Estava em casa “de novo”. Pelo menos uma coisa eu sei, é verdade! Terre d’amitié existe.

Sai do porão correndo, enquanto uma onda de felicidade percorria meu corpo.

- Excuse (desculpa) professora Nicolle. – falei ao chegar à sala.

- D'accord, Marly me avisou que iria se atrasar. Preparada para a prova?

- Sempre!

- Bonne chance (boa sorte) – ela falou ao entregar a prova.

- Merci. – Nicolle sempre fora uma ótima professora, ela também possuía um poder para-normal, não sei se de fato era um poder, mas ela falava umas coisas estranhas e sempre acertava o futuro. Apesar das feições envelhecidas pela idade, ela continuava linda, era como se os anos não passassem para ela.

 A prova como sempre estava fácil, e em pouco tempo já estava acabada.

- Charlotte, seu desempenho é muito alto para uma menina de Quinta série, acho que devo lhe adiantar dois anos

- Mas não vou ter capacidade suficiente para enfrentar a sétima série com 9 anos...

- Você é uma menina especial! Muito sabia, não deixe de acreditar no seu desempenho. Eu sei que você pode.

- Merci, espero que eu seja mesmo capaz. – ela pegou em minha mão e enquanto passava o dedo vagarosamente pela palma falou.

- Você tem tudo para crescer e se dar bem na vida, não desperdice a chance que lhe foi dada. Siga em frente, e enxergue a realidade acima de tudo. Qualquer deslize pode ser... fatal.

Puxei minha mão como se a dela me desse choque

- Eu... vou saber seguir em frente.

- Au revoir Charlotte

- Au revoir

Aquelas palavras de certa forma me deixaram preocupada, tudo o que Nicolle falou se aplicava a minha vida.

Mas eu não deixaria de viver uma fantasia em Terre d’amitié.                                           

- Eu não abandonaria esse lugar, nem que isso significasse a... morte – falei essa ultima palavra mais baixo de modo que só eu podia ouvi-la.

- Falando sozinha Char?

- Talvez... – eu não sabia até aonde podia acreditar nessa palavra.  – Marly, alguma vez você deixou de seguir o que era certo, as regras, para ser feliz?

- Não entendi a sua pergunta Charlotte...

- Eu tenho certeza que você entendeu. Reflita um pouco, não é preciso dar a resposta agora.

- Mas, por que isso?

- Rien. – passamos um tempo em silêncio, pensei que ela iria tocar em algum assunto, mas muito pelo contrario, permaneceu calada.

O silêncio não me incomodava, mas também não me trazia satisfação. Senti-me na obrigação de falar algo.

- Quando tiver a resposta, procure-me... no porão.

- Não entendo por que agora está sempre lá.

- É um lugar aconchegante... Que carrega muitas lembranças de um tempo que ficou para trás.

- Não seria melhor esconder o passado e se concentrar no futuro?

- Depende do ponto de vista... Para mim viver o passado é a melhor maneira de se preparar para o futuro.