Mariana rodopiou frente ao espelho vendo o seu insatisfatório reflexo em mais uma de suas crises de autoestima. Ela não se sentia como em dois anos atrás, quando partira da grande São Paulo para ficar ao lado de seu pai cuidando de alguns projetos. Nutria mais uma das suas crises existenciais, não queria estar indo em mais uma dessas festas para reencontrar as mesmas pessoas, para mencionarem as mesmas situações de memórias antigas.

O delineado parecia ressaltar ainda mais a tristezas nos seus olhos cor de âmbar e por mais que ela sorrisse, seu rosto quadrangular ainda tinha feições tristes. Seus cabelos loiro-escuros estavam presos em um coque desgrenhado, deixando a mostra suas bochechas rosadas graças a um longo dia de choros.

– Já está pronta, filha? – perguntou seu pai, sorridente parecendo não perceber o quanto sua filha não queria ir.

– Sim! – Ela assentiu.

Quando eles chegaram à porta do clube, seu irmão mais velho estava reclamando mais uma vez de ter de estar vestindo terno, a peça que ele mais odiava.

– Odeio quando me obrigam a estar num lugar, obrigatoriamente, usando ternos.

Bento tinha os mesmos olhos de Nana, mas seu sorriso preenchia qualquer buraco e derrubava qualquer barreira, mesmo não sendo verdadeiro. Ela se arrependia de não ter aprendido esse truque, seria esse uma herança de família? Bem, ela se perguntava isso agora.

Pessoas a cumprimentaram, e cumprimentaram seu vestido rendado, sorriram seu cabelo, que ao se soltar, tinha longas ondas douradas e trocavam olhares perguntando-lhes a si mesmos por onde ela tinha andado por esse ano que passou.

Ele estava no sofá, junto aos seus amigos cool e com a aparência melhor do que nunca.

– Nana – ele gritou seu nome de modo em que pudesse ser escutado pela sala de estar inteira. – Venha cá!

Ela caminhou rapidamente, com a ideia de que ele teria alguma novidade para contar-lhe.

– E aí?! – ronronou um garoto com cerca de um e oitenta.

– Oi – ela disse baixinho, se moendo de vergonha.

Aline Kirlp vinha, não para uma conversa, e sim para um convite. Ela olhou Nana da cabeça aos pés, principalmente seu vestido Olivia + Alice, ela se orgulhou em saber que esse vestido era da nova coleção.

– Adorei seu vestido!

– Ah, obrigada.

– De nada – Ela sorriu, curvou seus ombros deixando sua clavícula ainda mais exposta. Aline conseguia ser linda, sem ao menos querer. – Então, nós vamos fazer uma brincadeira por aqui. Queria saber se vocês vão participar.

– Eu aceito – sibilou o irmão, junto com o outro cara. - Você vai querer? – perguntou em seguida.

– Querer o que?

– Bem, ela vai querer sim – Aline segurou seus braços finos e gélidos.

Na maioria dos inícios de anos escolares, eles costumavam se encontrar num salão abandonado no prédio de trabalho do pai de Aline. Não era tão longe do salão de festas Como costumeiro eles bebiam, fumavam e faziam algumas brincadeiras de jovens...

– Qualquer um pode chegar aqui – seu irmão disse.

– Eu não concordo, é possível que nós vejamos a cidade toda, mas não sejamos vistos – ela rebateu.

– O que nós vamos fazer? – perguntou o garoto ao lado de Nana e Aline, cujo nome era Pedro.

– Jogo das três chaves – afirmou Matt, se intrometendo.

Seria um jogo inusitado para se realizado, justo nessa noite. Talvez Matt gostasse de trair sua namorada mais uma vez, sair imune dessa e ainda ser o casal do ano. Ele já tentou agarrar Aline diversas vezes, frente a todos os Outsiders. Mas ele sempre saía sem qualquer problema, graças ao comportamento liberal dela e sua queda por garotas.

Mariana escolheu se sentar em uma cadeira vazia, o vidro era a única coisa que lhe separava do mundo real e das futilidades de onde ela vivia. Ela se arrependia de fazer parte do círculo social que sua mãe vivia e vive. Como ela sentia falta dela, mas sua mãe cuidava de seus problemas sociais com sua avó, da qual herdou o nome.

Matheus berrou seu nome:

– Nana!

– Sim.

– Por que você não começa?

– Tudo bem – Mas ela não queria. Ela não gostava dessa ideia de escolher quem ela beijaria em troca de segredos, mas era o melhor pagamento, pois logo pensariam que eles eram garotos e garotas de programa.

– Eu não quero três rodadas, uma é suficiente. Quero meu irmão na ponta direita.

– E os outros? – ele questionou.

– Deixo que ele escolha.

Fizeram que ele subisse num palco improvisado, e pessoas bateram palmas. Ela só percebeu ali que haviam mais de vinte pessoas, incluindo pessoas que ela jamais tinha visto antes.

– Será Nana na primeira rodada. A primeira exigência será que seu irmão fique à direita e escolha seus pretendentes. Então, interessados façam fila – ele brincou, mas Nana não gostou nada disso.

Ela foi vendada, ficou curvada e tentando decifrar as vozes que conversavam com seu irmão.

Quando ela beijou as bochechas de Bento, ela sabia quem era graças à barba rala, que ele conhecia muito bem.

– O cara ao lado é o Matt, e o outro, bem eu não posso contar.

– Você me paga! – ela esbravejou.

Ela não gostava dessa ideia de ter seus lábios sendo tocados pelos do cara mais fútil que ela já conhecera, mas ela não queria pagar com seus próprios segredos. Mas foram, e ele disse:

– Não amo Alessandra.

– Novidade! – ironizou.

Se eu não for para frente, nunca vou saber como é o seu beijo, pensou, nem saberia quem era e o porquê de pedir isso.

Ela sabia que já estava em sua frente, mas foi quando Alex encostou seu queixo nos dela, pressionou seu corpo para que cruzasse o seu, ela se sentia encurralada nos seus braços. Seu beijo tinha gosto de cigarro e bebidas, mas isso pouco lhe importava do modo em que ele lhe beijava calmamente. Seus pés saíam do chão, fazendo quase uma linha reta. Ele era alto para os um e sessenta dela, mas ela não importava muito com os seus pés e queria que durasse mais tempo.

Ao abrir seus olhos, ela só pôde enxergar seus olhos escuros e o topete que fazia o estilo retro, junto com a sua jaqueta de couro, que era informal demais para um dia desses.

– Quem é você?

– Fumaça.