Off with her Head escrita por Ghost Writer


Capítulo 8
Casório em fuga - Parte 2


Notas iniciais do capítulo

Ano 4 e 5 - 1787/88

(P.S: O capítulo conta o decorrer destes dois anos).
(P.P.S: Os personagens Maximilien, Robespierre e "Max" são a mesma pessoa, não pire nem se confunda!)



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Desabei na cama ao lado de Edmontine, que estava ofegante com os cabelos roxos totalmente encharcados e espalhados na cama. Estávamos os dois olhando para o teto com expressão descrente. Começou a me encarar com seus cintilantes olhos azuis e logo depois sorriu com os dentes a mostra. Eu ainda estava meio perplexo, mas muito contente por termos feito amor. Aproximou-se de meu rosto e beijou, mas logo após desabou sob meu peito, exausta.

–Isso foi fantástico- sussurrou em meu peito- Deveríamos ter feito isto antes.

–Concordo plenamente- respondi rindo, beijando o topo de sua cabeça.

–Ainda não acredito que vamos finalmente nos casar- disse Edmontine, esticando o braço e analisando o anel em seu dedo- Mas preciso sair daqui antes do amanhecer, se não...

–Vou resolver isto com um amigo meu da frente revolucionista- disse olhando para o teto.

–Quem é este tal amigo de que tanto fala?- perguntou sorrindo.

–Um amigo advogado, nas reuniões o chamam de O Incorruptível*– disse de maneira galante.

–Certo, melhor ir logo mon chéri– disse Edmontine, me empurrando da cama. Eu assenti rindo e levantei-me, indo em direção às minhas roupas jogadas no chão. Olhei por cima do ombro enquanto vestia minhas calças e tive a última visão de Edmontine completamente nua. Dei um sorriso torto e ela se cobriu com os lençóis de sua cama, puxando todos e abraçando o emaranhado de tecidos macios, suspirou sorridente.

–Posso levar?- perguntou de olhos fechados- Eu durmo nesses lençóis desde pequena, são tão aconchegantes- abraçou ainda mais suas cobertas.

–Se conseguir uma mala grande o bastante- disse rindo- Mas só poderá levar no máximo quatro malas, não podemos ter excesso de bagagens.

–Certo!- respondeu toda entusiasmada, levantando na cama com os lençóis nos braços.

Edmontine os dobrou e colocou em uma mala do tamanho ideal. Ao fechar a mala, foi em minha direção e passou reto, agachando-se e pegando meu casaco jogado no chão. O estendeu e o vestiu, fechando todos os botões, parecendo uma militar. Pegou o espeto do suporte de utensílios para lareira e ergueu bravamente com expressão destemida.

Liberté, égalité, fraternité ou La mort!*– exclamou de peito erguido e com a perna direita em cima da banqueta de sua penteadeira.

–Viva!- exclamei levantando os braços- Edmontine de Bourbon, exterminadora da tirania francesa!

Ela sorriu com os dentes à mostra feito uma criança. Por mais que gostasse de estar com ela naquele momento, não arriscaria perde-la nem por um segundo. Beijei sua testa, abotoei minha blusa rapidamente e saí avoado do palácio direto para o estábulo real. Peguei um cavalo qualquer, coloquei uma cela e cavalguei o mais rápido possível para me encontrar com Robespierre.

Chegando à cidade, fui direto para onde a fraternidade dos revolucionistas se reuniam. Clamei logo o nome de Maximilien, batendo a porta contra a parede; desceu as escadas apressado e um pouco assustado.

–James, o que houve?- perguntou com certo desespero na voz.

–Preciso de sua ajuda, preciso salvar uma pessoa do Palácio- disse ofegante.

–Uma criada parente sua ou algo do tipo?- perguntou diante a mim.

–Não, não, preciso tirar Edmontine de lá o quanto antes- respondi sério.

–Uma Bourbon?!- exclamaram todos do segundo andar juntamente com Robespierre, seguido por xingamentos e ameaças tanto a mim quanto à Edmontine.

–Senhores!- esbravejei subindo as escadas e passando reto por Max- A princesa Edmontine Bourbon filha de sua alteza Maria Antonieta não está contra nós!

Todos me olharam pasmos, em seguida se entreolharam descrentes, tinha de convencê-los que Edmontine estava de fato trabalhando para abolir a tirania de sua família ou então seria uma das primeiras a serem assassinadas no projeto do terror jacobino.

–Como a própria me disse hoje; liberdade, igualdade e fraternidade... Ou a morte!- exclamei colocando ênfase total nas últimas palavras e a mesa que, durante alguns segundo ficou em silêncio, logo esbravejara um grito de vitória, erguendo seus canecos de bebida e brindando ao novo grito de guerra elaborado por uma Bourbon autêntica.

–E então- chegou Max por trás, sussurrando em meu ombro- Como faremos e quando faremos?

–Hoje de madrugada, iremos chegar em uma carroça simples de camponês e esconder Edmontine no meio de pilhas de feno. Ela trará bagagem, três malas de seus pertences mais preciosos pessoalmente e uma repleta de joias... - Max me interrompeu.

–E porque diabos ela viria com uma mala repleta de joias? Deseja ser roubada?- disse Max sarcasticamente.

–Ela teve a ideia de agir tal como Robin Hood, o ladrão que rouba dos ricos para distribuir aos pobres- respondi com um sorriso meia boca para Max, que estava chocado.

–Tenho que ir a mais funerais de parentes militares- disse atazanando-me- Preciso conhecer uma princesa dessas; ela tem alguma irmã?- perguntou ajeitando sua peruca branca.

–Sim, mas é uma louca varrida, vocês iriam combinar- disse gargalhando, referindo-me a Abigail- Agora temos que correr, arranje a carroça e esteja no Palácio até uma hora e meia da manhã, passando disto poderemos ser vistos.

Max assentiu com a cabeça e saiu avoado pela porta da rua. Cumprimentei os membros da fraternidade e saí apressado para chegar ao Palácio e contar a Edmontine sobre nosso plano para tirá-la daquela prisão luxuosa qual viveu sua vida toda. Era incrível e ao mesmo tempo incomum que uma pessoa decide se desfazer de tudo que conhece para ter uma vida completamente diferente; mas suponho que tudo isso seja por amor. Tanto por mim, quanto por sua aclamada liberdade.

Era meia noite. Max já estava a postos com a carroça camponesa nos fundos do jardim real, meu coração estava na boca. E se tudo que planejamos nunca fosse realizado? E se o plano que armei tão meticulosamente fosse insuficiente para salvar minha amada? E se... Não há tempo para arquitetar um novo plano, a hora é agora e não tem como voltar atrás. Fui até o portão principal como sempre para entrar mas dois guardas que o escoltavam me impediram de fazê-lo.

–Boa noite senhores- perguntei em postura militar e olhar severo- Poderiam me deixar entrar?

–Não senhor, general Buttenbender, ordens da Rainha- respondeu um dos soldados.

–E que ordens são essas que não permitem a entrada de um convidado do Rei de anos entrar no palácio?- desesperei-me silenciosamente.

–Ordens da Rainha restringem sua entrada general, peço-lhe que se retire.

Saí com a alma em chamas de fúria e me direcionei à porta dos fundos da cozinha e me deparei com Beth lavando a louça fina de porcelana. Chamei sua atenção discretamente.

Pssh!- fiz um som com a boca.

–James!- sussurrou sorrindo e ao mesmo tempo com uma expressão desgastada- O que faz aqui? A Rainha lhe proibiu... - eu a interrompi.

–Faça-me um favor Beth, avise Edmontine que eu a espera logo abaixo de sua janela.

–Então vocês vão mesmo se casar?- perguntou entusiasmada.

–Ela lhe contou não?- respondi corando as bochechas.

–Ela me conta tudo mon cher, já até me pediu o bolo- disse rindo- Leve-a para uma vida melhor longe desta tirania certo? Uma vida de verdade.

–Juro que mandarei busca-la junto a Josefina assim que a poeira baixar... Você pode cuidar de minha irmã?

–Vou criar Josefina assim como criei Edmontine- disse sorrindo com os olhos repletos de lágrimas; se aproximou e me abraçou forte- Cuide da minha menininha.

Despedi-me dolorosamente e voltei para o lado de fora, indo em direção à janela de minha amada. Estava aflito com toda aquela situação; será que Maria Antonieta descobrira meu plano de impedir o casamento entre Edmontine com outro homem? Se não, ao menos pensara nisto e assim, bloqueou minha entrada no palácio. Meu desespero logo se tornara em serenidade ao ver o rosto de Edmontine pela janela, curiosamente vestida de criada (provavelmente um disfarce). Ela jogou vários lençóis amarrados uns nos outros e me jogou suas malas do alto. Quando começou a descer, ouvimos gritos dos guardas desesperados em nossa procura, o que espantou Edmontine de tal modo que a fez soltar seus lençóis cheios de amarras e se jogar em meus braços repletos de malas. Comecei a correr dos guardas segurando tanto sua bagagem quanto a própria, em direção a carroça repleta de feno do Max. Junto aos gritos incessantes dos guardas, o som estridente de raios estourou-se em um temporal inimaginável. Quando eu estava à mais ou menos uns oito metros da carroça de Max, eu tropecei em uma poça de lama, junto com Edmontine e suas malas, e torci o tornozelo. Max correu até mim logo depois de jogar a bagagem dela na carroça. Gargalhando, me carregou até o monte de feno depositado ali.

–Bem vindo meu amigo, à lista dos mais procurados da França!- exclamou rindo e me jogando no monte de feno.

Max jogou Edmontine no feno logo em seguida, que caiu em cima de mim, o que me fez esvaziar todo o ar dos pulmões de uma só vez. A viagem parecia ser interminável, no meio do trajeto, caí no sono junto a minha amada que se aninhou sob meu peito. Max nos levou até a casa de reuniões do grupo revolucionista. Acordei ainda debaixo do feno, tateando onde estaria Edmontine, mas eu estava sozinho. Gelei por um instante até ser puxado pelo colarinho por mãos firmes e finas. Abri os olhos e me deparei com aqueles olhos azuis brilhantes e inesquecíveis, mas ao analisar minha amada com mais atenção, comecei a rir. Edmontine estava vestida como um advogado (de peruca branca e tudo); enquanto gargalhava, a mesma ria de minha reação. A agarrei pela cintura e a puxei para perto, beijando-a desesperadamente. Ao solta-la, comecei a pular, rir e comemorar feito uma criança. Edmontine estava parada me olhando, em choque pelo beijo, quando cogitou que eu estava comemorando, começou a pular e rir feito eu.

–Eu saí! Eu saí! Eu saí!- exclamou repetitivamente, cambaleou um pouco mas depois se aproximou e começou a beijar cada canto de meu rosto, logo chegando aos meus lábios (estava completamente bêbada).

–Eu te amo- disse interrompendo seu beijo.

–Menos conversa, mais língua- disse rapidamente já voltando aos meus lábios. Ouço passos da escada e já avisto as pernas de Max, enquanto Edmontine beijava freneticamente meu pescoço.

–Estou interrompendo alguma coisa?- disse Max, segurando o riso mal e porcamente.

–Na verdade, está sim- disse Edmontine jogando sua peruca branca em Max- Vá beber e comemorar a revolução!- gritou rindo.

–” Liberté, égalité, fraternité ou La mort!”- exclamou Max erguendo uma garrafa de bebida pela metade. Subiu e bateu a porta. Ao ouvir o som da tranca, Edmontine me empurrou de novo no feno e desabotoou bruscamente sua camisa.

–Vamos acabar o que começamos mais cedo.

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Nos casamos no dia oito de agosto de 1788 em uma capelinha no interior de Versalhes. Conseguimos arranjar uma casa em campo aberto perto da tal capela. Lembro-me de segurar Edmontine nos braços com seu leve vestido branco aos ventos, levando-a em direção a nossa nova casa camponesa simples, qual fez os olhos de minha amada brilharem. Dois meses depois, descobrimos que Edmontine estava grávida de meu primeiro filho. Apesar de termos que nos refugiar, não podíamos esquecer de nossos papéis na revolução. Logo após a noite que salvamos Edmontine, todas as joias roubadas foram distribuídas para a população da cidade no centro de Versalhes, quais nos juraram guardar o segredo de nós estarmos alí, dois desertores.

Os frascos de perfumes vazios quais Edmontine pegara foram usados para a mesma fazer suas essências de flores, vendendo tanto para as duquesas da alta sociedade quanto para as donas de casa camponesas. Em novembro de 1787 conseguimos resgatar Beth e Josefina do palácio, comprando-as uma casa um tanto próxima da nossa.

Em questão aos Bourbon, Maria Antonieta dá a luz a seu quarto filho que, depois de tantas tentativas, nasceu homem e herdeiro do trono. Abigail voltaria para a França dali a dois meses com seus três filhos do duque espanhol afim de batizar os garotos. Nós continuamos a nos reunir com os rapazes da frente revolucionista até que nosso filho completasse nove meses de gestação. Quanto a mim, pedi afastamento do exército dando a desculpa de que me retiraria por um ano para ir até a Inglaterra para ver uma “tia avó” doente. Estava tudo ocorrendo perfeitamente nos conformes e eu finalmente encontrara meu final feliz, pena que este foi provisório.


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Notas finais do capítulo

"Liberté, égalité, fraternité ou La mort! " - Citação à um dos principais hinos da Revolução.
O Incorruptível - Apelido dado à Robespierre (fato real *o*)



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