Maddie Adams entrou no elevador do prédio que morava com sua mãe e revirou os olhos assim que sua prima francesa, começou a chorar do outro lado da linha.

“...ele terminou comigo e disse que está completamente apaixonado por ela!” berrou Eloise, fungando.

Maddie ficou em silêncio enquanto percebia o elevador subir. O que ela poderia dizer para sua prima que acabara de levar um pé na bunda? Que tudo ficaria bem? Que na próxima semana ela já teria superado? Não, não. Eloise era dramática demais pra superar um fora em uma semana.

Era por tudo isso que Maddie não queria um namorado tão cedo. Quer dizer, ela já tinha dezessete anos e não era nada cedo. Na sua idade, as garotas já tinham tido algum namorado. O problema é que ela não queria estar exposta a todos esses problemas que o amor está sujeito a trazer. Nem pensar.

“Calma, calma”, aconselhou Maddie, enquanto percorria o corredor do quinto andar. “Ele é um idiota. Na verdade, a maioria dos garotos são. Só fazem besteira.”

Era disso que ela acreditava desde que seu coração havia sido partido por um garoto numa partida de queimada aos oito anos de idade. Ela havia criado uma paixão platônica por ele – talvez pelo seu cabelo ruivo, não sei - mas ele destruiu todos os sentimentos de Maddie assim que lançou a bola de propósito na direção dela e a acertou na cabeça. Foi de propósito porque, logo após isso, caiu na gargalhada. Ela não deveria ter levado aquilo tão sério. Poxa vida, eram apenas crianças! Mas levou. E então juntando isso com o fracassado casamento dos seus pais, ela se deu conta de que o amor não vale à pena. Na maioria das vezes, só traz desgosto.

“Eu ainda gosto tanto dele”, Eloise admitiu com seu sotaque forte do francês predominando no inglês. “Não entendo porque Pierre me trocou por aquela...aquela...”

“Shh... Não se rebaixe, Eloise” Maddie incentivou enquanto procurava a chave do apartamento dentro da bolsa. “Escuta, eu tenho um compromisso daqui a algumas horas e preciso me arrumar. Quando eu voltar, posso te ligar. Tudo bem?”

Eloise soltou um soluço.

“Bem irônico da sua parte perguntar se está tudo bem.” Eloise pôs-se a chorar novamente, mas entre soluços e resmungos conseguiu dizer: “Mas sim, pode me ligar depois, se quiser.”

E então desligou. Maddie abriu a porta do apartamento e sentiu o cheiro do perfume de sua mãe espalhado pela casa.

Não entendia o porquê de sua mãe levá-la junto com o namorado, Harry, para jantarem num restaurante. A última vez que fizeram isso foi no dia de conhecê-lo. E sinceramente? Havia sido um tédio. Isso porque o cara tinha grana. Levaram-nas naquele tipo de restaurante grã-fino que serve pratos com nomes difíceis. Tudo bem que Maddie fosse a elegância em pessoa, mas não estava acostumada com aquele ambiente tão requintado.

“Você demorou tanto.” Sua mãe, Claire, apareceu no corredor usando um vestido preto de muito bom gosto até o joelho. O cabelo loiro que estava solto ia até os ombros, deixando-a mais jovial.

“Uma garota do clube de jornalismo atrasou, mãe. Daí teve que começar mais tarde” explicou Maddie sentando-se no sofá retirando a bolsa do ombro.

Claire, que detestava ser chamada de senhora, colocou as duas mãos na cintura.

“O que pensa que está fazendo? Vamos, vamos, Madeleine!” ela gritou. “Você tem que se aprontar.”

Maddie suspirou. Primeiro, detestava ser chamada de Madeleine. Pra ela isso não era um nome, era castigo. Seus pais bem que poderiam ter homenageado as avós de Maddie de outra maneira. Não com Madeleine Christine. Segundo, ela não queria ir nesse jantar. Não estava com a menor vontade de segurar vela no encontro romântico de sua mãe. O que eles tinham de tão importante pra falar? Só esperava que não fosse perda de tempo.

“Tenho uma surpresinha pra você, meu bem” Claire acompanhou a filha até a porta do quarto. “Primeiro vá tomar um banho bem gostoso e depois eu te entrego.”

Maddie franziu as sobrancelhas. Surpresinha? Vinda da sua mãe? Essa era boa. Quer dizer, não. Isso seria ruim. Muito ruim.

Assim que saiu do banheiro e entrou no seu quarto, logo percebeu a surpresinha em cima da sua cama.

Maddie encarou o vestido vermelho perfeitamente esticado e teve vontade de vomitar.

Nem morta usaria aquele pedacinho de pano para cobrir seu corpo. E não fazia ideia de onde estava a cabeça de sua mãe ao comprar aquilo. Ou pior. Imaginar que ela usaria aquilo para sair a algum lugar. Apertado demais, colorido demais e que mostrava partes do seu corpo demais. Não fazia seu tipo. Na verdade, a maioria das coisas desse século não fazia seu tipo.

Ignorando o vestido sobre sua cama, e tentando fingir que ele não estava ali, Maddie começou a se arrumar.

“Eu não acredito!” Claire resmungou assim que entrou no quarto da filha, encarou o vestido sobre a cama e voltou os olhos para Maddie. “Você está parecendo minha mãe!”

Maddie passou a mão sobre o vestido pomposo rosa claro que usava.

“Vovó Madeleine é uma verdadeira dama, isso sim. É uma honra ser comparada a ela.”

“Claro, claro. Também acho que mamãe seja uma dama.” Claire murmurou. “O único problema é que ela tem sessenta anos e você, dezessete! Então, não acho que seja legal ser comparada a uma senhora idosa.”

“Sinto muito, mas não vou usar aquele vestido” Maddie avisou apontando para a cama. “Nunca.”

Claire bufou.

“Um batonzinho pelo menos, bebê.” Recomendou vendo Maddie apenas balançar a cabeça. ”Ah, não... Você não vai com esse óculos, não é? Maddie... Solta esse cabelo, por favor.”

“Não, não e não.” Maddie olhou-se no espelho pela última vez. “Desista mamãe, você nunca vai ter uma boneca como filha.”

***

“Por que Harry não foi nos buscar?” Maddie perguntou mal humorada enquanto alisava o guardanapo sobre a mesa. “Aquele taxista não foi agradável.”

Claire, que observada o ambiente concentrada, voltou os olhos para a filha.

“O filho dele chegou agora a pouco” explicou. “Harry teve que ir buscá-lo no aeroporto.”

Maddie franziu a testa.

“O filho dele mora em Londres, não é?” perguntou. “O que ele veio fazer aqui?”

Claire sorriu misteriosa.

“Ele veio ouvir a mesma coisa que você essa noite.”

Maddie fechou a cara. O assunto devia ser sério mesmo, porque se o filho de Harry atravessou o oceano apenas pra ouvir o que o pai dele e a mãe de Maddie tinham a dizer... Bem, não seria algo insignificante que os dois iriam ouvir.

Elas esperaram ainda um bom tempo até Harry chegar. Maddie estava sentada de modo que via a entrada do restaurante e soltou um alto suspiro ao ver o namorado de sua mãe vindo em direção a mesa sendo seguido pelo filho.

Maddie ainda não o conhecia. Na verdade, nem a mãe dela o conhecia. A apresentação oficial, portanto seria agora.

“Ah querida, desculpe o atraso.” Harry beijou Claire discretamente. Maddie desconfiava que ele estivesse tendo um caso precoce de calvície. “Este é Oliver.”

O garoto sorriu. Ele era um pouco mais alto que o pai e ao contrário deste tinha bem mais de cabelo.

“Olá Claire” disse ele. A voz estava rouca como se tivesse acabado de acordar ou algo do tipo. Maddie sentiu um leve incomodo ao o ouvir pronunciar o nome de sua mãe. Era como se ele estivesse preparado para ser o queridinho dela, já que Claire detestava ser chamada de senhora. “É um prazer conhecê-la.”

Maddie pensou que as bochechas de sua mãe iriam rasgar enquanto ela o cumprimentava.

“Ah, Oliver querido, igualmente. E está é Maddie, minha filha.” Maddie ficou parada como se não fosse com ela. “Diga oi pra ele.”

E este foi aquele momento constrangedor que as mães tratam as filhas como se elas tivessem cinco anos de idade. Maddie revirou os olhos.

“Oi” disse ela fingindo simpatia. “Como foi a viagem?”

Oliver arqueou as sobrancelhas.

“Hum...Foi boa.” disse sentando-se ao lado do pai.

“Interessante.” Maddie voltou-se para a sua mãe. “Então, agora que eles chegaram acho que pode dizer a novidade.”

Claire sorriu apertando os lábios enquanto lançava um olhar suspeito a seu namorado. Harry balançou a cabeça em assentimento. A mãe de Maddie começou:

“Bem, vocês dois sabem que Harry e eu já estamos a um bom tempo juntos, e...Ah meu Deus, nem sei como dizer isso, é tão emocionante pra uma mulher.”

Maddie havia chegado a uma conclusão mesmo sem sua mãe ter terminado de dizer o que quer que seja.

Eles teriam um filho. Só isso poderia explicar a emoção de Claire.

“Ah não. Não, não, não.” Maddie balançou a cabeça descrente. “Vocês não acham que estão um pouco velhos demais pra isso. É brincadeira, não? Tipo, eu ainda tenho uma vida inteira pela frente, não estou a fim de virar babá logo-“

Maddie gemeu ao sentir o bico do sapato de sua mãe acertar sua canela.

“Madeleine, do que está falando?” Claire perguntou envergonhada.

Maddie puxou a perna pra cima do colo a fim de massagear a canela. Sem querer acertou o tampo da mesa, o que fez com que as taças tremessem.

“Vocês vão ter um filho. Não é?” perguntou mirando sua mãe.

Harry riu. Oliver parecia assustado. Claire piscou tentando juntar os fatos.

“Não! Não, não é isso.” Ela soltou a apreensão que havia nos ombros. “Harry e eu...bem, vamos nos casar.”

Maddie viu Oliver sorrir como se aquela fosse uma ótima notícia. Pra ele podia ser, pra ela não. Não que ela tenha imaginado que seus pais pudessem voltar a ficar juntos, mas ela achou que depois do casamento fracassado, sua mãe nunca mais deixaria outro cara entrar na vida dela assim.

Mas já que isso havia acontecido, estava declarado: A partir de agora Maddie tinha um padrasto. Ah sim... e um meio irmãozinho pra dividir a atenção da nova família.