(DESCONTINUADA) Criminal Scene escrita por Scamander


Capítulo 12
12. When a blind man see


Notas iniciais do capítulo

Hello, there.
Só passei aqui pra avisar que esse e provavelmente o próximo capítulo não vão ter tanta tensão, por assim dizer, como vinha tendo nos últimos capítulos, para além de aliviar um pouco a escrita, conseguir transitar de um espaço de tempo para o outro, porque eu acho que a gente enrolou um pouco demais já, não?
Aproveitem o capítulo (+3000 palavras, wow!) xx



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Percy Jackson nunca namorara sério, então ele não sabia dizer se ajudar Annabeth a levar suas coisas (e a própria Annabeth) de volta para casa estava incluído no papel de o que um namorado deve fazer. Talvez ele estivesse sendo abusado, muito provavelmente, mas Percy realmente não se importava. Quer dizer, é claro que ele se importava, especialmente quando aquele namoro nem era real, mas ele talvez se sentisse na obrigação de ajudar a loira por motivos desconhecidos.

A garota se recuperou fácil (estresse, pfff), então naquela mesma noite Percy ajudou os pais de Annabeth com a volta para a casa (com a garantia de que ela ficaria de repouso pela próxima semana) e embora Atena tenha torcido o nariz ao olhar para o cabelo desgrenhada e a calça rasgada do moleque, Frederick sorrira abertamente ao que o garoto foi apresentado e ele realmente não entendia por que Annabeth sempre parecia afastada na presença do pai.

Digo, sua relação com Poseidon também não era das melhores, mas ele tinha motivos. Ele simplesmente largara o papel de pai e marido quando a primeira oportunidade bateu e Frederick viajara de São Francisco até Delaware porque a filha foi diagnosticada com estresse. Claro, devia haver mais alguma coisa naquela história, mas toda vez que entrava no assunto, Annabeth desviava sua atenção pedindo que ele afofasse mais seu travesseiro ou lhe trouxesse um chá de maçã com canela (ew).

Talvez Percy estivesse sendo abusado naquelas últimas 24 horas, mas ele não estava realmente se importando. Precisava manter o papel de namorado perfeito e atencioso, certo? Quando a garota finalmente estivesse acomodada, ele voltaria para a casa e passaria o resto da noite jogando X-Box e assistindo pornô nos fones de ouvido.

No entanto, toda vez que pensava em sair, Annabeth vinha se queixar de algo novo e, quando viu, já estava alojado no sofá da sala com um cobertor encardido cheirando a amaciante, após uma longa conversa com Sally que ainda não estava 100% certa de conhecer a tal garota, Annabeth, especialmente quando até duas semanas atrás o filho caia de amores por outra – Calipso, olá.

Ainda estava um pouco incomodado com tudo isso - e eu não me refiro unicamente ao estofado do sofá -, mas, nessa altura do campeonato, eles só precisariam inventar uma briga para passarem de adolescentes apaixonados a crianças precoces que pensavam ter achado seu grande amor, simples.

Ele repetia aquele mantra enquanto revirava-se no sofá.

Já a muito tinha desistido de dormir, especialmente quando tudo o que via ao fechar os olhos eram flashes daquela noite. Para ser sincero, Percy não se lembrava quando fora a última vez que dormira bem. Repetidas eram as noites que ele acordava com pesadelos, o travesseiro empapado de suor, acabando por assistir o sol nascer e pensando que aquela era uma ótima época para se ter um Tumblr (Confissões de Um Assassino em Série, postagens todas sextas e sábados).

− Percy?

Ele virou sua cabeça, vendo uma silhueta feminina parada próximo a ele com um copo d’água na mão. Era Annabeth, de cabelos presos e calça de moletom, olhos vermelhos e apertados para enxergar através da escuridão.

− Eu. – ele respondeu.

Genial, Jackson.

− Por que você não está dormindo? – perguntou, chegando mais perto.

Mas Annabeth sabia a resposta, talvez porque estivesse na mesma situação.

Já não eram raros os pesadelos e gritos no meio da noite e desde que Atena passara a olhá-la torto, ela vinha controlando seu sono com medo de que, em meio àqueles gritos, pudesse deixar alguma coisa escapar. Era horrível como nem em sua própria casa ela podia agir naturalmente.

− Não é como se estivesse acostumado a dormir na casa da minha namorada. – Percy mentiu, forçando a ironia ao que levantava-se e deixava Annabeth sentar-se no sofá junto a ele.

A garota apenas olhou-o gozada, enrolando-se no cobertor que Jackson outrora estava usando e apertando o travesseiro perto de si porque talvez estivesse tentando não se enrolar em Percy.

Ela sabia que tinha se precipitado demais ao pedir que ele dormisse lá, mas o garoto vinha sendo tão legal e em seu interior, bem lá no fundo mesmo, ela esperava que algo assim acontecesse.

Annabeth estranhou ao sentir algo úmido em sua bochecha. Franzindo o cenho, notou a mancha molhada que tinha no travesseiro.

− Você baba enquanto dorme. – ela constatou.

Percy demorou um tempo para entender do que a garota estava falando e apenas revirou os olhos, fazendo com que o silêncio mais uma vez caísse sobre os dois.

− O que acha de assistirmos um filme? – Annabeth utilizou de seu último recurso.

Jackson apenas deu de ombros, mas acrescentou:

− Nada de Garotas Malvadas.

Annabeth riu debochado, mas na calada da noite, ela escondeu sua Regina George no fundo do porta-DVDs, pensando em guardar um pouco da dignidade que lhe restava ao pegar Ritmo Quente para assistir.

Secretamente, Percy sorriu com a escolha.

Leo talvez estivesse chegando ao fundo do poço quando os primeiros raios de sol invadiram seu quarto e ele verificou o relógio para constatar que aqueles mais dois minutos antes de dormir haviam se tornado cinco horas e meia.

Ele sabia que tinha que ir para a escola e que para isso precisaria de mais de uma caneca de café preto, mas ele realmente precisava tirar suas próprias conclusões antes de pensar em levantar a bunda da cadeira e desligar o computador.

Passara a noite mexendo naquelas filmagens, analisando ângulos, dando zoom, ajustando pixels e até tirando algumas fotos apenas para provar para si mesmo que aquilo tudo era real. Mas Leo estava com tanto sono que talvez quando finalmente dormisse percebesse que era tudo fruto de uma mente cansada demais para pensar direito. Ele não perderia as esperanças.

De uma coisa, no entanto, ele tinha certeza: Calipso estava com Luke horas antes de morrer e, rezando para a teoria da mente cansada demais, eles haviam se beijado. Tinham algumas outras coisas para se notar, também, mas ele precisava de um novo cérebro emprestado porque o seu já estava com a memória lotada demais com loucuras por toda uma encarnação (duas, até).

Ele ainda estava esperando que as fotos que tinha tirado ganhassem uma qualidade mais alta com as maravilhas do século XXI (lê-se: programas do App Store) quando começou a se arrumar para a escola. Vendo que conseguiria repassar aqueles vídeos de traz pra frente, decidiu que era hora de um café forte para esquentar os nervos enquanto tentava tirar aquela imagem da cabeça.

Surpresa fora a sua ao encontrar o pai e o irmão já comendo enquanto uma Afrodite de avental e luvas saia da cozinha com uma fornalha de mini-sonhos que cheiravam deliciosamente bem, cantarolando músicas pop que sempre terminavam em baby.

− Oh, olá, Leo! – cantarolou seu nome, surpresa.

Como se a visita inesperada ali fosse ele e não uma Afrodite de bom-humor às seis da manhã, com os cabelos presos num coque impecável enquanto tirava uma luva de cozinha da mão, sorrindo carinhosamente para ele.

− Sente-se, sente-se! – ela dizia estabanada.

Oh oh.

Buscando algum apoio por parte de Hefesto, ele viu que o pai sorria abertamente enquanto lançava um olhar derretido para a futura-esposa. Leo trocou olhares significativos com Charles que aparentemente estava tão perdido quanto ele naquela história toda.

− Nós íamos te chamar, mas como vi que você já estava acordado disse para o Heffy não se preocupar porque logo você desceria. – Afrodite dizia, animada. – Está com fome, queridinho? Vamos, coma alguma coisa!

E então o olhar de Leo parou no café da manhã que lhe era servido. Haviam de bolos de chocolate à omelete de queijo e torradas fumegantes, acompanhados de mini-sonhos e, para beber, iogurte de morango, chocolate quente e, graças a Deus, café preto. O sono que Leo sentia foi ignorado ao que seu estômago rugiu de fome e Afrodite soltou um risinho, mandando que Leo sentasse e ficasse a vontade.

Claro, a casa era dele, afinal.

− E aí, o que acharam? – Afrodite perguntou quando os três homens levaram as primeiras garfadas a boca.

Leo mordeu a língua para não soltar algo sarcástico, porque Afrodite realmente parecia animada e, de qualquer forma, seu pai poupou-o de falar qualquer coisa elogiando até mesmo o avental de flores que Afrodite usava.

Ela era uma boa cozinheira, no final das contas.

Charles, no entanto, cutucou-o por debaixo da mesa e apontou para dentro da cozinha, onde Leo claramente conseguia ver caixas de encomenda amassadas que transbordavam do lixo da cozinha. Mas é claro, revirou os olhos.

− A atendente foi um amor mesmo sendo tão cedo. – Afrodite sorria e Leo até sentiu-se lisonjeado por a mulher compartilhar uma de suas farsas com ele. – Mas a omelete fui eu mesma que fiz. – ela estufou o peito em orgulho.

Leo pensou duas vezes antes de levar um pedaço da omelete a boca e, por fim, optou por deixar para seu pai enquanto servia-se de mais um pedaço do bolo e bebia o seu tão merecido café.

− Cara, você tá horrível. – Charles comentou.

Afrodite e Hesfeto estavam muito ocupados em sua própria bolha, então Leo não se conteve ao soltar um comentário irônico porque, sim, ele estava ciente das enormes bolhas roxas que contornavam seus olhos.

− Vai precisar de mais café se quiser aguentar até de noite. – Beckendorf assegurou e encheu a caneca do irmão, que apenas murmurou um agradecimento que foi abafado pelo gritinho estridente de Afrodite.

− Meninos, temos uma surpresa! – ela gritou e então Leo entendeu o porquê de todo aquele mimo.

Da última vez que Afrodite dissera algo do tipo, fora para anunciar o noivado e o Valdez não tinha boas lembranças daquele dia, para falar a verdade.

− Você não está grávida, está? – Charles estreitou as sobrancelhas grossas.

Afrodite soltou um risinho debochado.

− Ainda não, crianças. – Hefesto sorria para a mulher ao seu lado. – Mas é algo quase tão bom quanto. – assegurou e Leo preparou-se para o pior. – Como sabem, as obras da nova casa já estão adiantadas – mmh, o garoto não se lembrava disso. -, então eu e a Dite decidimos que talvez já seja hora de nos mudarmos.

Antes que Leo esboçasse qualquer reação, a Dite foi logo falando:

− Eu preciso dar atenção para as minhas filhas, como vocês sabem, especialmente com o que aconteceu com Silena nesses últimos dias – o garoto sentiu um nó na garganta e, de repente, aquele bolo já não era mais tão bom. Sem notar o desconforto de Leo, a mulher continuou: -, mas eu não consigo viver sem o pai de vocês, meninos. Então pensamos: por que não? Vai ser até bom para as garotas terem dois irmãozinhos novos! – ela batia palmas, animada.

O Valdez estava preocupado demais tentando não vomitar para caçoar de Afrodite, porque a ideia de que viveria mais próximo de Silena estava aterrorizando-o. Com Silena, viriam as lembranças de Calipso e se a ideia principal era de manterem-se desconhecidos, eles estavam fazendo completamente o contrário.

Ele se perguntava quanto mais aquela farsa iria durar se o detetive D., que aparentemente visitava com frequência a melhor amiga de sua vítima, somasse dois mais dois e percebesse que aquela formula acabaria por colocá-los atrás das grades.

Reyna ainda estava um pouco atordoada quando saiu cambaleando para fora do táxi. Ela nunca pensara que pudesse desidratar de tanto chorar, mas aparentemente, aquilo realmente acontecia; tanto que o taxista deixara que ela ir embora sem cobrar o preço da corrida.

Os olhos pesavam por causa das lágrimas e ela podia sentir as bolhas vermelhas circulando seus olhos enquanto estreitava a visão, reconhecendo, do outro lado da rua, a fachada gasta de sua escola. Não lembrava-se de ter dito ao taxista para ir pra lá, mas para ser honesta, ela não se lembrava nem de ter dito alguma coisa.

− Reyna? – em meio as lágrimas carregadas, ela viu Leo Valdez entrar em seu campo de visão.

Estava tão acabado quanto ela, com os cabelos desgrenhados e olheiras fundas abaixo dos olhos, mas seu estranho tique com os dedos ainda estava lá, mexendo na alça de sua mochila e apertando o cós de sua calça.

Ela tentou dizer alguma coisa, apenas para mostrar que estava em órbita, mas só sentiu mais lágrimas despencando de seus olhos. Esperava que aquela quantidade de água conseguisse limpar a sujeira em sua pele, mas ela sabia que não seria suficiente. Aquilo ia além do suor já seco em sua nuca, ou da parte física de seu eu. Não, aquilo atingia outras extremidades, bem em seu interior. Ela sentia sua alma suja e, nesse caso, não eram lágrimas que conseguiriam limpá-la.

− Por Deus, o que aconteceu?! – ele exclamou enquanto Reyna se encolhia sob seu toque.

Ela balbuciou qualquer coisa para não deixá-lo sem resposta, encolhendo-se ainda mais quando Leo abraçou-a pelos ombros. O Valdez constatou que talvez não fosse o momento certo para tocá-la e se afastou, concluindo que não poderia deixar Reyna ali na frente naquele estado.

Sem muitas opções, Leo apenas arrastou-a para o primeiro estabelecimento aberto à essa hora (que convenientemente era um Starbucks), não se atrevendo a muito mais que puxá-la pela mão, dando-lhe guardanapos para enxugar as lágrimas ao que sentaram-se numa mesa afastada.

Reyna soltou um muxoxo, provavelmente agradecendo, enquanto enxugava o rosto com uma quantidade absurda de guardanapos e assoava o nariz. A cena toda devia estar sendo nojenta para Leo, mas a garota estava tão abalada que negou-se a vaidade.

Quando ficou mais calma, Leo perguntou:

− Posso saber o que aconteceu?

Reyna soluçou alto, chamando a atenção da atendente no balcão que finalmente notou-os ali. Despregando os olhos de sua Teen Vogue enquanto tirava um chiclete do bolso, gritou sem nenhuma educação de lá do balcão se eles iriam querer algo.

− Café preto. – Reyna murmurou, encolhendo os ombros de novo ao que sua voz custou a sair.

Leo nunca vira a garota tão vulnerável.

Estava acostumado com a Reyna autossuficiente, que nocauteara o Valdez uma vez enquanto eles jogavam futebol na aula de Educação Física, não com aquela garotinha frágil, com o nariz melecado e os olhos esbugalhados de tanto chorar.

Aquela situação toda era embaraçosa.

− Só isso? – a atendente chegou perto, tirando um de seus fones do ouvido.

Pelo estado de Reyna, Leo imaginou que não, a garota iria querer algo mais, mas julgou que era ele quem ia pagar e como seu único dinheiro era para o lanche, ele apenas pediu um donut para acompanhar e lembrou-se de pedir desculpas a Reyna numa outra oportunidade.

Quando a garota se afastou, murmurando desafinada um indie qualquer, Leo voltou-se novamente para Reyna, determinado a entender o que estava acontecendo. Ele precisava dizer que aquela era uma situação constrangedora de novo?

Quer dizer, queria não notar o quão bagunçado estavam os cabelos de Reyna naquele rabo de cavalo confuso e em como suas roupas pareciam surradas, mas ele notou e se não tivesse uma explicação logo, sua mente fértil começaria a inventar coisas que Leo não gostaria que fossem verídicas.

− Reyna – ele chamou e a garota olhou-o vagamente, voltando a atenção para os guardanapos embolados no meio da mesa. –, por favor, me diz o que tá acontecendo. – ele apelou, olhando-a com seus olhos pidões.

Em outra ocasião, Reyna teria achado graça e feito um comentário sarcástico, até, mas sentiu-se realmente tocada por aquele olhar e fechou os olhos, tentando manter a boca fechada. Ela não sabia o que iria acontecer se relembrasse tudo o que acontecera nas últimas sete horas e, sinceramente, a resposta era a última coisa que gostaria de ter.

− Eu só preciso que você me diga que não foi estuprada e juro que vou te deixar em paz. – ele garantiu e a garota encolheu-se em seu assento, fazendo Leo arregalar os olhos. – Reyna? Você não... Oh meu deus. – ele sussurrou, tentando digerir o que estava acontecendo.

− Não f-foi isso. – Reyna balbuciou, o nó na garganta impedindo que ela falasse direito. Bem, não fora exatamente aquilo que acontecera.

− Estou esperando, então.

Por um momento, Reyna pensou que talvez devesse contar para Leo, porque ele estava tão nisso quanto ela, mas sentiu o cheiro forte de café preto acompanhado das músicas bregas que a garotas que os atendia cantarolava, dando a ela tempo suficiente para comer seu donut e beber o café em goles longos, fazendo uma careta por causa da amargura.

Aquilo renovou-a, mas não por inteiro. Reyna ainda sentia-se suja e a ideia de esfregar com sabão cada milímetro de sua pele não havia saído de sua cabeça.

Leo ainda a observava enquanto a garota limpava a boca no guardanapo que pegara da mesa ao lado, já que havia gastado os que tinha limpando as lágrimas carregadas de seu rosto.

− Eu sei que isso é um saco, mas eu preciso que você me diga o que aconteceu – ele pediu, parecia mesmo preocupado. –, porque senão vou começar a pensar em coisas das quais posso me arrepender depois.

A garota concordou, porque não tinha mais nada a fazer. Ela sabia que devia uma explicação a Leo. Quer dizer, tirou-o de seu horário de aula e usou seu dinheiro porque no momento em que saiu do Lótus, parecia algo esperto deixar a carteira guardada em seu armário.

− Eu passei as últimas sete horas andando sem rumo pela cidade. – ela começou, a voz arrastada pela falta de uso. – Foi quando encontrei um táxi e provavelmente estávamos perto da escola, porque eu não lembro de ter dito que estudava na OHS.

− Mas e antes disso, por que estava sozinha pelas ruas de Dover? – Leo perguntou, não gostando do que, para ele, era uma escassez de informações.

Reyna encolheu os ombros de novo e Leo perguntou-se se aquele era um tique, tipo o que tinha com os dedos. Aparentemente, era só coisa do momento.

− Eu descobri umas coisas – ela falava, abaixando o tom de voz. – sobre a Calipso.

O Valdez piscou, atônito.

O quê?

− Eu só- Tinham uns homens falando sobre ela no Lótus, e até sobre mim, então acabei indo com um deles para casa. – ela fez uma pausa, a velocidade com que despejara aquelas palavras fora tão rápida que se Leo não tivesse bebido todo aquele café de manhã, provavelmente não conseguiria acompanhá-la. Agradeceria Charles depois. – Mas não para a minha casa.

O maxilar de Leo travou imediatamente. O que Reyna estava dizendo com aquilo? Ela havia ido para a casa de um estranho, era isso? Só por que ele alegava que conhecia Calipso? Ela pôs-se nesse risco? O que Reyna tinha na cabeça? E por Deus, havia acontecido alguma coisa com ela? Apavorado com o pensamento, ele dispensou os sermões por hora.

− E o que aconteceu lá? – sua voz estava mais rouca que o normal, Leo realmente se surpreendeu. Em outro momento, seu eu interior estaria enchendo-se de orgulho, mas agora tudo girava em torno do que poderia ter acontecido com Reyna e em como ele era maluco por pensar que faria uma merda muito grande com quem tivesse tocado num fio de cabelo dela.

Reyna olhou para baixo, para a pulseira que girava nervosamente em seu pulso direito. Céus, estava tão envergonhada e enjoada com o que tinha feito naquelas últimas horas. Ela praticamente se entregara a um homem para conseguir informações sobre Calipso. Aquilo podia ser considerado prostituição?

Ela sentia-se tão suja que começou a coçar sua pele furiosamente, como se com isso pudesse tirar os vestígios daquele homem de sua pele, mas claro que não conseguiu, especialmente quando Leo segurou com força seus pulsos, incapacitando seus movimentos.

− Ei, para, para. – ele pedia, os olhos arregalados com a atitude da garota. Vendo que precisava agir rápido, olhou no fundo dos olhos de Reyna e falou com a maior calma do mundo: - Você vai se acalmar, vou te levar para casa e vamos inventar qualquer desculpa para o pessoal. Depois, você vai me contar exatamente o que aconteceu, e dessa vez direito, em troca do que eu tenho para te falar.

− O que você tem para me dizer? – ela arqueou as sobrancelhas.

− Algo que não é tão importante quanto você no momento.

O coração de Reyna encheu-se de repente. Já fazia tempo que não recebia aquele carinho. Leo podia simplesmente colocá-la num táxi ou larga-la ali, porque já haviam faltado um período de aula ontem e estavam se arriscando demais fora e tão perto da escola àquela hora, mas ele apenas mandou um foda-se para aquilo tudo e disse que hey, estava tudo bem, ele estava ali.

Não exatamente com aquelas palavras, e não com aquela intensidade, mas... Pff, Reyna estava exagerando. Também, que mulher não gostava de ser tratada bem?

Deixando que Leo pagasse por ela, aceitou de bom grado o braço do Valdez ao redor de seus ombros enquanto andavam até sua casa (porque nenhum dos dois tinha dinheiro suficiente para um carro) enquanto assistiam acontecer um típico dia útil em Dover, Delaware.

Ou apenas tão típico quanto o dia de um assassino conseguia ser.


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Notas finais do capítulo

p.s: praticamente.