Mundo Inferior – Jardim de Perséfone

26 de Dezembro de 2009

Quero acreditar que essa pessoa não sou eu.

Essa garota fria que insiste em enterrar seus sentimentos. Essa princesa aprisionada em um castelo de gelo por sua própria vontade.

Porque tudo parece mais fácil quando se decide deixar de lado o que nos torna humanos?

***

Selena fechou os olhos e elevou o rosto em direção ao sol, apreciando o calor derramando-se por seu corpo e a grama fresca sob suas pernas e mãos. A brisa carregava o cheiro doce das flores e borboletas com asas transparentes e de cores fosforescentes voavam de um lado para o outro do vasto jardim do Olimpo.

Aquele lugar sempre teve um efeito calmante sobre ela. Como o Mundo Inferior, sempre foi uma espécie de refúgio para esquecer do que preferia deixar no passado, mas, infelizmente, essa tática não estava funcionando tão bem dessa vez. Seus pensamentos não paravam de se desviar para Aaron e os pesadelos que não deixavam de atormentá-la todas as noites.

Hoje. Vinte e cinco de Setembro, o dia que as aulas teriam início. O dia que ela o encontraria. Agora sem segredos para esconder… e por algum motivo tudo parecia mais difícil.

Mas não havia mais volta. Ela aceitaria tudo que o destino houvesse guardado para ela. Por mais duro que fosse.

– Você não deveria estar na Academia agora, filha?

Selena abriu os olhos surpresa e olhou ao redor. Ele estava parado atrás dela, perscrutando-a com seus olhos prateados. Ela se levantou e baixou a cabeça em um gesto de respeito.

– É bem raro vê-lo por aqui, senhor Hades.

– Pensei que pudesse encontrá-la aqui. – sorriu. – Você é um tanto previsível. – ele ofereceu o braço para ela, um gesto que a lembrou dos cavalheiros de filmes antigos, o que não condizia de jeito nenhum com a aparência de bad boy dele e começou a guiá-la entre as flores. – E então, que te aflige tanto?

– Desculpe?

– Não precisa se incomodar em fingir comigo, princesa, – ele falou calmo. – eu a conheço desde o seu nascimento, posso perceber facilmente quando algo a incomoda.

– Princesa. Porque me chamam assim, afinal? – perguntou, agora um pouco irritada.

– Esse é um assunto que será discutido em breve, mas felizmente ainda não é hora.

Felizmente?!

– Temo que eu não tenha muito tempo, pai. – ela disse em voz baixa.

– Aos menos se você se deixasse viver, poderia descobrir algo de bom em tudo isso. – ele suspirou. – Tentar se poupar e poupar aos outros, como os mortais dizem, foi um tiro que saiu pela culatra.

O cheiro de rosas se intensificou no ar e Afrodite apareceu diante deles.

– Não posso dizer que não concordo. – disse ela.

– Você é cruel. – Selena falou encontrando os olhos da deusa.

– Não sei porque diz isso, criança. – Afrodite não parecia nem um pouco ofendida.

– Creio que as duas devam conversar em particular. – Hades se virou e começou a andar na direção oposta.

– E então, dama das trevas, porque está tão zangada comigo? – A deusa permaneceu inabalável.

Sua voz doce, cabelo loiro cacheado e olhos de cor violeta lembraram Selena de Shannen, mas ao contrário da filha, Afrodite não parecia se deixar levar por emoções com facilidade.

– Você é a deusa do amor, – Selena falou com os dentes cerrados. – porque deixou que seu próprio filho se ligasse a mim por laços tão fortes? Não teme que tudo isso traga apenas sofrimento para o Aaron?

– Sua falta de fé nele me decepciona. – Afrodite declarou abaixando-se junto a uma seção do jardim encoberta por rosas de um azul suave que lembravam a cor dos olhos de Selena e retirou uma delas, aparentemente sem se importar com os espinhos, em seguida levantando-se graciosamente. – Meu filho é forte. Para Aaron, nós mesmos, deuses ou mortais, devemos ser capazes de escolher nossos caminhos, sem a intromissão de terceiros. O destino faz sua parte em alguns momentos, mas no final as escolhas são nossas. Você me acusa por tê-los ligado, mas lembre-se: a deusa do amor não força os casais a se apaixonarem, apenas dá uma ajudinha para que as pessoas certas se encontrem no momento apropriado. Você e Aaron já nasceram com seus destinos interligados e por mais que eu gostasse de deixar a vac..., digo, a rainha do Olimpo com raiva, não foi preciso muito esforço para que vocês se encontrassem tantas vezes ao longo de suas vidas. O amor surgiu de maneira totalmente natural.

– O que Hera tem a ver com tudo isso e como assim Aaron e eu nos encontramos tantas vezes ao longo de nossas vidas? – Selena não se importava se tivesse soado exigente ou petulante. Havia apenas quatro imortais aos quais ela achava que devia merecido respeito. Hades, Perséfone, Hecáte e Aaron. Nenhum outro.

– Tudo lhes será dito em seu devido tempo, criança. A hora está chegando e muito mais rápido do que qualquer um de nós gostaria. Sacrifícios e escolhas terão de ser feitos, então sugiro que aproveite o tempo que ainda lhe resta deixando-se viver. Não acha que já passou tempo demais se contendo? Todos os caminhos tem seus espinhos, – ela correu um dedo ao longo do caule da rosa e retirou uma das pétalas macias. – mas no fim as recompensas são doces e belas. Realmente valem a pena. Por isso peço que desista das medidas que tomou anteriormente e dê uma chance ao meu filho. É isso que você mais quer afinal de contas e seria injusto com os dois privá-los disso no momento em que mais precisam um do outro. Não sacrifique o seu amor por ele, pois esse seria possivelmente seu maior arrependimento quando tiver que fazer sua escolha.

Selena abriu a boca para contestar, mas não conseguiu fazer com que nenhum som escapasse de seus lábios. Porque ela sabia da verdade: Afrodite estava certa.

– Vejo que finalmente entendeu. – Afrodite abriu um sorriso. – Agora você tem que ir a academia, decisões e obrigações te esperam. Lembre-se: A Portadora da Luz lhe trará conforto, mas apenas O Guerreiro divino purificará seu coração e alma.

– O que quer dizer com... – Afrodite tocou levemente em seu braço e balançou a abeça negativamente como se dissesse 'agora não'.

Selena viu o mundo escurecer por um momento ao seu redor e então voltar a aparecer. Sentiu uma leve tontura e caiu de joelhos, percebendo duas coisas no processo. A primeira, que não estava mais no jardim do Olimpo. E a segunda, que não estava sozinha.

***

Rennata estava tentando se forçar a levantar da cama antes que Thomas aparecesse com algum outro modo criativo de acordá-la, mas não estava tendo muito sucesso. O dia anterior estava cobrando seu preço.

Depois de entrar com Thomas em um dos portais, tudo que Rennata sabia era que ele estava lhe arrastando de um lado para o outro por toda a propriedade que abrigava a Academia Olympus, que sem surpresa nenhuma era uma outra mansão de luxo, só que dessa vez, de acordo com ele, três vezes maior que a casa branca.

Entre as refeições, o tempo que ele passou guiando-a pelos corredores que pareciam não ter fim – e nos quais ela tinha certeza em que se perderia rapidamente –, apresentando-lhe aos seus amigos, falando sobre as salas de treinamento que levavam a lugares estranhos e mostrando-lhe as belezas da floresta ao redor, quando chegou finalmente ao seu quarto tudo que ela pode fazer foi desfazer as malas e dormir.

Olhou para a cama do lado onde deveria estar sua colega de quarto, mas ela ainda estava totalmente arrumada, a outra garota aparentemente não havia chegado.

Thomas disse que todos deveriam estar na academia um dia antes das aulas começarem, então ela não pode deixar de imaginar se algo teria acontecido.

Levantou-se com muito esforço e foi em direção ao closet escolher uma roupa.

Esse seria um longo dia.

– Ah, sem a toalha hoje? Isso foi completamente decepcionante. – disse Thomas, na hora em que ela saiu do banho, completamente vestida. – Apesar de que você fica absolutamente adorável nesse vestido azul, querida.

Claro que você ia pensar isso, ela pensou. Foi você que escolheu todas as minhas roupas!

– Você já está aqui?! Como entrou?

– Eu tenho a chave-mestra, apesar de que nem precisei usar, você deixou a porta praticamente aberta, como se fosse um convite para qualquer um entrar.

Rennata revirou os olhos.

– O que quer?

– Estou esperando alguém, não se incomode com a minha presença. – ele falou, sem se importar com o tom aborrecido dela.

– Você está na minha cama, usando meu quarto como uma sala de espera, é lógico que vou me incomodar. – ela disse pondo as mãos na cintura. – Quem você está esperando afinal?

– Sua colega de quarto, quem mais?

– Quem é ela afinal? – perguntou, sentindo seu humor azedar ainda mais.

– Você só pode estar brincando. – Um sorriso lento apareceu no rosto dele e ele levantou, se aproximando. – Quer dizer que ninguém te contou mesmo? Isso vai ser interessante.

– O que deveriam ter me con...?

Uma batida suave soou na porta e uma pequena fresta se abriu. Uma garota de cabelos e olhos castanhos que era o exato oposto de Rennata entrou no quarto.

Uma garota que Rennata não via a pouco mais de duas semanas.

– Bella? – ela olhou da irmã para Thomas sem acreditar no que estava vendo. – O que você está fazendo aqui?

– Não é demais? – Isabella perguntou abrindo um grande sorriso e largando a sua mala no centro do quarto. – Eu vou ser a sua nova colega de quarto!

Rennata foi até a porta e a abriu por completo, olhando a plaquinha onde estavam os nomes da duas garotas que deveriam dividir o quarto, em ordem alfabética e letras maiúsculas.

ISABELLA CLARISSA FUENTES

E

RENNATA GABRIELLA FUENTES

– Ah, deuses, como eu não vi isso ontem?

– Eu ia te contar naquele dia que você falou com o papai, mas já que foi grosseira comigo, decidi deixar para lá.

– Eu fui grosseira?! Você é que não sabia parar de falar em garotos!

– Por falar nisso, – ela se virou para Thomas. – quem é você?

– Thomas Blake. – ele disse estendendo a mão, que Isabella apertou. – Futuro namorado de sua irmã e atual parceiro de treinamento.

– Futuro namorado, é? – Isabella se virou para Rennata estreitando os olhos. – Acho que temos muito que conversar.

– Ah, eu também, mas não pelos motivos que você está pensando. Ignore tudo que o Thomas disse e me conte o que está fazendo aqui.

– Acho que essa é a minha deixa. – Thomas disse olhando o rolex em seu pulso. – Vocês tem uma hora até eu vir buscá-las para a cerimônia de abertura, então aproveitem esse tempo, porque pelo resto do dia estarão bastante ocupadas. – Olhou para Rennata. – Principalmente você, vou apresentá-la a minha irmã. E Isabella, foi um prazer conhecê-la, apenas ignore tudo que a pirralha negar sobre nosso relacionamento, tudo bem?

– Nós não estamos em relacionamento nenhum. – Rennata afirmou.

– Basta esperar que eu ganhe a aposta e então você terá algo bem diferente para dizer.

– Você não vai ganhar, desista.

Ele pôs um dedo embaixo do queixo dela inclinando sua cabeça para cima.

– Sua fé em si mesma é louvável, mas infelizmente para você nem isso será o suficiente. – Thomas se afastou sorrindo. – Vejo vocês mais tarde. – concluiu e saiu do quarto.

– Como você pode esconder isso de mim? – questionou Isabella segurando os ombros de Rennata.

– Não acredite no que ele disse, ele gosta apenas de me irritar. – ela resmungou cruzando os braços.

– Está querendo negar que há algo entre vocês? E aquela parte em que ele disse 'Vou apresentá-la a minha irmã'? Isso parece ser bem sério para mim. E está na cara que ele gosta de você.

– Só na sua imaginação. Thomas gosta de me tirar do sério desde o dia em que despertou, não ligue para ele.

– Despertou?

– Longa história. Depois eu te conto. – Ela pegou a mão da irmã e puxou-a até a cama, onde se sentaram. – Quanto ao negócio de me apresentar para a Selena, é porque ela está com problemas e Thomas acha que meus poderes podem ajudar.

– Selena? Seu namorado não disse que o sobrenome dele era Blake? Você quer dizer que ele é irmão de Selena Blake, a líder do Conselho dos Feiticeiros? – O rosto de Isabella tomou uma expressão de confusão. – E que ela precisa da sua ajuda? Sem querer ofender, maninha, mas quando você usa seus poderes o resultado normal é o desastre, a não ser que nas últimas semanas algum milagre tenha acontecido. Então o que mais não está me contando?

– Tudo bem, mas primeiro você me conta o que exatamente está fazendo aqui e depois eu te dou o relatório da loucura que tem sido essas últimas semanas, fechado?

– Certo. Mas não tem muito mais para contar do que eu já te disse, vou ser sua colega de quarto.

– Quem te trouxe?

– Chloe. Foi ela que me fez a oferta de me tornar uma estudante. Vários outros humanos que fazem parte de uma família que possua algum semideus ou feiticeiro estudante, também estudam aqui e pode ser que você seja tão humana quanto eu, mas tem contato com os deuses e esses poderes legais, ou seja, tudo depende de conexões e você, cara irmãzinha, é a minha. É claro que eu não vou participar das aulas especiais, mas essa é uma das melhores, se não a melhor, academia do mundo. Eu tenho muito que aprender aqui. Eles tem ações nas principais empresas do mundo e mais uma vez, conexões com o governo. Quando sair daqui minha carreira estará feita.

– Como Alexander e Esperança reagiram a sua decisão?

– Papai e mamãe não mandam em mim desde que eu tinha doze anos, você sabe. Eu decidi, eles não puderam me impedir.

– E o seu namorado?

– Dos dias depois que você partiu, eu o peguei beijando Naomi Lynch na sala de música.

– Parece que ele não era tão perfeito assim. – Rennata deitou na cama e encarou o teto.

Parece que a vida da irmã não é mais o mar de rosas que era antes.

– Não mesmo. – Isabella deitou ao seu lado, apoiando seu peso em um braço e olhou para ela. – Agora é a sua vez. Conte-me como você conheceu aquele pedaço de mal caminho e que diabos de aposta é essa. Não omita nenhum detalhe.

***

– Você está bem? – Aaron perguntou se ajoelhando de frente a Selena e pegando o rosto dela delicadamente entre as mãos.

– Estou. – ela respondeu fechando os olhos. – Foi apenas uma viagem desagradável. O que você está fazendo aqui?

Ele riu e foi então que ela percebeu o quanto havia sentido saudade daquele som.

– Acho que eu deveria te fazer a mesma pergunta. Esse é o meu quarto, querida.

Ela olhou ao redor, reconhecendo o modelo padrão dos quartos dos garotos na academia e viu uma Fender Stratocaster familiar em cima de uma das camas.

– Não me diga que meu irmão é o seu companheiro de quarto. – falou impressionada.

– Na verdade, é sim. – ele ergueu as sobrancelhas. – Algum problema?

– Não. Só não acredito que tenha sido uma simples coincidência. Poderia se afastar um pouco por favor?

Ele assentiu levantando-se e deu um passo para trás.

Selena tocou a mão direita no chão e tinta negra fluiu de seus dedos desenhando um circulo simples de invocação.

– Servo de Hades, atenda o meu chamado. – sussurrou. Uma sombra distinta começou a tomar forma no centro do circulo e pouco depois um cachorro parecido com um pequeno Hotwailler estava parado diante dela, ofegando e abanando o rabo alegremente. Ela acariciou a cabeça dele brevemente e se levantou indo em direção a porta e a abrindo. – Cérberos, vá chamar o Thommy, está bem?

O cachorro baixou a cabeça num gesto de compreensão e saiu pela porta.

– Não tenho certeza de que seu irmão gostará de ter um cão do inferno atrás dele. – Aaron disse.

– Não tem problema, já fiz isso antes.

Ela se virou para ele e notou que ele estava sentado na cama com seu diário entre as mãos e uma expressão angustiada no rosto.

– Venha aqui. – Aaron pediu.

Selena foi até ele e sentou-se ao seu lado.

– Tem ideia de como quatro dias podem parecer uma eternidade? – ele perguntou olhando dentro de seus olhos e apenas essas dez palavras tiveram o poder de desarmá-la.

– Me desculpe. – ela não sabia ao certo pelo que estava se desculpando. Talvez por esses quatro dias, talvez por seu futuro, talvez simplesmente por ter entrado na vida dele.

Tudo que ela sabia era que lágrimas que ela tinha contido por dias tinham começado a escorrer pelo seu rosto em algum momento e que Aaron estava lhe olhando com uma expressão hesitante, como se pensasse que ela era feita do vidro mais delicado e que se a tocasse ela quebraria em mil pedaços.

– Você não tem que se desculpar por nada. – ele deixou o diário de lado, estendeu as mãos e limpou as lágrimas que continuavam a escorrer em seu rosto. – Não me importo com tudo que possa acontecer daqui para frente, eu atravessaria o inferno por você. – Aaron enrolou seus braços ao redor dela, pondo-a sobre seu colo e aninhando-a junto ao seu peito. – E mesmo que nosso tempo juntos possa ser curto, terá sido a melhor coisa que aconteceu em toda minha vida imortal. – Ele sussurrou as últimas palavras. – Então, por favor, me dê uma chance.

Não sacrifique o seu amor por ele, pois esse seria possivelmente seu maior arrependimento quando tiver que fazer sua escolha, Afrodite tinha dito.

Ela não tinha mencionado que escolha seria essa, mas nesse momento essa era a última coisa na mente de Selena.

Tudo que lhe importava agora era o calor de Aaron confortando-a, o corpo dele tão próximo ao seu e o sentimento que ela havia escondido a tanto tempo dentro do fundo de seu coração agora se espalhando. O amor que ela sabia que era mútuo entre eles.

Selena o olhou nos olhos e tocou seu rosto. Aaron suspirou como se estivesse se preparando para ouvir uma rejeição e inclinou o rosto contra a palma dela.

– Eu sempre tive um passado covarde. – ela começou. – Sempre tive medo de machucar as pessoas e pus uma barreira entre mim e meus sentimentos, porque temia que eu pudesse quebrar e por um tempo acabei esquecendo de quem eu era de verdade. O que o destino guardou para mim não me assusta, mas os estilhaços que deixarei para trás podem machucar as pessoas com quem me importo e isso me destrói. – Selena engoliu em seco e continuou. – Quando te vi aquele dia na mansão Oceano, mesmo que tenha agido como uma menininha insolente no começo, tive a sensação de que já te conhecia antes e isso me transmitiu um sentimento de paz, até mesmo quando você ainda estava com aquela adaga no meu pescoço. – ela sorriu com a lembrança. – O pouco tempo que passei com você depois disso me deram um vislumbre da pessoa que eu era antes e isso fez com que eu me sentisse mais viva, mas também mais vulnerável, porque quando você está por perto eu sinto como se essa barreira em meu coração estivesse se desfazendo e eu já havia desistido a tanto tempo de meus sentimentos que não sabia lidar bem com a intensidade de tudo que estava sentindo. – ela respirou fundo. – Aaron, o que eu quero dizer é que eu possuo um lado obscuro que pode sair do meu controle a qualquer momento e não posso garantir que não machucaria a nós dois no futuro, mas eu te amo e quero ficar com você, então sou eu quem te peço agora, por favor, me dê uma chance. – No instante em que ela terminou de dizer as últimas palavras, os lábios de Aaron encontraram os seus.

Seus lábios eram doces e suaves, movendo-se contra os de Selena. Ela enlaçou seu pescoço, puxando-o mais para perto e ele envolveu sua cintura, de forma firme, mas, ao mesmo tempo, gentil.

Ela queria que o tempo parasse. Que não precisasse se preocupar mais com o destino ou com suas obrigações. Que pudesse ficar o resto de sua vida nos braços de Aaron, apenas aproveitando o momento. Queria deixar de sofrer por tudo que já havia passado, e deixar de temer o que ainda viria a seguir.

A língua de Aaron tocou seus lábios como se estivesse pedindo permissão para seguir em frente e ela rapidamente lhe ofereceu passagem. Quando suas línguas se tocaram foi como se um choque elétrico transpassasse seu corpo e o beijo se tornou mais intenso, cheio de necessidade. Selena deixou que suas mãos explorassem, descendo-as pelas costas de Aaron e encontrando a bainha de sua camisa a qual ela começou a puxar para cima. Ele quebrou o beijo por tempo suficiente para tirar a camisa e jogá-la de lado, e rapidamente reivindicou seus lábios novamente, ainda mais intensamente que antes.

Tão perto, mas nunca perto o suficiente.

Selena percorreu o peito dele com mãos ansiosas e Aaron mordeu levemente seu lábio inferior, fazendo com que um pequeno gemido escapasse do fundo de sua garganta.

Eles finalmente quebraram o beijo, colando suas testas e arfando pesadamente.

Aaron estava com os olhos fechados e com um grande sorriso no rosto.

– Lutar pelo amor é bom, – ele disse depois de alguns segundos. – mas alcançá-lo sem luta é melhor.

Selena se afastou um pouco, mas ainda com os braços ou redor de seu pescoço e o encarou.

– Isso é de Shakespeare. – ela falou.

– Eu sei. – ele abriu os olhos. – Sabe, passei os últimos dias pensando que teria uma batalha mais complicada que a guerra de troia para te convencer a ficar comigo, ainda não consigo acreditar que tudo isso é real. Pode ser apenas mais um sonho feliz, não seria o primeiro.

Ela lhe deu um pequeno beijo casto nos lábios e deitou a cabeça no ombro dele.

– É real. E pode ir se preparando, porque eu pretendo sair do seu lado apenas quando for absolutamente necessário.

– Eu não poderia querer outra coisa. – ele sussurrou em seu cabelo. – Eu te amo.

Fechando os olhos, Selena o abraçou mais apertado e percebeu que nunca havia sido tão feliz quanto naquele momento.

– Eu também te amo.