Surreal - Art and Insanity escrita por Jess


Capítulo 67
Capítulo67 - Elisa


Notas iniciais do capítulo

Olá,
Desculpe pela demora é que já estamos na reta final e estou escolhendo o melhor final, e ainda tem a continuação que estou tentando adiantar.
Bem, tenham uma boa leitura.



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Os dias passaram rapidamente, entre olhares curiosos e conversas sem muita importância os dias se seguiram. Meus pais já haviam voltado, mas tudo continuava como se não estivessem em casa.

O quadro da Anne já estava quase pronto, faltavam apenas mais alguns detalhes, eu poderia termina-lo em menos da metade de um dia, pois a maior parte dele tinha feito durante uma noite em que quase não dormi.

Minhas técnicas de pintura não são próprias para Retratos pictóricos, nunca me interessei em retratar alguém ou alguma paisagem, mas vendo a pintura prestes a ser concluída, percebo que se não fosse o rosto da Anne gravado ali, eu não estaria indo tão bem.

Naquele dia nós ainda não tínhamos nos visto, o que era algo um pouco incomum para a nossa situação naquele momento. Nós nos víamos ou pelo menos conversávamos brevemente todos os dias. E isso me deixou um pouco preocupado, pensei que ela estivesse me evitando e tentei pensar em algum motivo para isso, qualquer coisa que a estivesse incomodando, mas não consegui encontrar nada.

Pensei em ligar para Anne, mas assim que peguei celular, desisti. Talvez ela precisasse de um tempo sem mim, e quem sabe até eu precisasse de um tempo como quando não a conhecia.

Andei despreocupado pelas calçadas, vez ou outra olhava para as vitrines e para as pessoas dentro dos cafés. Mas nenhum daqueles lugares era aonde eu queria chegar.

Virando a esquina vi o prédio antigo que me trazia algumas lembranças boas, más e mornas; mas as lembranças já não importavam tanto, o tempo já havia passado e não tinha porquê recordar tais coisas.

Peguei o celular no bolso do meu casaco e vi a hora. Não estava muito atrasado, mesmo não tendo ligado e avisado sobre minha visita, sei que ela me receberá. E fará um monte de perguntas que não querem dizer nada.

Empurrei a porta e como já esperava, ela se abriu. Tranquei a porta atrás de mim e continuei andando pelo caminho um pouco estreito que levava até uma escada.

Eu já conhecia bem aquele lugar, mesmo estando escuro conseguia saber onde terminavam os degraus, e ao ver um pouco de luz pelo vão de uma daquelas portas já sabia que a encontraria ali.

Elisa já olhava na direção da porta, mas com uma expressão seria, quando me viu sua expressão mudou, ficou mais leve, diria que até alegre.

—Uma miragem._ Ela disse exagerando sua expressão surpresa, esfregou os olhos.

Ignorei sua brincadeira, mas não posso negar que dei um pequeno sorriso e fechei a porta, aproximei-me dela.

Aquela salinha era cheia de quadros, alguns ainda estavam em cavaletes por não estarem concluídos, uma palheta estava num canto da sala, provavelmente estava perdida em toda aquela bagunça de jornais e trapos de algodão.

—Podia ter me ligado..._ Ela comentou ainda olhando-me.

—Você também podia._ Rebati dando de ombros.

Nossos sumiços não nos incomodava, ela só devia estar tocando nesse assunto como um lembrete de quanto tempo passou.

Elisa pegou um pano limpando suas mãos e o banquinho ao seu lado, depois fez sinal para que eu me sentasse.

Ao seu lado podia enxergar quase todo o cômodo e todas as esculturas além das telas. Tudo me parecia incrível. Elisa tem uma visão artística muito acentuada e cheia de características marcantes.

—Como foi sua viagem?_ Indaguei depois de algum tempo.

—Foi ótima, fui numa reunião com a secretária do Larry Gagosian..._ Ela olhou com uma expressão extremamente animada como se pudesse explodir e repetiu_ a secretária do Sr. Gagosian!

Sorri tentando parecer um pouco animado.

—E então?

—Assinei o contrato e estarei indo para Nova York pela manhã._ Elisa disse reluzindo os olhos verdes._ Não acredito que minha arte finalmente estará na Gagosian Gallery, Sebastian.

Eu estava um pouco surpreso para estar feliz por Elisa, mas aquilo sempre foi o que ela quis; a chance de ser reconhecida por “sua arte”. Mas me senti numa enrascada, pois nunca fui bom com despedidas, ninguém é, e estava sendo obrigado a dizer qualquer coisa encorajadora. Entretanto, só conseguia formular perguntas.

— Mas você não queria expor suas obras na White Cube, em Bermondsey, em Londres onde nasceu?

—Sim, mas acho que será bom para mim; preciso de ação, preciso de toda aquela movimentação para meu processo criativo.

Elisa tinha essa gana de ter e conhecer o máximo de coisas que podia, abriu mão de ter sua arte na White Clube para morar em Nova York, pelo que podia ser mais uma de suas vontades instantâneas.

Nos conhecemos em quanto eu fazia aula em uma academia de artes, na qual fiquei por pouco tempo. Ela é sobrinha do professor de artes que me dava aula na época. E ao contrario de mim Elisa sempre teve o sonho de ser famosa entre os artistas, seja nas artes plásticas ou em qualquer outra coisa na qual se dedicava.

Ela era quatro anos mais velha que eu e tinha todo aquele estilo de artista não compreendido, o qual eu não podia deixar de achar cômico.

—Quando eu estiver famosa posso até te indicar, mesmo não tendo visto todos os seus quadros sei que tem talento Sebastian._ Ela disse voltando-se para a tela a nossa frente.

—Obrigado Elisa, mas não precisa._ Falei dando de ombros.

—Tudo bem... Mas me conte tudo que houve em quanto eu estava fora.

A ideia de falar sobre Anne passou rapidamente pela minha cabeça, ela era a minha maior novidade e a mais interessante, mas não sabia se deveria falar dela para alguém. Até então não havia mencionado Anne para ninguém, a não ser para Alice, mas naquela situação foi diferente.

Mas Elisa não se importava realmente com aquilo, ela estava distraída olhando para a tela a nossa frente onde ainda nem haviam formas ou cores, ela perguntou por força do habito. E talvez essa fosse uma vantagem, eu poderia tentar dizer o que estava acontecendo, organizar tudo que acontecera tão rápido.

Antes que eu pudesse dizer alguma coisa, Elisa analisou-me com o cenho franzido, como se estivesse reparando em algo que ainda não tinha visto.

—Você está diferente, um pouco pensativo de mais...

Elisa não tinha realmente reparado em algo, era como uma suposição. Pelo fato de eu ter demorado a responder, ela imaginou que houvesse algo... E havia algo.

—É impressão sua._ Falei olhando para um quadro que estava num canto, ele era o único daquele lado que ainda não estava embrulhado._ Eu só estava pensando na festa de hoje a noite.

—Dessa vez você vai?_ Indagou um pouco surpresa, ela sabia exatamente de qual festa eu me referia e sabia o que penso sobre os organizadores da tal festa.

Mesmo nunca tendo estudado na mesma escola que eu e tendo quatro anos a mais, Elisa entendia o que eu queria dizer, sabia das banalidades do dia a dia daquelas pessoas que estavam prontas para seguir qualquer coisa que pareça certo para todos os seus amigos.

—Sim._ Respondi rapidamente recebendo o seu olhar curioso, ela continuou olhando-me esperando alguma explicação e eu me mantive em silêncio.

O quadro do canto era grande e parecia ter dado muito trabalho, mas não era nada incrível. Uma paisagem com cores quentes em pequenos riscos, que se vistos de perto pareceriam uma plumagem.

—Porque decidiu ir?

Respirei fundo e comecei a contar sobre Anne, desde o inicio, mas fui omitindo algumas coisas, coisas que não precisavam ser contadas.

—Você está me dizendo que decidiu ir por causa de uma garota?_ Elisa perguntou dizendo cada palavra cuidadosamente.

—Não, não estou lhe dizendo isso.

—Deixe-me ver se entendi: você nunca quis ir á tal festa, mas quando a conheceu fez com que ela ficasse numa situação em que fosse praticamente impossível recusar seu “convite”? Se for isso, então sinto lhe informar que você está indo a essa festa por causa dela._ Elisa disse dando de ombros.

— Estou indo porque queria que ela saísse da zona de conforto, queria a expor a uma situação na qual não está acostumada._ Expliquei.

Ela suspirou pesadamente e sorriu de canto ignorando minha explicação.

—Talvez isso seja bom para você, fazer algo com ou por outra pessoa. Mesmo com a liberdade que o individualismo nos dá, é importante fazermos parte de algo._ Disse com a voz calma e um ar de quem sabe exatamente do que esta falando; o que era uma grande mentira, pois Elisa é a pessoa que tem as atitudes mais extremas que conheço.

Ela se diz “intensa”, mas sei que é extremista a palavra que a define, com todas aquelas frases hostis ditas sem uma gota sequer de humor, as ideias fixas e a fácil irritabilidade. É fácil saber que Elisa não é uma pessoa compreensiva e que adora estar perto de todos.

Algumas pessoas a adoravam, de fato, mas era pelos motivos errados. Pela sua personalidade forte, sua ideologia e seu jeito um tanto quanto intimidador acabava aproximando pessoas que instantaneamente viravam seus cegos seguidores.

Pode parecer muito estranho, mas as mesmas pessoas que no inicio ficaram com um pouco de receio de enfrenta-la acabavam juntando-se a ela, ouvindo-a como se tudo que dissesse fosse sagrado. Talvez Elisa não percebesse tudo isso, e se percebesse ignorava, não tirava muito proveito dessas pessoas, pois isso é contra tudo que acredita.

Antes me perguntava por que dessa nossa amizade sem dependência. Ficava pensando em como era bom poder conversar por horas com alguém sem ter que repetir isso, podendo ficar durante muito tempo sem sequer saber onde o outro se encontrava e continuar a mesma coisa.
—Ela sabe sobre você?

Elisa quebrou o silêncio com um tom um pouco serio e os olhos fixos nos meus procurando hesitação e qualquer coisa que mostrasse o que eu preferia não dizer, até mesmo para ela que era a única pessoa para qual falei por livre e espontânea vontade.

—Não._ Foi a única coisa que respondi.

Sabia que o que viria em seguida não seria um discurso sobre confiança com uma frase de motivação como “Se ela gostar mesmo de você, aceitara seus problemas”... Uma grande farsa romântica.

—Boa sorte._ Ela disse dando-me um olhar serio.

Maneei a cabeça e respirei fundo pensando em como mudar de assunto.

—Como vai aquele seu grupo?

—As meninas estão bem, mas estão tentando organizar uma reunião com um ministro russo para liberarem a líder feminista de lá._ Elisa falou com a expressão menos tensa._ Eu não estou participando tanto por causa dos meus quadros.

Sorri pensando na visão dela de “estar bem”.

Passei o resto da tarde ao lado de Elisa, sabia que aquela seria a ultima vez que nos veríamos. Saímos, tomamos café e conversamos como sempre fazíamos quando ela estava na cidade.


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Notas finais do capítulo

Se houver algum erro nesse capítulo por favor avise, e aqui estão os links das duas galerias citadas:

White clube: http://whitecube.com/

Gagosian Gallery: http://www.gagosian.com/



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