O dia amanheceu e Damon acordou antes do despertador começar a gritar. Ainda estava bastante cedo e os primeiros raios mal tinham começado a sair. Ele esticou a mão ainda de olhos fechados, tateando a cama vazia e fria. Abriu os olhos com a testa franzida devido à claridade e soltou um palavrão.
A cama estava vazia... novamente, e ele? Ah, ele já estava começando a se irritar com tudo aquilo.
Sentou-se na cama para se certificar da hora e aproveitou para desativar o despertador, jogando as cobertas para o lado e indo em direção ao banheiro. Ele não conseguiria dormir novamente. Céus como estava bravo!
Tomou banho, fez a barba e escovou os dentes, vestiu-se impecavelmente e começou a descer as escadas. Não parou diante a porta do quarto de Elena como sempre fazia. Nem a abriu para ter certeza que ela dormia. Apenas desceu com passos largos e a mandíbula tão apertada que lhe doía os dentes.

Elena acordou cerca de quarenta minutos depois, e quando desceu deu logo de cara com Damon que terminava de tomar uma xícara de café. Surpreendeu-se já que geralmente ela era que acordava primeiro.
– Caiu da cama? - ela disse zombeteira.
Ele ergueu o olhar para encará-la, mas não respondeu limitando-se apenas a beber outro gole de café.
Ele não estava com a cara nada boa, Elena logo percebeu e preferiu não incomodá-lo.
Foi até a geladeira e pegou a jarra de suco servindo um copo bastante exagerado.
– Dormiu bem? - ele perguntou de repente.

Era impressão de Elena ou a voz dele estava carregada de ironia?

– Sim. Dormi muito bem. - mentiu – já nem me dói-a cabeça. - ela disse tentando parecer convincente.
Ele fechou ainda mais a cara e continuou quieto. Mal sabia Elena que ele estava quase a ponto de explodir.
Era o momento certo para ele abordar sobre o assunto que tanto lhe incomodava. Era o momento exato para algumas perguntas que precisavam de resposta, porem o orgulho o impediu de falar qualquer coisa para a mulher que fugia de seus braços todas as noites durante a madrugada.
– Tenho certeza que sim. - disse num sussurro que Elena demorou alguns segundos para entender.
– Esta tudo bem? - ela perguntou de repente o fazendo encará-la novamente... foi a gota d’água.
Ele soltou o ar nervoso e com dois goles terminou o café.
– Damon? - ela insistiu

Antes que fizesse ou falasse alguma besteira ele limitou-se a dizer:
– Estou atrasado para uma reunião. - mentiu pegando a pasta em cima da mesa.
– Eu não perguntei se você esta atrasado, eu perguntei se você esta bem...
Ele pareceu não lhe escutar continuando a caminhar até a porta.
Irritada, ela bateu o pé no chão e largou os braços ao lado do corpo:
– Você vai sair sem me responder? - perguntou quase gritando
– Orá Elena você faz isso todos os dias. - ele disse calmo em sua defesa – Se você pode fugir, eu também posso. - ele disse antes de sair batendo a porta com força.
Do que diabos ele estava falando?! Elena não parava de se perguntar enquanto continuava olhando a porta atônica.
O barulho de um cantar de pneus chegou os seus ouvidos, e logo depois o barulho do motor do carro de Damon sumiu.
Ele já havia partido.
Elena esfregou a mão nos olhos fechados e as imagens do sonho onde ele era o ator principal lhe invadiram os pensamentos e levando a um mundo distante por alguns segundos. Abrindo os olhos, ela se deparou com o mundo real, totalmente diferente.
Seus olhos correram a cozinha pousando sobre a louça ainda suja da noite anterior lhe trazendo mais imagens a cabeça.. dessa vez imagens reais.
Estaria Damon referindo-se ao fato dela fugir de sua cama?
Não, não, ela foi logo tratando de dizer a si mesma, nada de criar ilusões e histórias errôneas, ela se advertiu.
Decidiu que precisava ocupar a cabeça, e então pegou o copo de suco e se direcionou até o pequeno jardim improvisado para tratar de suas mudas que estavam cada vez maiores e mais cheias de vida.
O passatempo lhe tomou toda a manhã e boa parte da tarde. Quando se jogou no sofá de olhos fechados e com a roupa ainda suja de terra, teve a certeza que nunca na sua vida havia sentido tanta falta do trabalho, e o fato de não ter o que fazer durante todas as tarde já a estava cansando.
Horas mais tarde, Elena acordou com as batidas incessantes na porta.
Precisou de alguns segundos pra raciocinar que havia cochilado, e quando pulou para fora do sofá e abriu a porta ainda atordoada deu de cara com Caroline:
– Você ainda não esta pronta? - A loira perguntou arregalando os olhos e a olhando dos pés a cabeça. Continuava com a roupa que havia sujado no jardim e os cabelos estavam bagunçados.
– Pronta? - Ela repetiu confusa
– Sim, Damon não lhe ligou avisando?- ela disse entrando sem ser convidada

– Avisando sobre o que? - ela disse cada vez mais confusa – Eu acabei cochilando e...
– Ah, esta explica o porquê de estar tão devagar. - ela disse rindo
– Do que estamos falando afinal?
– Que vamos sair para jantar! - ela disse eufórica – Eu, você, Damon e Klaus. Por isso trate de subir e se arrumar se não chegaremos atrasadas.
– Vamos comemorar o que? - Lena perguntou agora raciocinando mais depressa.
– E desde quando é preciso comemorar alguma coisa para sair para jantar?
Elena ficou em silencio por alguns segundos, assimilando as informações.
– Tem certeza disto?
– Claro que sim! Sou loira, mas também não me ofenda! - ela disse divertida, ajeitando a gola do seu vestido curto azul escuro – Anda, vai logo tomar banho que eu te ajudo no resto.
Elena preferiu não protestar, e enquanto tomava banho teve tempo o suficiente para conseguir por as ideias em ordem.
– Porque estamos saindo para jantar? - ela perguntou saindo do banheiro para Caroline que a esperava sentada na cama.
– Não sei. Klaus ligou e disse que já tinha combinado tudo com Damon. Porque essa obsessão com esse jantar pode saber?
– Nada. - ela disse dando de ombros – É que acho que eu e Damon estamos meio que brigados.
– Quer falar sobre isso? - a loira se ofereceu curiosa
– Não. Prefiro te contar outro dia.
Não estava nem um pouco a fim de explicar para Caroline porque ela saia da cama dele enquanto o mesmo dormia.
– Tudo bem, mas pode apostar que eu não vou esquecer.
– Eu sei que não vai. Venha me ajude.
Car ficou de pé em um pulo e a ajudou com a maquiagem e com os cabelos.
– Que roupa vai usar? - a loira perguntou já abrindo o guarda roupa
– Não sei. Vou deixar você escolher uma.
Elena viu o brilho de animação percorrendo os olhos de Car que sorriu e começou a dizer sem parar:
– Bom, já que estão “meio que brigados”, não pode ser um vestido de cores muito alegres se não ele vai pensar que você não esta se importando com o fato de estarem distantes…
– O que você esta falando não tem sentido. – Elena alertou rindo
– … tem que ser um vestido que diga “eu não quero chamar atenção, mas mesmo assim eu sou elegante e delicada” e … Ai-meu-Deus-que-perfeito! - ela disse puxando um vestido preto – É lindo, onde comprou?
– Em Toronto. - disse dando de ombros vendo o vestido preto com uma larga fita vermelha abaixo dos seios.
– É lindo, ainda bem que usamos o mesmo número de manequim!
– Mas nós não usamos o mesmo número de manequim. - ela disse arqueando uma sobrancelha
– É mais isso se resolve. - disse dando de ombros fazendo Elena rir – Você vai ir com esse.
– Mas eu nunca o usei desde que comprei. - tentou argumentar
– Pra tudo se tem uma primeira vez. Você vai com esse e pronto. Vamos, pode começar a vesti-lo.
Elena suspirou decidindo que era mais fácil fazer logo o que Caroline mandava, e quando deu por si já estava pronta colocando os sapatos – também novos que havia comprado junto com o vestido -, descendo as escadas enquanto a loira em sua frente lhe apressava.

Elas chegaram no restaurante ciente de que estavam uma hora atrasadas, e os meninos já as esperavam em uma mesa mais retirada das demais.
– Olá garotos. – Caroline disse chamando atenção.
Klaus logo se colocou de pé e deu um selinho demorado na loira que estava mais sexy do que de costume Elena olhou na direção de Damon e encontrou com o par de olhos escuros a mirando dos pés a cabeça. Ela corou, completamente sem jeito, mas ele não se levantou, e ela também não o cumprimentou. Klaus e Caroline se separam e loira sentou ao lado da cadeira de Klaus, que abraçou. Elena com força e lhe deu um beijo na bochecha. Não restando outro lugar a mesa, ela se sentou ao lado de Damon, tomando o cuidado necessário para que o cotovelo não encostasse nem se chocassem.
Ele não a encarou quando o garçom veio anotar os pedidos e nem quando Klaus lhe disse:
– Como você esta bonita hoje Elena! - ele disse parecendo não ter notado o clima pesado entre os amigos – Você não acha Damon?
Para a completa surpresa de Elena ele respondeu:
– Sim. Ela esta sempre bonita. - disse com a voz calma não demonstrando nenhuma emoção.
Elena arriscou olhar para ele, sentado ao seu lado, mas ele não correspondeu o olhar a fazendo revirar os olhos.
Caroline soltou um risinho e o garçom os interrompeu trazendo os pedidos.
Car e Klaus falavam sem para, sobre as mais diversas coisas. O que foi bom, já que, se não fosse eles o jantar seria um completo silencio. Porem tanto Elena quanto Damon sabiam exatamente o que estava acontecendo, e isso não ajudava em nada.
O restante do jantar foi exatamente igual e quando os quatro se despediram e Elena e Damon ficaram sozinhos no carro, ela teve a impressão que iria sufocar se não fizesse nada. Como uma última tentativa ela perguntou:
– Gostou do jantar?
Ele apenas assentiu, e ela brava não poupou a ironia quando falou:
– Oh sim, é claro que gostou.
O silencio voltou a ficar tenso. Bom, ela ao menos tinha tentado.
Ao chegarem em casa ele trancou as portas – como fazia todas as noites – e subiu as escadas, e nesse momento Elena teve a certeza de que pela primeira vez desde que haviam voltado do Canadá, eles não fariam amor... sexo. Não fariam sexo! Assim como pela primeira vez dormiria “realmente” sozinha e brigada com ele.