Coração de Vidro escrita por Karina A de Souza


Capítulo 28
Nós Teremos a Derrubado


Notas iniciais do capítulo

Oi!!!



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Eu acordei sentindo uma dor estranha no pulso. Me virei pro lado, vendo meu braço estendido, e uma serva mexendo nele, tirando algo com uma pinça. Loki segurava minha outra mão, a esquerda, sem tirar os olhos do que a mulher fazia. Meu pai e Thor estavam mais afastados.
—O que é isso?-Perguntei, me sentindo tonta.
—Vamos descobrir quando a curandeira tirar isso de você. -Loki respondeu.
—Consegui. -A mulher murmurou, colocando algo num potinho transparente. Os deuses e meu pai se aproximaram para ver. -Jamais vi algo assim, o que é? É de Midgard, não?
—Midgardiano, com certeza.
—O que é isso aí?-Perguntei, tentando sentar, sem conseguir.
—Não sei.
—Um chip, eu acho. -Meu pai disse. -E é da SHIELD
—Quando colocaram isso em mim?-Murmurei, pensativa.-Eu não lembro.
—Eles provavelmente deram um jeito nisso.
—E o que essa coisa faz?
—Não sei. Não faço ideia.
***
Loki parou de me dar aulas. As que envolviam lutas e afins, eram dadas por Sif. Já Runas, costumes e essas coisas, Frigga começou a me ensinar. Não era tão ruim.
Sif chamou os Três Guerreiros pra aula, e eu lutei com todos eles, não ganhei, mas tudo bem, foi legal. Tudo bem que teve um que ficou me cantando, mas ok. Sif disse que Fandral era assim mesmo.
As aulas com Frigga também foram legais. Ela era uma boa professora, uma gentil e atenciosa. Isso só me fez gostar ainda mais dela. Infelizmente, Frigga e eu tivemos um momento de tensão.
—Avery, eu gostaria de conversar com você. -Ela disse, me fazendo sentar ao seu lado.
—Pode dizer.
—Acho que agora que está vivendo em Asgard, sem previsão de retorno à Midgard, tem que viver como Asgardiana.
—Eu vivo como uma. Visto as roupas, participo das festas... Leio as Runas... Falo até Midgard em vez de Terra. Não entendo como posso ser mais... Asgardiana.
—Avery, você sabe como são feitas as negociações de casamento?
—Então era isso?-Me levantei. -Sem querer ser desrespeitosa, Frigga, mas eu não quero me casar com Loki, e não quero falar sobre isso. Por favor, é melhor assim.
—Um dia teremos que falar sobre isso.
—Não agora, por favor. Se me permite, eu quero descansar um pouco, antes das outras aulas de Sif.
—Tudo bem, vá.
Meio que essa conversa me deixou chateada. Achava que Frigga entendia como eu me sentia, mas talvez estivesse errada. Ela queria o melhor pro filho, apenas isso, mas eu tinha medo.
Passei em frente ao quarto de Loki, e decidi falar com ele. Queria contar sobre meu dia. Bati na porta e entrei. O deus estava sentado na cama, de costas pra mim, com algo em mãos. A réplica do Coração de Vidro. O fez desaparecer assim que me viu.
—Posso entrar?-Perguntei.
—Claro.
—Você parece... Triste.-Me abaixei na frente dele, uma das mãos apoiada em seu joelho.- Algo errado?
—Não. Estou apenas pensando.
—Em que?
—Coisas incompartilháveis. Parece cansada.
—Foi um dia cheio. Sif me fez treinar muito. Ela me fez usar uma espada super pesada, aí quando mais eu lutava, menos ela pesava. Foi muito legal, eu achei que era magia, mas ela disse que eu apenas me acostumei com o peso. E algumas aulas eu tive com a sua mãe. Ela é uma boa professora.
—Ela é, sim.
—O que foi, Loki? Não está sorrindo hoje. -Toquei seu rosto, o deus tirou minha mão dele, a segurando com força, porém sem machucar.-Eu fiz alguma coisa?
—Não.
—Então o que aconteceu? Não tem sorrido ironicamente, nem de um jeito debochado. Se bem que seu sorriso verdadeiro é mais bonito. -Deu um sorriso pequeno. -É só o que ganho?
—É tudo o que posso te dar no momento. -Me sentei ao lado dele.
—Aconteceu alguma coisa, não foi? É só me dizer quem foi. Eu meto uma estaca de vidro na testa da criatura, não importa de que mundo seja!
—Avery, está tudo bem, eu já disse.
—Está me deixando preocupada. Vamos lá, deus da trapaça, se anime. Estou contente com meu progresso!
—Parabéns. Você merece.
—Loki, o que aconteceu? Sério, não me faça parecer um disco arranhado! O que houve?
—Nada. Tem... Apenas algumas coisas me incomodando.
—Tipo...?
—Aí já quer saber demais.
—Loki, eu...
—Avery!-Sif gritou. -Avery, onde você está?-Suspirei.
—Droga. Preciso ir, tenho mais algumas aulas com ela.
—Boa sorte. -O deus disse. -Vai precisar.
Saí sorrateiramente do quarto de Loki, tentando escapar sem ser pega saindo dali. Mas quando menos esperei, alguém limpou a garganta atrás de mim. Me virei e encontrei Sif de braços cruzados e expressão firme.
—Saiu do quarto de Loki?
—Estava me procurando?-Retruquei. -Vamos, temos muito o que fazer...
—Avery...
—Vamos logo!
Naquela noite, no jantar, haviam muitas conversas paralelas. Loki foi o último a chegar, então sentou-se ao meu lado, sem olhar pra mim. Tinha algo errado ali, eu sabia que tinha.
***
Uma das servas veio me dizer que eu estava sendo chamada com urgência na entrada do Palácio. Sem entender nada, eu larguei o livro que estava lendo e corri pro local indicado. Dei de cara com todos os Vingadores, que conversavam entre si, apontando.
—Quem chamou vocês aqui?-Perguntei.
—Nossa, nós não somos bem vindos?-Tony zombou. -E aí?
—Thor, por que os trouxe?
—Loki me pediu. -O deus respondeu, dando de ombros. -Ainda não sei por quê.
—Então vamos descobrir.
O deus da trapaça estava em uma grande sala de reunião. Atrás dele, de pé, estava Frigga, que olhava tudo atentamente. O que estava rolando? Quando todos nos sentamos, Loki começou a falar.
—Chamei vocês aqui, porque serão necessários para meu plano.
—Não vamos ajudá-lo a invadir a Terra. -Steve alertou.
—Não estou falando disso. Estou falando sobre o tal Conselho.
—O que tem o Conselho?-Perguntei, confusa.
—Você não pode voltar à Midgard, e isso é injusto. Deve poder voltar para lá quando quiser.
—E você tem um plano?
—Tenho. Se ameaçarmos derrubar a tal... A...
—A...?
—A organização...
—SHIELD.
—Isso. Se ameaçarmos derrubar a SHIELD, caso não permitam sua ida à Midgard... Tudo se resolve.
—Podemos roubar as informações. -Tony disse, entre animado e pensativo. -E coisas importantes. A SHIELD já era se não colaborar com a gente!
—Isso é perigoso. -Clint disse. -Podemos acabar em guerra com eles.
—Ganharemos, -Loki começou. -com o exército de Asgard ao nosso lado. -Olhei para Frigga, ela apenas sorriu. -Então, posso contar com vocês?
—Pode. -Bruce disse, todos assentiram.
Tudo durou um mês. Tony e Bruce conseguiram invadir os milhares de computadores e arquivos da SHIELD, pegando tudo o que precisávamos (tudo mesmo, não havia nada que eles não pegaram), sem que eles soubessem.
Natasha, Clint e Steve, que passavam mais tempo na base, conseguiram pegar armas e artefatos que se caíssem nas mãos erradas, ferraria a vida de todo mundo. Não podia haver furos nos planos.
—A SHIELD não é perfeita. -Tony disse, lendo alguns arquivos, enquanto eu estava sentada num balcão. -E usaremos isso.
—Eu vi uns arquivos sobre os agentes... -Comecei. -... E sobre a Nath e... Acho que os nossos “aliados” nós podemos... Deixar de lado.
—Tá brincando? Podemos decifrar a russa.
—Apague os arquivos sobre ela.
—Nem pensar.
—Tony! Eu vou contar pra ela!-Saltei do balcão e comecei a mexer no computador. -Cadê aquela pasta...
—Avery Dhenings, tire suas mãos daí!
—Natasha Romanoff, aqui, achei. Pronto, excluído. -Mostrei a língua pra ele. -Não podemos nos meter nos segredos da Nath, ela é nossa amiga.
—Garota irritante. Olha, Fury. -Me mostrou os arquivos no tablet que segurava. Todos os aparelhos estavam rodando os arquivos. -Tem muita coisa aqui. Wou, isso foi interessante.
—Me deixa ver.
—Eu primeiro. Nossa, se você souber quando anos Fury tem... Desmaia. Ele tem...
—Senhor. -JARVIS interrompeu. -Todos os arquivos já foram copiados com sucesso. Mais alguma coisa?
—Não. Acho que já acabamos. Só falta esfregar na cara da SHIELD
—E eu já até sei como fazer isso. -Avisei.
—Se a SHIELD cair, seremos nós quem a derrubamos.
***
—Eu vou até eles. -Avisei.
—Você ficou louca?-Natasha perguntou, estávamos todos reunidos na sala da Torre, incluindo Loki.
—Posso fazer isso. Eu não fiz nada até agora. Vocês roubaram armas, copiaram arquivos, além de terem apagado definitivamente arquivos dos computadores SHIELD. É a minha vez de fazer alguma coisa.
—Não é seguro. -Bruce disse. -Pense bem no que está fazendo.
—Eu vou, e ponto final. Apenas tenho que entrar quando Fury estiver com o Conselho. Eles terão uma surpresinha.
Natasha e Clint conseguiram me colocar pra dentro da base sem que ninguém visse. De acordo com Hill, Nick Fury estava super ocupado com o Conselho, e por isso não podia ser interrompido. Era o momento perfeito.
Entrei na mesma sala em que fui ameaçada da última vez, ficando contente em ver a cara de Fury e o grande desgosto das pessoas sem rosto. Cruzei os braços, sorrindo.
—Oi, gente, vim conversar com vocês.
—Avery Dhenings. -Uma das vozes masculinas disse. Eu considerava-o líder deles. -Então se atreveu a voltar.
—A Terra é meu lar, eu posso voltar quando quiser.
—Não, não pode. Uma inimiga...
—Não sou inimiga de vocês. E fica quietinho que quem fala aqui é eu.
—Atrevida. -A mulher murmurou. Meu sorriso aumentou.
—Seguinte: eu quero voltar pra Terra quando quiser. E vocês vão retirar esse... Aviso de que eu sou inimiga da Terra. Loki não vai mais fazer nada, e eu jamais faria. Tudo bem?
—Claro que não. Por que faríamos isso?
—Estava esperando essa pergunta! Sabe os arquivos importantes de vocês? E aquelas armas na sala 9D? Então... Tudo está... Com a gente.
—Quem?-O “líder” perguntou.
—Dei o nome de Deuses Vingadores. Uma equipe de resposta ao Conselho. As informações podem vazar caso não colaborem, sem esquecer de que as armas podem parar em mãos inimigas. Sei que a SHIELD tem uma organização inimiga que ficaria contente em ter armas poderosas para dominar a Terra. O que acham disso?
—Você não ousaria.
—Não sabe do que sou capaz pra conseguir meu direito de ir e vir. Vão colaborar?-A porta abriu. Um homem, cujo rosto eu não conseguia ver, ergueu uma arma, apontando pra mim. Então, ele caiu no chão, com uma bala na cabeça. Me virei a tempo de ver Fury guardar uma arma.
—Diretor Fury...
—Avery tem o direito dela. -Nick interrompeu. -Ela pode ir e vir, como quiser. Não é inimiga da SHIELD, e muito menos da Terra. Tem o que quer.
—Obrigada. -Agradeci.
—É isso, Conselheiros. -E desligou as telas. Eu estava surpresa.
—Isso é sério? Não vai me matar?
—Não. Eu nunca concordei com o Conselho. Eles só tomam decisões idiotas.
—Obrigada, de verdade, diretor Fury.
—De nada. Agora poderia devolver as armas roubadas?-Sorri.
—Vou ver com meus companheiros e aí traremos de volta. -Fui pra porta. -Ah, não brigue com os Vingadores, ok? Eles só queriam me ajudar. E agora que nos acertamos, eu vou lutar pela Terra, se for preciso.
—É bom saber que nossa equipe de resposta tem você como integrante novamente.
—Pode contar comigo.
***
O problema com o Conselho havia sido resolvido, porém, havia outro, levemente maior. Meu pai ia voltar a Terra, agora que não havia perigo algum, e queria que eu fosse com ele.
O que eu faria? Permaneceria em Asgard, ou voltaria pra casa? Não sabia o que pensar sobre isso. Meu pai voltou, sentia falta da Terra, por mais que tivesse gostado de Asgard. Isso estava dificultando a minha decisão.
Naquele dia, eu estava na frente da janela, pensando no que faria, quando bateram na porta. Nem me movi.
—Pode entrar.
—Não atrapalho?-Loki perguntou, se aproximando. Senti a respiração dele no meu pescoço.
—Não. Eu só... Estava pensando.
—Imagino que seja sobre... Voltar para casa ou não. Estou certo?
—Está. Eu acho que vou voltar.
—Não pode fazer isso.
—Eu posso. A escolha é minha. Loki, pai está lá, meus amigos... Eu preciso ir.
—E eu? Eu também preciso de você. Case-se comigo, e seja minha salvação. -Fechei os olhos.
—Tenho que ir.
—Eu não vou deixar. Não vai sair de Asgard.
—Você não manda em mim. Eu preciso ir, e eu vou.
—Avery...
—Para isso, droga!-Me virei. -Eu... Você só dificulta... Está me deixando confusa.
—Me ouça...
—Não!
Me afastei dele e saí correndo, segurando a saia do vestido com as mãos. Cheguei ao jardim, onde me sentei no chão, atrás de uma árvore, chorando.
Ir embora ou ficar? Eu não sabia o que fazer, talvez devesse ter deixado as coisas como estavam, mas a verdade é que com o decorrer do tempo, eu sentiria falta, mas falta ainda, da Terra.
—Por que está chorando?-Sif perguntou, sentando-se na minha frente, olhei pra ela.
—Eu não sei o que fazer.
—Isso é sobre Loki?
—Também. Eu não sei se volto pra Terra, se fico aqui... Meus amigos, meu pai... Estão lá. E Loki quer que eu me case com ele.
—Entendo. Avery... Loki viverá para sempre, você sabe disso. Por mais que você viva um pouco mais, não chegará perto do que ele viverá...
—É como namorar um vampiro.
—... Isso não será bom. Vai se destacar enquanto o tempo passa. Não quero expulsá-la daqui, mas se ir para a Terra, viver ao lado dos que lá te esperam... Sua vida será bem melhor. Mas é a sua escolha. Espero que decida o melhor. Não se deixe influenciar.
—Você é boa em conselhos. -Deu de ombros.
—Também estou surpresa. Boa sorte. Preciso ir treinar. -Bateu de leve no meu ombro e levantou, sumindo da minha linha de visão.
Me encostei na árvore. Quanto mais pensava, menos sabia o que fazer. Nenhuma decisão era fácil, mas essa... Parecia terrível. Acabei pegando no sono. Quando acordei, me assustei. Não estava mais no jardim de Asgard, estava num quarto pequeno. Olhei pela janela, em volta da casa, apenas árvores.
Abri a porta e saí, Loki estava na sala, lendo um livro. Comecei a juntar as peças... O que apenas me deixou furiosa.
—Você... Me... Sequestrou?-Perguntei. O deus largou o livro e se aproximou de mim.
—Avery... Eu não posso deixá-la ir...
—Eu... Vou... Matar você. Não podia fazer isso! Até quando pretende me prender aqui? Até eu morrer?
—Se for preciso, sim. -Fechei as mãos em punho, tentando acertá-lo. Loki segurou meus pulsos.
—Avery, pare...
—Eu vou odiar você, Loki! Vou odiá-lo se fizer isso! E esse ódio não vai passar!
—Avery, por favor, me ouça...
—Não!
—Avery!-Ele conseguiu me colocar contra a parede, sem me soltar. Não conseguia acertá-lo dessa forma. -Não posso deixar você ir. Não posso fazer isso.
—E por quê?
—Precisa mesmo de uma resposta?
Eu ia insistir e dizer que sim, mas o deus foi mais rápido, trazendo os lábios até os meus. Esqueci toda a raiva e o fato de ter me sequestrado, e correspondi. "Avery, você tem que pensar com a cabeça, não com o corpo". Talvez eu devesse ter ouvido Natasha, mas naquele momento, eu não queria nem pensar no conselho dela.
Loki me puxou de volta para o quarto de onde eu saí, e me deitou na cama com cuidado. Adeus conselhos da Nath, adeus... Esqueçam...
—A gente devia mesmo estar fazendo isso?-Perguntei.
—Só se quiser.
—Eu... Quero. -Ele sorriu e se abaixou pra me beijar de novo. -Posso pedir uma coisa?
—Sim.
—Faça ser especial.
***
Eu estava entrando no Palácio quando guardas passaram por mim, arrastando um homem que gritava, furioso. Apenas ignorei, mas ouvi ele dizer meu nome.
—Espera, o que disse?-Os guardas pararam. Agora o homem sorria.
—Eu disse que você é a tal Avery.
—Como sabe sobre mim?
—Quem não sabe sobre a Midgardiana que o Príncipe Loki seduziu?
—O que?
—Não achei que seu povo fosse tão idiota.
—O que quer dizer com...
—Você sabe. Está enganando-a. Ele precisa do Coração de Vidro.
—E por que eu acreditaria em você?
—E por que acreditaria no deus da trapaça? Ele precisa dessa coisa aí que você tem. Ele quer dominar Asgard e qualquer outro lugarzinho que puder. Loki está enganando você. Loki gosta de poder. Nada o faria mudar de ideia.
Eu simplesmente não conseguia falar mais nada. Os guardas voltaram a levar o homem, que ainda falava comigo, mas eu não o ouvia mais.
Havia me esquecido do real Loki, do que tinha invadido a Terra, tentando dominar todos nós, tentando nos controlar. Esqueci das coisas que disse, das coisas que fez. Esqueci do quanto queria o Coração de Vidro.
"-Você é filha dele, deve saber onde ele está.
—Não o vejo faz seis anos. Por que está atrás dele?
—Como todos, estou atrás do Coração de Vidro."
Como pude esquecer? Dos gritos, das ameaças, das mortes? Estava tudo tão óbvio, mas se aquele homem não tivesse dito, eu jamais teria me lembrado. Loki conseguiu me enganar direitinho, e eu caí.
Ele conseguiu enganar até mesmo Frigga. Preferia pensar nisso, e não que ela estava ajudando-o a me enganar. Eu era apenas uma humana, e Loki, o filho dela. Ela não teria mentido esse tempo todo também, teria?
Saí correndo, um guarda me chamou, mas eu o ignorei. Não sabia pra onde ia, apenas entrei na floresta, sem olhar pra trás. Nunca havia ido ali sozinha, apenas com Loki, quando íamos para as festas.
O vestido engatou em um galho, o que me fez cair no chão, bati a cabeça, e apaguei.
Quando acordei, já era noite. Me sentei, sentindo o rosto ser molhado por lágrimas. Me encostei em uma árvore e fiz um quadrado de vidro grande o suficiente pra mim ficar dentro dele de pé.
Não se passou muito tempo, até eu ouvir passos. Saí da minha proteção e olhei em volta, andando um pouco. Alguma coisa atingiu minha cabeça, me mandando pro chão. Tudo tinha sido muito rápido.
***
Sabe aquele momento em que você sabe que está completamente ferrado? Então, eu sabia que estava completamente ferrada.
Eu não tinha sido pega por Asgardianos ou qualquer outra coisa. Eu tinha sido pega por Elfos Negros. Se tivesse sorte, sairia com apenas muitos machucados. Se tivesse azar, o que eu sempre tinha, sairia morta.
—Sabemos que é a queridinha de Asgard, Avery. -O que eu achei que era líder, disse. -E que algo muito poderoso está com você.
—Eu... Não entendi.
—O Coração de Vidro. -Engoli seco. Droga.
—Eu... Não o tenho mais. Entreguei para Loki.
—Não acreditamos em você.
—Mas é verdade. Ele me enganou. -Os outros Elfos trocaram olhares desconfiados. - Eu juro. O entreguei, mas... Foi um erro, eu sei. Quem é você?
—Malekith.
—Ótimo. Malekith, eu ajudaria. Tenho raiva dos Asgardianos. Eles mentiram pra mim, me engaram. Ajudaria se pudesse, mas não tenho o Coração de Vidro, não mais. -Ele se virou e falou com os outros, eu não sabia o suficiente do idioma pra entender a conversa. Apenas as palavras “mentirosa”, “morte”, “tortura”. Isso não parecia bom.
—Você tem sorte, Avery de Midgard. Mas não muito. Não a mataremos, mas vamos deixá-la pensar nas suas próximas escolhas. Levem ela daqui.
—Não, espera!-Dois Elfos me ergueram, me tirando dali. Eu não podia usar o Coração de Vidro, eles não sabiam que ele estava no meu peito e me abririam se soubessem. Eu tinha que usar isso contra eles.
Os dias passaram. Eu fiquei presa tanto tempo que não sabia informar quando tempo se passou. A comida era horrível, e se eu comesse mais do que comia, iria colocar tudo pra fora. Aquilo não era comida de gente!
O que me pareceu uma eternidade depois, dois Elfos apareceram. Eu nem me levantei, apenas movendo os olhos para acompanhar o caminho deles. Me levantaram. Parece que eu ia ver Malekith de novo.
Me fizeram ajoelhar diante dele, como da última vez. Eu precisava de um plano, e tinha que ser rápido.
—E então, Midgardiana, o que tem para nós?-Malekith perguntou.
—Você quer o Coração de Vidro?
—Quero. -Estendi os braços, juntando as mãos. Outra réplica do Coração de Vidro começou a se formar. Malekith se aproximou, admirado. Os Elfos em volta deram um passo pra frente.
—Ele é todo seu. Não queria? Pegue-o. -Com cuidado, ele tirou a réplica das minhas mãos, então se afastou.
—Finalmente. Foi mais fácil do que esperava. Acho que já posso me livrar de você.
—O que?-Um Elfo me fez levantar, enquanto outro erguia uma espada. -Não pode me matar! Eu... Acabei de... Entregar o Coração de Vidro a você!
—Eu sei disso, criatura inferior. Matem-na.
—Você não pode!
—É claro que eu posso.
O Elfo fez o movimento, ia me acertar. Fechei os olhos, tentando me transformar, sem conseguir. Então, um som alto fez todo mundo parar. Abri os olhos. Mjolnir tinha feito o Elfo cair longe.
Um caos se iniciou. Havia apenas luta em todos os cantos, barulho de espadas ao mesmo tempo em que o som de gritos se erguia no ar. Eu estava perdida.
Tentei me transformar em vidro, nada. O que estava acontecendo? Será que ficar dias e dias fraca, sem me alimentar, impedia a transformação?
Escutei alguém gritar meu nome, mas logo o resto da frase se perdeu. Um soldado Asgardiano caiu ao meu lado, morto. Me abaixei ao lado dele, pretendendo pegar sua espada, quando uma sombra cresceu acima de mim. Erguia a cabeça. Era um o dos Elfos.
—Não... Podemos conversar pacificamente?-Perguntei, foi bem quando ele atacou.
Foi muito rápido. O Elfo descendo a espada, então algo se jogando na minha frente. Esse “algo” caiu no chão, quase em cima de mim. Um grito se formou na minha garganta. Loki. O Elfo desgraçado foi atingido, mas eu não estava prestando atenção.
—Loki?-Sussurrei. -Pode me ouvir?-Ele fez que sim. -Por que fez isso?
—Eu... -Seu olhar ficou distante. Meu coração acelerou, medo.
—Você...? Continua. Loki... por favor, continua. -Thor se abaixou do outro lado do deus da trapaça. -Por que ele... Não fala?
—Ele está morto. -Respondeu, eu podia ver lágrimas se formando. Precisava me tornar de vidro antes que fosse tarde. Tinha que trazê-lo de volta.
Ele tinha me enganado, ok, mas eu não podia deixá-lo morrer, jamais me perdoaria se deixasse. Iria me odiar pra sempre. Não pude salvar Lally, e precisava fazer isso.
—Vamos. -Sussurrei, tentando virar de vidro. -Vamos, Avery, você consegue. Vamos...
—É tarde. -Thor bateu de leve no meu ombro e levantou. Eu precisava de lágrimas de vidro, não lágrimas humanas.
—Não, eu consigo. Eu preciso fazer isso. Preciso...
—Avery...
—Vamos, vamos. Por favor... -Fechei os olhos, o vidro tomou conta de mim. Me debrucei sobre Loki, deixando as lágrimas caírem nele. Reabri os olhos, Loki fez o mesmo.
—Você conseguiu! Você conseguiu!-Thor ergueu o irmão e eu, quase nos esmagando em um abraço.
—Ei!
—Thor, me larga!-Loki mandou ,o loiro fez de conta que não ouviu.
—Você vai me esmagar!
—Desculpe. -Pediu, se afastando. Eu olhei uma vez em volta, então tudo escureceu.
***
Eu estava voltando pra Terra. Me despedi apenas de Frigga, Thor, Sif e os Três Guerreiros. Odin ficou sabendo da minha partida, e com certeza ficou feliz, ele queria me ver longe, bem longe.
Preferi ir sozinha à Bifrost. Troquei poucas palavras com Heimdall, e então fui. Eu sabia que as coisas não seriam muito boas a partir daquele dia.
Como meu pai morava na Torre Stark agora, eu fiquei por lá mesmo. Já estava acostumada com a zona que tudo podia se formar quando todos os Vingadores se reuniam, ainda mais quando era a hora do jantar.
Os dias passaram. Mais do que nunca eu fiz objetos de vidro, olhava apenas alguns segundos, então os jogava na parede. Acontecia muito com elmos com chifres e corações.
Naquele dia, a Torre estava quase vazia. Meu pai e Bruce haviam saído para comprar novos “brinquedinhos” para o laboratório, e o resto do pessoal... Bem, eu nem sabia.
Estava encostada na sacada, sem realmente ver alguma coisa, quando alguém parou ao meu lado. Apenas virei a cabeça, Tony segurava um copo cheio de bebida.
—Que é?-Perguntei.
—O deus rena fez alguma coisa, não fez? O seu inocente pai não desconfia, apenas acha que você veio por vir, mas... A maioria de nós sabe que algo aconteceu.
—Isso é apenas da minha conta.
—É, eu acho que a coisa foi feia. Precisamos esperar Thor voltar pra Terra?-Suspirei.
—Eu não quero falar sobre isso com você.
—Tudo bem, respeito sua decisão. -Se virou. -Natasha, vem aqui! Avery tem algo pra te contar!
—O que? Eu não... -Natasha apareceu, com as mãos na cintura. Tony acenou e saiu, indo pro elevador. -Eu mato esse... Enlatadinho.
—O que tem pra me contar?-A ruiva perguntou.
—Nada.
—Tony tem razão? Loki fez alguma coisa, não fez?
—Fez. -Olhei pras pessoas lá embaixo. A vida delas parecia melhor que a minha.
—O que ele fez? Clint quer meter uma flecha no olho dele, e parece que conseguimos uma deixa.
—Nath...
—Vai falar ou não?
—Ele mentiu. Esse tempo todo. Achei que gostasse de, mas... Eu estava enganada.
—Pelo menos você descobriu em tempo.
—Não. Eu não... Descobri...
—O que quer dizer com isso?
—Que eu pensei com o corpo, não com a cabeça. -Ela xingou em russo.
—Você... Não fez isso.
—Eu fiz.
—Avery! Seu pai vai matar você.
—Ele não precisa saber. Eu não preciso contar. E se você fechar a boca... Nada vai acontecer. Não é?
—Eu sei guardar segredo.
—Obrigada. Você é uma grande amiga, Nath, mesmo.
—Se precisar de ajuda, em algum momento, para torturar Loki, eu a ajudo. Ainda não me esqueci do... “vadia imunda”.
—Wou. Você guarda as coisas, né?
—Não tem ideia.


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Notas finais do capítulo

Não matem a tia!!!
No próximo Cap...
"-Quem vai me treinar?-Perguntei.
—Não sei,Avery.
—O Steve está ocupado,ele não pode.
—Eu sei.
—E o Guilhermo também.
—Eu sei disso.
—E a Mandy...
—Avery,pode por favor parar de falar?-Ela se virou.-Eu estou ocupada,Fury quer um monte de relatórios e..."
...
"-Loki Laufeyson!
—Gostaria que não gritasse.
—Você...não pode me sequestrar!-Estávamos nos afastando do hotel,eu só podia ouvir a música.-Socorro! Thor! Tony! Steve! Alguém!
—O que eu te fiz? Por que foi embora de Asgard? Nem se despediu de mim!
—Ah,você é muito cara de pau,Loki! Muito!"
...
"-Natasha sugeriu que eu te convidasse pra dar uma volta.
—Ah,sugeriu?
Eu conseguia imaginar exatamente a cena.Natasha pegando a Glock e colocando contra a cabeça do pobre Manson,dizendo que ele deveria me chamar pra sair,ou ela atirava nele,dez vezes.Coitado."
Se preparem, por que aí vem uma treta gigantesca!!! Um novo monstro será despertado, e um dos Vingadores será preso!!! Prepara! Não, não é o show das poderosas, gente...
Bjs!



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