Brittle escrita por Isabelle


Capítulo 2
Capítulo 1 - Will


Notas iniciais do capítulo

Eu chamo de magia
Quando estou com você
E eu acabei de ser quebrado
Quebrado em dois
Mas ainda chamo de magia
Quando estou perto de você
— Coldplay



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Dizem que o melhor jeito de respirar é pelo nariz, e que respirar pela boca pode ser muito errôneo graças a falta de umidificação que ocorre no seu sistema respiratório. Dizem também, que uma das melhores formas de respirar para se acalmar ou quando você está fazendo exercícios, é inspirar pelo nariz e expirar pela boca.

E era exatamente isso que ela estava fazendo.

Os olhos dela fitavam a imensidão do céu gotejando agora ralas e pequenas gotas. A tempestade tinha diminuído bastante mas os relâmpagos continuavam iluminando o céu com a sua luz interminável.

Ela estava notavelmente desconfortável e minuscula sentada naquele banco de dois espaços. O lábio superior dela, era mais fino que o lábio inferior, fazendo com que sua boca quase formasse um coração. Seus dentes estavam cravados no seu lábio inferior enquanto ela ainda tentava se acalmar. Ela parecia algo inatingível de tão profundo que era o cubo de gelo que ela havia construído envolta de si mesma. Há todo o tempo ela olhava para o relógio tentando fazer com que o seu olhar acelerasse o tempo. A estrada parecia um caminho tortuoso com o silencio que tintilava levemente sobre nós.

Olhei no espelho retrovisor que estava embaçado por causa da chuva, mas, mesmo assim, ainda conseguia ver meus olhos azuis enquadrados em uma franja de cabelos pretos muito escuros, por trás daquele borrão escuro

Soltei um suspiro tentando aliviar a tensão, mas nada parecia ser mais desconfortável do que estar ali com ela.

― Bairro Santa Mônica. ― Ela disse rapidamente quase como um sussurro.― Rua José Miguel, um prédio verde água. ― Ela disse sem emoção.

Acenei com a cabeça concordando e olhei para ela. Um carro vinha no sentido oposto e seus faróis iluminaram os olhos castanhos dela que bem no fundo eram um pouco esverdados.

Um nó se formou na minha garganta e ela voltou a respirar de um modo estranho e eu não pude deixar de formar um sorriso no canto da boca.

― Qual é a da respiração? ― Virei em uma avenida encontrando três carros que estavam parados no sinal.

― Como assim? ― Ela me fitou confusa, mas ainda respirando daquela forma.

― Eu estou em duvida ― Eu olhei para ela sem emoção.― Eu não sei se você está respirando normalmente ou se está prestes a parir seu primeiro filho.

Ela revirou os olhos e apoiou o cotovelo no apoio do carro observando a tempestade, e voltando a não falar nada. Ela parecia tão focada no nada que primeira vez, eu quis saber para onde ela ia depois que o silencio tomava conta.

― Você não me disse seu nome. ― Eu afirmei olhando para a pista que não possuía muitos carros.

Ela me fitou por alguns segundos como quem pensasse se deveria confiar ou não em mim. Ela parecia estar prestes a falar, mas sua garganta estava seca então saiu mais como um grunhido.

― Celeste. ― Ela passou a língua para umedecer os lábios e voltou a se focar nos pingos que escorriam pelo vidro.

― O que você faz da vida, Celeste? ― Eu fiz a pergunta soar como uma melodia e consegui tirar um sorriso dela.

― Jornalismo. ― Ela disse ainda distraída.

Percebi que ela queria assunto, então para não ficarmos em silêncio de novo, liguei o som.

A música que começou a tocar era algum tipo de sinfonia que não envolvia piano. Eu havia colocado aquele CD ali a semanas para me concentrar nas notas de uma música que eu tinha que aprender para o teste que eu faria daqui duas semanas para a Universidade Federal de Música. A melodia no rádio pareceu animar Celeste, ela se remexeu no banco e começo a tamborilar os dedos como se soubesse as notas exatas daquela música. Sua respiração se acalmou e ela fechou os olhos deixando a música a carregar para um universo muito longe deste.

― Yo Yo ma ― Ela disse com um pouco mais de emoção na voz.

― O quê?

― O compositor ― Ela abriu os olhos.― A musica é dele.

― Então faz aula de violoncelo, mas faz faculdade de jornalismo? ― Eu perguntei olhando para ela por um segundo e depois olhando para a estrada. ― Nunca pensou em se dedicar a música?

― Não sou tão boa, e de qualquer jeito, gosto mais de escrever do que gosto do meu violoncelo ― Ela sorriu. ― Que ele me perdoe por isso.

Ela parecia me encarar mais dessa vez, o que fez com que eu olhasse para ela também.

― Não quero morrer, Will, olho na estrada.

― Acho mais fácil você morrer andando de bicicleta em uma calçada toda protegida, do que comigo dirigindo. ― Dei uma piscadinha para ela.

Ela simplesmente revirou os olhos.

― E você? O que faz da vida?

― Sou stripper nos fins de semana. ― Eu disse sério.

Senti ela observar meu corpo o que me fez soltar uma risada.

― Sim, o meu físico ajuda bastante se é isso que está se perguntando.

Ela abaixou a cabeça envergonhada, mas conseguia ver o sorriso no canto do seu rosto. Tenho certeza que se o carro não estivesse tão escuro eu teria visto o tom avermelhado que suas bochechas tinham tomado.

― Dou aulas de piano no conservatório e se tudo der certo vou fazer faculdade de música daqui alguns meses. ― Eu disse parando em outro sinal.

― É isso que você sempre quis fazer? ― Ela perguntou curiosa.

― Não, como eu disse, minha ideia principal era stripper.

―To falando sério. ― Ela parecia realmente interessada.

― Sim, é uma coisa que rola comigo e com o piano. ― Eu dei um sorriso me lembrando de quando eu havia decidido tocar piano.

Era meio estranho para um garoto tocar um instrumento que era considerado por todos que eu conhecia por ser tão feminino, todos os meus amigos tinham me zoado quando eu tinha entrado nas aulas aos treze anos, porém quando eles foram na minha primeira audição, eles entenderam que aquilo era algo que já estava conectado comigo.

Virei o carro parando bem em frente a um prédio verde-água.

― E você? ― Perguntei agora podendo olhar bem para ela. ― Sempre quis jornalismo?

― Não, ― Ela colocou a franja para trás do cabelo mostrando mais da cicatriz rosada. ― Eu...

O meu celular começou a tocar uma melodia brega e cafona que Emily tinha colocado como toque cortando-a totalmente de falar. Ela abaixou a cabeça, pegando sua mochila marrom meio hippie que ela tinha jogado no chão e colocando no ombro.

― Um minuto. ― Eu disse para ela e atendi o telefone.

― Onde você está? ― A voz dela estorou pelo telefone.

― Estou chegando em casa, por quê? ― Eu olhei para Celeste e a vi saindo da caminhonete.

― Eu tenho que ir. ― Ela sorriu e fechou a porta do carro. ― Obrigada pela carona.

Ela disse pela janela e caminhando.

― Tem como você vir me buscar no hospital? ― O pedido de Emily soou como uma ordem, porém já estava acostumado a lidar com essa sua autoridade.

Eu tentei acenar para Celeste antes que ela pudesse desaparecer do meu campo de visão, mas ela já estava andando em direção ao apartamento e de costas, então a única a alternativa foi sair dali.

― Sim, eu chego em dez minutos. ― Respondi.

― Obrigada, amor. ― Ela disse e desligou o celular.

✤ ✤ ✤

Demorei mais que o tempo normal para chegar ao hospital por causa da tempestade que tinha voltado a despencar por aquele céu escuro que as estrelas tinham abandonado. Ao em vez disso os relâmpagos e trovões tomaram conta do céu se repetindo cada vez mais forte o que me fazia querer chegar em casa o mais rápido possível.

Eu não sabia em qual parte do hospital Emily sairia, da primeira ala ou da ala pediátrica, mas arrisquei a segunda.

Esperei uma série de minutos escutando The Avett Brothers- The ballad of Love e vi Emily correndo com seus cabelos loiros escuros voando por conta do vento. Ela entrou do carro trazendo com sigo a tempestade de tão molhada que ela estava.

Encostou sua boca na minha dando um beijo lento e demorado. Adentrando a minha boca com sua língua úmida, assim, fazendo com que eu sentisse o gosto dos pingos da chuva. Ela se afastou logo depois, me encarando com aqueles olhos azuis profundos.

― Obrigada, pensei que ia ter que ficar a noite inteira nesse hospital por causa dessa tempestade. ― Ela disse abrindo sua bolsa rosada e pegando um gloss transparente e espalhando por seus lábios.

― Se você odeia tanto o seu estágio, por que faz medicina? ― Eu disse deslocando o carro.

― Porque eu não iria ser bem-sucedida e rica se eu tivesse uma profissão abstrata como.. Ela me encarou tentando não dizer, mas estava bem obvio.

― Eu só não sei porque musica… Você se daria tão bem em outras áreas

― Emy, não quero discutir esse assunto novamente. ― Eu disse virando a esquerda já me aproximando de seu apartamento. ― Por que não veio com seu carro?

Emily morava somente a cinco quadras do hospital, então sim, eu sabia que seria um exagero até mesmo para ela ir de carro até o hospital.

― Tem algum problema eu querer ver meu namorado de vez em quando? ― Ela disse fazendo biquinho.

― Ver seu namorado ou transforma-lo de chofer? ― Eu disse parando em frente a seu prédio.

― Will, faz dois dias que a gente não se vê por causa das suas aulinhas estúpidas e daqui alguns meses vamos ficar um tempo sem nós vermos porque você tem sua apresentação em São Paulo.

― Pelo menos se não der certo eu sei que posso seguir o caminho de chofer.

Ela sorriu.

― Você vai no jogo amanhã?

― Vou ― Eu disse nada empolgado. ― Acho que estou ficando velho para essas coisas.

― Bobagem, ― Ela sorriu maliciosamente para mim e começou a descer meu banco. ― Você só precisa de algo pra te animar.

― Emy, não vamos fazer isso agora, o céu está despencando lá fora.

― Ainda bem que nós estamos aqui dentro, você não acha? ― Ela disse terminando de deitar meu banco e sentando por cima de mim.

Ela passou os lábios levemente por cima do meu pescoço e depois começou a me beijar impaciente como ela costumava fazer na época de colegial. Ela forçava cada vez mais a boca na minha. Seus lábios eram sedosos mas também estavam cobertos de gloss o que faziam nossas bocas grudarem quando iam se separar. Eu segurei-a bem firme contra meu corpo e passei a mão por seus cabelos, fazendo ela soltar um suspiro abafado. Os braços dela se prederam as minhas costas forçando minha camiseta a sair. Levantei os braços rapidamente e tirei minha camiseta e em poucos minutos tirei a dela também. Seu sutiã era preto com detalhes vermelhos que realçavam o tamanho de seus peitos. Ela sugou meu lábio inferior com tanta força que jurava que o tinha machucado, mas eu não me importava naquele momento. Passei a mão por toda a sua cintura apertando seus peitos enquanto nós beijávamos, até que ela parou de me beijar por um segundo, para que observasse meu olhar, enquanto ela desabotoava o próprio sutiã. Seus peitos encostaram sobre meu abdômen quando ela me forçava mordendo meu pescoço e dando leves chupões. Passei as minhas mãos por seus peitos forçando os levemente e sentia seus gemidos todos abafados por meus beijos, até que alguém bateu no carro fazendo com que ela se assustasse e tampasse os peitos rapidamente.

Olhei pela janela e reconheci, Emett, o guarda que ficava no portão de seu prédio. Ele usava seu tipico terno preto com uma gravata amarela amarrotada e desbotada. Seus olhos escuros fitavam a mim como se desejasse que eu pegasse fogo, mas eu simplesmente abri o vidro, quando vi que Emy já tinha colocado sua blusa, e soltei um sorriso para Emett.

― E aí, Emett?

― Já disse para vocês dois pararem de fazer isso aqui na frente do prédio. ― Ele disse bravo.

Emy soltou um suspiro entediada.

― Olha aqui Emett, na internet tem tudo isso que você viu, de graça, não precisa ficar observando a mim e a Emy.

Em soltou uma risada abafada e me deu um selinho antes de descer do carro.

Fiz um gesto para Emett e virei o carro disparando para o destino final daquela noite. Não queria ter pensado naqueles olhos, mas pensei. Me senti um pouco culpado, por não deixar de pensar nos olhos de Celeste que mais tarde, assombrariam meus sonhos.


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