Imediatamente senti a força de Draven se desvencilhando de mim libertando os meu braços. Mas por um momento fico ali, deitado tentando entender o que acabou de acontecer. Inclino minha abeça para trás na tentativa de enxergar Gendry.

– Acho que você foi um pouco longe de mais, Draven.

– Precisávamos ter certeza. - Indagou Draven saindo de cima de mim.

– Bateu nele?

– Um pouco. - Draven agora está me oferecendo a mão como apoio. Estou muito atônito para pensar direito, e com movimentos lentos aceito sua ajuda me colocando de pé.

– Chester, sentimos muito. De verdade. - Começa Draven.

– Precisava saber se podíamos confiar em você. - Completa Gendry.

– O que? - Eu não poderia estar mais confuso. Lançava olhares para Draven e então para Gendry, até que as coisas foram se encaixando. - Poderiam ter me dito.

– Sabe que não. - Diz Draven.

– Chester, na situação que eu me encontro, preciso saber em quem confiar. E você, mesmo sendo ameaçado, não contou quem eu realmente sou.

– Então. - Digo puxando a toalha para perto do corpo. - Passei no seu teste. E agora eu quero saber de tudo.

– Vai saber. - Confirma Gendry. - Vista alguma coisa e nos encontre na sala de jantar. Eles irão passar a reprise das colheitas e do desfile. Aí vamos contar qualquer coisa que você queira saber.

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Na sala de jantar, todos já possuíam um prato e mandavam ver em um porco assado inteiro que jazia em cima da mesa. Me aproximei e cortei um bife do porco e me servi de algumas saladas. Tomei lugar ao lado de Lucy.

– E aí? Como andam as coisas? - Pergunto lhe jogando um sorriso.

– Bem, eu acho. Tudo aqui é muito legal. - Agora ela está me olhando nos olhos. - Só queria estar em casa, Chester.

– Eu sei. Mas vai estar. - Bagunço novamente os seus cabelos loiros. - Eu prometo.

– Eu queria conversar com você sobre isso também, Chester.

Aquilo me deixou extremamente preocupado. Eu estava tão focado na ideia de proteger Lucy que nem mesmo pensei em como ela se sente sobre isso.

– Tudo bem. - É só o que consigo dizer. Comemos o resto da refeição em silêncio até que Phillippa disse que está na hora das reprises. Nos dirigimos todos para os grandes sofás brancos de frente para uma enorme televisão de plasma que preenchia a parede inteira. Minha equipe de preparação foi dispensada restando na sala de estar eu, Lucy, Draven, Leslie, Gendry e Phillippa.

– Está tudo bem agora, Chester. Estamos entre amigos. Todos aqui estão comigo. - Olho pra ele apreensivo e concordo com um gesto de cabeça. Então a colheita tem início.

Ao contrário do distrito nove, o distrito um parecia que estava participando de um concurso de beleza. Pois os nomes foram anunciados e os novos tributos se direcionaram para o palco com sorrisos estampados em seus rostos. Uma garota loira de estatura baixa e um menino monstruoso com os cabelos cor de fogo agora estão lado a lado no palco. Os dois parecem não estar sofrendo por falta de comida, todos muito bem nutridos e fortes. Eles seguram as mãos e levantam no ar em um simbolismo de vitória.

– Tá brincando comigo. - Deixo escapar. - Eles estão adorando isso.

– Não gostei. - Começa Phillippa. - Eles nem mesmo estão assustados.

– O distrito um foi um dos primeiros a abandonar a rebelião. Não podemos excluir a possibilidade de estarem do lado da capital. - Gendry não desgruda os olhos da televisão.

No distrito dois a cena parece se repetir. Uma garota com os longos cabelos negros trançados para trás segura a mão de um garoto, também musculoso, no ar em simbolismo de vitória.

– O distrito 1 e o 2. Os primeiros a abandonar a arca. - Diz Leslie que se mantinha em silêncio desde então. - Aí tem coisa.

No distrito 3 não houve choros ou gritos, mas a preocupação estava estampada no rosto dos jovens sobre o palco. Uma garota baixa e rechonchuda apertava a mão de um garoto alto e magro com a pele cor de amêndoas.

– Eles não estão se sentindo tão vitoriosos. - Diz Draven levantando a mão para a televisão.

No distrito 4 a cena foi diferente. O casal sobe ao palco porém a única a erguer a mão para o alto foi a garota. Ao lado dela, um garoto alto, forte e sombrio com os cabelos negros repicados lhe invadindo a testa, apenas encarava a multidão sem expressão nenhuma.

– Distrito 4? - Me viro para Gendry. - Eles não nos abandonaram.

– Não sei, Chester. Mas alguma coisa não está certa.

No distrito 5 pessoas pareciam estar em transe. Acho que todos os outros distritos acenderam a esperança de que os Jogos Vorazes fossem apenas mais um trote da capital. Estávamos todos errados. O casal de jovens subiu ao palco deixando mães e pais desesperados entre a multidão. Foi quando chegamos no distrito 6. Onde uma linda menina ruiva aparentando ter seus 16 anos sobe ao palco, os olhos inchados pelo choro. Então o nome do garoto é chamado e o desespero estampado no rosto da menina é chocante. O garoto alto e musculoso a abraça e lhe dá um beijo, um longo beijo até serem separados pelos pacificadores.

– Isso já é azar de mais. - Diz Gendry erguendo o pé descalço sobre a mesa de centro.

No distrito 7 o nome, Nafftaly Lancaster é chamado e uma menina sobe ao palco. Aparentando ter 15 anos, os cabelos repicados e negros assim como os olhos, uma pele clara e uma postura decidida. Logo depois é chamado o nome Peter Lancaster e a postura da menina parece desabar. Um menininho de 12 anos sobe ao palco e abraça a garota às lágrimas. Gendry solta uma gargalhada e olha para mim.

– Isso não te parece familiar?

– Eles parecem a gente, Chester. - Diz Lucy se encolhendo sobre as almofadas.

– Eles são irmãos! - Digo indignado.

– Bela jogada Snow. Mas nada discreta. - Draven indaga.

– O que você quer dizer.

– Você realmente acha que na primeira edição dos Jogos Vorazes teríamos um casal apaixonado, dois casais de irmãos e pessoas se achando vitoriosas por estarem aqui?

– O que ele quer dizer. - Explica Phillippa. - É que a colheita foi inteiramente fraudada, Chester. Estão tentando fazer com que os Jogos sejam mais interessantes. - Levo as mãos a cabeça incrédulo.

– Mas eu me voluntariei. Não fui sorteado.

– Acredito que a capital saiba mais sobre você e sua família do que pensa, Chester. Talvez pelo fato de que seu pai era um dos líderes mais poderosos da rebelião. Eles sabiam que se Lucy fosse sorteada, ou você, ou Geremy se ofereceriam para ir com ela.

– Mas isso é...

– Desumano. - Gendry me corta. - Nós sabemos. Imagine o que aquela garota faria para tirar o irmãozinho vivo de lá. Ou aquele garotão apaixonado pela namorada. - Ele ergue minha cabeça pelo queixo me forçando a olhar em seus olhos verdes. - Ou você, Chester. O que faria para tirar Lucy viva daquela arena? - Sinto meus olhos se enchendo de lágrimas novamente.

– Qualquer coisa. - Respondo.

– Até mesmo matar, se fosse preciso? - Por um momento apenas fico em silêncio. E então confirmo com a cabeça. - Essa é a jogada da capital, Chester. Eles querem que a primeira edição seja um sucesso. Os distritos 1, 2 e 4, o casal do distrito 6, os irmãos do 7, você e Lucy. Todos vocês são as peças chaves da capital para que os Jogos Vorazes se tornem um sucesso. - Olho para Lucy que se encolhe entre as almofadas perplexa. Na televisão a colheita ainda continua. E de soslaio, me vejo correndo e driblando os pacificadores para chegar ao palco. - Precisamos da sua ajuda, Chester, para evitar que isso ocorra.

– E o que você quer que a gente faça? - Um ódio pela capital começou a brotar em meu peito. Quero ajudar Gendry e os outros. Custe o que custar, estou disposto a fazer qualquer coisa para destruir o joguinho do presidente Snow.

– O primeiro passo vai ser fazer amizades. - Ele começa. - Amizades fortes. Faça amizades do tipo que vocês jamais conseguiram viver sem aquelas pessoas na vida.

– E no que isso vai ajudar?

– Vamos mostrar para a capital que eles não podem transformar pessoas em máquinas de matar. - Ele se inclina para perto de mim. - Chester, se conseguirmos derrubar o sistema dos Jogos. Se eles notarem que isso jamais dará certo, irão suspender os próximos.

– Mas irão continuar com o nosso. - Aquilo fez Gendry meditar por um momento.

– Eu não sei o que vai acontecer quando a capital notar que as pessoas não vão tirar a vida das outras assim na arena. Mas é importante nos concentrarmos em fazer o que podemos no momento. - Ele se ajeita no sofá. - O sistema ainda é frágil, e quanto antes derrubarmos ele, melhor.