Brittle escrita por Isabelle


Capítulo 12
Capítulo 11 - Will


Notas iniciais do capítulo

''A maneira como você me segurou tão firme
Durante toda a noite
Até o amanhecer
Porque você ama, ama, ama...
Quando você sabe que eu não posso amar''
— Of Monsters and Men



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Nós éramos um pequeno ponto preto naquele mar de carros todos colados um ao outro, naquele trafego horrível. Várias buzinas estouravam em nossos ouvidos enquanto nós não sabíamos o que fazer para sair daquele aperto.

Tanto eu, quanto Celeste já estávamos ambos de mal humor naquele momento. O sol brilhava intensamente e o meu suor e o da Cely deslizava por todo nosso pescoço e testa, e ela tentava se abanar com uma folha que ela tinha achado debaixo do banco.

Já era hora do almoço o que agravava o nosso mal um humor, e quando um carro vermelho a nossa frente começou a se locomover, depois de mais ou menos uma hora, nós saímos disparados daquela multidão.

Vimos o hotel depois de duas horas rodando São Paulo. Era uma cidade confusa e muito bagunçada, e nem em cinco minutos, eu já queria voltar para casa e nunca mais sair de lá.

Não estava pronto para ver meus pais juntos depois de todos esses anos. Não estava pronto para encontrá-los depois de todos esses anos. Eu só queria que tudo fosse mais fácil.

Paramos em frente a um Hotel gigante, e todo espelhado, com um arco azul na frente. O convite avisava que era naquele hotel em que deveríamos ficar para encontrar com meu pai e minha mãe, que estariam as quatro horas nos esperando para tomar um chá.

Um homem vestido com um terno estranho, veio e pegou todas as nossas bagagens, nos acompanhando para dentro do hotel.

Entramos na recepção, e Celeste olhou para ela com o mesmo olhar que eu estava.

Primeiramente, o chão era totalmente de madeira que não fazia nenhum barulho quando nosso pé entrava em contato com o chão. As paredes eram totalmente brancas, mas em algumas partes haviam detalhes em dourado que mais parecia amarelo.

Havia um balcão em um formato estranho, e haviam duas moças conversando, enquanto faziam check-in de algumas pessoas. Um mural na parede atrás delas tinha os mesmos detalhes que o balcão.

Bem antes do balcão, haviam duas poltronas de couro, em frente a uma mesinha com um vaso de lírios, e Celeste sorrir ao ver aquilo. Lírios eram suas flores favoritas.

Do lado direito, havia dois pilares e atrás desses pilares havia uma sala de estar bem aconchegadas, onde haviam vários casais assistindo televisão e crianças brincando, enquanto havia bem no fundo uma mesa ostentando vários tipos de comidas. Podia se ver uma porta de vidro bem ao fundo dessa sala, que dava a um jardim, onde estavam várias mesas propicias para um chá.

Do lado esquerdo havia uma entrada para os dois elevadores prateados.

Fomos ao balcão, e uma das moças no recebeu com o maior sorriso possível. Ela era ruiva com os olhos verdes, e sardas espelhadas por todo o corpo. Usava um macacão azul que a deixava mais atraente ainda.

— Posso ajudar vocês? — Ela sorriu com os dentes alinhados.

— Sim, estamos procurando o quarto cento e oitenta. — Eu sorri para ela.

— Will Hastings? — Ela sorriu simpática e apontou a mão para mim.

— Sim, sou eu. — Eu apertei sua mão.

— Você deve ser a Emily. — Ela sorriu para Cely e também deu um aperto de mão.

— Esse é a Celeste.

Ela nos olhou confusa.

— Emily não pode vir, nós terminamos.

— Ah, você está solteiro? — Ela soou oferecida.

Eu assenti com a cabeça e ela apenas me entregou a chave do quarto sorrindo muito ainda.

Celeste e eu nos esgueiramos para dentro do elevador, e ela ficou olhando para aquele cubículo como se estivesse assustada. Demoramos um pouco para subir, já que o quarto era na cobertura, o que deixava Celeste cada vez mais apavorada. Ela olhou para o espelho e me encarou por lá, tentando não deixar o medo transparecer.

— Você está bem? — Eu sorri para ela.

— Bem? — Ela disse nervosa. — Eu estou ótima.

— Tem medo de elevador?

— Você não? — Ela se encostou em uma parede. — É um cubículo e se emperrar temos que ficar presos aqui por várias horas, ou pior, ele pode despencar e…

Segurei seus ombros e a trouxe para perto de mim, a achando fofa.

— Você não tem que ter medo.

O barulho do elevador soou alto, e a porta se abriu.

— Viu? Está tudo bem.

Ela saiu do apartamento se sentindo em segurança. O homem que tinha carregado nossas malas estava parado em frente ao apartamento nos esperando.

Abri a porta revelando o grande espaço que tínhamos ali.

Uma cama de casal roxa estava do lado esquerdo do quarto e era a única cama que havia no quarto. Ela ficava em algum tipo de encaixe com a parede bege, com uma luz rosada saindo de uma parte por entre a parede. De frente para a cama havia uma televisão bem grande com uma cômoda embaixo com algumas revistas, e duas bandejas com comida. Ao lado da televisão havia uma porta, que eu acreditava ser onde ficava o banheiro. No fundo do quarto uma janela gigante deixava uma varanda de tamanho mediano, onde havia algumas mesas e cadeiras para deitar. Uma porta, que era um closet, ficava na parede de frente para a varanda.

O homem com o terno entrou no quarto e colocou nossas malas dentro do closet, e Celeste ficou encarando a única cama indignada, mas ela esperou o homem sair do quarto para se queixar.

— Um quarto gigante deste e uma cama? — Ela sentou-se na cama. — Uma maravilhosa cama com um coxão perfeito?

— Meus pais devem ter alugado esse quarto pensando que eu traria Emily, e Emily e eu usaríamos uma cama de casal.

— O que vamos fazer?

— Dividir a cama — Eu falei sendo logico. — Nem fodendo que eu vou ser aqueles caras trouxas de filme que se oferecem para dormir no chão.

— Sempre tão cavalheiro, Will. — Ela disse com sarcasmo.

— Não vamos fazer nada de mais, então qual o problema? — Eu me deitei na cama ao seu lado.

— Sei lá — Ela se deitou ao meu lado com o ombro colado ao meu. — É só estranho para mim.

— Nunca dormiu na cama do Eric?

— Dormi, mas ele sempre dorme no sofá. — Ela disse e sua mão tocou a minha, fazendo com que todos os meus músculos tencionassem.

As nossas mãos ficaram se encostando até quando eu dei o primeiro passo, e entrelacei meus dedos aos delas, como havíamos feito semanas atrás.

— Ele é um mané. — Eu disse relaxando.

— Ele é conservador, diferente de você. — Senti a respiração lenta dela, o que significava que ela também se sentia como eu estava me sentindo.

— Eu sou conservador. — Eu virei meu rosto para o dela. — Já viu os filmes da pré-história? Eles transam enquanto a mulher lava roupa.

Ela riu e virou o rosto em direção ao meu.

Meu rosto estava tão próximo ao dela que sentia sua respiração em cima de mim. Seus lábios rosados pareciam me chamar e eu tive que ter muito autocontrole naquele momento para não beijá-la. Ficamos ali, nós olhando, deixando que nossos olhos se apossam-se de cada detalhe do rosto do outro, enquanto compartilhávamos aquele momento que podia nunca mais acontecer novamente.

— Acho que temos que comer. — Ela sussurrou.

— Também acho. — Eu disse.

Mas nós não nos movemos. Apenas ficamos ali, sem se mexer, até que levantamos e fomos comer na varanda.

A vista que a varanda exibia era um céu cinzento, mas não porque choveria, e sim pois o céu de São Paulo era assim. Ele não tinha aquela coloração azul viva, como em cidades menores, mas sim, um céu acinzentado por conta da fumaça.

Conseguia ver uma piscina ao lado daquela área que servia para relaxar, onde as pessoas estavam almoçando, que havíamos vistos antes. Havia uma churrasqueira e várias crianças deslizando no tobogã pequeno que ela possuía.

— Está preparado para ver seus pais? — Ela perguntou quando deu a última garfada.

— Não sei, acho que não. — Espreguicei na cadeira. — Mas não tenho escolha.

— Me desculpe por ter feito você fazer isso, se fosse com meus pais me sentiria do mesmo jeito.

— O que aconteceu com a sua mãe? — Eu perguntei sabendo que não deveria.

— Eu não sei. — Ela desviou o olhar e eu sabia que ela estava mentindo.

Senti a tensão crescer no ar, igual quando eu lhe tinha perguntado de sua cicatriz. Achei melhor não forçar a barra, esperava que um dia ela pudesse contar essas coisas para mim.

— Então, senhorita, o que quer fazer até as quatro horas?

— Dormir é uma opção? — Ela perguntou juntando os nossos pratos e voltando para dentro do quarto.

— Acredito que sim. — Vi ela colocando os pratos em cima da cômoda e depois se jogando na cama.

Tirei a camiseta que estava grudada em mim por causa do calor e me deitei ao seu lado tomando cuidado para não tocá-la. Ela ficou ao lado esquerdo e eu ao direito, e mesmo depois de vários minutos que sabia que ela estava dormindo, eu ainda estava acordado. Fechei os olhos e me virei para o lado esquerdo, vendo Cely dormindo suavemente, e sorri e deixei o sono me absorver me levando para a realidade dos sonhos.

Acordei e os braços de Cely estavam envolta de mim. Ela dormia normalmente, mas ela estava de conchinha em mim o que me fez ter vontade de rir, mas eu apenas relaxei sentido sua respiração em meu pescoço.

Empurrei-a de volta para que ela não visse problemas em dividir a cama e me levantei. Peguei meu celular para ver as horas e eu ainda tinha vinte minutos para tomar um banho e me aprontar, então foi o que eu fiz.

Entrei no banheiro e deixei a água bater em mim, tentando ignorar todas aquelas coisas estranhas que eu estava sentindo pela Cely. Fechei os olhos e imaginei-a comigo na cama como estávamos antes, de mão dadas, aquilo tinha significado alguma coisa, não só para mim, mas também para ela. A água inundava meus pensamentos, e me deixava com uma sensação diferente, de uma maneira que eu nunca havia me sentindo antes.

— Will? — Uma voz dormente quebrou meus pensamentos.

O box do banheiro era mais escuro do que havia em casa, o que não deixava eu ver a pessoa que usava a outra parte do banheiro e ela também não me via.

— Está pronto, pequeno leão? — Ela disse e eu escutei a água da torneira correr, quando desliguei o chuveiro.

— Pega uma toalha para mim? — Eu disse com um tom seco.

Ela passou a toalha para mim por cima do box, e eu apenas sai do banheiro sem trocar muita conversa com ela.

Troquei de roupa colocando outra calça jeans e uma blusa azul escura com um par de tênis pretos, e passei a mão pelos cabelos fazendo a água acumulada deslizar por ele.

Fiquei deitada na cama esperando Cely sair do banheiro olhando o teto, até ela sair do banheiro.

Ela saiu usando um vestido amarelo, com várias flores coloridas. Estava usando seus cabelos gigantes molhados, com as pontas meias cacheadas.

— Você está linda. — Mordi meus lábios e me amaldiçoei por essas palavras.

— Obrigada, você também. — Ela sorriu sem graça. — Lindo, não linda, é só…

Ela ficou em silencio e olhou para o chão.

— Está pronta para ir? — Eu perguntei e ela assentiu.

— Sim.

Eu me levantei e fiquei me questionando se deveria pegar sua mão, porém no final ela passou o braço pelo meu e fomos tomar o chá.

Meus pais aguardavam por nós na mesa. Eles estavam rindo muito e eu me senti totalmente deslocado ao ver aquilo.

Minha mãe estava usando um vestido bege, que não combinava muito já que sua pele era muito clara para a cor. Ela também usava um chapéu tampando seus cabelos pretos e seus olhos azuis estavam brilhando de tão azuis que eles estavam. Ela acenou para mim e para Celeste, com seu sorriso simpático e eu não consegui retribuir o sorriso quando vi meu pai parado atrás dela com uma mão em seus ombros.

Ele estava robusto com uma blusa caqui e uma calça jeans; alguns fios de seus cabelos escuros estavam ficando branco, até mesmo os de suas sobrancelhas estavam. Seus olhos castanhos escuros me encaravam, e sua boca estampava um sorriso.

— Não sei se consigo fazer isso, Celeste. — Eu mordi minha bochecha e ela segurou minha mão.

— Vai dar tudo certo, Will, eu prometo a você. — Ela sorriu e continuou andando em direção aos meus pais.

— Will, meu amor. — Minha mãe veio me abraçar e eu a acolhi em meus braços percebendo quanto eu sentia sua falta.

— Filho — Meu pai me deu um leve aperto de mão.

— Essa não se parece com a Emily. — Minha mãe continuava sorrindo.

— Mãe e pai, essa é a Celeste.

Celeste deu um sorriso simpático e um beijo na bochecha da minha mãe para cumprimentá-la e um aperto de mão com meu pai.

— E Celeste, esses são Amélia e Adrian.

— Vocês estão juntos a quanto tempo? — Minha mãe perguntou com toda inocência.

— Nós não estamos juntos. — Eu disse sem graça e Cely abaixou o olhar.

— Acho melhor nós nos sentarmos antes que o chá esfrie. — Meu pai disse.

Nós nos sentamos e todo o tempo Celeste ficou segurando meu braço ou segurando forte a minha mão quando via que eu perderia a razão.

Eles conversaram sobre tudo do modo mais simpático possível. Eles perguntaram sobre a escola, o piano, sobre o que Celeste fazia, e há quanto tempo nós dois havíamos nos conhecidos, porém nenhum dos dois havia mencionado a feliz notícia do casamento, que havia sido bem inesperada para mim.

— Quero pedir algo para você, Will? — Ela sorriu com o sorriso idêntico ao meu.

— Quero que toque no nosso casamento.

— Não acho que vai ser uma…

— Ele adoraria. — Celeste interveio. — Will ama aquele piano mais do que a própria vida.

— Falou a menina que ama tanto o seu violoncelo, que recitou um poema de violoncelo.

Ela mostrou língua para mim.

— Eu toco, mas Cely tem que tocar comigo. — Eu disse suspendendo as mãos no ar.

— Acho que não teria o menor problema, o que acha disso Cely?

— Acho que seria uma boa.

— Ah, vai ser perfeito. — Minha mãe sorriu me olhando nos olhos.

— Will, sei que é meio estranho pedir isso, mas seu avô morreu há vários anos — Ela olhou para Cely e depois para mim. — Queria que você me levasse no altar.

— Seria uma honra, mãe. — Senti Celeste relaxando as mãos na minha.

Meu pai somente nos observava sem saber o que falar, ou como conversar comigo.

— E seus pais Celeste? — Minha mãe colocou mais uma vez chá na xícara de Cely. — O que eles fazem?

— Bem, — ela respondeu sem graça. — Meu pai trabalha em uma empresa e minha mãe não faz nada.

— Você mora com os dois?

— Não, eu moro com o Will faz dois meses. — Ela sorriu um pouco sem graça.

— Oh, você não nos contou isso, Will. — Meu pai deu uma risada.

— E vocês não me contaram que tinham voltado, mas me desculpem por não mencionar o fato de eu dividir o apartamento com uma amiga.

Celeste mordeu o lábio e olhou pelo canto dos olhos para mim.

Ambos meus pais ficaram sem graça com o meu estouro, mas eu apenas continuei encarando os dois até obter respostas.

— Celeste, o que você acha de nós fazermos algumas compras, enquanto eles conversam? — Minha mãe perguntou se levantando.

Cely olhou para mim e eu assenti com a cabeça, fazendo com que ela se levantasse e seguisse minha mãe.

— Você ainda sabe jogar? — Ele pegou um jogo de xadrez de debaixo da cadeira e colocou na mesa.

— Adrian, eu não quero…

— Por favor, Will. — Ele me olhou desolado.

Ele organizou as peças, e eu comecei jogando pois estava com as brancas.

Movi primeiro o peão da esquerda e o observei fazer praticamente o mesmo movimento.

Não queria escutar a voz dele, o simples fato de estarmos ali já me irritava, mas estava fazendo isso pela minha mãe.

— Eu e sua mãe saímos há alguns meses para conversarmos sobre a casa da sua vó. Ela queria fazer um investimento, e eu fui ajuda-la.
Eu movi o cavalo e ele moveu outro peão.

— Acabamos bebendo e rindo, relembramos o passado e um coisa leva a outra Will.
Eu fiquei em silêncio olhando o tabuleiro.

— Queríamos te contar, mas você tinha a sua audição, que a proposito temos que conversar sobre, e toda sua vida, achamos que ia ficar muito bravo conosco.

— Não estou bravo com minha mãe. — Eu disse e levantei o olhar para ele. — Estou bravo com você. Porque não importa o que você faça para se redimir, você nunca vai a merecer. — Eu sei que não, Will, você acha que eu não penso isso todos os dias? É claro que eu penso. — Ele engoliu em seco. — Sua mãe é a melhor coisa que já me aconteceu, eu fui muito idiota de ter deixado ela ir embora.

— Me desculpe, não consigo te perdoar.

— Não te culpo por isso. — Ele mexeu o peão e comeu a minha peça. — Will, eu amo sua mãe, sempre amei. Só percebi isso tarde demais.

— Muito tarde mesmo. — Eu cuspi as palavras e me levantei exasperado.

— William, eu te amo tanto quanto eu a amo.
— Então por que você foi embora? — Eu gritei e todas as pessoas que estavam ali me olharam. — Por que nos deixou?

— Tinha dezessete anos, imagine você aos seus dezessete anos descobrindo que vai ter um filho.

— Eu assumiria, nunca a abandonaria com uma criança sozinha. — Eu rebati

— Você não entende, você nunca vai entender, Will. — Ele passou a mão pelos cabelos. — Imagina você ter planos para uma vida toda e eles serem massacrados porque sua namorada do colegial ficou gravida.

— Eu não entendo como você conseguiu fazer isso com ela.

— Eu a amava, mas era muita responsabilidade.

— Se você a amava devia ter ficado. — Eu olhei sem palavras.

— Eu sei. — Ele gritou. —E eu me arrependo todo os dias da minha vida de tê-la deixado. De ter te deixado, mas eu não posso voltar no tempo.

— Não mesmo, e voltar no tempo seria a única forma de fazer você a merecer.

— Você tem toda a razão, mas Will, você nunca sentiu algo por alguém que você tinha certeza que nunca mereceria?

Eu lembrei da única pessoa que me fazia me sentir assim, e simplesmente exclui a do meu pensamento.

— Celeste, está óbvio que você sente algo por ela. — Ele disse voltando a sua voz normal. —Se imagine no meu lugar. Você não gostaria de uma segunda chance?

— Se eu fizesse isso com a Cely, não sei se mereceria uma segunda chance.

— Todos mereceremos uma segunda chance, o segredo é saber usá-la de um modo que não mude só seu aspecto de vida, mas você em si.
Olhei para ele e vi como seus olhos pareciam cansados. As olheiras eram berrantes embaixo de seus olhos e mesmo e ainda sabendo que ele nunca iria a merecer, ele estava se esforçando para ser o necessário para ela.

— Ela te ama? — Eu perguntei.

— Acredito que sim, já que ela aceitou se casar comigo.

Eu consegui sorrir da minha pergunta.

— Não sei se aprovo essa união, mas se ela está feliz com você, estou feliz por ela. — Balancei a cabeça.

— Vou me contentar com isso por um tempo. — Ele me olhou sério. — Mas filho, tem que entender, se tivesse alguma possibilidade de eu ter feito tudo certo na primeira vez. Eu teria.

— Sei que sim.

— Use isso para a sua vida. — Ele passou a mão pelos meus cabelos. — Mesmo que você errar na primeira vez, mas saber que irá dar certo nunca desista dos seus sonhos. Nunca passe seu futuro sofrendo por alguém que você desistiu de lutar

— Quando foi que você virou uma figura paterna?

— Sua mãe me fez ler um livro online. — Ele disse e eu sorri. — Vamos lá, filho. Vamos pegar nossos ternos.

Nós saímos andando.

Passamos o resto da tarde inteira juntos. Rimos conversamos por algum tempo e eu finalmente senti uma oportunidade de me ligar a ele. Nós conversamos sobre a minha audição, contei a ele como tinha conhecido Cely e como ela havia me feito perceber que Emy não era a pessoas certa para mim. Falei tanto dela que eu mesmo não conseguia mais me suportar.

Voltei para o meu quarto com o terno já eram praticamente dez horas da noite, e Cely estava deitada na cama com o cabelo preso em um coque, com um saco de batatas fritas no colo, assistindo Friends.

— Pensei que tinha morrido, ou que seu pai tinha desistido de ser legal e acabou te jogando no Tietê.

— Não, tivemos um dia legal. — Eu guardei o terno no closet.

— Ah é. — Ela disse pausando a série. — Como foi?

— Ah, conversamos sobre a minha mãe e o porquê dele ter ido embora. — Eu tirei a camiseta e a calça.

— E ai? — Ela perguntou comendo uma batatinha.

Eu peguei um cobertor no closet do hotel e sentei na cama ao lado dela.

— Não perdoei ele por tudo que ele fez com a gente, claro, mas ele faz minha mãe feliz e me deu uns conselhos sobre lutar, então acho que estamos de boa.

— Isso é bom. — Ela sorriu. — Sua mãe estava preocupada com vocês dois, aliás, falando sobre a sua mãe, ela me comprou dois vestidos. Um para amanhã e outro para o casamento. Ela me forçou a aceitar.

— Tão típico dela. — Eu deitei no travesseiro e sorri. — Amanhã a gente pode ir na galeria do rock de manhã, o que você acha?

— Seria perfeito. — Ela se deitou ao meu lado e nós ficamos um silêncio. — Will?

— O que? — Eu disse me aproximando dela.

— Nada. — Ela disse e apagou a luz.


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Notas finais do capítulo

Próximo cáp: 10/11



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