Brittle escrita por Isabelle


Capítulo 22
Capítulo 21 - Will


Notas iniciais do capítulo

"Por isso, meu amor, não tenha medo de sofrer
Pois todos os caminhos me encaminham prá você
Assim como o oceano só é belo com o luar
Assim como a canção só tem razão se se cantar
Assim como uma nuvem só acontece se chover
Assim como o poeta só é grande se sofrer"
— Vinicius de Moraes



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O caminho de volta para Uberlândia fora incessante de tão ansioso que eu estava.

A pista parecia se desdobrar em duas cada vez que eu pensava que estávamos chegando e isso me deixava mais irritado do que eu já estava. Meu sangue latejava por entre as minhas veias e eu sabia que a qualquer momento essa raiva desconhecida explodiria. Eu não conseguia diferenciar o que era Will, e o que era raiva. Naquele momento eu era ambos fundidos por ondas turbulentas de raiva. Tudo o que eu queria era descarregar aquele peso de mim, e isso não seria nada legal.

Parei em frente ao nosso prédio depois de horas de viagem, e fitei Celeste por um tempo que estava dormindo relaxada no banco. Passei a mão pelos seus cabelos que há poucos meses eram avermelhados, mas agora era totalmente de um castanho escuro muito bonito. Sua respiração era constante, ela parecia estar totalmente despreocupada, tão despreocupada que eu pensei em não acordá-la, contudo eu precisava.

— Cely? — Eu disse passando a mão pelos seus cabelos novamente, e a cutuquei levemente.

Ela abriu os olhos meio desnorteada do meio onde estava, mas em poucos minutos começou a se reestabelecer. Ela passou a mão pelos olhos, pressionando os, tentando empurrar o sono para longe de si, mas era obvio que ela ainda estava absorvida por ele.

— Eu nunca dormi tão bem assim. — Ela soltou um sorriso sincero. — E foi no banco de uma camionete velha.

— Ei, não ouse se referir assim dela. — Eu abracei o volante. — Ela se ofende fácil, e já salvou esse seu cabelo de muita chuva.

— Tudo começou aqui. — Ela disse e passou os olhos pela camionete.

Eu soltei um suspiro abafado de saber que em como aquela menina havia me mudado em apenas alguns meses. Em apenas alguns meses ela tinha feito com que eu analisasse toda a minha vida. Em apenas alguns meses, ela me fizera ficar perdidamente apaixonado por ela.

Cely pressionou a trava do carro, como havia aprendido a fazer e empurrou a porta; jogou suas pernas dormentes para fora do carro enquanto eu fitava a rua tentando evitar demonstrar a minha raiva.

— Você não vem? — Ela perguntou ingenuamente.

— Vou buscar o nosso almoço, tudo bem? — Eu disse já dando ignição no carro novamente.

— Não demora, por favor, eu estou com fome. — Ela disse pela janela.

— Não vou. — Tentei sorrir como se não estivesse nada acontecendo, mas tinha certeza que não havia me saído muito bem.

Joguei o carro para a rua e decolei com ele indo diretamente para a fonte de minha raiva. Parei o carro no estacionamento do dormitório do campus da faculdade. Mal havia o desligado e já havia desligado dele. Ele ficara todo torto no meio-fio, mas eu não me preocupava. Nada me preocupava a não ser ter uma conversinha com uma certa pessoa.

Entrei nos dormitórios pisando forte, rápido e compassado, até encontrar o dormitório com a placa 22D.

Fechei a mão em um punho firme e bati na porta múltiplas vezes, até eu escutar a voz tão querida. Minha boca se tornou uma linha reta e eu sorri com deboche assim que vi aqueles cabelos loiros, parado a minha frente me encarando com um sorriso.

Minha primeira reação fora involuntária; meus punhos se fecharam e deslizaram devagar até o seu nariz, fazendo com que ele tombasse para trás e caísse em cima de sua cômoda derrubando vários objetos que ali haviam.

Várias pessoas foram tumulando a porta do quarto para ver o que acontecia, enquanto Jhonny me olhava sem entender e tentava estancar o sangue que saia de seu nariz com as mãos.

— Seu filho da puta! — Eu bati bem no estômago dele desta vez, deixando o sem ar. — Ela só tinha dezessete anos. — Chutei o bem nas pernas e ele desmoronou no chão daquele pequeno quarto. — Era a primeira vez dela e você a estuprou. — Gritei a última palavra com mais força enquanto o chutava sem parar no chão.

— A mãe dela me ofereceu. — Ele gritou caído no chão com sangue nos lábios. — Eu sabia que ia reagir assim quando descobrisse. — Ele teve a ousadia de sorrir.

— Ela não é a porra de uma mercadoria, como todas essas meninas baratas que você transa. — Cuspi as palavras com ódio, e subi em cima dele, dando mais um soco em seu rosto.

Ele sorriu mais uma vez com deboche para mim, as marcas roxas em seu rosto o deixavam estranho e eu não conseguia me recordar de quem era o canalha ali, e de quem era o meu melhor amigo.

— Eu já tinha gastado caro com ela, Will, não ia sair perdendo. — Ele cuspiu uma bolha de sangue.

— Ela pediu para você parar, seu desgraçado, como você pode fazer isso com ela? — Eu gritei perto a seu rosto.

— Tinha dezenove anos, Will. — Ele berrou. — Se pararmos para pensar esse é o troco por Carla.

— Eu nem a conhecia quando você fez isso com ela. — Eu forcei a cabeça dele no chão.

— Foda-se, você finge que é o bom garoto, mas você é exatamente como eu.

— Fica calado que é melhor para você, Jhonny. — Uma menina gritou ao fundo.

— Você só está com ciúmes porque eu comi a sua namoradinha, antes de você. — Ele gritou e eu não consegui me controlar.

Comecei a socá-lo no rosto e as pessoas que estavam ali começaram a gritar, não conseguia entender o que elas estavam falando. Eu mesmo não conseguia entender o que a raiva tinha feito comigo. Eu não me lembrava de como bati nele, eu sabia que ele tinha ficado muito machucado e me ameaçado com alguma coisa, mas eu não me lembrava de nada, a não ser das últimas palavras que eu gritei para ele antes de os seguranças me levassem para a “prisão” do campus.

— Eu quero que você entenda uma coisa, Jhonatan. Não quero te ver próximo ao meu apartamento; não quero que você chegue perto da Celeste, ou respire o mesmo ar que ela. — Eu sentia a veia da minha cabeça latejando. — Eu deveria ter te matado por tudo que você fez aquela menina passar. Você não tem ideia da sorte que tem.

Fiquei sentado olhando aquelas paredes por algum tempo.

A pequena cela que eles haviam me prendido até alguém vir ali me tirar tinha como base pequenas paredes cinzas e um banquinho em que eu tinha que ficar sentado esperando por alguém. Por alguém que eu tinha certeza que não viria.

Respirei profundamente por um tempo e soltei uma risada quando percebi que havia batido no meu melhor amigo. Uma risada fina e genuína.

Agora eu tinha parado para pensar, que eu compreendia sim quando Jhonny tinha ser tornado aquele canalha e deixado de ser aquele menino engraçado e simpático da sétima série.

Tinha acontecido por causa de uma garota. Cassie.

Eu me lembrava dos laços estranho que ela usava no cabelo. Ela tinha um jeito engraçado de andar, e um sorriso estranho por conta dos seus dois dentes da frente que eram abertos, mas tirando esses detalhes, ela deveria ser a menina mais bonita da nossa classe.

Jhonny havia sido apaixonado nela o ano inteiro e antes de nós entrarmos de férias, as férias que eu conheceria Emily, havia uma festa na escola de despedida, e eu acabei beijando essa garota e deixando ela fazer algumas coisas que eram desconhecidas por mim com uma garota, e isso martelava a cabeça de Jhonny até hoje.

Olhei para a grade e vi um dos seguranças que tinha me trago ali, abrir a cela. Ele era alto, com uma barba rala no rosto, meio parecida com a que eu estava nos dias de hoje, tirando o fato que a minha era bem rala e eu só a deixava em alguns pontos estratégicos.

— Você pode sair. — Ele disse e me olhou com entendimento.

Passei por ele lentamente, mas ele segurou meu braço.

— Se tudo aquilo que você disse no quarto foi verdade, você precisa denunciá-lo.

— Não é tão fácil assim, a menina que ele fez isso, não pode nem imaginar que eu… — Parei de falar quando a vi sentada do outro lado de um balcão.

Ela já tinha passado por todas aquelas coisas ruins ultimamente, e agora eu a tinha feito passar por mais uma.

Caminhei até ela e vi seu olhar neutro, sem nenhuma expressão de raiva ou de apoio. A única coisa que ela fizera, fora se levantar e sair caminhando, enquanto eu a seguia em silencio.

Entramos na camionete e eu tive que percorrer o caminho com mai segurança desta vez. Já que Cely encarava o vazio e aquilo me deixava cada vez mais preocupado do que ela poderia sentir de mim.

— Me desculpe. — Eu disse parando em um sinal vermelho. — Sabia que não devia ter feito isso sem seu consentimento.

Ela virou o olhar para mim e um sorriso brotou do seu lábio avermelhado.

— Você o machucou?

Eu soltei um sorriso leve, olhando para aquela cara maléfica que ela tinha.

— Bastante. — Engatei a marcha e acelerei o carro. — Acho que ele teve que visitar a enfermaria.

— Queria me sentir horrível por escutar isso, mas sinto muito bem. — Ela disse soltando um suspiro e abaixando a cabeça.

— Ele merecia ter morrido Cely por tudo que ele fez com você.

— Sei muito bem que ele fez coisas horríveis comigo, e que coisas ruins deveriam acontecer com ele, mas nós não podemos decidir quem morre ou não. — Ela passou a língua pelos lábios. — Não podemos brincar de Deus.

— Você acredita em Deus? — Eu perguntei modificando o assunto.

— Acredito. — Ela respondeu da forma mais sucinta possível.

— Voce é tão sexy. — Eu disse e ela riu. — Então o que quer fazer agora? — Eu disse parando em outro sinal.

— Almoçar.

— Cely, eu sei que você detesta a ideia, — Eu comecei a falar de um jeito que não a irritasse. — Mas nós temos que denunciar ele.

— Will… — Ela passou a mão pelos cabelos. — Eu sei que sim, mas fazem três anos, o processo vai demorar mais uns três anos e além disso ele pagou para minha mãe, o que vai ser muito dificil de explicar na justiça porque você sabe como é.

— Não importa a porra que demore, — Eu disse secamente. — Cely, ele violou você, se ele não merecia estar morto, ele merecia estar preso.

Ela me olhou relutante me implorando com olhos para deixar aquilo de lado, mas eu já estava convicto que deveria fazer aquilo.

— Cely, eu não vou deixar aquele safado se safar.

— Era seu melhor amigo.

— Nunca esperava isso dele, eu juro para você. Eu sabia que ele ficava com mulheres pagando-as, mas nunca esperava que ele fizesse isso com uma garota. — Eu parei o carro em frente a delegacia. — Nunca.

Olhei para o prédio mediano que nos esperava do outro lado da rua e vi Cely o observando também. Senti o medo percorrer as suas veias e segurei suas mãos, tentando a reconfortar.

— Só depende de você, Cely. — Eu disse e dei um beijo em sua mão. — Você pode deixar aquele idiota solto, fazendo isso com mais meninas, ou pode prendê-lo por ter violado você.

Ela engoliu seco e abriu a porta do carro, descendo devagar.

Chegamos na delegacia e uma mulher nos atendeu, ela escutou atentamente Cely contar os detalhes de quando Jhonny a havia estuprado. Aquela raiva dentro de mim havia sessado um pouco, mas quanto mais Cely contava, mais a minha raiva ia aumentando novamente. Ela deve ter percebido isso, pois quando estava terminando de contar a história pegou a minha mão. Aquele gesto me fez soltar um sorriso fraco e pensar em uma coisa que eu deveria ter feito a muito tempo.

Depois que saímos da delegacia, fomos almoçar em um restaurante no centro. Rimos muito naquele almoço. Toda vez que eu via aquele sorriso meu coração começava a palpitar de um jeito diferente. De uma maneira que eu nunca tinha sentido antes.

Aquele era o nosso primeiro encontro se fossemos contar sendo novamente um casal. Eu nunca havia pensado que me sentiria daquele jeito em relação a uma garota.

— Você lembra quando você me perguntou qual era meu medo mais ridículo? — Ela sorriu fracamente me fazendo recordar da primeira vez que tínhamos passado um bom tempo conversando.

A vi novamente deitada naquele sofá com aquele prato de rolinho primavera na barriga, e sorri enquanto virava uma indo para o nosso apartamento.

— Lembro. — Eu disse enquanto escutava uma música do Coldplay como o cara da rádio havia anunciado.

— Bem, eu menti. — Ela entortou o lábio. — Meu maior medo sempre foi a minha mente.

Parei para analisar o que ela tinha dito e percebi que eu também havia mentido. Meu maior medo ridículo não eram as algas, mas sim outra coisa que sempre me assustara mais do que tudo.

— Não tem problema — Eu suspirei. — Eu também menti.

— Qual o seu medo mais ridículo então senhor Will?

— Meu medo mais ridículo se tornou realidade. — Passei a mão pelos meus cabelos desgrenhando-os.

Ela olhou para mim sem entender com aqueles lindos olhos castanhos. Conseguia ver por trás daqueles olhos de vidro, um sentimento de paz, que ela começava a conhecer agora.

Ela estava tão simples vestindo aquele vestido branco, toda jogada naquele banco sorrindo ao meu lado, que eu soltei as palavras como se fossem as coisas mais naturais do mundo.

— Meu maior medo era se apaixonar.

O silencio invadiu o carro, mas eu consegui ver um sorriso brotando nos lábios dela. Ela tentou morder os lábios para evitar aquele sorriso, mas ele surgiu tão rápido nos lábios que ela não conseguiu contê-lo.

Eu parei o carro na frente do prédio e me virei para ela.

— Will… — Ela disse olhando para baixo.

Passei a mão pelos seus braços bronzeados, e a puxei para mais perto de mim. Minhas mãos percorreram lentamente o seu rosto e ela soltou aquele sorriso lindo que ela tinha. Meu nariz roçou o seu, senti o corpo dela se arrepiando com aquele pequeno movimento. Minha boca correu pela pele de seu pescoço lentamente e ela me deu permissão para aquele ato. Ela passou a mão em meus cabelos enquanto eu beijava seu pescoço indo em direção a suas bochechas. Beijei todo o seu rosto, e parei olhando para seus olhos.

Ela estava respirando de um modo abafado, como se estivesse prendendo todo o ar, como se não tivesse direito de respirar naquele momento.

— Eu me apaixonei por você. — Eu disse e coloquei meu dedo em seus lábios a impedindo de falar. — Então, por favor, nunca mais me fale que a gente não da certo.— Eu apertei minhas mãos em sua cintura e a trouxe para mais perto, de uma maneira em que eu demonstrava que ela era minha.

Sua boca encontrou a minha de uma maneira ávida. Seus lábios macios tocaram os meus de um jeito firme. Eu deslizei minha mão por todas as suas costas e senti o suspiro que ela soltou entre os nossos beijos. Eu nunca tinha visto Celeste daquela forma. Ela parecia finalmente ter criado uma confiança em mim. Uma confiança que a permitia finalmente estabelecer aquela relação comigo, sem um pingo de pusilanimidade.

Minhas mãos começaram a invadir sua blusa, mas eu parei no momento em que meus dedos roçariam a sua pele. Ela parou de me beijar, e olhou para mim com aqueles olhos que já tinham visto de tudo e mesmo assim ainda pareciam ingênuos.

— Ainda não. — Ela passou a língua pelos lábios.

— Eu entendo. — Engoli o nó que havia se formado na minha garganta.

— Vamos lá? — Ela abriu a porta e desceu.

— Preciso fazer mais uma coisa antes.

Ela me olhou preocupada com medo do que eu pudesse fazer, mais eu mandei um beijo para ela e deslizei com o carro novamente por aquelas ruas largas.

Peguei meu celular e ousei discar o número de Emy. A linha chamou várias vezes, até uma voz fina atender do outro lado.

— Will?

— Preciso da sua ajuda. — Eu disse. — Podemos nos encontrar na cafeteria, junto com outras amigas suas?

— Will, não vou ajudar você a tentar superar a Cely com outras meninas, preciso que…

— Não, não tem nada a ver. — Eu disse parando em frente a cafeteria. — Só me encontra lá.

Entrei na cafeteria vermelhada que tinha uma porta gigante na entrada. Várias estantes de livros se dispunham ali e eu fiquei os observando enquanto esperava Emy aparecer com suas amigas.

Sentei em uma mesa no canto perto do balcão e pedi um café descafeinado. Olhei no relógio do celular e já haviam se passado quase meia hora, e nada de Emily aparecer.

Quando estava prestes a terminar meu café e pedir mais um, o que deviam ser cerca de sete ou oito garotas invadiram a cafeteria. Elas todas usavam vestidos curtos e até mesmo Jamie estava entre elas.

Emily entrou no fundo com aquela barriga semi formada, sorrindo para mim com aqueles olhos queimando de raiva.

— Espero que você tenha um motivo muito bom de estar me fazendo isso.

— Eu tenho. — Disse e comecei a explicar como funcionariam as coisas.

Algumas meninas ficaram desapontadas por eu tê-las chamado para aquilo, mas, mesmo assim, pareciam dispostas a querer me ajudar com aquele plano ridículo.

— Então é isso.

— Você é realmente um filho da mãe, William. — Emily disse e ao mesmo tempo sorria.

Depois que todos nós já tínhamos combinado, voltei para o meu apartamento quando já eram umas cinco horas da tarde, e encontrei Celeste jogada no sofá com a maior preguiça do mundo.

— Onde você foi? — Ela perguntou enquanto eu colocava a chave no porta-chaves.

— Na cafeteria. — Mostrei o pacote de rosquinha que havia comprado para ela.

— Obrigada. — Ela se sentou cruzando as pernas e pegou o pacote da minha mão. — Então? — Ela disse comendo uma rosquinha. — O que vai me dar de natal?

Meus olhos se arregalaram e eu levei um susto ao perceber que estavamos tão próximo do natal.

— Eu estava brincando, meu Deus, não precisa me dar nada.

— O que? — Eu olhei para o seu olhar que parecia preocupado. — Não é por isso, é só que eu estou perdido no tempo. Não acredito que já estamos perto do natal.

— Semana que vem, bonitão. — Ela disse enfiando uma rosquinha inteira na boca me fazendo rir.

— O que você costuma fazer no natal? — Eu perguntei querendo jogar assunto fora.

— Faz quatro anos que eu comemoro o natal trabalhando. — Ela disse e jogou o saco de rosquinha para o lado. — Mas e você o que faz?

— Bem, eu ia para casa de Emily, e uma vez jantamos com a minha mãe. — Eu pensei um pouco. — Mas esse ano podemos passar o ano novo e o natal na casa de praia da minha mãe.

— Sua mãe tem uma casa de praia e uma cobertura? — Ela disse me olhando indignada.

— Não é grande coisa. — Eu disse tentando omitir a verdadeira realidade. — É só uma casa afastada de Ubatuba, perto do mar, com um jardim lindo e uma floresta bem bonita ao lado.

— Uma casa no meio do nada no ano novo? — Ela me olhou com as sobrancelhas levantadas. — Você não vai tentar nada de novo comigo?

— Isso é uma coisa que um homem não pode prometer, Celeste. — Eu disse e ela me empurrou de leve.

— Eu não sei, parece grande, nós dois saindo para ir pro meio do nada no natal.

— É uma casa de praia, não vamos para um puteiro. — Eu disse tentando a convencer. — E mesmo que fosse poderíamos nos divertir todos juntos.

Ela revirou os olhos e me olhou como se não achasse uma boa ideia.

— Celeste nós vivemos juntos, no mesmo apartamento, se eu quisesse te ter nua em cima de mim já teria feito isso há muito tempo.

— Cala a boca. — Ela disse indo para a cozinha.

— Vamos lá, Cely, é só uma semana. — Eu me sentei em um dos bancos. — Vamos lá no dia vinte e quatro. — Eu ergui as sobrancelhas para ela em um gesto malicioso, e ela jogou água em mim. — Eu estou brincando, mas nós podemos ir na véspera e voltarmos um dia depois do ano novo.

— Eu não sei Will, é só um passo muito… — Ela me olhou suplicante.

Caminhei até ela, passando a mão por sua cintura e deixando que ela me abraçasse.

— Juro para você, Cely que não vamos fazer nada que você não queira. — Eu beijei o topo da sua cabeça. — Eu nunca faria isso com você.

Ela levantou os olhos e eu sorri para ela, tentando transmitir segurança.

— Eu odiaria ter que ir para a praia e deixar você sozinha aqui. — Eu disse ironicamente a provocando.

Ela tentou se soltar de mim, mas eu passei os braços mais firmes por ela e a soergui, colocando-a no balcão.

— Hoje a noite, — Eu beijei seus lábios rapidamente. — Vamos no nosso primeiro encontro oficial, então espero que você esteja pronta em dez minutos.

— Eu só preciso de cinco. — Ela trouxe meu rosto para perto do seu e me beijou novamente, fazendo aquela sensação de formigamento voltar entre os nossos lábios.

***

Em poucos minutos, Celeste estava pronta usando um vestido preto. Um vestido preto que eu tinha certeza que já tinha visto ela usando, mas não me recordava de onde.

A chuva tinha voltado a pingar do lado de fora do carro, como eu havia pensado que iria depois de ver aquelas nuvens que tomavam o céu mais cedo.

Chegamos no restaurante, e sentamos em uma mesa perto da janela. Celeste tinha uma paixão desconhecida pela chuva e mal sabia que deveria me preocupar com essa paixão.

Ela sorriu enquanto olhava as gotas deslizarem pela janela e depois se focou em mim.

Analisei-a bem, enquanto ela estava olhando por trás daquele cardápio, e percebi que a cada dia eu me surpreendia mais com a sua beleza.

Seus cabelos curtos caindo em mechas cacheadas até os ombros, ela tinha feito uma maquiagem bem fraca no rosto, e mesmo que eu preferisse seu rosto sem nenhuma maquiagem, eu podia afirmar que ela estava linda.

— Acho que eu vou pedir… — Ela parou de falar vendo que eu estava observando-a. — O que foi?

— Nada. — Eu disse limpando a garganta e verificando o meu cardápio.

O garçom apareceu minutos depois e nós fizemos o nosso pedido. Por algum motivo minhas mãos suavam muito e aquela camiseta escura aumentava o calor três vezes a mais. Minha respiração estava inconstante e Cely começava a me olhava de um jeito estranho.

— Will? — Ela pegou a minha mão percebendo que elas soavam. — Você está bem? Sua mão está um pouco…

— Eu? — Disse tremendo um pouco. — Estou ótimo, melhor impossível, já disse que estou bem?

Ela contraiu a boca e me jogou um olhar com as sobrancelhas erguidas como se eu fosse louco.

— Tudo bem então. — Ela disse.

Vi o garçom vindo de longe com a nossa comida e bebida. Ele colocou o prato a nossa frente e eu inspirei sendo consumido pelo cheiro exaltante que aquela comida tinha. Ele colocou o vinho na mesa e depois os copos, se retirando momentos depois.

— Você quer vinho? — Eu engoli seco com um sentimento que tudo daria errado.

— Claro.

Eu peguei o vinho que já estava semi aberto, e despejei o liquido roxo em sua taça. Quando estava para terminar de colocar, minhas mãos estavam trêmulas que de alguma maneira eu consegui virar o copo, fazendo que este tombasse e derramasse toda a bebida em Cely.

Ela reagiu no mesmo instante, afastando a cadeira e fazendo com que o garçom que estava atrás dela, derrubasse a comida da bandeja em outro homem que estava sentado ao lado de nossa mesa.

Os olhos de Celeste ficaram arregalados e eu quis me enfiar em um buraco e nunca mais sair de lá.

— Ai meu Deus, me desculpe. — Eu não controlei a minha voz e acabei gritando não só para Cely, mas também para o garçom.

Ela rodou os olhos para o restaurante e todos nos encaravam com risos no rosto.

— Tudo bem, William. — Ela saiu andando em direção ao banheiro e eu me afundei na cadeira humilhado.

Meu telefone explodiu com aquela melodia brega que eu ainda não havia mudado e eu atendi rapidamente querendo atrair menos atenção do que eu já tinha.

— E ai, como está indo? — Emily perguntou risonha.

— Derrubei vinho o vestido dela, e fiz com que o garçom derrubasse uma lagosta do homem próximo a nossa mesa, mas tirando isso está tudo indo muito bem. — Eu disse em um tom sarcástico.

— Derrubou vinho no vestido dela? — Emily disse indignada. — Sorte que ela não usa roupa de marca, porque teria sido um desperdício.

— Sim, Emily, a noite está sendo um desastre total e por que não nos preocuparmos se o vestido dela é de marca ou não? — Eu disse revirando os olhos do meu modo. — Acho que ele parecia ser petit.

— Isso é marca de perfume. — Ela disse como se eu fosse um bocó.

— Eu não ligo. — Gritei envergonhado.

Olhei de longe e vi Cely voltar com uma mancha no vestido. Seus olhos pareciam derrotados, e eu me senti péssimo por aquilo.

— Tenho que desligar, Cely está vindo.

— O.k, estamos todas prontas. — Ela disse e desligou.

Celeste se sentou, e pegou o garfo começando a comer seu jantar. Nós dois passamos o resto de jantar em silencio, porque (a) eu estava me sentindo péssimo por ter estragado todo o jantar por causa de um nervosismo que eu nunca tinha tido e (b) porque aquela noite deveria ser especial para ela. Agora ela se lembraria como a noite em que eu arruinei tudo.

Terminamos o jantar e fomos até o carro ainda em silêncio. Celeste me olhava preocupada, mas ainda sim, não achava que deveria falar com ela, estava muito nervoso e sabia que soltaria alguma baboseira.

Entramos no carro e eu suspirei profundamente antes de falar com a Cely.

— Me desculpe, não sei o que deu em mim.

— Está tudo bem, Will. — Ela sorriu. — Foi só um pouco de vinho, nada que não tenho jeito.

— É só que, — Eu dei ignição no carro sentindo ainda um pouco de nervosismo.

Você é um homem ou um saco de batatas, William?

O pensamento veio a minha mente.

— Cely, nós nos conhecemos não faz muito tempo, mas eu sinto como se nós dois tivéssemos essa ligação desde de muito tempo atrás. — Eu respirei e virei em uma avenida que dava diretamente na rua do nosso apartamento. — Eu sempre fui aquele menino irresponsável, que sempre achou que sexo era a solução de tudo. Achava que minha vida era completa daquela forma, mas eu não sabia de nada. E como podia?

— Will… — Ela abaixou os olhos e eu liguei o som deixando I wanna be yours, a música que estávamos escutando quando tínhamos nos beijado pela primeira.

— Eu só estou dizendo Cely que eu nunca me senti completo como eu me sinto com você. — Eu respirei e avistei uma das meninas a frente. — Eu só queria que você soubesse, que a vida inteira não era só você que estava perdida.

Cely olhou para a primeira garota que usava um vestido roxo, e um guarda-chuva rosa. Quando estávamos passando perto dela, ela abaixou o guarda-chuva e a palavra: Talvez estava grudada em seu topo. Passamos por outra menina que usava uma blusa de frio e calça jeans e já estava mais para o meio-fio, com um guarda-chuva verde e escrito: Eu. A outra garota tinha um guarda-chuva verde, e estava indo mais para o meio da pista. Tinha a palavra nele. Outra menina ruiva e baixinha, tinha um guarda-chuva preto com a palavra: Queira. A penúltima garota segurava sorrindo outro guarda-chuva, só que dessa vez colorido, com a palavra: Ser. E a última estava bem no meio na rua com um guarda-chuva gigante com a palavra: SEU.

Olhei para Celeste e parei o carro ali mesmo, deixando a música correr através dos nossos ouvidos. A garota tinha tampado metade do seu rosto com a mãos demonstrando uma expressão que eu não conseguia saber o que era.

— Eu também estava perdido, Cely e se você deixar eu quero cuidar de você por esse tempo. — E eu prometo que eu vou tentar te fazer a pessoa mais feliz do mundo, também prometo que isso não é um pedido de casamento então você pode ficar tranquila.

Ela soltou uma risada e contraiu os lábios olhando para mim com aqueles olhos cheios de lágrimas.

Aumentei o som deixando que a música corresse pelas ruas.

— Eu só quero ser seu, Cely. — Desci da camionete e fui até seu lado abrindo a porta para ela.

A chuva caia rala sobre nós mas isso não parecia preocupar nenhum dos dois. Ao invés disso eu a levei para o centro da rua. Onde conseguíamos ver Emy gravando tudo.

— Você quer ser minha? — Eu perguntei com o coração palpitando muito rápido.

Ela olhou com os olhos tristes para mim e passou a mão pelo meu rosto.

— Me desculpe, Will. — Ela abaixou o olhar. — Mas não.

Meus olhos se travaram em todas as garotas que nos observavam com tensão no rosto. Meu coração se apertou e eu sentia que a qualquer momento ele pararia de bater do tanto que aquela resposta havia sido dura para mim.

Desviei o olhar do seu, e ela puxou meu rosto me fazendo olhar novamente para o dela.

— Eu estou brincando seu idiota. — Ela passou os braços pela minha nuca. — É claro que eu quero.

Meu sorriso se abriu em uma ação involuntária, e eu puxei a sua cintura diretamente para mim grudando seu corpo ao meu. Meus lábios se abriram para sentir o gosto de sua boca. Ela me beijava lentamente e caprichosamente, de um jeito em que nossas línguas pareciam dançar uma valsa rítmica.


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Notas finais do capítulo

Will ♥ ♥



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