Os Escolhidos - Destinos Interligados escrita por Angie


Capítulo 24
Capítulo 23 - O Começo do Fim


Notas iniciais do capítulo

Oie, gente, finalmente o fim da reunião!

Cartinha para Sra Imperfeita.

Tudo bem, vou falar agora de como quase sofri um ataque do coração quando entrei no Nyah! ontem e vi que tinha uma recomendação nova em OEDI. Sra Imperfeita, sua linda! Tem ideia do quanto me faz feliz??? Seus comentários não são idiotas, apenas mostram como você se sente ao ler o que escrevo. As vezes penso que seu pensamento é um pouco caótico (como o meu), mas de um jeito bom. Pode ser que uma frase ou outra não tenha nexo, mas sempre tem o poder de me animar e fazer sorrir quando estou para baixo. Vejo que você é uma ótima pessoa que sente de todo o coração. Se sou amável respondendo seus comentários é porque você merece.
Beijos de Luz para você.
Espero que goste desse capítulo, porque eu amei escrevê-lo.
Bye.



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De acordo com as lendas que Selena estudara, Medéia fora uma feiticeira aprendiz da deusa maga Circe e princesa da Cólquida que por meio de uma flechada do deus do amor Eros – cupido. –, se apaixonou pelo argonauta Jasão e por razão disso, traiu toda sua pátria e armou uma cilada para um de seus irmãos, seu assassinato.

Após fugirem da Cólquida, Medéia e Jasão se casaram e com seus filhos viveram uma vida feliz por muitos anos. No entanto, quando a beleza de Medéia já não era mais a mesma, Jasão se viu apaixonado por outra bela mulher, Glauce, princesa de Corinto. Deixou Medéia e planejou casar-se com a outra. Tomada pelo ódio, a feiticeira tramou vingança. Fez-se de compreensiva e presenteou Glauce com um diadema e vestes de ouro. Mais tarde, quando fora deixada sozinha, a jovem princesa, ávida com seus novos presentes, vestiu-se com o manto, pôs o diadema de ouro sobre a cabeça e se olhou no espelho. Alegre por seu esplendor, Glauce dançou pelos cômodos do palácio, sem se dar conta de que os presentes estavam enfeitiçados. Logo sua face perdeu a cor, sua boca começou a espumar e seus membros enfraqueceram. Seus gritos foram ouvidos pelos criados e por seu pai, que viu o diadema pegar fogo em sua cabeça e o corpo encoberto pelo manto começar a se despedaçar devido ao veneno que o embebia. Desesperado o rei se jogou sobre o corpo inerte da filha e no fim acabou também sendo apenas uma outra vítima do veneno nas vestes.

A feiticeira ouviu a descrição de sua vingança pela boca de um mensageiro em quem confiava e por algum motivo isso fez com que sua sede de vingança aumentasse ainda mais. Foi ao quarto onde seus filhos dormiam, os esfaqueou e degolou, então convocou uma carruagem puxada por um dragão e fugiu, deixando Jasão a mercê de seu próprio desespero. Este, sem esperança de vingar-se dos atos cruéis cometidos por Medéia e tomado pela tristeza, suicidou-se com sua própria lâmina na porta de sua casa.

Medéia fugiu para Atenas, onde, prometendo restituir as forças da juventude do rei Egeu, fez amizade com o mesmo. Tempos depois, Teseu chegou a Atenas, o que Medéia descobriu por meio de feitiçarias. O jovem era um filho que o rei nunca conhecera, pois o mesmo era fruto de um romance fora de seu casamento. Temendo ser expulsa pelo herói, a feiticeira convenceu o rei de que Teseu era um perigoso espião e o convenceu a hospedá-lo em sua casa e matá-lo com veneno. Mas para sua surpresa o jovem logo conseguiu provar ser filho de Egeu e a traiçoeira feiticeira foi expulsa do país.

Ela voltou para a Cólquida, onde descobriu que seu pai havia sido destronado por um de seus irmãos. Ao reconciliar-se com o mesmo, ajudou-o por meio da magia a conseguir de volta seu trono, e muito tempo depois, após sua morte, passou a ser adorada em sua pátria como uma deusa.

Mas, para Selena o fato de ela ter vencido no final não importava nada. Medéia fora acima de tudo uma assassina traiçoeira e descobrir que era a reencarnação de tal ser a deixara abalada. Ela não podia mentir para si dizendo que a vingança era algo que não a atraia. Conhecia-se bem demais para tal. Teve seus pais mortos e seu irmão ferido, o ódio que sentia por Marise apenas aumentava cada vez mais, não era algo que podia ser contido. Mas agora ela tinha medo. Será que se tornaria alguém como Medéia no final? Capaz de qualquer coisa para conseguir o que quer?

Ela tremeu com a possibilidade e sentiu os braços de Aaron se apertarem ao seu redor, acalmando-a. Não. Ela não se deixaria chegar a esse ponto. Era uma promessa.

– Agora que já sabem de tudo que queriam – disse Hécate. –, Hades, Chloe e eu precisamos conversar a sós com Selena. Você vem, querida?

Selena assentiu e se virou para Aaron, que beijou o topo de sua cabeça suavemente e a liberou de seu abraço. Por um instante se deixou fitar Rennata que mirava o chão parecendo tensa. Tudo aquilo tinha sido demais para ela. Para todos eles.

Com um ligueiro aceno para ambos, ela enlaçou seu braço com o de Chloe e seguiu os deuses dos ínferos que se dirigiam para fora da sala do trono.

***

Chloe acreditava que poderia ter ficado louca se o tempo até o dia da reunião tivesse se prolongado. Seus sonhos sobre o Sanhaim estavam se repetindo com cada vez mais frequência. Selena. Marise. O portal. O sacrifício. Apolo tentara lhe acalmar, tentara banir aquelas visões de seus pensamentos, mas nem seu poder era suficiente. Eram as parcas que lhe revelavam o futuro. Na maior parte do tempo seu pai procurava polpá-la de tudo aquilo.

Durante os quinze torturantes dias que Hera lhe obrigara a ficar ali, o que a filha de Apolo mais desejou era falar com Selena de outra maneira que não fosse apenas num sonho. Mas, também era algo que ela temia. Na primeira vez em que soube que Selena morreria aos seus dezessete anos, havia sido apenas uma curta cena se passando em sua cabeça. Naquele tempo ela não imaginava a razão daquilo e nem que sua prima estivesse envolvida.

Tudo por culpa dela. De Marise.

Ainda assim ela escondera algo de Selena. Algo que garantia uma escolha a ela. A única vez que mencionara uma outra escolha foi no sonho de Selena, na floresta, mas não chegara a explicar o que aquilo significava. Chloe sabia que sua irmã de alma não temia a morte e isso a preocupava. E isso foi uma parte do motivo. Uma outra é que ela não poderia simplesmente dizer: “Escolha o bem e você morre, ou fique com o mal e viverá.” Em situações normais ela tinha certeza de que Selena ficaria alegremente com a primeira opção.

Mas, aquelas não eram situações normais. Chloe vira antecipadamente boa parte das coisas que aconteceriam dali para frente e estava ciente de que a feiticeira em breve faria uma nova demonstração de seu outro lado, o que, sem surpresas, era um problema. O mais frustrante de tudo é que as visões dela sempre paravam em um mesmo ponto. Na morte de Selena. Ela nunca soube o que aconteceria depois. Se realmente haveria um depois para todos eles. Ou se aconteceria algo mais para acabar com o suposto final “feliz”. Aaron certamente não seria feliz sem Selena. Mas, novamente, sacrifícios são necessários. Se houvesse uma mínima chance de mudar o futuro sem catalizar danos ainda piores, Chloe a agarraria com força. Infelizmente, ela não via nenhum caminho alternativo seguro.

– Eu senti sua falta. – disse Selena despertando-a de seu transe, estavam entrando na biblioteca de Atena. – Fiquei imaginando o porquê de você estar presa aqui o tempo todo. Deixou a todos nós, muito preocupados.

Chloe sabia que seu sorriso não chegava aos seus olhos. Era tudo tão… doloroso.

– Os deuses acharam melhor assim. Eu acabaria falando demais antes da hora de qualquer forma.

Selena suspirou.

– Deve ter sido difícil para você.

Ainda é.

– Sente-se por favor, querida. – Hécate pediu a Selena, indicando uma imponente cadeira de carvalho na mesa de leituras.

Selena lhe obedeceu e Chloe contornou a mesa, sentando-se de frente para ela. Não achava que poderia ficar em pé por muito mais tempo, estava nervosa demais. Suspirou olhando para o teto que se assemelhava a um céu estrelado. Era uma ilusão tão real. Mas nunca passaria de uma ilusão, da mesma maneira que suas esperanças de que tudo terminasse bem não passavam de um sonho distante.

– Imagino que você tenha alguma pergunta. – disse Hades muito calmamente, dirigindo-se a Selena. Ambos os deuses ainda continuavam de pé.

Chloe teve a impressão de que sua irmã cerrou os dentes por um segundo. Selena parecia um pouco confusa, mas também havia raiva ali.

– Claro, meu senhor. – ela inclinou a cabeça de lado estreitando os olhos minimamente. – Pelo que sei, Medéia era uma feiticeira desprezível e traiçoeira. Diga-me, como alguém como ela recebeu a chance de renascer?

– Uma lenda possui várias versões, filha. – falou ele. Seus olhos prateados cintilavam. – Os humanos as modificam e distorcem ao seu bem entender. Medéia não era tão cruel quanto você imagina, tampouco suas vítimas eram completamente inocentes. O único erro dela foi se deixar dominar pelo ódio e pela sede de vingança. Esse é um caminho praticamente sem volta para as trevas. Após a sua morte, ela foi julgada pelos três juízes do Mundo Inferior. A sentença foi inconclusiva.

– Inconclusiva? – ela parecia achar aquilo inacreditável.

– Exato. Medéia não foi designada para nenhuma das três partes do mundo inferior. Ela não merecia os campos Elísios, no entanto, não estava no controle de si mesma quando praticou suas ações. Os juízes acreditaram que os campos de punição seriam uma sentença injusta. Poderiam ter-lhe mandado para os Asfódelos, porém era uma decisão tão ruim quanto e por isso decidiram lhe dar uma outra chance. Medéia poderia renascer e se redimir por seus erros em uma outra vida. Não esperávamos que seria um tempo tão longo até que o fato ocorresse, mas aqui está você.

E também há a possibilidade de que arruíne tudo novamente, pensou Chloe. Você tem escolhas, mas tudo depende também de sua força interior.

Selena cruzou os braços sobre a mesa, fitando o tampo de carvalho.

– Ainda acho isso injusto, mas, compreendo. São vocês que fazem as leis, não eu. – ergueu os olhos e deixou seu olhar intenso divergir entre os três. Chloe praticamente podia entender o que se passava na cabeça dela, por esse motivo não se surpreendeu quando ela perguntou: – Mas, porque realmente me trouxeram aqui? Presumo que não tenha sido apenas para falar sobre o passado e esclarecer minhas dúvidas.

– Você está certa. – concordou Hécate. – Na verdade, queremos saber que lado você escolherá. Marise te prendeu em um feitiço de ligação, sabia?

Selena ficou tensa.

– No início eu pensei que fosse apenas uma bonequinha que ela controlava – contou. – da mesma maneira que ela me falou num sonho que tive hoje. Que a minha morte seria a única maneira de quebrar o feitiço a não ser que ela mesma o desfizesse. Mas já faz um tempo que me dei conta da verdade, e no fim, a saída é a mesma. No entanto fico ofendida que me perguntem de que lado eu estou. Pensei que já fosse óbvio.

– É claro – disse Chloe. –, mas você precisa entender que será difícil…

– Eu não me importo. – Selena a cortou duramente. Seus olhos invernais estavam marejados, o que lembrou a Chloe de um lago. A profundidade daquele olhar era incrível. – Se for para protegê-los, posso muito bem me matar e dar um fim a tudo isso agora mesmo.

– Não, querida, você não pode. – disse Hécate tocando seu rosto suavemente. – Perdoe-me por dizer isso, mas seria muito fácil se as coisas terminassem assim.

– Você acha que eu não sei? – questionou Selena fragilmente. – Eu apenas, não aguento mais ficar esperando pelo futuro. Eu não sei o que fazer.

– Então nos escute – pediu Chloe. Ela não gostaria de ter que dizer nada daquilo a Selena, doía-lhe ter que fazê-lo, mas era a única maneira de pôr um fim a tudo. – como já lhe foi dito, a cartada final será sua. Não sei o que acontecerá depois. O futuro após o Sanhaim ainda é um branco para mim. Mas, se no fim, você realmente ficar do nosso lado, digo isso porque você talvez não tenha uma escolha, há uma maneira de encerrar tudo. Para sempre. Ninguém nunca mais poderá invocar os deuses Antigos.

Selena piscou afastando as lágrimas que não caíram e se inclinou um pouco em sua direção.

– Fale.

Chloe respirou fundo.

– Tudo teve início em sua casa no Oregon. Seus pais foram os sacrifícios de sangue utilizados para a preparação de um local sagrado onde os Antigos poderiam renascer. – a expressão da feiticeira se tornou fria, a medida que se deu conta do significado de suas palavras.

– Ela usou meus pais. – não era uma pergunta.

– Sim. Nenhum de nós sabia que isso aconteceria, mas soubemos o que significava assim que aconteceu. Usando magia das trevas, Marise pretende abrir o portal no Sanhaim e trazê-los de volta a vida. E ela precisa de sua ajuda para isso.

– Eu não vou…

– Sim, querida, você vai. – disse Hécate. – Para que as coisas terminem, elas tem que começar primeiro.

– Isso é perigoso.

– Nós sabemos. – disse Chloe. – E sentimos muito, porque no fim, sabemos que estamos usando você.

– Eu já disse que não me importo. – mas, dessa vez Selena não parecia tão convicta, porque a verdade era uma só: Ela poderia não se importar, mas sabia que tinha aqueles que se importariam caso algo lhe acontecesse. – Por favor, digam-me o que tenho que fazer.

***

Rennata se maravilhou com o jardim ao seu redor. Era tudo tão belo e vibrante. Ela se lembrava vagamente de ter estado ali antes, uma vez apenas, mas por algum motivo a lembrança lhe escapava facilmente, como água correndo por entre seus dedos.

– Sente-se aqui. – pediu Aaron indicando um lugar ao seu lado no banco e fazendo-a lembrar subitamente o porquê de terem saído da sala do trono logo depois de Selena.

Ela se sentou e começou a girar em seu dedo o anel que Thomas havia lhe dado. Não conseguia se conter, era um hábito que havia adquirido quando estava nervosa ou impaciente.

– Você ainda está escondendo alguma coisa, não é? – ele perguntou, mas seu tom deixava claro que sabia a resposta para essa pergunta. – Algo que a Selena tenha lhe dito quando você falou com a alma dela?

Rennata engoliu em seco. Aquele era um território onde ela não gostaria de entrar de maneira alguma. Era algo que deveria ser discutido entre Aaron e Selena, e entrar como uma terceira nessa história não era legal. Infelizmente o casal não poderia falar sobre nada daquilo, simplesmente porque Selena não se lembrava do que tinha lhe dito.

– Cara, meu dia está indo de mal a pior. – ela resmungou. – Tá legal, vou te responder, mas tenho minhas próprias perguntas primeiro.

Ele assentiu, concordando com seus termos.

– O quanto você ama a Selena?

Um brilho estranho passou pelos olhos dele. Não era exatamente tristeza, mas chegava perto.

– Mais que minha própria vida. – respondeu sinceramente. – Eu atravessaria o inferno por ela.

Rennata o encarou sentindo a verdade de suas palavras. Aquilo não era tão bom quanto deveria. Significava apenas que alguém sofreria no final. Possivelmente Aaron.

– Tudo bem. Segunda pergunta: Sage, caso fosse realmente preciso, você teria coragem suficiente para matá-la?

Dessa vez a única coisa que viu nos olhos de Aaron foi ódio.

– Que tipo de pergunta é essa?! – ele parecia se esforçar para manter a calma.

– Responda. – ela insistiu.

– É claro que eu não a mataria! Nunca poderia me forçar a isso não importa o que aconteça.

Rennata comprimiu os lábios se inclinando para frente e apoiando seus cotovelos sobre os joelhos.

– Selena também pensa assim, não que se lembre disso, mas ela também acreditava na possibilidade de você ter um motivo forte para fazê-lo.

– Explique-se.

Ela olhou para Aaron.

– Quando conversei com a primeira Selena no feitiço de gelo, ela mencionou algo que sua mãe, Afrodite, disse a ela. Algo como: “A Portadora da Luz te trará conforto, mas apenas O Guerreiro Divino purificará seu coração e alma”. A minha parte já é bem óbvia, venho ajudando muito a Selena desde que nos conhecemos com essa coisa de controlar as trevas nela, mas, O Guerreiro Divino, você, bem, Selena disse que só há uma maneira de que ela seja purificada. A morte. Por isso há a possibilidade que você seja o único a matá-la no dia do aniversário dela.

Inexplicavelmente Aaron parecia ter ficado mais calmo com sua explicação.

– Não se preocupe. – disse ele. – Essa possibilidade é nula. Sei o que a minha mãe quis dizer com isso e não, não quero falar sobre.

– Mas…

– É melhor voltarmos. Ainda temos assuntos pendentes com Hermes.

Aaron se levantou sem lhe dar chance de concluir sua pergunta. Bufando com irritação Rennata o seguiu.

O que será que Aaron estava escondendo, afinal?

***

Aaron estava recostado a uma parede olhando fixamente o local por onde Selena havia saído, mas sentia o peso do olhar de Rennata sobre ele. Ela estava sentada sobre a almofada branca que antes Chloe havia ocupado e o mau humor emanava dela em ondas. Ele estava consciente de que ela tinha motivos para tal, e tinha as respostas que ela procurava, mas não podia dizer nada sobre seus planos, ou tudo sairia de seu controle. Se Selena sequer imaginasse algo sobre a sua conversa com Hades, tudo estaria perdido. Rennata poderia até saber guardar segredos, mas não era uma boa mentirosa. Não que Selena pudesse impedi-lo de realizar seu desejo, mas as coisas inevitavelmente mudariam entre eles e Aaron não queria isso. Não quando não sabia se tudo daria certo no futuro.

Selena finalmente voltou a sala. Chloe estava ao seu lado e Hades e Hécate vinham atrás.

Aaron não entendeu o olhar de sua namorada. Um olhar que carregava seriedade, determinação e algo mais. Algo que ele não gostou de rever. Algo que tinha começado a desaparecer desde o dia que eles haviam se encontrado na Mansão Oceano. Frieza. Por algum motivo ela parecia aquela mesma Selena distante que ele havia conhecido antes. Não pela primeira vez, ele se perguntou o que poderia ter sido discutido naquela reunião privada.

Selena se encaminhou diretamente a Rennata que tinha levantado e a olhava estranhamente, enquanto ambos os deuses ocupavam seus tronos. As duas trocaram algumas palavras baixinho e então Rennata olhou para Aaron. Ela parecia triste. Ele foi rapidamente até elas e Selena lhe olhou pela primeira vez desde que entrou na sala. Dessa vez não tinha nada ali. Nenhum sentimento. A fachada de gelo havia voltado.

– O que aconteceu? – ele perguntou preocupado.

– Não foi nada demais. – ela disse sem expressão. – Apenas me abriram os olhos.

– O que…?

– Aaron – o interrompeu. –, não foi nada.

O tom que usou deixava bem claro que ela não queria discutir sobre o assunto. Ele entendia, também tinha segredos, no entanto, nada do que escondia o fazia mudar como Selena mudara dentro de minutos. O que quer que fosse que ela tenha dito a Rennata, também tinha feito a garota mudar. O aborrecimento e o sarcasmo de antes haviam sumido por completo, restara apenas tristeza e algo parecido com pena. O mesmo poderia ser dito sobre Chloe.

– Creio que poderemos dar essa reunião por encerrada. – falou Apolo. – Vocês já sabem tudo de que queriam.

– Está errado. – negou Aaron desviando o olhar de Selena e focando sua atenção em Hermes. – Ainda nos falta algo. Nós queremos nossas memórias de volta e mesmo que não seja feitio do deus dos ladrões devolver o que tira dos outros, ele terá que fazê-lo. É o mínimo que vocês nos devem.

– Claro, claro. – Hermes concordou a contragosto. – Como pude me esquecer?

Ergueu as mãos e estalou os dedos. No mesmo momento Aaron sentiu sua visão escurecer a medida que um filme se passava em sua cabeça e fechou os olhos. Lembranças mais vívidas que qualquer outra memória poderia ser e ele não pode acreditar na quantidade de vezes em que vira Selena antes. Não fora apenas uma ou duas vezes, mas encontros ao longo dos anos, desde que eram crianças. De repente o pressentimento de conhecer a ela e Rennata não lhe parecia tão estranho. Todos já haviam se encontrado antes, no entanto, nunca os três de uma só vez. Ele sentiu fúria por tudo lhe ter sido arrancado quando de nada sabia.

A torrente de lembranças cessou e ele levou uma mão a cabeça se sentindo atordoado. Mesmo que pudessem ter se passado horas, ele sabia que foram apenas segundos.

– Selena!

A voz de Rennata aparentava alarme o que o fez abrir os olhos no mesmo instante. Selena estava no chão, desacordada e Chloe levantava a cabeça dela, colocando em seu colo.

Aaron se ajoelhou ao lado, sentindo ainda mais desespero do que ela aparentava sentir.

– O que aconteceu? – perguntou.

– Selena está muito frágil. – respondeu Chloe. – E foi muita informação para assimilar de uma só vez. Tudo que deveremos fazer é voltar para a academia agora.

Ele se sentiu mais calmo. Certo, com isso ele podia lidar.

Pegou Selena no colo se erguendo.

– Eu não vou sentir falta de vocês. – Rennata disse se dirigindo aos deuses, talvez por realmente sentir isso, talvez apenas por tentar voltar a ser ela mesma.

Poseidon sorriu, já acostumado ao modo de ser de sua protegida e Hera estreitou os olhos. Com exceção disso, nenhum deles esboçou uma reação significativa.

Chloe tocou seu ombro e Rennata o outro. Fechando os olhos, Aaron se concentrou no lugar para onde queria ir. Visualização, cheiro, sensações. Tudo tão básico e essencial.

Abriu os olhos. O quarto de Selena continuava tão ordenado quanto estava quando ele a deixara naquela manhã. Caminhou até a cama e a deitou ali.

– Eu vou ligar para minha mãe e procurar o Chris, se vocês não se importam. – disse Chloe. – Eles devem estar preocupados.

– Tudo bem. – disseram Aaron e Rennata em uníssono.

A ruiva abriu a porta do quarto e saiu.

– O que aconteceu com a Selena? – ele perguntou olhando diretamente para Rennata e a mesma recuou, desviando o olhar.

– Há muitas coisas que não controlamos, Sage. – disse baixinho. – Não sei de tudo, mas provavelmente sei mais que você e sinto muito.

Não parecia que aquela conversa fosse o levar a algum lugar.

– Do que você está falando?

– A hora está chegando. Nenhum de nós pode parar isso. – E então algo mudou. A tristeza sumiu totalmente, dando lugar a seriedade. – Eu preciso ir. – deu-lhe as costas e foi em direção a porta aberta. – Cuide dela até eu voltar. E cuidado. Nunca se sabe quando a outra personalidade dela vai dar as caras.

Dessa vez Rennata fora a única a não lhe dar explicações concretas.

Supostamente eles deveriam ser unidos. Isso os tornava mais fortes. Mas segredos separam as pessoas e até mesmo Rennata os tinha. Aparentemente todos eles tinham algo a esconder.


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Notas finais do capítulo

Semana que vem eu eu começo a postar o livro extra, certo?



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