Brittle escrita por Isabelle


Capítulo 23
Capítulo 22 - Celeste


Notas iniciais do capítulo

Eu tenho medo de sonhar demais, de viver no mundo da lua. Tenho medo de querer demais, de pedir demais. Tenho medo de planejar e ser irreal, surreal demais.
Eu tenho medo de não ter os pés no chão.
— Celeste para Miranda.



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— Então? — A cadeira em que Melissa estava sentada estralou e isso fez com que Celeste acordasse de suas próprias ilusões fantasiosas.

— O que? — Cely disse casualmente terminando de organizar os arquivos por ordem alfabética como sua chefe havia pedido.

— O que o caramba, eu quero detalhes Celeste. — Ela disse suplicante.

Deveria fazer apenas umas doze ou treze horas desde que Will pedira Cely em namoro, depois os dois voltaram para casa onde dormiram na mesma cama abraçados. Aquilo dava em Cely uma sensação de conforto que ela não queria sentir, uma sensação de calma e amor.

Quando chegara no escritório aquela manhã, Melissa já estava em seu pequeno cubículo, quer era o máximo que Cely havia conquistado até agora naquela editora; sentada em sua cadeira com todos os tipos de doce que uma pessoa pode imaginar que exista. Seu sangue já estava tomado por uma dose muito alta de insulina e ela parecia mais animada do que o comum. Contar que Will a tinha pedido em namoro parecia só ter aumentado aquela glicose descontrolada que corria por suas veias.

— Nós fomos jantar, — Ela subiu mais um degrau da pequena escada para colocar um livro sobre webjornalismo na prateleira. — Ele estava muito nervoso. Acabou derrubando uma taça de vinho em mim.

A risada fraca de Mel soou pela sala de sua chefe, onde ela havia sido encaminhada de ir logo após que chegara no trabalho para organizar a remessa de livros novos que haviam chegado.

— Quando fomos embora no meio do caminho haviam algumas meninas com guarda-chuvas, onde estava escrito: Talvez eu só queira ser seu. — Ela olhou para Mel por alguns segundos e depois voltou sua atenção para a estante. — Tudo isso enquanto tocava I wanna be yours, ai ele pediu. — Ela disse do jeito mais lacônico possível.

— Meu Deus, esse pedido foi muito fofo. — Ela disse enfiando um dedo na garganta como se fosse vomitar e Celeste riu.

— Eu também acho, mas ainda acredito que tenha sido um pouco exagerado. — Ela terminou de pôr os três últimos livros da sessão de cima e começou a segunda sessão. — Era um pedido que não tinha como recusar.

Ela se lembrou dos olhos azuis cintilantes encarando não seus olhos, mas a sua alma, como se a impedisse de abrir a boca e falar um não verdadeiro.

— Então você queria ter recusado? — Ela pergunta girando novamente com a cadeira.

— Não, não queria ter recusado. — Cely pensou bem em suas palavras. — Só queria que ele tivesse pedido de um jeito mais casual, sem que sei lá, eu me sentisse pressionada, entende?

— Você é uma tonta. — Ela se levantou, caminhando até o lixo na extremidade da sala mediana e jogou um pacote de fini no lixo. — Muitas garotas estão pelo mundo cortando os pulsos e esperando um pedido assim, e você, que ganhou um acha que foi muito ostensivo.

— Mas foi exatamente isso, e além do mais, eu não sou uma dessas garotas. — Apontou para que ela pegasse uma remessa de livros e colocasse na mesa ao seu lado. — Eu sempre me contentei com coisas frugais.

— Você sempre foi um pé no saco. — Melissa colocou a remessa de livros, e depois voltou a sentar na cadeira, sua nova forma de entretenimento. — Tem que entender que as vezes você precisa agir com mais, sei lá, viver de um modo mais destemido.

— Eu sei que preciso me arriscar mais, — Sua boca se tornou uma linha uniforme mesmo com seu formato de coração. — É só que estar com Will derruba todas as barreiras que eu construí a minha volta. — Guardou um livro com a capa rosada que lhe chamou a atenção.

— Está apaixonada por ele e ele por você, o que tem de ruim nisso? — Ela disse abrindo um tabloide de kit kat.

— Eu sou imprevisível, Mel. — As sílabas a rodaram rindo dela sem um pingo de benevolência. — Só tenho muito medo de eu fazer alguma coisa que acabe assustando ele. — Passou a mão pelos seus cabelos e a observou com aquele olhar assustado redirecionado para ela. — Eu nunca tive alguém como ele, Mel, que ficasse.

Ela olhou para Cely levemente ofendida.

— Você é minha melhor amiga, gosto muito de você, mas você mora em outro país. — Ela jogou a realidade em cima Melissa. — Will, é a única pessoa que eu tenho ao meu alcance que me prende nessa realidade inóspita. Eu tenho medo de repelir ele.

— Celeste, pelo tempo que você conhece Will, e ele te conhece, me responda uma coisa. — Ela parou de comer e umedeceu os lábios. — Ele parece ser uma pessoa que se assusta fácil e foge?

A palavra povoou a cabeça de Cely, a dando uma pequena enxaqueca bem no fundo da sua mente. Ela sabia melhor do que todos que Will era uma das pessoas que nunca fugia de uma briga. Celeste tinha toda a certeza do mundo que Will nunca a abandonaria, mas algo dentro de si. Aquele sentimento que a habitava por anos nunca deixaria com que ela seguisse em frente e realmente fosse feliz.

— Você tem que parar de achar que as pessoas vão te abandonar ou começar a te maltratar de uma hora para outra, só porque a louca da sua mãe fez isso. — Melissa olhou para ela com uma cara desconhecida. — Falando em sua mãe, onde ela está?

Os pensamentos de Cely começaram a se enublar, despertando aquele sentimento de pânico na garota. A última coisa na qual ela queria conversar agora era sua mãe, contudo, Melissa não era como Will que deixava um assunto passar e só depois de um bom tempo voltava a desenterrá-lo sabendo o quanto ele a incomodava; a garota era totalmente o oposto. Quanto mais você tenta esconder um assunto dela, mais afundo ela te questiona até você não aguentar e soltar algo.

— Clínica psiquiátrica e alguma coisa que a faça destruir seu vicio pelo álcool. — A garota disse sucintamente querendo encerrar aquele assunto.

— Você tem tido contato com ela?

— Faz alguns meses que não. — Ela disse novamente de um jeito efêmero.

— Odeia falar sobre ela, não é?

O problema era que Cely não odiava somente o fato de conversar sobre ela. A garota odiava a mãe de aspectos que nenhuma pessoa entenderia. Elas já haviam compartilhado boas memórias de infância em que Daphne havia sido a melhor mãe possível para Celeste. Mesmo com a depressão pós-parto, a partir dos três anos de idade, a mãe já a amava com todas as forças possíveis, mas aquele amor parecia ter se esgotado com o passar dos anos.

Celeste apenas assentiu com a cabeça.

— Agora eu tenho certeza que você não vai passar o natal com ela, então o que você acha? — Ela disse já toda empolgada. — A gente pode passar o feriado, os dois, na casa da vó.

Cely mordeu o lábio inferior da boca e guardou uma série de livros em silêncio.

— Pensei que ia passar o natal com o Arth.

— Arth está a muitos quilômetros de distância de mim, por que achou isso? — Ela perguntou a olhando com os olhos semi serrados.

Celeste novamente preferiu permanecer em silêncio.

— Celeste? — A voz da garota soou desafiadora. — Onde vai passar o natal?

— Em uma praia.

— Praia? — Melissa olhou para ela com os olhos duvidosos. — Como assim, sua falsa, você vai passar o natal na praia?

— O ano novo também. — Celeste terminou de ajeitar os livros e desceu da escada, indo ajeitar alguns papeis na mesa de sua chefe.

— Will vai te levar para a praia no natal e no ano novo?

— Ahã. — Ela selecionou alguns papeis, os jogando no lixo e os outros guardou em uma pasta dentro de um armário verde ao canto da sala.

— Me levem com vocês.

O olhar de Celeste se levantou levemente e a garota esboçou um sorriso debochado.

— O que foi?

— O intuito da viagem é ser só eu e o William. — Ela disse tentando não soar grossa. — Nós vamos ficar numa casa de praia dos seus pais.

— E agora a Melissa.

— Mel, você não acha que você vai ficar meio castiçal? — Celeste tentou expressar mais uma vez que ela não deveria ir.

— Meio castiçal? — Ela disse finalmente em um tom de brincadeira. — Eu vou ficar meio tocha olímpica, é obvio que eu não vou. Arth vem me buscar na segunda.

— Ahh, e depois eu que sou a falsa. — Cely disse e saiu andando da sala tendo Melissa como sua sombra.

— Mas então, você acha que vocês vão?

— Não, nós não vamos. — Ela disse sorrindo para Margo, a secretaria principal, e colocando uma pasta de arquivos de Jéssica, sua chefe, em cima do balcão.

— Por que não? — Ela disse como se eu tivesse respondido a coisa mais absurda de todas.

— Porque é assim que o Will vê todas as meninas. — Celeste andou uma série de quarteirões até chegar em um ponto onde haviam alguns táxis disponíveis. Esperar um táxi passar em frente ao seu prédio era a mais mesma coisa que esperar uma chuva de sorvete. — E eu não quero que ele me veja assim.

— Tenho certeza que ele não te vê como todas as meninas. — Melissa parou ao meu lado esperando o homem de camiseta palha, dono do táxi se locomover.

Aquela fora a primeira vez que Melissa reparava que ela estava usando um vestido preto de tubinho e um salto mediano, o que não fazia nem de perto o gênero dela.

— O que eu quero dizer é que, vocês vão para uma praia, somente os dois, no natal em uma casa no meio do nada somente você e ele, ele e você. — Ela fez um jogo com as sobrancelhas. — Eu tenho certeza de que vai acontecer alguma coisa.

— Não vai acontecer nada. — Eu me joguei para o banco de trás do carro e informei ao moço qual era o endereço do prédio.

— Tudo bem puritana, não precisava se ofender. — Ela passou a mão pelos cachos bem definidos do cabelo de Cely. — Só achei que como agora vocês são um casal você não teria mais tanto medo disso. — Ela fez aspas com as mãos na palavra disso.

— Você sabe porque eu tenho tanto medo disso. — Cely imitou o gesto.

— Isso é um passado que eu te obrigo a esquecer. — Melissa fez um gesto estranho como se tivesse roubando as memórias de Cely, e isso as fizeram rir, como se elas estivessem no colegial novamente.

O homem parou em frente aquele prédio que já tinha se tornado o verdadeiro lar de Celeste.

— Te ligo no domingo para irmos fazer algo antes de eu ir embora.

— Espero que sim. — Celeste entregou o dinheiro ao homem, e se virou caminhando até o seu pequeno lar.

A primeira coisa que notou ao entrar no apartamento foi como ela estava bagunçado e sujo pela correria que tinha sido os últimos dias. Havia uma pilha de cartas na porta, que deveria estar ali há cerca de quatro dias, que Cely superou a preguiça e folheou uma a uma.

Todas as primeiras era contas que envolviam cartões de crédito de Will, água e energia. Contudo a última carta estampava um selo que Celeste reconheceria de primeira vista. A última carta estava prestes a decidir o futuro do homem que ela gostava. A pequena carta com o envelope branco falaria se Will tinha talento para aquela faculdade ou não.

A garota subiu os degraus um a um indo em rumo ao quarto de Will, que era o local que ela tinha toda certeza de que ele estava.

O garoto estava jogado na cama usando apenas uma cueca box. Seus músculos definidos na barriga fizeram Cely soltar um sorriso torto e analisar o quanto Will era o tipo de cara que ela nunca tinha pensado em se envolver. Ele tinha aquela cara que cafajeste nos primeiros dois segundos em que você o encarava e ele sorria. Os músculos de seu abdômen eram bem destacados em sua camiseta, mas vê-los ao vivo, sem nenhum tipo de pano para cobrir era um assunto totalmente diferente. O estranho era que Cely já o tinha visto milhões de vezes daquela maneira. Ele já havia dormido ao seu lado usando somente aquele traje, porém agora, os olhos de Celeste comiam Will, de um jeito que a fez corar quando ele a percebeu na porta.

Os olhos azuis acinzentados a levaram para a primeira noite em que eles se conheceram, em que a primeira coisa que ela se dera conta quando ele puxara seus fones brutalmente, era de que havia olhos azuis que a seguiam de um jeito que a intimidava. Naquele dia Celeste queria que ele se afastasse dela, ela ainda queria aquilo mas de uma maneira mais psicológica.

O rosto de Will naquela época tinha um ar mais firme e robusto como se ele fosse um animal e tentasse impor para todas as fêmeas, que ele era o macho alfa. Agora seu rosto tinha um ar tranquilo e pacífico, como se ele tivesse descoberto uma coisa em si mesmo que o alegrava.

— Acho que um bicho está crescendo no seu rosto. — Ela ficou encostada no portal da porta encarando aquele sorriso lindo que ele dera para ela ao ouvir sua voz.

— Esperava um como você está sexy, Will, mas um bicho no meu rosto supera as minhas expectativas. — Ele se alongou deixando com que as marcas que a academia havia feito em seu corpo se destacassem.

— Você realmente tem um físico para ser stripper. — Ela disse segurando a carta atrás de suas costas.

— Eu te disse naquela época sombria, você não quis me escutar.

Ela sorriu para ele e soltou a novidade.

— Tenho uma coisa para você.

— Vai fazer um strip para mim? — Ele olhou esperançoso.

Ela olhou para ele como se ele tivesse de dizer a coisa mais imbecil do universo.

— Me de um motivo lógico Will, do por que eu faria um strip para você. —

— Sei lá, presente de namoro? — Ele disse e ergueu as sobrancelhas.

— De um dia? — Ela disse indignada.

—De acordo com os sábios antigos, essa é a data mais importante que um casal vai comemorar. Uma tradição. — Ele me fitou esperando e eu joguei uma blusa dele que estava pendurada.

— Em que mundo isso?

— Williamlândia? — Ele sorriu de um jeito safado. — Vem aqui. — Ele a chamou.

A mente dela se lembrou da conversa que havia tido com Melissa poucos minutos atrás.

Ele é o Will, Cely, e do jeito que você disse que ele é, o garoto deve estar esperando por isso há algum tempo.

— Para que? — Ela disse.

— Uai, a toa? — Ele olhou para ela estranhando-a.

— Will, eu acho que nós devíamos sei lá, ter uma conversa sobre isso.

— Isso? — Ele soergueu as sobrancelhas tentando me entender.

— Sabe? — Ela fez um olhar para ele. — Isso…

— Celeste, espero que você saiba que a única coisa que conseguiu fazer com esse olhar, foi me assustar.

— Sexo, Will. — Ela disse e ele a encarou como se fosse louca.

— Como nós… Quando... em que momento nós começamos a falar de sexo. — Ele fez uma cara de confuso. — Como vocês mulheres conseguem fazer isso?

Ela deu de ombros e revirou os olhos.

— Cely, por que você acha que toda sentença que eu digo a palavra sexo está escondida em algum tipo de mensagem subliminar? — Ele a chamou com a mão e ela colocou a carta por trás de sua blusa.

— É que você é o Will, e está acostumado a sei lá, transar com muitas garotas.

— Então quer dizer que ultimamente você tem pensado sobre sexo. — Ele fez uma cara safada e arqueou as sobrancelhas.

— Idiota. — Ela tacou um travesseiro nele e riu.

— Celeste, — Ele a puxou para seus braços. — Não vou de maneira alguma te forçar a fazer algo que você não queira.

— Eu sei, Will. — Ela sorriu.

— Mas assim, só para eu me manter informado, quanto tempo você acha que vai demorar porque eu estou com um atraso e… — Celeste não o deixou terminar de falar dando-o outra travessada.

— Eu só estou brincando. — Ela sentiu as mãos dele percorrendo suas costas onde estava a carta.

A garota deu um pulo da cama estranho que fez com que Will olhasse assustado para ela.

— Mas agora é sério, tenho uma coisa para você.

— E o que é? — Ele olhou para ela sério com um aperto no coração.

Ela puxou a carta fina de sua blusa e suspirou profundamente, antes de apontar para ele.

Os olhos de Will foram de esperançosos e alegres, para algo mais mórbido.

— Eu não consigo abrir. — Ele disse virando o rosto e passando a mão pelos cabelos.

— Quer que eu veja para você? — Ela disse em um tom baixo.

Ele assentiu com a cabeça levemente e Celeste rasgou o envelope, relevando um papel mais amarelado e de espessura mais grossa. Ela viu o símbolo da faculdade exibindo bem no topo da página e ela passou os olhos levemente pela carta.

O coração da garota se apertou em poucos minutos, e ela levantou o olhar lentamente para o de Will que a fitava angustiado. Ela mordeu o interior da bochecha e tentou sorrir para ele de um modo otimista.

— Eu não passei, né? — Ele disse a frase com os ombros derrotados.

— Will, eu não queria te dizer isso mas… — Ela sorriu para ele de um jeito mais animador. — Você vai ter que tirar essa coisa na cara.

— O que?

— Sabe? Você vai ser na turma dos mais novos, geralmente dezoito anos, eles vão te achar um avó com essa barba. — Ela encostou na parede.

— Eu passei?

Ela assentiu e os olhos de Will saltaram do seu rosto de tanta felicidade. Ele caminhou até Celeste e a envolveu em um abraço rodopiando ela pelo quarto, e depois tomando a carta de suas mãos, para ver se era realmente verdade.

— Eu não acredito. Como pode ter tanta fé em mim, quando nem eu mesmo tinha? — Ele perguntou ainda olhando descrente para a carta.

— Você sempre teve fé em mim, por que eu não teria em você? — Ela balbuciou.

Ele olhou para ela ainda com aquele sorriso lindo no rosto, e Celeste se jogou em sua cama, deixando o leve tecido tocar seus braços nus, enquanto ela escutava Will falar sobre as milhões de vantagens de ir a faculdade.

Celeste amava o fato dele ter conseguido tudo que ele queria. Amava ver Will com aquela felicidade, mas também a fazia questionar se aquele relacionamento duraria a partir daquilo. Ambos moravam juntos, tudo bem, mas Will a partir do próximo ano teria que trabalhar no conservatório de manhã e estudar a tarde, enquanto Celeste iria para seu último ano onde estudaria a noite. Tentou dissipar aqueles pensamentos que não eram controlados pela parte mais feliz de seu sistema nervoso, e voltou a ficar feliz por Will.

— Imagine quando eu sair em minha primeira turnê?

— Opa, opa, pequeno gafanhoto, sua jornada mal começou e você já está fantasiando como será a magia de viajar em turnê?

— Imagine só nós dois indo viajar em turnê? — Ele disse fantasiando um futuro que na cabeça de Cely não parecia existir e nem ser provável, por isso a garota apenas assentiu com a cabeça.

O resto da semana foi bem vago. Ela escutava Will se deliciar das vantagens de ir para a faculdade. Mal sabia ele que aquele era um universo meio alternativo para dor e sofrimento. O garoto até tinha começado a tocar piano mais frequentemente desde que a notícia tinha, de acordo com ele, o inspirado para criar melodias.

Em um domingo de manhã bem cedo, Will estava ao piano, e Cely se despediu rapidamente dele enquanto descia rapidamente pelo elevador para se encontrar com Emily que estava a esperando para as compras.

Celeste entrou no carro em silencio, o que fez Melissa perceber que havia alguma coisa de errado.

— Então desembucha tudo. — Ela disse quando estávamos uma quadra do shopping.

— Não é nada demais. — Ela murmurou com seu jeito típico, e forçou aqueles pensamentos a fugirem agora de sua mente.

— Então Melissa, — A voz dela soou como a de algum repórter. — Ficamos sabendo que você conhecia a escritora falecida, Celeste Oliveira.

Ela fez um gesto com o cabelo como se sentisse orgulhosa por isso.

— Sim, Charles. — Ela inventou um nome aleatório para o repórter. — Eu a conhecia.

— E você pode, por favor, nos dizer quais foram suas últimas palavras? — Ela fez o sotaque mais ridículo do mundo, conseguindo tirar uma risada abafada de Cely.

— Foram: Não é nada demais. — Ela entrou no estacionamento do shopping. — Eu só não entendo qual a sua e a do “não é nada demais”.

— Uma história de amor. — A garota disse.

— Sério, Cely... — Os olhos escuros de Melissa consumiram o de Cely.

— A carta da faculdade de Will chegou, — Ela fez um biquinho torto mordendo a parte interna da boca. — E em um momento estávamos lá falando de sexo, e sobre quando íamos dar esse passo no nosso relacionamento, e em outro instante ele estava falando das turnês que ele realizaria, e que nós iriamos.

— E eu pensava que era o Will que tinha problemas com relacionamento. — Mel abriu a porta do carro e desceu. — Eu não entendo qual é a sua de se apavorar por causa do futuro.

— Ele tinha, mas o problema na nossa relação sou eu, não ele. — Ela se sentiu frustrada.

— Por que você tem tanto medo de se arriscar, Cely?

As duas entraram no shopping olhando a variação de cor entre uma loja e outra, e também percebendo a variedade de produtos que elas tinham a oferecer.

— Não sei, acho que é um processo natural que foi implantado junto com meus problemas psicológicos.

— Acho melhor você superar esses problemas. — Melissa a arrastou para uma loja de biquínis. — Você e ele vão passar esse feriado juntos, isso seria uma boa para um primeiro risco a correr.

Cely fez uma cara de descontentamento, enquanto passava a mão verificando os modelos do biquíni.

— Não estou falando para você trepar com o cara sem querer, só estou falando que você pode dar um passo maior conversando com ele sobre o futuro de vocês, muitos casais fazem isso.

— Acho que ainda estamos muito cedo nesse relacionamento para fazermos isso. — Ela disse selecionando um rosa de florzinha.

— Eu não sei. — Cely disse encerrando ali o assunto sobre Will.

As duas passaram o dia inteiro juntas escolhendo roupas para o natal, e até compraram presentes para seus respectivos namorados. Riram muito e relembraram os tempos antigos quando viviam na casa de sua avó. No final do dia, Melissa a deixou em frente ao prédio, onde as duas se despediram rapidamente, mesmo aquele sendo o último dia que elas tinham passado juntas, elas sabiam que nunca perderiam aquela amizade de muitos anos.

Cely entrou no seu apartamento e escutou a melodia que vinha do piano do Will.

O futuro assustava Cely desde que as coisas em sua vida pareciam sempre piorar. Ela costumava pensar muito em seu futuro, e em como ele seria melhor se ela tivesse feito alguma coisa diferente no passado, mas de alguns anos para cá, ela tinha realmente entendido que o futuro é algo que você não pode ficar planejando. Pois quanto mais você pensa que tem controle sobre a vida; mas a vida te controla.

Ela subiu as escadas e se sentou ao lado dele.

Will ficava tão lindo quando estava tocando piano. Era quase como Cely no violoncelo tirando o fato de que ela parecia um bicho sofrendo algum tipo de convulsão. Ela passou os olhos pelo menino, e imaginou um futuro com ele. Um futuro próximo e sentiu medo por perceber que tudo seria perfeito demais.


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