Inverno [PAUSADA] escrita por Bianca Ribeiro
Meu primeiro passeio com a rainha Elsa foi dois dias depois de nos conhecermos. Eu decidi levá-la ao bosque do norte onde, agora no verão, tudo parece completamente mágico e fantástico. Ela era mágica e fantástica, e não havia melhor lugar para passearmos.
Cheguei ao castelo pouco antes do sol se pôr. Elsa usava um vestido simples e bonito e o cabelo estava trançado, caído de lado sobre seu ombro. Ela estava deslumbrante sem sequer se esforçar. Empoleirei-me no parapeito de sua sacada e ela se aproximou, trazendo uma brisa suave e fria com ela.
– Olá, Jack Frost – Elsa acenou com a cabeça. Suas mãos estavam postas diante do corpo e sua postura era perfeita e... tensa. Ela devia estar nervosa.
Fiz uma reverência desajeitada.
– É um prazer ver você de novo – eu disse. Estendi-lhe a mão. – Vamos?
O semblante dela mudou.
– O que quer dizer? Precisamos descer primeiro. Uma carruagem nos espera, Jack.
Franzi a testa. Uma carruagem? Eu não andaria de carruagem coisa nenhuma, não quando podia aproveitar o vento e pairar por aí.
– Bem, nós não precisamos de carruagem alguma – estendi a mão para ela outra vez. – Você confia em mim?
Sua mão estremeceu.
– Como posso confiar se acabei de te conhecer? – ela disse, erguendo o queixo de maneira desafiadora como só uma genuína rainha sabe fazer. – Iremos em minha carruagem. Encontro você lá embaixo.
Revirei os olhos, não gostando nada dessa história. Mas, afinal, Elsa era a rainha e eu já estava completamente atraído por ela. O que podia fazer a não ser atender aos seus caprichos? Eu sei, eu sei. Um homem deve se impor e dizer o que pensa, deve mandar e não obedecer. Bem, isso não me ajudaria agora, não é mesmo? Primeiro eu precisava ganhar a confiança dessa rainha estonteantemente linda.
– Certo – resmunguei. E me lancei para trás segurando meu cajado.
Elsa gritou de susto e foi até a beira da sacada, procurando por mim. Ela não sabia que eu e o vento éramos melhores amigos?
– Você está bem? – ela perguntou.
Não me contive; comecei a gargalhar alto até a barriga doer. Elsa se importava comigo então...
– Achei que tivesse caído! – ela reclamou, nada contente. – Não devia preocupar as pessoas dessa maneira!
Apoiei-me no parapeito outra vez, perto dela o suficiente para sentir seu perfume.
– Então ficou preocupada comigo? – toquei seu nariz com o meu. Elsa afastou-se num pulo. – Não deve se envergonhar por isso, majestade! Se você caísse de uma sacada dessas, eu seria o primeiro a pular para resgatá-la!
Ela ficou vermelha feito um pimentão e disse:
– Ora, vamos logo para a carruagem...
Achei a carruagem de Elsa chique, mas exagerada. Sentei-me ao seu lado, rindo das expressões dos guardas e do cocheiro que nos acompanhavam, e fiquei olhando para a rainha durante todo o percurso. Ela era tão encantadora e nobre, tão tranquila e gentil...
– Por que está olhando para mim dessa maneira? - perguntou Elsa.
Eu sorri.
– Não é nada. Estou pensando. Por que aceitou passear comigo hoje?
– Eu... quis compensá-lo pelo que houve. Sabe, no outro dia, quando eu...
Sacudi a cabeça.
– Não precisa me compensar. Foi um acidente e está tudo bem. É só por isso que veio?
As bochechas de Elsa ficaram rosadas e ela desviou o olhar. A carruagem sacolejava.
– Na verdade, não - disse ela. - Você é como eu. Tem magia e sabe controlar.
– E você acha que passando um tempo comigo pode aprender a controlar seus poderes também?
Ela assentiu.
– Sim. Talvez.
A carruagem sacudiu mais forte.
– Bem, eu disse a você que a ajudaria - sorri para ela, tentando soar encorajador. - Farei meu melhor.
Elsa piscou seus lindos olhos azuis e me encarou com curiosidade.
– E você? - ela perguntou. - Por que vai me ajudar?
A carruagem sacudiu ainda mais forte e os guardas gritaram lá fora.
– Protejam a rainha! - exclamaram.
Peguei meu cajado - que havia deixado no chão ao entrar - e empurrei o ombro de Elsa quando ela tentou se levantar.
– Fique aqui - sussurrei para ela. Seus olhos estavam preocupados e curiosos.
– Mas... - ela tentou protestar.
– Não. Shh - coloquei o dedo indicador sobre meus próprios lábios.
Ficamos em silêncio.
– Não saia - sibilei para ela, abrindo a porta da carruagem e me colocando para fora o mais rápido possível antes de voltar a fechá-la. Selei a maçaneta com gelo, para manter Elsa segura ali dentro.
A cena que se seguiu foi um pouco chocante para mim e, por cerca de alguns segundos, tudo o que fiz foi ficar imóvel, surpreso. Os guardas da rainha estavam desacordados no chão. Suas roupas estavam chamuscadas e os cavalos acabavam de fugir. Mas não havia sinal algum de bandidos ou quem quer que fosse querendo atacar a carruagem real. Não fazia sentido.
– Jack? - chamou Elsa. - Jack, o que está havendo? - ela batia na porta, do lado de dentro. - Não consigo sair!
Foi então que uma risada grave e sarcástica chamou minha atenção. E o dono dela ainda mais.
– Acertei a carruagem errada? - indagou um rapaz ruivo muito bem vestido. Ele vestia luvas brancas enquanto ria com maldade. - E então? - ele olhou para mim. - Quem é você e onde está minha doce rainha?
Ergui meu cajado.
– O que alguém como você pode querer com a rainha?
– Isso não é da sua conta - ele deu de ombros. Seus olhos verdes fitaram a carruagem cruelmente. - Ela está aqui dentro?
Apontei o cajado para ele, ofensivo.
– Ela não está aqui. Gostaria de deixar um recado?
O rapaz riu.
– Oh, sem dúvida. Diga à Elsa que estou indo tomar Arendelle e que, dessa vez, tenho alguns truques na manga.
Foi nesse instante que a carruagem explodiu. Ou melhor dizendo, Elsa a explodiu.
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