Aquele escuro espaço entre dois prédios parecia ser outra dimensão. Nenhum som. Nenhuma iluminação. Ninguém, a não ser o homem e a garota. Ele ainda à procurava. Tinha certeza de que ela estava lá, apenas não a enxergava. Na verdade não conseguia ver dois palmos à frente do nariz. A escuridão era tão densa. A ansiedade daquele ser aumentava a cada passo vagaroso que dava. Sua cautela era mantida. Se a garota se assustasse e acabasse correndo, ele a perderia e nunca mais a veria. Aquilo era inconcebível, então ele chacoalhou a cabeça, espantando aqueles pensamentos impertinentes.

O homem não conseguia ver, mas a garota seguia também em um ritmo vagaroso, não estando a mais de dez metros de distância. Com os seus grandes olhos ela observava o céu enquanto andava. Notou que em breve as nuvens que bloqueavam a lua se afastariam, e aquele beco tão escuro teria um pouco de iluminação. Estaria ela com medo? Talvez sim. Ela poderia estar com uma intensa vontade de sair correndo daquele lugar, mas o motivo de se manter andando calmamente seria o fato de não fazer barulho e não chamar a atenção.

Aquele beco escuro poria qualquer um a ter calafrios. Um lugar sem luz, com pouca visibilidade, costeado por altas paredes de concreto. Não seria difícil que as pessoas fossem acometidas por fortes sensações claustrofóbicas. Uma imensa vontade de sair correndo e gritando, na intenção de se livrar o mais rápido possível daquele lugar. O cheiro do lixo não era tão forte, mas podia ser sentido; isso misturado ao resto dos fatores, causaria náuseas de desespero por quem ali passasse.

Mesmo aquele lugar sendo tão assombroso durante a noite, a garota andava sem esboçar nenhuma reação de medo. Carregaria ela tal sentimento? Ou quando ganhou as marcas de costura perdeu junto o seu temor? O que aquela jovem estava pensando ou sentindo era uma total incógnita. O que havia acontecido com ela era um mistério maior ainda. Essa junção de fatores chamou a atenção daquele homem. O total mistério sobre ela, a total falta de informações fazia com que fosse intensamente desejada por ele.

Lentamente as trevas foram se dissipando. Pouco a pouco a luz da lua ia se libertando do bloqueio das nuvens. O beco não estava mais tão escuro, as formas dos objetos que ali estavam podiam ser visualizadas sem maiores problemas. O homem a viu andando silenciosamente à sua frente. Desde que a vira ela não havia feito um barulho sequer. Ela era uma existência fantasmagórica. Sua presença parecia não existir no mundo, sendo notada apenas pro ele. Pensar nisso só o fez desejá-la ainda mais. Seu estômago embrulhava só te pensar que ele poria as mãos nela à qualquer momento.

A garota parou de andar. Ela ficou parada no meio daquele beco escuro, olhando para uma grade. Havia um portão, mas ele estava preso com um cadeado. Ela fitou o cadeado por alguns instantes, como se não acreditasse que aquilo estava ali, em seguida olhou a grade de cima a baixo, como se estivesse calculando a altura e se ela seria capaz de atravessá-la. Possivelmente acabou percebendo que aquilo tudo era ridículo devido às suas condições. Ela era pequena e magra, não aparentava ser capaz de executar tal façanha. Terminou por dar meia volta, na intenção de voltar pelo mesmo caminho.

Agora estavam de frente um para o outro. A garota havia começado a andar, mas quando avistou aquele homem sinistro, ela parou imediatamente.

— O caminho está bloqueado — ela disse a ele. — Não adianta querer passar por aqui. A não ser, é claro, — ela olhou para trás — que queira pular a grade.

— Ah... — ele não conseguia falar. Aquilo aconteceu tão repentinamente. Ter aquela garota falando com ele foi tão impactante que ele travou.

— Han?

— Ah... eu não quero passar — o homem falou com dificuldades, ele estava ofegante e suando.

— Então o que quer? Porque eu quero voltar. Não me leve a mal, mas você é meio assustador e eu não quero passar por perto de você.

— O quê?! — O homem estava espantado. Ele lentamente começou a andar em direção à ela. — Eu te assusto? Você quer fugir de mim? Está com medo de mim? Vai embora para nunca mais voltar?! Então É ISSO QUE IRÁ FAZER?! — A fúria se apossou daquele ser, o deixando mais sinistro.

— Que sinistro — a garota murmurou para si mesmo. Em seguida falou mais alto: — Olha pra você, cara. Você é tão tenso que até a sua mãe deve ficar com medo. Até parece um assassino.

O homem fez silêncio total por alguns segundos. Em seguida um baixo riso pôde ser ouvido pela garota. Era tão medonho. Aos poucos ele foi aumentando ao passo que se tornou uma gargalhada insana.

— Eu pareço um assassino?! — ele indagou bruscamente. — Talvez seja... — uma faca foi puxada do seu sinto — porque eu sou um!

Os olhos da garota se arregalaram, mas ela conseguiu manter o seu tom.

— Ótimo... estou naquele tipo de situação que sempre pensei que não ocorreria.

— Todos pensam o mesmo — o homem falou enquanto se aproximava. — Então eu chego e mostro o quanto esse pensamento é podre e ridículo. Mas eu não quero matá-las, eu quero apenas o amor delas. Mas elas nunca querem me dar o seu amor. Então eu as mato. Mas eu nunca quero matá-las. Eu quero só o seu amor.

— Então é você que anda matando as mulheres da cidade?

— Sim, a maioria delas...

— Ótimo... Em que bela confusão eu fui me meter.

— Calma, minha doce... logo acabará, logo você será mais uma das minhas vítimas! — Ele se pôs a correr.

A garota deu alguns passos para trás, até que as suas costas tocaram a grade. “droga!”, foi o que ela sussurrou. O homem se aproximou velozmente com a faca na mão. Sua gargalhada medonha ecoou mais um fez pelo peco. Seus olhos demoníacos estavam esbugalhados, ele não queria perder nem mesmo um detalhe daquilo que ele considerava um belo ato. Um ato violento contra um amor rejeitado.

— Morra! — ele vociferou.

O barulho de algo sendo cortado ecoou.