sobre estar indo lá. Ele pode fazer algo pior a Elena do que já fez.

O homem olhou abobalhado, então saindo sem dizer nenhuma palavra. Ao chegar do lado de fora, com Nero fechando a porta atrás de si, viu apenas Johnson pôr a cabeça do lado de fora, com o círculo dourado entre os dedos.

– Achei minha aliança!

Nero encostou-se na porta, suspirando. Olhou para o relógio disposto na parede, entre uma estátua de Maria e uma de José, que era uma pintura da Santa Ceia. Pelo horário, faltava pouco para que os alunos saíssem da escola.

Era mesmo uma boa ideia por Far naquilo tudo? Fechou os olhos, e imagens se puseram sob as pálpebras. Conseguia vê-la com seu irmão, mas não sabia porquê... Ele parecia diferente. Estavam num barco, e Jake dizia algo a ela, gesticulando suas mãos. Logo percebeu a diferença: Ele parecia mais alto, sua pele estava literalmente branca como a neve, assustadoramente pálida. Usava uma camisa sem mangas, que lhe dava a clara visão dos braços definidos, demonstrando que estava bem mais musculoso. Seu cabelo parecia ter se mantido num corte semelhante ao atual, mas estava comprido, quase na base da nuca, e pela iluminação não parecia mais ruivo, mas sim negro como a noite.

Far também estava diferente. Parecia mais magra, seu cabelo loiro chegava a cintura, estava claro que estava escutando seu irmão atentamente, mas havia algo ali... Não sabia dizer, mas sentia uma terceira presença, mas não sabia o que era.

Abriu os olhos. Se ela possuía algum futuro com Jake, talvez valesse a pena arriscar. Mas algo lhe dizia que se errassem algo minimamente, aquele futuro que vira poderia se desmantelar e jamais existir.

O camundongo apareceu num furo da parede atrás de Maria, fazendo-o assentir. Precisava ajuda-lo, precisava dar um jeito em algo. Ergueu a mão, pegando Aegis e disse:

– Klodike vai me odiar pelo que vou fazer, mas vamos lá.


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Notas finais do capítulo

Críticas, elogios, dúvidas? Tudo nos comentários?
Agora vou tomar um remédio, até a próxima!



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