Inverno [PAUSADA] escrita por Bianca Ribeiro


Capítulo 1
Jack




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Era um típico fim de tarde de verão. Eu adorava tardes assim, pois as pessoas saíam de suas casas para aproveitar o sol e o calor e pareciam mais alegres do que em qualquer outra época do ano. Os telhados eram meus camarotes e de lá de cima eu podia observar toda a diversão o tempo todo. Mas, ora, devo apresentar-me a você antes de qualquer coisa.

Meu nome é Jack Frost. É tudo o que eu sei sobre mim mesmo. É claro que você deve estar se perguntando que tipo de maluco eu sou, ou por que estou dizendo coisas assim sem sentido. Só que essa é a verdade. Eu não me lembro de onde vim, ou quantos anos tenho, ou se há alguém mundo afora procurando por mim. Simplesmente acordei numa noite belíssima de luar e tenho vagado pela Terra desde então. Ah, outra coisa que você precisa saber sobre mim: eu tenho um dom especial que me permite criar gelo. Isso mesmo, você já deve ter ouvido lendas ou histórias para dormir a meu respeito. Parece magia, mas creio que não é. Não sei de onde vieram meus poderes, tampouco, mas faço um tremendo bom uso deles. Também sou incapaz de envelhecer, então já tenho um par de anos nas costas, se é que me entende. Eu levo diversão a todas as crianças das cidades por onde passo, congelando seus narizes e começando clássicas guerras de bolas de neve. E é assim que eu vivo há quase 50 anos - pelas minhas contas.

O único problema que tem me atormentado há tempos é a minha invisibilidade. Pessoas que não acreditam na minha existência não podem me ver. Aí você se perguntaOra, mas como você faria para que acreditassem em você se não pode ser visto? Esse é o grande problema. Eu não posso fazer absolutamente nada que influencie as pessoas ao meu redor, a não ser usar meus poderes. É difícil e bastante solitário, mas já estou acostumado.

Bem, voltando ao dia ensolarado de hoje, vou explicar o motivo de eu não ter ido para um lugar mais frio. É um motivo muito bobo, na verdade, mas isso é o que me mantém aqui. Isso não seria bem a palavra. É ela. Uma garota que eu vi por acaso passeando pelos bosques acompanhada de outra garota mais nova. Quando as vi, fiquei fascinado pela beleza e graciosidade das duas, mas a mais velha definitivamente me cativou. Naquele dia, eu as segui enquanto iam embora e descobri que eram da nobreza. Duas princesas, talvez. Moravam num castelo cercado por água, com montanhas ao fundo e vários navios atracados no porto. Só pude segui-las até o vilarejo, então as perdi de vista. A partir de uma conversa entre duas senhoras numa loja de flores por perto, descobri que o reino onde eu me encontrava chamava-se Arendelle – muito bonito e rico por sinal. Decidi ficar e observar as pessoas que ali viviam, principalmente as princesas.

Hoje, apenas uma saiu para dar um passeio. É uma jovem gentil e alegre, de olhos grandes e cabelos avermelhados. Eu ri muito enquanto a observava, pensando comigo mesmo no quanto ela era desastrada.

- Ah, Kristoff, onde você está? – perguntou-se ela, assim que parou perto do cais.

- Quem é Kristoff? – perguntei-lhe, fazendo careta. É claro que ela não respondeu, pois não podia nem me ver e nem me ouvir.

De repente, o rosto da princesa se iluminou e eu me virei para ver para onde ela olhava. Um rapaz fortão e louro de ombros largos vinha em nossa direção, caminhando tranquilamente ao lado de... aquilo era uma rena? Ele e o bicho compartilhavam uma cenoura de um modo bem nojento e engraçado. Sentei-me num barril velho ao lado da princesa e observei a reação dela com a chegada do rapaz.

- Anna – ele sorriu para ela e ela estendeu-lhe as mãos.

- Oi. E então, conseguiu as cenouras?

- Estavam pela metade do preço – disse Kristoff. – Está pronta?

A princesa mordeu o lábio.

- Acho que sim.

- Eu perdi alguma coisa?

Anna remexeu as mãos, desajeitada com as palavras.

- Sabe o que é... Bem, eu pedi à minha irmã que desse um baile daqui a alguns dias, sabe. Para celebrar o aniversário de Arendelle e tudo o mais.

Comecei a prestar mais atenção ao assunto quando a irmã de Anna foi citada. Será que eu conseguiria descobrir o nome da princesa mais velha?

- Tá, e o que a Elsa disse?

Eu sorri. Elsa. Foi fácil.

- Bem... – Anna fez uma careta adorável. – Ela me encarregou dos preparativos... E eu... bem... Eu gostaria que... Não sei, talvez você queira...

Kristoff sorriu com ternura para Anna e segurou as mãos dela.

- Eu ajudo.

Anna abriu um sorriso tão radiante que quase me cegou. Então deu um beijo nos lábios de Kristoff e arrastou-o com ela, tagarelando sem parar. Pelo jeito como ele olhou para a princesa, entendi que ele faria qualquer coisa para manter aquele sorriso no rosto dela.

Deixei os dois – e a rena – de lado e flutuei até a sacada de um dos quartos do castelo, a procura da irmã mais velha, Elsa. As janelas do castelo estavam fechadas pois, apesar de ser verão, uma brisa fria sempre rondava o lugar. Pousei de janela em janela, de sacada em sacada até deparar-me com uma figura elegante lendo na poltrona de seu quarto. As cortinas estavam abertas, por isso eu pude vê-la muito bem. E que visão. A princesa mais velha - Elsa de Arendelle – tinha uma expressão tranquila e contente no rosto levemente rosado. O livro devia ser realmente muito bom ou ela devia estar realmente feliz.

Aproximei-me da janela até encostar minha testa no vidro frio. E a observei por alguns minutos, admirando a graciosidade de seus gestos, sua beleza e o pequeno sorriso que tomava seus lábios de vez em quando. Ela era belíssima, mas havia algo a mais ali, uma força quase magnética que me empurrava para ela. Eu queria abrir a janela, entrar em seu quarto e me apresentar. Ah, como eu queria que ela me visse! Queria falar com ela, perguntar sobre a história do livro, sobre a história dela mesma. Queria que ela sorrisse para mim.

Então, num gesto rápido e preciso a princesa fechou o livro e levantou-se da poltrona onde estivera sentada. O vestido que usava e que acentuava ainda mais sua beleza, parecia ser feito todo de gelo! Não me contive e soltei um suspiro alto, encantado.

Foi nesse instante que ela olhou em minha direção. Sim, isso mesmo, ela olhou diretamente para mim. Seus olhos azuis arregalaram-se, seus lábios abriram-se de susto e antes que ela pudesse gritar eu voei para o teto e me escondi. Certo, pode me chamar de covarde. Mas, cara, ninguém me viu nos últimos 50 anos! Como eu deveria reagir?

- Quem está aí? – exclamou a princesa, abrindo a janela.

De cima do telhado eu a observei olhar por todos os lados à procura de qualquer movimento. Prendi a respiração. Ela não pode me ver, ela não pode me ver. Então uma ideia passou por minha cabeça e eu acabei dizendo em voz muito alta:

- Ora, ela pode ter ouvido o barulho do vento!

A princesa olhou para cima imediatamente e cobriu a boca com as mãos, pega de surpresa.

- Você pode... você pode mesmo me ver! – gritei, quase rindo. Ela me encarou com raiva. – Não precisa ter medo, eu...

A princesa fechou as mãos em punhos e as estendeu para mim e então a coisa mais maluca que já vi acontecer aconteceu: gelo surgiu das mãos dela e ela o atirou na minha direção, furiosa. Eu só podia estar delirando! Ela tinha os mesmos poderes que eu?

- Como você ousa! – ela gritou, enquanto eu desviava de seus ataques. – Vá embora!

- Ei! Ei, espere! – protestei, tentando fazê-la parar.

Elsa finalmente me acertou e me fez escorregar no gelo até cair aos seus pés. Agora você pensa Puxa, Jack, como foi que deixou ela te acertar com gelo? Você é Jack Frost! Você é o rei do gelo! É, eu sei. Mas ela era uma garota e estava assustada, não era certo atacá-la.

- Quem é você? – Elsa perguntou, apontando fractais de gelo super afiados contra mim.

Ela brilhava. Sério, era lindo ver aquilo. Por mais que estivesse furiosa, Elsa era a garota mais bonita que eu já vi em toda a minha vida.

- Eu... eu... Meu nome é Jack Frost, princesa – gaguejei.

- Rainha – grunhiu ela, franzindo a testa.

- Ah, rainha? Desculpe, hum, majestade.

- O que faz em meu castelo? Por que me espionava?

- É uma longa história... que eu contaria de boa vontade se a senhorita, digo, se vossa majestade não apontasse todo esse gelo para mim – eu sorri, tentando parecer amigável.

A expressão do rosto de Elsa passou rapidamente de enraivecida para assustada e para confusa. Ela fez um movimento de mãos, mas o gelo não obedeceu – muito pelo contrário, chegou ainda mais perto de mim!

- É sério, majestade, eu agradeceria se...

- Não... não está funcionando! – disse ela, olhando assustada para mim enquanto agitava as mãos. – Não dá para controlar!

Opa, isso era perigoso. Elsa estava prestes a me matar, mas eu não podia perder a calma. Se a deixasse ainda mais nervosa tudo estaria perdido!

- Calma, calma, madame... – estiquei o braço até alcançar meu cajado, que é basicamente um galho de árvore que eu acabei tornando “mágico” e que me ajuda e evocar meus poderes. Elsa seguiu meus movimentos com os olhos enquanto o gelo dela avançava sobre mim. Suas mãos agitavam-se cada vez mais na tentativa de parar os fractais.

- Não consigo controlar! – choramingou, nervosa.

Segurei meu cajado com firmeza e assumi o controle da situação: afastei o gelo de Elsa para longe e ele se quebrou em milhões de flocos de neve que começaram a cair sobre nós como se estivesse nevando. Olhei para Elsa e ela olhou para mim. Havia marcas de lágrimas em suas bochechas e seu nariz estava vermelho, mas ela continuava linda. Coloquei-me de pé, apoiando-me no cajado e a encarei, sem querer fazer nenhum movimento brusco.

- Eu... – ela sussurrou. – Eu machuquei você?

Eu ri, aliviado.

- Estou bem, rainha Elsa, não se preocupe.

- Como sabe meu nome? – arregalou os olhos. – Oh, e você é igual a mim? Pensei que fosse a única com...

- Poderes? – girei o cajado, exibindo-me um pouco. Qual é, eu precisava impressioná-la. – Sim, eu sou igual a você...digo, a vossa majestade.

Elsa remexeu as mãos, nervosa.

- O que faz aqui? Como me encontrou?

- Bem... digamos que eu sou um viajante, um aventureiro que tem vagado por muito tempo em vários lugares, sabe. Um dia, atraído pelo verão de seu reino eu acabei parando aqui e aqui fiquei – pisquei para ela. – Quando vi você outro dia, achei que poderia ser uma pessoa muito interessante. Ahn, com todo respeito, é claro, majestade. Eu queria conhecê-la. Não converso com ninguém há tanto tempo...

- Certo. - Elsa corou. Então recompôs-se e cruzou os braços. – Bem, foi ótimo conhecê-lo, mas receio que deva voltar ao seu reino agora.

Hesitei. Ela estava me dando um fora?

- Humm... talvez eu deva ficar mais um pouco, se me permitir – eu disse.

- Não tenho certeza, senhor.

- Meu nome é Jack.

- Jack – ela disse, olhando-me nos olhos. Estava nervosa, mas não brava. Será que a rainha de Arendelle era tímida?

Ela juntou as mãos e me olhou suplicante.

- Já faz um tempo desde que quase perdi totalmente o controle, Jack Frost – sussurrou. – Eu não quero que aconteça novamente.

Ah, ela estava assustada. E eu não a culpo, grandes poderes trazem grandes responsabilidades, grandes riscos e grandes sacrifícios. Rainha Elsa parecia ter sofrido pelo olhar que tinha agora em seus olhos azuis. Sofrido pra caramba. Quem me dera ela me contasse...

- Talvez... – falei, com uma nova ideia surgindo de repente. – Talvez eu possa ajudá-la, majestade.

- Ajudar? Como? – ela franziu a testa.

- Ora, eu sou o único que pode. O único que entende como está se sentindo e como é transformar o que toda em gelo sólido. Eu sei de tudo isso.

Um sorriso começou a formar-se em seus lábios, mas ela recuou, encostando-se no vidro da janela.

- Não tenho certeza de que isso é certo.

- O que não é certo? – insisti. – Receber ajuda? Aprender a controlar?

- Não! – ela gritou. – Não é certo colocar Arendelle em risco novamente. Você não sabe pelo que tive que passar para manter todos seguros!

- Bem, saberia se vossa majestade me contasse – rebati, soando insolente. Então olhei bem para ela, com ternura, tentando enxergar através da máscara de responsabilidade e frieza que ela usava. A rainha era apenas uma jovem assustada no fim das contas. – Elsa... do que tem tanto medo afinal? – sussurrei.

Ela arregalou os olhos e juntou as mãos sobre o peito, sobre o próprio coração.

- Não é tão simples quanto pensa – disse Elsa, olhando-me nos olhos.

Sorri abertamente para ela.

- É, sim. Você só precisa me contar do que tem medo e nós daremos um jeito.

- Nós?

Assenti.

- Sim, nós dois. Só precisa me deixar ajudar.

- Está bem. Acho que... acho que podemos tentar.

- Ótimo – pisquei para ela.

Esfreguei as mãos e fiz uma rosa de gelo surgir entre meus dedos. Elsa arregalou os olhos e agradeceu quando dei a rosa à ela.

Esse foi o meu primeiro contato com a graciosa rainha Elsa e eu torcia para que não fosse o último. Lancei-me da sacada e o vento me fez flutuar velozmente. Cara, eu estava feliz. Muito, muito feliz. Afinal, eu havia acabado de ser visto!


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem e acompanhem!



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