Yin e Yang escrita por Park Sunhee


Capítulo 2
Entre.


Notas iniciais do capítulo

Aqui está mais um! Espero que gostem! Beijos.



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Sentei-me no sofá da sala puxando meu café e uns brownies para meu colo. Fitava a televisão em um canal de séries, mas muito mal conseguia prestar atenção nele, tentava distrair minha cabeça para não pensar na origem daquele fogo presente dentro de mim.

Estava contente de, enfim, estar em casa já que o fato de estar no trabalho e algo acontecer me deixava mais nervosa do que o normal. Não que algo, de fato, fosse acontecer comigo, mas da última vez em que senti-me daquela maneira foi ao acordar do coma, há alguns meses, e fitar minha irmã pálida e branca como um gelo na cama bem ao lado da minha.

Os médicos, assustados, logo disseram que estávamos bem e que podíamos ir para casa. Mas sabíamos que eles nunca tinham visto algo daquela exatidão: duas irmãs gêmeas, despertando do coma no mesmo segundo. Não havia ninguém na sala quando acordamos, mas as câmeras definitivamente fizeram com que ficassem assustados, ainda mais quando nossa mãe foi correndo chamar o médico responsável por nós dizendo que ambas acordamos. Não apenas uma, mas ambas. E aparentávamos estar melhor do que antes.

Mas logo fomos para casa e tudo ficou bem, até um breve período quando Mia desapareceu alegando atrapalhar minha vida mais que o normal, não compreendi e sequer a escutei falar isso diretamente para mim, ela apenas deixou um bilhete na mesa da sala e nunca a mais a vi. Mas sabia que alguma coisa estava acontecendo, pois, aquele fogo dentro de mim vinha sempre quando ela estava por perto, ou quando algo ruim estava prestes a acontecer, era como um presságio, ou, como Mia chamava: uma premonição.

Não sabia se ela possuía aquele calor dentro de si, assim como eu, o meu era mais palpável, mas tentava ao máximo não pensar naquilo. Mas jamais estivera tão forte quanto naquele momento e aquilo estava me preocupando mais que o normal.

A campainha tocou e tornei a processar meus pensamentos em segundo plano enquanto levantava do sofá me perguntando quem poderia ser naquele horário, já que era incomum receber visitas e principalmente á noite. Pensei logo no pior, pensei que minha mãe pudesse não só estar passando mal, mas também precisando de mim; pensei que poderia ser Mia e até mesmo alguém do escritório precisando de mim com certa urgência. Mas existem telefones para isso, não é?

Destranquei a porta sem sequer me preocupar com quem poderia ser, o que não passava de uma irresponsabilidade por algum momento de afobação. Assim que abri a porta dei-me de cara com um Jeff completamente assustado e tão pálido quanto a cor da sua camisa impecavelmente branca. Passou por mim sem sequer olhar em meu rosto dizendo que precisava mudar de canal e assistir a noticia mais quente do dia.

Fechei a porta sem tirar os olhos da TV enquanto ele mudava do canal de séries para um noticiário local que parecia repetir a mesma breve cena inúmeras vezes, conseguia escutar a jornalista dizendo:

O vídeo, filmado por um cinegrafista amador presente no momento, nos mostra o novo fenômeno que habita nossa cidade. Há de ser confesso que, assim como eu, todos estão muito assustados com o que vem ocorrendo em nossa cidade nestes últimos tempos. A presença do Homem de Vermelho é o fator principal, mas, como todos podemos ver, não é com ele quem devamos nos preocupar, afinal, ele parece querer apenas nosso bem. Relatos de cidadãos salvos pelo tal mascarado nos faz afirmar que ele sim é o herói... – repetição da cena mais uma vez enquanto tudo o que a jornalista falava sequer fazia sentido para mim.

La estava uma mulher de cabelos longos e pretos como carvão inundando parte de uma rua de Central City, não sabia identificar a rua naquele momento e sequer me preocupava qual era. Ela erguia as mãos formando ondas – não maiores do que um metro – enquanto gritava parecendo sentir a maior das dores possíveis. A água voava para todos os lados como se uma mangueira estivesse ligada por lá, mas eu sabia que não havia mangueira nenhuma e que a grande causadora de toda aquela enchente, aguaceira, cachoeira, tsunami – como quiser chamar – era minha irmã, Mia.

– Ela voltou - Jeff disse enfim.

Não falei nada, apenas fitava a televisão vendo a imagem pela terceira vez.

Os carros batiam, mulheres gritavam, homens corriam, mães pegavam seus filhos no colo enquanto tentavam evitar a morte, homens puxavam suas mulheres pela mão enquanto tentavam não transparecer medo e pavor, como bons machos alfas deveriam ser.

– Deb!

Virei meu rosto para fitar Jeff quem parecia não estar muito bem.

– Deb! – ele berrou me fitando ainda mais pálido.

– Ela está aqui – sussurrei para mim mesma.

– Você... Você sabia disso?

Andei em direção á meu quarto, pude ouvir Jeff vendo atrás de mim logo em seguida ainda perguntando se sabia da presença de Mia na cidade, mas mal o escutava. Pensava em achar uma caixa que mantinha dentro de meu guarda-roupas e, naquele momento, jogava todas as roupas para fora procurando a tal caixa de sapatos onde Mia guardava alguns documentos, correspondências e acabei fazendo o mesmo, por hábito.

Procurava uma única carta, a carta que viera assim que acordamos e recebemos alta, cada uma recebeu uma dizendo exatamente a mesma coisa e sabia que, caso quisesse saber o que realmente estava acontecendo, teria que acha-la. Era uma promessa que tinha feito á mim mesma quando Mia se foi: caso algo acontecesse, caso tornasse a sentir o fogo dentro de mim ou soubesse de algo em relação á minha irmã, os procuraria. Por mais medo que eu tivesse, sabia que encontraria a resposta apenas lá, e agora que Mia estava de volta e tão descontrolada, não havia mais nada que pudesse fazer a não ser compreende-la, e mais ainda á mim mesma.

Sabia que Jeff estava parado na porta de meu quarto sem entender nada, e principalmente sem entender o porquê de Mia estar de volta a atacando a cidade como uma maluca, mas nem eu sabia e não tinha como tranquiliza-lo se nem á mim mesma eu estava conseguindo. Jeff sabia sobre o poder de Mia, ele foi o primeiro a me resgatar quando Mia inundou nosso apartamento numa série de raiva pouco depois de acordarmos do coma, quase morri afogada naquele dia, e desde então ela prometeu não ficar mais por perto.

Minhas mãos tremulas tentavam achar a caixa e quando senti o papelão em meus dedos sorri jogando a tampa da caixa para trás e trazendo-a para minha cama, ao centro do quarto, logo em seguida.

– O que está fazendo?

Não respondi mais uma vez, não me parecia relevante responde-lo naquele momento, afinal, estava com a cabeça a mil enquanto retirava os documentos e os inúmeros papéis que transbordavam pela caixa. A primeira correspondência que achei foi em meu nome com o logotipo do Laboratórios S.T.A.R. o que logo me fez respirar de alívio. Empurrei a caixa para o chão sem sequer me importar com a bagunça e Jeff parou do outro lado da cama me fitando ainda sem entender, completamente perdido com tudo o que estava acontecendo e porquê eu estava agindo daquela maneira.

– Deb...

Retirei a carta digitada de dentro do envelope, guardei-o no bolso com o endereço e pelo chão comecei a procurar, nas roupas jogadas, qualquer sobretudo ou casaco que pudesse me proteger do frio lá fora.

– Deb! – Jeff gritou impaciente.

– O que, Jeff?! – virei-me bruscamente para trás o fitando.

– Você pode me dizer o que tá acontecendo? Por que, não sei se percebeu, estou totalmente perdido!

– Tenho que ir Jeff – falei colocando o primeiro sobretudo que achei.

– O que? – ele perguntou olhando para mim – ir aonde?

Não respondi, fechei o sobretudo e calcei meus sapatos passando por cima da minha cama, pronta para tentar achar uma explicação e até uma cura para o que minha irmã estava passando. Parei na porta enquanto Jeff me fitava sem entender o que eu estava indo fazer, não queria lhe dar explicações, pois ele jamais entenderia, queria proteger a minha irmã, vê-la bem e queria ficar bem também. Ele não sabia sobre mim, apenas sobre o que ela era capaz, mas fazia de conta que sequer tinha visto-a jogar água para todos os cantos, até então.

Ela estava nos noticiários locais e estaria nos internacionais em breve, todos falavam da estranha mulher que conseguia controlar a água e fazê-la sair de suas mãos como um passe de mágica, assim como noticiaram outros milhares de “fenômenos” os quais não acredito que simplesmente tenham surgido, sei que sempre há alguém por trás de algo inexplicável, mas não desde sempre. Sempre fui cética em relação á certas coisas e, de certo modo, até alienada em relação á “fenômenos” inexplicáveis, coisas impossíveis, mas lá estava eu saindo de casa ás pressas para um laboratório que sabia do que eu e minha irmã éramos capazes, sabiam que ambas éramos um fenômeno inexplicável.

Empurrei Jeff para o lado o que o fez vir atrás de mim em uma explosão de fúria por não ter suas respostas, eu o compreendia até certo ponto, mas tudo o que eu desejava naquele momento era chegar aonde precisava sem ninguém me incomodando e muito menos fazendo inúmeras perguntas á respeito do que eu estava pensando, o que estava indo fazer, se sabia da presença de Mia pela cidade, se podia ser exata e explicar o porquê dela controlar a água, entre outros.

– Você fica aqui até eu voltar – interrompi algo que ele protestava sem sequer respirar.

– Aonde vai, Deb?! – ele me olhava com seu rosto já vermelho de fúria.

– Tenho algo para resolver.

– Ás dez da noite? – perguntou levantando os braços.

– Sim – falei – não demoro.

Abri a porta e logo vi sua mão pálida a fechando com toda força que ele era capaz de produzir.

– O que...?

Ele me interrompeu – Você vai procura-la, não vai?

– Não agora – falei tentando abrir a porta.

Ele a empurrou novamente – Ela é perigosa.

– Ela é minha irmã – empurrei sua mão para o lado, mas ele logo a posicionou em cima da porta mais uma vez.

– Você não pode procura-la, Deb – ele dizia em um tom tão piedoso que quase cedi – por favor, vai me dizer que não se recorda do dia em que quase morreu?

– Não vou procura-la, Jeff – falei virando meu corpo em direção ao dele – me deixa sair daqui.

– Vou com você.

– Não, você não vai.

– Não quero ouvir sua negação – ele disse soltando a mão da porta – vou com você.

– Você não vai á lugar nenhum – o empurrei para trás, mas o máximo que consegui foi fazê-lo dar um pequeno passo para trás.

– Não vou te deixar sozinha por ai com a maluca da sua irmã fora de controle.

– Você não a conhece! Você não sabe como é ter algo incontrolável dentro de si!

– E você sabe?! – seu grito cortou o meu enquanto me fitava nos olhos.

O fitei sem responder virando-me de frente para a porta e abrindo-a logo em seguida, escutei os passos de Jeff logo atrás de mim enquanto descia as escadas rapidamente, tentava respirar fundo enquanto pensava em uma desculpa para fazer Jeff ir embora, ele não podia ir comigo ou se decepcionaria pelo fato de nunca tê-lo contado sobre mim, pelo fato de ter escondido dele quem sou e quem me tornei após a explosão. E melhores amigos não mantem segredos ou escondem coisas.

Mas o que falaria?

“Ei, Jeff! Tudo bem?! Ah, eu espero que sim! Bom, acordei do coma soltando bolas de fogo e podendo controla-lo, pois é!” E ai daria um sorriso feliz enquanto ele desmaiava em minha frente? Ah, vamos lá! Jamais poderia dizer algo para ele, jamais poderia explicar ou dizer como me sinto para Jeff ou para qualquer outra pessoa que pensariam que eu estava louca. Poderia apenas me abrir e falar tudo o que sinto para alguém que me compreendesse e este alguém estava fora de controle causando um “caos aquático” em Central City.

Senti um puxão em meu braço e logo estava de frente para Jeff quem me segurava firme em ambos os braços. Seu rosto pálido e sua respiração fizeram com que me sentisse culpada enquanto ele dizia:

– Você está me assustando, Debora. Eu tô totalmente perdido e, acredite, já não sou o mesmo desde aquele dia em que sua irmã quase te matou com a água que ela própria cria e domina! E agora... Agora ela está de volta e... – ele respirava rapidamente – e eu não sei o que fazer. Você tá dando uma de louca, bagunçou seu quarto e simplesmente diz que tem que ir á algum lugar! Eu deveria ter te dado um sedativo, ou sei lá o que – ele aumentava o tom de voz enquanto puxava ar para seus pulmões – e você não quer me contar o que vai fazer!

– Jeff – falei também ofegante enquanto o fitava – olha... Eu... Honestamente? Tô tentando encontrar algo pra te mandar embora porque não quero que vá comigo á lugar algum! – ele me soltou de imediato enquanto eu fechava meus olhos tentando me explicar – é difícil e assustador ver minha irmã desse jeito e eu preciso fazer algo... Por favor, fique aqui. Prometo que explico tudo o que quiser amanhã ou depois... Só, por favor, me deixe ir sozinha.

Ele deu um passo para trás batendo as mãos na calça jeans – Você quem manda.

O vi virando de costas e caminhando para a direção oposta á minha. Atravessei a rua correndo enquanto tentava avistar um táxi, mas naquele horário era algo extremamente impossível de se conseguir e minha cabeça estava á mil com tudo o que tinha acontecido em menos de uma hora.

Andando até o próximo quarteirão encontrei o primeiro táxi após quinze minutos, assim que entrei ditei para o motorista o endereço no qual pretendia estar e o pedi para ir o mais rápido que conseguisse, escutei-o fazer uma piada sobre alguma coisa relacionada á vermelho, mas sequer me liguei, estava pensando em como fui grossa com Jeff apenas por me querer bem.

Balancei a cabeça tentando pensar apenas no que teria que dizer no Laboratório, nem eu sabia direito o porquê de procura-los, uma única palavra vinha em minha mente: cura. Queria ser curada daquele pesadelo, queria que minha irmã também fosse e todos os outros que não conseguem viver sua vida normalmente pelo simples fato de ter sido atingido por aquele raio, sabia que não estava sozinha em toda essa história, não era tão ignorante a ponto de juntar as peças e notar que muita coisa mudara desde a explosão e não apenas comigo.

Não era possível que estava sozinha nessa, e muito menos provável que não tivéssemos como curar o ocorrido, eu queria ser normal novamente e sei que Mia também, o resultado de todo esse descontrole nada mais é do que seu desespero para voltar a ser como era, para ela ficar bem de novo sem se preocupar se vai machucar alguém que ama. E a entendo, sempre que me sinto nervosa ou fora de controle, me sinto preocupada com os demais á minha volta, pois jamais suportaria vê-los machucados, mesmo que não conheça mais da metade.

Procuro me isolar e muitos disseram que estava diferente desde que voltei do coma, o único quem sempre me defendeu foi Jeff, quem agora deve estar furioso pelo modo como o tratei, mas não posso deixa-lo ir, não posso fazer com que ele acompanhe e alguém do Laboratório acabe soltando algo sobre mim, sobre uma suposta cura, eu não sabia o que fazer, por isso optei pela grosseria. Não consigo imaginá-lo ao saber que, assim como Mia, também possuo o poder de dominar o fogo, seria demais para ele, quem sumiu por duas semanas após ver o que Mia era capaz, alegava estar louco e dizia que aquilo era impossível. A partir daquele momento jurei para mim mesma que não queria vê-lo daquela maneira novamente, por isso teria de esconder dele.

O táxi parou fazendo com que meus pensamentos esvaíssem. Paguei o taxista indo em direção á faixada escura do prédio que junto com a explosão desativou-se. Senti um vento passar por mim e o borrão vermelho sumir logo em seguida. Parei no meio do caminho tentando entender o que ele estava fazendo ali, o homem de vermelho consagrado o herói de Centra City, o homem mais rápido que já conhecemos. Será que algo estava acontecendo no Laboratório S.T.A.R.? Caso estivesse ele não deveria estar correndo na direção do prédio e não na oposta?

Virei meu rosto para frente e logo a porta de vidro automática se abriu, como se estivesse me esperando, como se soubesse que eu estava ali. Logo escutei:

Senhorita Genine por favor entre.


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Notas finais do capítulo

Não esqueçam de comentar hein?! Beijos.



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