Surreal - Art and Insanity escrita por Jess


Capítulo 40
Capítulo 40 - Mórbida Beleza


Notas iniciais do capítulo

Olá
Esse está um pouco maior do que o de costume.
Tenham uma boa leitura



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Anne parou de frente com uma parede onde havia uma prateleira que eu não notei da primeira vez que entrei no quarto. Ela apontou para a caixa entomológica, com borboletas espetadas.

_Elas são... Interessantes._ Sussurrei olhando todas aquelas cores que eram tão vivas em seres mortos.

Isso é mórbido Albert falou ao meu lado, assustei-me um pouco mas consegui disfarçar. Ele sempre fazia isso.

Mas entomologia não combinava com a Anne, não com a Anne que eu estava conhecendo tão vagarosamente... Aquilo era um tanto quanto estranho; assumo que era bonito ver aquelas cores vibrantes e formas diferentes dentro da caixa transparente, mas saber que aquelas formas tiveram vida tirava um pouco da beleza daquilo.

Talvez eu estivesse sendo levado por um sentimentalismo inútil, pois muitas pessoas faziam aquela pratica, era como um robe. Mas muitas pessoas fazem coisas sem sentido para se sentirem realizadas.

_Eu não as matei, ganhei todas de meu pai._ Anne disse num tom baixo, como se justificasse um homicídio._ Minha mãe acha uma maldade matar borboletas, mas ainda assim acha bonito vê-las expostas na minha parede._ Ela continuou, dando um riso triste por fim.

_E você o que acha?_ Perguntei olhando-a, era sobre ela que eu queria saber.

_Eu acho que... Que isso tudo é perder tempo, que o que eu acho não é importante e... Eu nem sei se eu acho algo sobre isso._ Ela respondeu sacudindo as mãos e depois passando os dedos nos cabelos, parecia uma maluca._ Você só quer me analisar e ter seu prazer doentio no final ao perceber que sabe dizer cada nuance da minha personalidade, se quer tanto isso, olha para mim._ Falou abrindo os braços._ Eu sou só isso que você está vendo, agora já pode sair da minha casa e não me seguir nunca mais.

Bingo! Tragam o prêmio para o jovem! Como imaginado, ela tem graves problemas com o fim, mas quem não tem? gritava Albert, fazendo uma cena como era de se esperar, ele sempre foi muito performático.

Ela tem aquele comum problema com a rejeição, como não percebi antes?!, Ele continuou com aquele tom prepotente, eu estava ficando irritado com ele, isso raramente acontecia.

O pior de tudo aquilo não era o Albert todo alegre correndo pelo quarto, ou as borboletas mortas e espetadas na caixa, ou até mesmo as nuvens mostrando que ia chover, mas era saber que Anne estava certa, era apenas satisfazer meu desejo de saber que no fim estou certo, que consigo ver as pessoas como se elas fossem translucidas .

Eu não iria deixar que ela soubesse de mim que estava certa, não podia deixar ela ter certeza que eu, que eu só quero ter certeza sobre ela.

_Você não devia olhar para si e ver apenas o óbvio, pode ser mais do que consegue ver, podemos ser mais do que conseguimos ver. Não vou me contentar apenas como que consigo ver, pois sei que você é mais do que isso... Anne, você é diferente.

Tentei fazê-la entender que não víamos a mesma coisa, não víamos a mesma pessoa.

_As coisas que saem da sua boca são muito bonitas, todo esse discurso que por pouco não me lembra um livro barato de autoajuda ; mas não são reais. Podem até ser no que você acredita, entretanto não são verdadeiras._ Ela falou com firmeza, um pouco mais calma.

_E o que é a verdade? Você sequer sabe no que acreditar. Anne aprenda que não pode contestar algo se não acredita em nada._ Rebati com meu tom mais sábio que consegui fazer e com meu sorriso prepotente.

Anne respirou fundo e deu dois passos em minha direção, ficando a menos de cinco centímetros de mim, o que nos manteve um pouco mais distante foi a diferença de altura. Ela olhou-me deu um sorriso amargo e disse:

_Eu sei e acredito numa coisa Sebastian, eu acredito que você é um babaca e um grande filho de uma puta._ Depois de pronunciar aquelas palavras grosseiras, parecia que havia se livrado de toneladas que a empurravam para baixo. Ouvimos senhora Hill nos chamar e descemos.

Eu gosto dela Albert sussurrou em meu ouvido, como se mais alguém pudesse ouvi-lo.

Os minutos passaram lentamente, comi o tão falado sanduíche natural da Senhora Hill, conversamos um pouco e percebi o quanto ela tinha um ar vintage ou até meio hippie, com todo aquele jeito de falar sobre a nossa natureza. Era interessante ouvi-la falar sobre os pássaros das florestas temperadas, das flores... E ela se animava mais a cada pergunta que eu fazia.

Anne fingia não estar entre nós, enchia sua boca com qualquer coisa comestível para não ter que falar nada; o que era um pouco infantil de sua parte.

Eu tentava prender minha atenção em tudo que a Senhora Hill dizia e abafar as palavras que Anne disse e ecoavam em minha cabeça, pois não estava pronto para uma crise de personalidade, não estava pronto para olhar para dentro de mim e cavar procurando mais defeitos.

Não precisava de uma autodescoberta tão repentina, ou de uma autoanalise, mas ela me fazia pensar, ela era a única pessoa que eu realmente ouvia e toda aquela sinceridade que tinha em tudo que dizia me deixava ainda mais pensativo. Anne acreditava em tudo que saia de sua boca, pois era o que queria dizer, não ligava para o que eu pensava ou qualquer outra pessoa. Não se importava, não sentia nenhum carinho pelos outros; exceto pela senhora Hill, que era a única que ouvia mentiras apenas para se manter tranquila.


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Notas finais do capítulo

Entomologia: é a ciência que estuda os insetos sob todos os seus aspectos e relações com o homem, as plantas e os animais. Estudo dos insetos.

O que acharam dessa Anne ?



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