Quando o carro já estava em movimento há algum tempo Senhora Hill iniciou suas tentativas de iniciar uma conversa sobre qualquer assunto com os passageiros.

_Você tem irmãos Sebastian?_ Perguntou, fazendo-me parar de olhar pela janela.

_Não Senhora Hill, sou filho único._ Respondi e percebi seu olhar serio e ao mesmo tempo brincalhão que me fez lembrar que ela não gostava dessa formalidade, que preferia ser chamada de Arabela.

_Eles não quiseram outros filhos?

Ela queria informações, mais informações do que já tinha, queria um motivo, queria ouvir uma longa história se possível; isso é normal, querer conhecer melhor a pessoa que está dentro do seu carro e que praticamente frequenta sua casa e fala com sua filha, é normal, é um tipo de precaução.

_Não, acho que eles não queriam ter muito trabalho._ Falei com humor.

Anne olhava pela janela, fingindo não estar ali.

_Você gosta de ser o único? Quer dizer... Eles são bem próximos de você por ser o único...

Ela esperava ouvir uma reclamação, algum tipo de problema familiar que dissesse que não sou alguém muito sociável ou tão adorável quanto pensava que eu era.

_Sim, eles são muito próximos, as vezes eu até me incomodava, mas já percebi que essa é a forma deles demonstrarem o quanto querem meu bem... Acho que todos os pais devem ser assim._ Respondi dando de ombros.

Era visível o quanto Arabela ficou sensibilizada ao ouvir o falso carinho em minha voz.

_Você deve ser um ótimo filho..._ Ela comentou, mais para si do que para alguém no carro.

Anne deu um suspiro pesado, como se já não aguentasse.

_Filha, você está bem?_ Arabela perguntou num sussurro.

_Sim._ Anne respondeu forçando um sorriso.

Passamos algum tempo em silencio; Senhora Hill concentrada no transito, Anne evitando contato visual e eu pensando no próximo passo...

Eu não podia jogar fora toda a aproximação que havia feito por causa das minhas provocações e da vontade de tirar das pessoas mais do que elas estavam dispostas a dar, teria que usar ainda mais cautela do que o normal.

Tudo aquilo era um pouco estranho para mim, não me lembro de algum dia ter ido as compras com alguém. Compro minhas coisas sozinho e é tudo muito rápido, as vezes num site e entregam na minha casa. Mas para elas isso não serviria, pois elas apreciavam toda aquela demora, era uma grande diversão para as duas.

Fiquei quieto olhando tudo a minha volta até que senhora Hill pegou um vestido curto numa das araras, ela o observou bem e virou-se em minha direção.

_Acha que vai ficar bem nela?_ Indagou com um semblante serio pela primeira vez.

Encarei o vestidinho azul, e sem dizer uma palavra virei-me para a arara e peguei um preto, Anne ficaria melhor de preto do que de azul. Com aquele tom de azul ela acabaria parecendo uma Alice que deu errado.

Senhora Hill deu um meio sorriso e pareceu-me muito animada.

Ela acha que você é uma amiguinha da Anne, isso é uma afronta a sua masculinidade, Albert reclamou com todo aquele ar arrogante, como o de um conde Inglês.

Minha masculinidade não se abala com o fato de uma senhora confiar em meu bom gosta, pensei sabendo que Albert receberia a mensagem.

Nunca me imaginei numa situação como aquela, mas tentava adaptar-me rapidamente ao ambiente.

_Espero que ela não reclame. Ela sempre arruma alguma desculpa para não levar algo mais curto, justo ou decotado._ Senhora Hill confidenciou-me_ As meninas da idade dela se vestem assim, não peço para que ela use algo muito exagerado, só algumas peças mais... Jovens.

Parecia-me que ela estava confiando tanto em mim que esquecera que não estava ali para me contar suas preocupações com Anne, provavelmente ela pensava que a filha se abria comigo. Era bom que ela pensasse dessa forma, isso a faria contar algumas coisas a mais sobre a Anne, entretanto esse não era o foco dos meus planos, pois pelo que eu percebi Senhora Hill podia saber bem menos do que eu sobre sua filha.