Os Escolhidos - Destinos Interligados escrita por Angie


Capítulo 21
Capítulo 20 - Esperança


Notas iniciais do capítulo

Oi, oi, povo. Sei que demorei, mas esse capítulo é muito especial para mim. A história finalmente voltou para o meu planejamento! haha (Acho que enrolei muito até aqui...)
Espero que gostem, meus amores. Beijos.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/556666/chapter/21

O lápis corria pela folha de papel em movimentos rápidos e fluídos, dando forma a imagem que Rennata via em seus sonhos mais frequentemente do que ela gostaria na última semana: ruas negras banhadas por sombras sob um céu escuros cheio de nuvens sombrias, iluminando-se apenas com a queda de raios. Aqueles sonhos tanto lhe fascinavam quanto a assustavam. Não era apenas a imagem de um mundo sombrio, mas o sonho se desenvolvia em escravidão e trevas. Pareciam um outro tempo, onde a humanidade sobrevivia sob o domínio de uma força maior. Uma força maligna.

Aquilo era obviamente uma visão, mas ela não sabia determinar o tempo. Passado ou futuro? Aquilo era uma das dúvidas que mais lhe assombrava.

Por vezes ela se viu acordar gritando, assustando também a Isabella já que as duas dormiam no mesmo quarto. Era óbvio que a preocupação de sua irmã era crescente e por mais que se sentisse culpada por tê-la em meio a tudo isso, sentia-se também agradecida por ela estar por perto.

Esse era um dos momentos em que ela desejava ser apenas uma garota normal, levando uma vida monótona que se resumia apenas a ir a escola, sair com os amigos e ter um relacionamento bom ou ruim com os pais, talvez até um namorado mais ou menos.

Por outro lado, em meio a todo esse caos, ela havia encontrado alguém que se importava com ela de um modo que a fizesse se sentir especial e que ela amava, amigos que a tranquilizavam nas situações mais difíceis e a faziam sorrir não importa o que acontecesse e uma oportunidade para fazer a diferença. E mesmo que ainda no mês anterior ela tenha dito que odiava tudo relacionado a deuses e magia, agora não trocaria aquilo por nada.

Certo… aquela ligação com Aaron e Selena ainda a irritava um pouco, e claro, Thomas ainda tinha que aguentar seu mau humor todas as manhãs após cada noite de “sonhos estranhos”, mas era um pequeno custo a pagar. Os segredos e a tristeza eram as partes mais difícil de suportar e eram o que abalavam suas convicções e escolhas.

Finalizando o desenho com a sua assinatura no canto da página – assinou apenas 'Rennata'. Ela não queria seu sobrenome ali, afinal, ele não lhe dizia nada. Rennata era quem ela era. Rennata Fuentes era a filha basicamente rejeitada pelos pais. –, ela fechou o caderno e olhou ao redor. Alunos concentrados mantinham sua atenção focada na professora em frente a sala, alguns até faziam anotações. Seu suspiro mental poderia ter sido audível. Detalhes que marcaram a história como a primeira guerra mundial – a qual estava sendo explicada pela professora. – não despertavam mais sua atenção.

Ao contrário das escolas humanas, ali na Academia ela não se incomodava em esconder seu conhecimento e embora pegasse alguns professores de surpresa, Rennata não era tratada como uma estranha ou anomalia e mesmo quando não estava totalmente consciente de todas as palavras que eram ditas, ela entendia a essência do assunto e 'conciliava' ao que já sabia, tanto é que eram raras as ocasiões em que alguém chamava sua atenção em aula ou lhe cobravam algo. Ninguém nunca entendeu a facilidade que ela tinha em compreender tudo tão rapidamente, mas ela acreditava que havia sido apenas mais uma das habilidades concedidas a ela pelos deuses.

E o que poderia ser, afinal, se não obra deles?

E era por tudo isso – os sonhos, o conhecimento, a ligação. – que ela estava tão ansiosa para a reunião com o Conselho Olimpiano. Incrivelmente queria descobrir um pouco mais sobre tudo e si mesma, ao passo que sabia que conversar com deuses egocêntricos e egoístas despertaria ainda mais seu mau humor.

Quando o sinal tocou, ela recolheu suas coisas e seguiu o fluxo de alunos porta afora, não se surpreendendo a encontrar Thomas lhe esperando no corredor.

– Ei. – ele disse e lhe beijou rapidamente. – Bom dia, pirralha.

– Pirralha uma ova. Me chama assim de novo que eu quebro a sua cara. – comentou mas sua voz não possuía tom.

– Au! – ele falou teatralmente. – Meu pequeno coração acabou de ser quebrado em milhões de pedaços, querida.

Rennata pôs uma mão sobre o peito dele sentindo um pequeno sorriso aflorar no canto de seus lábios.

– Não. Ele ainda está batendo inteirinho bem aqui.

Sorrindo ele pôs um braço sobre seus ombros e a puxou para junto de si.

– Qual é sua próxima aula?

– Cálculo. Acho que vou passar o tempo todo desenhando de novo. – ela disse em meio a um suspiro apertando o caderno de desenhos junto ao peito.

– Vamos para a minha sala. – ele disse. – Todos estão indo para o refeitório agora, então temos alguns minutos até o inicio da aula.

Rennata envolveu sua cintura com um braço e o deixou conduzi-la para uma sala próxima. Antes de entrar ela já sabia que era a sala de artes pelo fato de já ter estado ali várias vezes antes. Telas estavam apoiadas em cavaletes espalhados por todo lado e uma grande estante que ocupava toda uma parede estava repleta de apetrechos a serem usados, como tintas de todas as cores imagináveis e pinceis. Ela se sentia em casa ali. Havia apenas uma coisa que destoava do restante cenário e Rennata piscou algumas vezes tentando se certificar de que estava realmente ali.

– Porque tem um divã aqui? – perguntou confusa.

A mesa da professora tinha sido empurrada até um canto para dar espaço ao divã na frente da sala.

– Oh, vamos começar as aulas com modelos humanos. Se alguém tem que ficar imóvel por uma hora, é melhor que esteja confortável, não acha?

O sorriso matreiro estava presente em sua face e ela desconfiou que ele estava omitindo algo.

– Deixe-me ver esses desenhos. – ele pediu sentando-se no divã e ela se sentou ao seu lado.

Estendeu o caderno para ele e o observou em silêncio passar folha após folhas.

– Tudo isso é meio mórbido e tenho que admitir, estou um pouco preocupado. – ele comentou.

Cada um dos desenhos representavam algo que ela já tinha visto em seus sonhos ou no espelho de clarividência que ganhou de Selena. Suas habilidades com o espelho haviam melhorado muito e agora ela não via apenas imagens, mas também uma espécie de filme, exceto que era tudo real.

Alguns dos desenhos representavam o sofrimento, como um deles que Selena havia descrito como 'almas do submundo sofrendo no campo das lamentações', rostos se contorcendo em dor e agonia e literalmente queimando no fogo do inferno. Outros eram apenas silhuetas, imagens ainda não totalmente formadas, meros esboços, opacos e não concluídos. Não por falta de tempo, mas porque ela não conseguia enxergar totalmente com clareza.

Thomas parou em um dos desenhos e alisou um canto da página, onde ela havia rabiscado o nome 'Esperança'.

– Por que escreveu isso? – indagou franzindo a testa.

O desenho representava um garoto – um homem. – caminhando por um local desolado. Não havia nada de especial no garoto, a não ser o fato de que ele carregava uma espada embainhada na cintura. O desenho era um pouco assustador, considerando-se as árvores mortas e as silhuetas e sombras distribuídas pelo cenário, mas Rennata não conseguia retirar da cabeça a ideia de que aquilo não era algo ruim. Esperança era a primeira palavra que vinha em sua mente quando olhava para ele.

– Eu não sei. – falou sinceramente. – Apenas me pareceu certo.

Thomas assentiu como se aquilo fizesse um enorme sentido e virou a página. Um baixo barulho de soltos estalando contra o piso fez com que Rennata olhasse para a porta que pouco depois foi aberta, revelando a pessoa que entrava. Ela era uma mulher baixinha de óculos que escorregavam até a ponta do nariz, terninho cinza e cabelos grisalhos presos por um lápis de cor. Hannah era seu nome e ela era a professora de artes.

– Olá, crianças. – cumprimentou-os indo até sua mesa.

– Oi, Hannah. – respondeu Rennata. Ela não havia dispensado as formalidades por desrespeito, mas porque Hannah havia pedido que fosse assim.

Thomas acenou com a abeça para a professora e olhou para a namorada novamente sorrindo:

– Então, Hannah, eu trouxe nossa modelo de hoje como prometi. – ele disse e Rennata lhe olhou com olhos arregalados.

Ele não tinha feito aquilo!

– Fico feliz que ela tenha aceitado. – disse Hannah com um sorriso gentil.

Sim, ele tinha feito.

– Hum… do que exatamente vocês estão falando? – ela perguntou a Thomas se fazendo de desentendida.

– Esqueça a aula de cálculo, você é nossa modelo de hoje, querida.

– Ah, não, não, não. Isso não é uma boa ideia. – levantou-se encarando a professora. Já sentia seu rosto corar.

– Claro que é. – afirmou Hannah. – Você é uma garota linda e faria um ótimo papel como nossa modelo.

Sim, e isso significaria ficar parada por um longo período de tempo com várias pessoas observando e desenhando cada parte de seu corpo. Principalmente os garotos que não eram nada sutis e pareciam se interessar mais pela anatomia humana que pela arte. Rennata vestia um short branco e uma blusa branca de botões, nada mau comportado, mas ela nunca se sentiu tão exposta. Era constrangedor.

– Além do que – continuou Hannah. – estamos precisando de voluntárias e a aula já vai começar.

Ótimo. Hannah tinha apelado para seu lado responsável. A aula já iria começar e eles ainda não tinha uma voluntária. Oh, deuses.

Voltando a se sentar ao lado de Thomas, ela se deu por vencida.

– Você parece bastante satisfeito. – comentou estreitando os olhos para ele.

– E estou. Ultimamente não temos tido tanto tempo juntos. Você sempre está em aulas, em treinamento, ou no porão com a Selena e sempre está exausta quando volta. Ao menos assim, eu terei um tempo a mais com você.

– Bem, isso é fofo. – ela disse sentindo parte de seu aborrecimento desaparecer. – Mas como não tenho treinamento hoje por causa da reunião, poderemos passar um tempo juntos mais tarde.

Ele deu de ombros e sorriu.

– Tudo bem. Falando em Selena, o que vocês tem feito naquele porão ultimamente?

– Segredo de menina. – respondeu automaticamente.

Thomas bufou.

– Não gosto de segredos. – falou ele.

– Nem eu, mas bem, estou aprendendo ultimamente que um dia ou outro eles acabam sendo revelados. Espere com paciência.

– Certo. – aproximou-se e sussurrou: – Posso pensar em coisas bem interessantes para fazermos enquanto espero.

Ele lhe beijou com ternura levando uma das mãos a sua nuca e Rennata apoiou uma das suas contra o peito dele, sentindo os batimentos regulares de seu coração como tinha feito antes.

– Aham. – Hannah pigarreou e os dois se afastaram. – Espero que não tenham se esquecido de minha presença aqui.

– Claro que não, professora. – Rennata garantiu com o rosto corado.

– Eu preferia ter esquecido. – resmungou seu namorado.

Ela deu um leve tapa no braço dele e ouviu a porta voltar a se abrir, logo dois alunos entraram conversando animadamente e escolheram seus cavaletes. Nos próximos minutos o restante da turma apareceu e Rennata sentiu uma mistura de tédio e ansiosidade. Tédio por ter que ficar parada e ansiedade para sair dali.

Seriam sessenta longos minutos.

***

Selena sabia muito bem distinguir um sonho da realidade e por isso estava muito segura de que estava sonhando. Infelizmente também sabia que aquele sonho não era nem um pouco comum.

Se encontrava em meio a uma floresta de pinheiros e uma leve bruma encobria o local. O ar cheirava levemente a ozônio e o céu já possuía uma leve coloração de cinza. Parecia que ia chover. O único som na floresta era o de um córrego correndo a sua esquerda e virando-se em direção a ele, Selena percebeu que não era única pessoa presente ali.

Ajoelhada a beira do córrego estava uma pessoa que ela conhecia muito bem.

– Porque você insiste em tornar as coisas difíceis? – perguntou Marise levantando-se e jogando os cabelos loiros por cima do ombro.

Sua voz ainda possuía aquele tom zombeteiro do qual ela bem se lembrava e embora nada daquilo fosse real, Selena levou as mãos a cintura, instintivamente, procurando suas adagas. Não estavam lá.

– Não sei do que você está falando. – respondeu enojada mantendo uma certa distância cautelosa.

– Claro que não, você é meu brinquedinho, não poderia estar ciente de nada.

– Ora, sua… – no instante em que ia avançar, sentiu alguém segurar uma de suas mãos.

– Não ligue para o que ela diz. – disse Chloe calmamente. – Aqui, apenas o desejo de machucar não surte efeito algum e não muda a realidade. Você sabe muito bem que nenhuma de nossas ações tem efeito no reino do sonhos.

Isso não é exatamente um sonho, pensou. Está mais para um pesadelo.

– Chloe, o que você…?

– Que emocionante! – interrompeu-a Marise com falsa animação. – Aqui estamos nós, em uma reunião em família.

– Você não faz mais parte da nossa família. – falou a filha de Apolo, cerrando os dentes. – Não passa de uma assassina!

– Assassina, eu? E o que me diz de Louise e Edgar? Ou até mesmo Laura? – rebateu friamente.

– Não ouse falar de nossos pais! – ordenou Selena.

Ela sentia todo seu ódio fervendo por baixo da pele. Tudo que seus pais tinham feito havia sido para o bem de todos, eles não mereciam receber o nome de assassinos, tampouco Laura.

– Oh, e por que não? Meus pais estão mortos graças a eles…

– Não se iluda, Marise. Seus pais estão mortos porque foram ambiciosos e tolos. Todos sabem que feiticeiros brancos não devem mexer com magia das trevas, mas eles não se importaram com o risco e graças a isso foram condenados. – rebateu Selena. – Talvez você devesse aprender com seus erros.

Marise revirou os olhos.

– Não me diminua tanto, priminha. O que meus pais fizeram pode ser comparado a brincadeira de criança em relação aos meus planos.

Selena sentiu um breve arrepio percorrer sua pele e Chloe aumentou o aperto em sua mão.

– Marise – disse a ruiva. –, eu gostaria de dizer que não sinto nada por você além do ódio, mas estaria mentindo. Eu sinto pena, apesar de tudo que você fez. Pena porque está sendo controlada pelas trevas tanto quanto seus pais foram. Se desistisse de tudo isso, você receberia um julgamento justo…

– Não estou interessada em sua justiça ou em um julgamento feito pelo Conselho. Fico lisonjeada por se preocupar, mas devo avisar que está me subestimando, prima. – Marise disse com sarcasmo e ódio evidente. – Sou mais forte do que você poderia imaginar. Os antigos me deram o poder.

Oh, deuses!, foi o primeiro pensamento de Selena. Isso era exatamente o que eu temia.

– Os antigos? – ela perguntou tentando manter seu tom o mais inexpressivo possível. – E por que eles fariam isso?

Marise sorriu.

– Para que eu possa livrar o mundo do domínio desses impostores que vocês chamam de deuses. Para o início de uma nova e gloriosa era.

– Você está louca! – Selena quase gritou e Marise simplesmente riu, como se aquela hipótese não fizesse o menor sentido.

– Não estou. – disse divertidamente. – E ainda vou conseguir te provar isso.

Marise começou a desvanecer e Selena olhou freneticamente ao redor. Tudo estava sumindo. Ela estava acordando.

– Eu vou te caçar. – avisou a Marise. – Esteja preparada.

– Não precisa se incomodar com isso, querida prima. – ela respondeu. – Iremos nos encontrar em breve. Bem mais cedo do que você imagina.

Chloe puxou sua mão e Selena se virou para ela. Marise já havia desaparecido.

– Hoje é o dia. – disse a ruiva. – Estamos esperando por vocês. Lembre-se, irmã: Sacrifícios devem ser feitos, mas você não deve tomar nenhuma medida drástica sem me consultar. Tudo acontece por um motivo e você tem mais que apenas uma escolha.

***

Ao abrir os olhos Selena percebeu que já era dia. Raios de sol entravam pelas cortinas meio abertas da varanda banhando o quarto com a luz da manhã. O relógio digital na mesa de cabeceira marcava 09h47mim. Ela estava atrasada. Extremamente atrasada.

Levou as mãos aos olhos esfregando-os para afastar o sono e sentiu os braços de Aaron se apertarem ao seu redor.

– Bom dia, querida.

Ela havia caído no sono enquanto conversavam e gostava da sensação de ainda tê-lo por perto.

– Você parecia um pouco inquieta durante o sono. – Aaron comentou e ela se virou em seus braços para olhá-lo.

– Tive um sonho estranho.

Exceto que não era exatamente um sonho.

– Algo com o que eu deva me preocupar?

Ela balançou a cabeça dizendo que não.

– Depois eu te conto, não temos tempo agora. Lembre-se que aqui você é como qualquer outro aluno e neste momento está extremamente atrasado para a aula.

Ele sorriu.

– Está me avisando isso como minha professora ou como minha namorada?

– Os dois. Vamos, levante-se.

– Tudo bem, mas antes…

– Não. – disse pondo um dedo sobre os lábios dele quando percebeu que se aproximava ainda mais. – Sem beijo. Estou com mau hálito.

O sorriso dele se alargou.

– Eu não me importo.

– Mas eu me importo.

Saindo do abraço dele, ela se levantou, mas quando se virou para se dirigir ao banheiro ele já estava a sua frente. Pegando-a pela cintura, Aaron depositou um beijo em seus lábios e se afastou um pouco com um sorriso.

– Malefícios de se namorar um deus: – enumerou Selena. – eles são trapaceiros, exibidos e usam o teletransporte sem o mínimo de esforço.

– Mas você me ama. – disse convencido.

– Sim, eu te amo. – atou os braços ao redor do pescoço dele. – E isso é meio antiético considerando que sou sua professora.

Ele franziu a testa.

– Você é apenas minha professora de tiro e eu te conheci antes disso, então não vejo mal algum. – argumentou.

– Certo, sei disso, mas antes que nos atrasemos mais, deixe-me tomar meu banho. Temos o dia cheio hoje.

– Eu sei. E não estou nem um pouco ansioso por isso. Normalmente as reuniões com o Conselho se resumem a eles procurando uma saída melhor para si mesmos e já posso até imaginar Hera querendo me fuzilar com os olhos.

– Ela te odeia tanto assim? – indagou Selena reprimindo um sorriso.

Ele suspirou.

– Ela odeia qualquer filho de Zeus com outra mulher, o que a leva a odiar boa parte do Conselho. Espero que não tenhamos nenhuma discussão hoje.

Aaron beijou sua testa suavemente e ela o observou sair pela porta enquanto pensava nas palavras que Chloe tinha dito em seu sonho: Tudo acontece por um motivo e você tem mais que apenas uma escolha.

Os quinze dias haviam finalmente se passado e o momento da reunião com o Conselho se aproximava. Aquele era o dia em que encontraria novamente a filha de Apolo em carne e osso e as duas precisavam ter uma boa conversa sobre o que tudo aquilo significava. O sonho não foi o suficiente, apenas lhe trouxe mais dúvidas.

“… você não deve tomar nenhuma medida drástica sem me consultar.” Era o que Chloe tinha dito.

Será que ela sabia quais eram seus planos?

***

– Eu vou matar aquelas vadias. – Isabella disse, horas mais tarde. – De forma lenta e dolorosa.

– Eu ajudo. – disseram Ariel e Rennata em uníssono.

Elas estavam sentadas em espreguiçadeiras perto da piscina, observando garotas e garotas jogando vólei na piscina. O problema é que os times eram mistos e elas não estavam gostando nada daquilo.

– Se a Lindsay se jogar no Thomas mais uma vez, eu juro que enfio a mão naquela cara de boneca Barbie dela. – Rennata prometeu e as garotas assentiram, apoiando-a. – Não importa se for para comemorar um ponto ou não.

Lindsay, ela pensou. Sempre tinha que aparecer alguma vadia na sua vida.

E dessa vez Lindsay vinha acompanhada por duas irmãs: Audrey – sua gêmea. – e Rebecca, a irmã mais nova. As duas últimas pareciam ter escolhido Ethan e Ivens como alvos, deixando a Isabella e Ariel enfurecidas, mas Lindsay, a tirana-patricinha-líder-do-trio, tinha Thomas em sua mira. E Rennata como inimiga em potencial.

Isso não é um bom presságio para se futuro, querida, completou Rennata em seus pensamentos, em tom de ironia. Se você acordar careca amanhã, não me responsabilizo pelos meus atos.

Uma vibração em sua coxa despertou-a de seus pensamentos. Pegou o celular no bolso de seu short e viu que era uma mensagem de Selena: “Está na hora.”

Sorrindo nervosamente ela olhou para a piscina e viu que Thomas lhe observava. Ela assentiu para ele e acenou discretamente, depois se virou em direção ao jardim a caminhou a passos rápidos, sob os olhares de Ariel, Isabella e Thomas.

Finalmente suas dúvidas cessariam.

***

Selena estava bastante quieta sentada a beira da fonte olhando seu reflexo distorcido na água e embora sua expressão não contasse nada, Aaron sabia que ela estava preocupada. Ela havia lhe contado sobre seu sonho com Marise e ele mesmo tentava procurar um sentido para tudo que foi dito.

Claro, não era apenas isso que ocupava seus pensamentos, mas era a única coisa na qual podia se focar agora. Nisso e na reunião. Não poderia dar sinais a Selena que a fizesse desconfiar minimamente de seus planos com Hades. Aquilo era um segredo que jamais sairia de seus lábios enquanto não fosse o momento certo.

Ao menos agora ele tinha esperança.

Viu Rennata se aproximar rapidamente e estendeu uma mão para Selena.

– Querida, ela chegou. – ele disse.

Tirando sua atenção da água Selena olhou para ele – com olhos agora dourados. – e logo aceitou sua mão.

– Vamos acabar logo com isso! – disse a outra parando de frente a eles.

Aaron estendeu a outra mão para ela, que a segurou prontamente. O fluxo de energia que circulou por seu corpo com a conexão dos três foi desnorteante. Ele não sabia como aquilo era possível, mas queria descobrir, mesmo que tivesse que passar por uma reunião estúpida.

– Fechem os olhos.

Concentrando-se ele pensou na sala do trono e dessa vez não houve bloqueio, a mudança no ar foi perceptível. Abrindo os olhos não se chocou com a visão a sua frente: sentados em um semicírculo, estavam onze dos doze deuses do Olimpo. O trono de Hades estava vazio, isso porque no centro da sala, Chloe estava sentada em uma grande almofada branca, com o deus dos mortos ao seu lado, olhando diretamente para eles. Para ele.

Desviando o olhar, Aaron mudou sua atenção para cada um dos outros deuses. Todos, com exceção de Hera – que nunca se preocupou em esconder seu ódio –, tinham a face serena.

– Esse silêncio é patético. – disse Rennata com tédio aparente. – Eu exijo respostas e agora!

O olhar implacável de Zeus, dizia que ele tinha achado a atitude da garota um tanto insolente, mas ele não disse nada, o único a quebrar o silêncio foi Poseidon:

– Bem, se quer franqueza é o que lhes daremos. – disse ele. – O fato é que vocês três estão ligados por um único destino e Selena é o elo.

– O que quer dizer com isso? – questionou Aaron com os dentes cerrados, sem qualquer resquício de paciência.

– O caso, querido sobrinho – prosseguiu o deus dos mares. – é que todos nós entramos em um show, onde Selena é a estrela principal.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Os Escolhidos - Destinos Interligados" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.