P.O.V Lize

Acordei com alguém me cutucando, acordei assustada para falar a verdade e quando olho para o lado, preparada para reclamar com JJ eu vejo Spencer, sentado na beirada da cama, ainda tímido. Olhei para mim, estava de roupa. Menos mal.

Até quando Spencer vai ser tímido assim? Nada demais, estamos todos vestidos.

– O quê? – Me virei na cama novamente para voltar a dormir. Ele apenas suspirou algo.

– Sua tia está na porta batendo desde cedo – Ele respondeu, mas não foi como uma reclamação.

– E por que diabos você não abriu? – Eu perguntei ainda de olhos fechados tentando dormir de novo.

– Não quero que ela me veja aqui – Ele respondeu.

– Spencer, nós não estamos pelados, não há nenhuma diversão nisso – Pensei alto, mas acabei falando na brincadeira, olhei para Spencer vendo o quão ele conseguia ficar vermelho e como sempre, ele se supera. O que esse homem tem? – Eu estou brincando – Falei e ri. Ele numa tentativa frustrada de rir, respondeu:

– Eu sei – E ainda estava vermelho.

– Mas de qualquer forma, por que não abriu a porta? – Insisti na pergunta enquanto ainda me levantada e via que estava com a mesma roupa de ontem e provavelmente com o rosto melado um pouco de maquiagem.

– Você é ainda mais linda assim, bem assim – Ele falou enquanto eu me levantava ignorando minha pergunta, eu fiquei calada e sorte minha que estava de costas.

– Você deveria ter aberto a porta – Reclamei ignorando também seu comentário e indo em direção a porta, logo fui interrompida com as mãos dele nas minhas me segurando, quando me virei ele me aparentava estar tímido e nervoso. – Oras, Spencer... O que diabos você tem hoje? É minha tia – Eu reclamei.

– Eu sei – Ele falou baixo, e se afastou. Sempre se afasta. – Mas não quero que ela me veja, pelo menos não hoje – Ele falou mais alto e eu apenas concordei.

– Então... Vá pela janela – Eu falei, eu estava brincando, mas Spencer levou isso à sério.

Quando me virei para rir da cara dele, ele estava próximo a janela.

– Spencer! – Falei em alerta e ele olhou para minha cara já no parapeito da janela.

– Oi? – Ele perguntou.

– Você é louco? Eu estava brincando, sabe, você não deveria me levar tão a sério – Falei e ele riu.

– Na verdade, foi uma ótima ideia Lize – Ele falou ainda rindo, eu bati nele de leve.

– Não ria idiota – Falei e ele riu ainda mais.

– ARG! – Eu já estava irritada. – Vai logo então – Continuei e ele sorriu, eu me aproximei dele e fui me esgueirar pra ver a altura, não era tão alto e tinha lugares para ele se pendurar de fato, mas ainda achava isso uma estupidez. Pude sentir a respiração de Spencer no meu pescoço, e depois de um tempo o vi virar o rosto para não ficar naquele momento, eu resolvi quebrar aquilo. – Ah, é, okay... Boa sorte – Eu continuei já no meu lugar anterior enquanto o via tentando descer, o fato sobre Spencer é que ele nunca foi do tipo atlético, e eu fiquei com medo de ele levar uma longa queda, então quando vi que ele já estava apoiado na janela para se jogar no chão, fui até a janela e tentei o ajudar segurando sua mão e ele ainda caiu, e eu ri da careta que ele fez, logo se levantando e gritando: eu estou bem.

Babaca, pensei comigo mesma.

Fui em direção à porta abrindo para JJ não reclamar muito comigo, e fui logo depois para o banheiro tomar um banho porque eu ainda teria que ir hoje pra faculdade fazer a tal da maldita matricula. Eu poderia assistir algumas aulas online, já outras eu precisava ir.

Era um saco isso, nunca fui muito bem à escola. Não que tivesse amigos, ou que ligasse para isso, mas é que essa não foi uma boa idade minha, mas eu passei por cima e virei quem eu sou.

Escutei JJ já gritando para mim lá de baixo, não acredito isso lá são horas. Terminei meu banho rapidamente e saí de toalha pelo quarto.

– Elizabeth Stonem, eu estava tentando falar com você – JJ começou com sua bronca matinal, nunca tive alguém brigando comigo em casa por causa disso, aliás, nunca tive ninguém para brigar comigo sobre isso, era algo... Maternal. E eu nunca tive de fato, uma figura maternal na minha vida.

– Okay, okay... Eu sei – Saí concordando em direção ao meu guarda roupa procurando por alguma roupa.

– E sobre Spencer? – Ela pigarreou do nada.

– É, ele estava assustado com você – Eu respondi normalmente.

– Comigo? Sou a tia mais liberal que existe – Ela falou e riu tentando abafar o que disse.

– JJ, já lhe disse... Spencer e eu não temos nada – Eu falei cortando logo o barato dela.

– E eu já lhe disse que tome cuidado, moça. A vida dá tantas voltas que mal podemos imaginar – Ele respondeu e eu ri.

– Oh, JJ... O que diabos você acha que eu sou? – Parei para olhar para ela, eu estava séria agora, porque eu não sou qualquer garotinha, ela teria que se preocupar com Spencer. Eu posso destruí-lo, e isso pode ser sem querer.

– Você acha que é uma coisa, Lize... Mas é outra quando se trata de Spencer, muda aqui – Ela falou e apontou para o meu coração. – E você sabe disso – Continuou e Will gritou para JJ descer e dar tchau para levar Henry para escola e me deixou ali, sem nenhuma reação.

De tantas coisas que JJ falou para mim, essa talvez fosse a mais sensata... Eu mudo sim, mas não quero mudar, esse negócio de gostar de alguém, de amar alguém, de se apegar e se aproximar, simplesmente não é pra mim, nunca me senti assim e acho um sentimento estupido, até porque sempre termina em lágrimas daquela pessoa que sente mais.

Arrumei-me rapidamente e ainda deu tempo de eu dar um tchau para Henry e sair logo em seguida para não escutar todos esses sermões de JJ, não demorou muito para chegar à faculdade porque Will me deu uma carona, mas Will nunca fala algo com muita noção, então não escutei muito bem, só fingi prestar atenção, mas minha mente voava para longe.

Cheguei à faculdade e logo fui entrando para secretária, queria evitar o campus cheio de alunos, fui até o balcão.

– Sim? – Perguntou a mulher morena de óculos que me atendia.

– Inscrição – Respondi.

– Os documentos, por favor – Ela pediu e eu entreguei tudo.

– E aqui vai uma carta de recomendação – Eu falei entregando também e ela deu uma boa lida, viu que era do BAU e se surpreendeu, não demorou muito para processar meus dados.

– Mocinha, bem vinda à faculdade – Ela falou e eu apenas tentei sorrir pegando meus documentos de volta, será mesmo? Bem vinda?