Inferno escrita por Universo


Capítulo 3
Capítulo 3 - Pílulas


Notas iniciais do capítulo

Me desculpem pela demora! :c



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Pela primeira vez na vida eu havia ficado de recuperação na escola. Não deixei meu pai ficar sabendo, disse a ele que minhas aulas demorariam um pouco a mais para acabar - e ele, que sempre confiou em mim, acreditou. Não me preocupei muito, também não fiz o mínimo esforço para estudar, só dei um jeito de "colar" na hora da prova da recuperação e passei. Como nunca fui de fazer tais coisas, os professores nem desconfiaram. Ainda bem.

Sexta-feira, 05 de Dezembro de 2014

Finalmente eram férias. Agradeci a quem quer que seja por esse ano ter passado rápido, porque ir para a escola já estava começando a se tornar algo insuportável.

Finalmente, minha vida estava começando a melhorar. Aos poucos, mas estava. Não, eu não consegui contar os meus problemas à ninguém, nem voltei a falar com Bernardo ou com Elisa. Na verdade, estava pouco me fodendo para eles, para todos eles. O que aconteceu de bom foi o fato de eu ter encontrado alguns calmantes e antidepressivos em meio aos remédios do meu pai, enquanto procurava algo para a dor de cabeça.

Os calmantes e os antidepressivos estavam todos fechados, o que significa que meu pai não os usou e, como ele era bastante ocupado, provavelmente nem se daria conta deles. Aliás, meu pai, Dr. Alexandre, era médico e, por sinal, muito bom. As vezes ele deixava alguns remédios guardados aqui em casa, mas nunca me importei com isso, até agora.

Eu tomava diariamente cerca de duas pílulas do calmante e outras duas do antidepressivo e isso estava me ajudando muito. Com elas, eu conseguia dormir e me alimentar melhor. Continuei tendo pesadelos, mas ao menos não estavam me deixando nenhum tipo de "marca" como antes. Até o meu humor estava notavelmente melhor!

As pílulas faziam efeito imediato. Era só engoli-las para eu começar a me sentir bem. Nos primeiros dias dos medicamentos, eu me sentia fraca e com muito sono, mas depois de alguns dias tomando, passei a me sentir feliz, tranquila e com bastante energia.

Como sempre faço nas minhas férias, nesta ficarei alguns dias na casa da vovó e logo depois vou viajar com o meu pai.

Eu provavelmente iria passar uma semana com a vovó, então fui escolher algumas roupas minhas para levar para lá. Enquanto escolhia, lembrei que minha avó morava perto de Elisa. "Ninguém merece!", eu pensei.
Quando acabei de escolher, coloquei minhas roupas numa mochila. Avisei para o meu pai que ele não precisava me levar, pois a casa da vovó não ficava muito longe, peguei meu skate e saí.
No caminho para a casa da minha avó, avistei Elisa (mas acho que ele não me viu). Quando a vi, senti uma sensação muito estranha. Era um tipo de sentimento negativo, forte e único, que nunca havia sentido antes. E se algum outro dia senti, ao menos não me recordava. Mas, como sempre, deixei isso para lá e segui em frente.

A casa da minha avó era enorme e cheia de plantas. Logo quando cheguei, a vi regando umas flores que estavam na varanda.

– Vovó Sirena! - Chamei-a e a mesma veio abrir a porta para mim.

– Olá, Mari! - Disse, com seu sorriso mais agradável no rosto. - Quanto tempo, minha pequena! - Ela me deu um abraço rápido e logo me soltou.

– Verdade. Senti saudades. - Abracei-a novamente e ficamos assim por alguns segundos, até ela me soltar.

– Vamos, entre! Fiz seu bolo predileto.

Eu deixei meu skate na varanda e entrei. A casa da vovó tinha cheiro de chocolate quente.

Logo na sala, havia um retrato enorme da mamãe. Senti uma saudade boa. Quando me dei conta, estava parada fitando aquele retrato.

– Você está parecidíssima com ela. - Minha avó disse e eu apenas sorri em agradecimento.

Realmente, eu estava. Sempre quando estou com saudades e me olho no espelho, lembro dela, do jeito dela. Deve ser mais difícil ainda pro meu pai, que convive com uma filha que é quase idêntica a sua falecida esposa.

Minha mãe se chamava Marie. Tinha cabelos castanhos, olhos acinzentados e pele branca. Nunca havia visto olhos tão lindos quanto os delas.

Mesmo com o passar dos anos, minha mãe as vezes me fazia muita falta. Eu não tinha superado completamente a morte dela. Ela morreu num acidente de carro, quando eu tinha apenas oito anos. Lembro que foi uma fase muito difícil para mim, principalmente por ter que aturar algumas crianças insuportáveis da escola rindo de mim por não ter uma mãe pra me buscar ou para ir em festas escolares comigo. Foi ruim, mas ainda bem que isso acabou.

– Mari, deixe a sua mochila no quarto de hóspedes e venha tomar o café da tarde.

– Ok, vovó.

Fui até o quarto de hóspedes e deixei minha mochila por lá. Em seguida, dirigi-me até a cozinha e me sentei de frente à vovó. O meu pedaço de bolo de cenoura e meu chocolate quente já estavam ali. Agradeci-a.

Nós ficamos conversando, relembrando os momentos bons e jogando conversa fora. E foi assim o resto da semana.

Passar o tempo com a minha avó me deixava tranquila. Quando eu a via ou entrava em sua casa, entendia o que era "energia positiva". Tudo ao redor dela parecia esbanjar paz e tranquilidade. Visitaria ela todos os dias, se pudesse.

Era meu último dia na casa da vovó, na manhã seguinte meu pai me buscará. Estava deitada na cama, esperando para tomar meu remédio, e continuei, até ter a certeza que minha avó já estava adormecida.

Olhei para o relógio e era uma hora da manhã. Levantei devagar e acendi a luz do quarto. Abri minha mochila a peguei a cartela do remédio para dormir. Tinha acabado.

Na hora, senti uma sensação de desespero, medo, agonia. Foi como se tudo de ruim tivesse voltado. Comecei a respirar ofegante, mas lembrei que ainda tinha alguns calmantes.

Peguei dois deles e fui até a cozinha, abri a geladeira e peguei uma garrafa d'água. Alguém acendeu a luz e eu me assustei. Era a minha avó.

– Vovó, você me assustou.

– Insônia? - Perguntou.

– Não, só estava com sede. - Respondi.

Coloquei disfarçadamente os calmantes na minha boca, enchi o copo de água e bebi.

Que idiota que eu sou. Aquela era a hora que minha avó acordava para tomar os seus remédios.

– Ah, sim. - Encerrou a conversa, enquanto pegava água para tomar os seus medicamentos.

Voltei para o quarto, apaguei a luz e me deitei. Fiquei olhando para o teto por um bom tempo, até dormir.

O sonho começou bom.

. . .


Era noite e eu estava sentada na areia de uma praia com os meus dois antigos melhores amigos, Bernardo e Elisa. O silêncio dominava aquele local. Nós estávamos apenas sentindo o vento nos nossos cabelos e olhando o mar, que parecia ficar ainda mais bonito quando refletia a luz da lua cheia. Não tinha nenhuma nuvem no céu para atrapalhar nossa visão das estrelas. Aquilo era uma perfeição. Ficamos assim por um bom tempo, até chegar uma mensagem no telefone de Bernardo.

– Quem é? - Elisa perguntou.

– Minha mãe. Ela mandou uma mensagem me avisando para voltar para casa.

– Mas já? - Perguntei.

– Sim. Faz muitas horas que estamos aqui. - Bernardo respondeu, enquanto se levantava da areia e me dava uma de suas mãos, para ajudar-me a levantar também. Fiz o mesmo com Elisa.

– Ah, valeu. - Ela me agradeceu.

Nós três fomos embora de carro. Não me lembro de quem estava dirigindo o carro, mas me lembro que fomos ouvindo e cantando Rock no caminho de casa.

Eu ia dormir na casa de Elisa, então Bernardo nos deixou lá e foi para sua casa.

Tudo estava indo bem. Tomamos banho, colocamos nossos pijamas, ficamos conversando e rindo até tarde. Até Elisa me pedir para esperá-la, que ela ia na cozinha beber algo e perguntou se eu queria também. Eu só assenti com a cabeça e fiquei aguardando-a.

Não demorou muito e Elisa voltou. Ela não estava com nossas bebidas; mas sim, com uma faca afiadíssima.

– Pra que isso? - Perguntei, assustada.

– Você é uma péssima amiga. - Disse, ignorando a minha pergunta.

– O que foi que eu fiz? Eu sempre me preocupei com você, sempre estive ao seu lado, mesmo quando a gente se afastava. De um jeito ou de outro, eu nunca deixei de estar lá.

– Você sabe do que eu estou falando.

– Não, não sei!

Ela começou a chorar.

– Eu sempre gostei do Bernardo e você sabe disso. E, mesmo assim, você sempre dá um jeito de atrapalhar tudo! - Enxugou suas lágrimas com força.

– Do que você está falando? Vocês dois são meus melhores amigos. Nunca tive segundas intenções com ele. Desculpa se você acha que eu tenho algum tipo de culpa por isso.

– Você é mesmo uma idiota! - Gritou.

Ela veio na minha direção e tentou me esfaquear. Não deu muito certo. Ela deixou a faca cair no chão, mas fui mais rápida, apanhei a faca e cravei-a bem em seu coração.

Enquanto matava-a, senti algo bem mais forte que eu me dominando completamente. Algo totalmente ruim. Não me arrependi de tal ato, nem senti nada, só deixei o local, como se nada tivesse acontecido.

. . .

Acordei normalmente. Ultimamente estava tendo muitos pesadelos do tipo. Não estava nem um pouco preocupada com sonhos, estava preocupada com meus antidepressivos.

Eram umas seis horas da manhã. Fui me arrumar para voltar para a casa do meu pai.

Me despedi da vovó, peguei minha mochila e meu skate e deixei o local.

Vi uma ambulância no caminho, mas não me importei. Certamente não era com ninguém que eu conhecia.

Quando cheguei em casa, meu pai veio falar comigo e me deu uma notícia um tanto desagradável.


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