Ana e Tati iam na direção da sala de aula. A morena estava inquieta por causa da conversa que tivera com a irmã há cerca de dois dias. Decidira que contaria tudo para Ana ali mesmo. Não importava mais o que a ruiva diria. Ela tinha de tirar aquele peso das costas.

- Tá tudo bem, Tati? - perguntou Ana, desconfiada.

- Claro! Por que não estaria? - respondeu, tentando disfarçar. Fitou o chão enquanto continuavam a andar. - Ana! - chamou ela parando na porta da sala.

- Hum? - murmurou a ruiva ficando de frente para a amiga.

- Eu... eu preciso te contar uma coisa... - dizia Tati, embaralhada em seus pensamentos.

- Pode contar! Eu sou sua melhor amiga, não sou? - aconselhou Ana, sorrindo. Tati assentiu. Remexeu as mãos e fez algumas caretas antes de conseguir fazer alguma palavra sair de sua boca.

- EugostodoBinho. - sussurrou sem abrir muito a boca, impedindo que a amiga a ouvisse claramente.

- O quê?! - disse esta, confusa.

- EugostodoBinho. - disse Tati, outra vez.

- Fala mais alto, Tati! - pediu Ana. A morena suspirou. Ela não podia esconder aquilo.

- Eu gosto do Binho. - ela respondeu, por fim. - Olha, Ana, eu não quero que pareça que eu gosto do Binho só porque você gosta ou que eu sou fura-olho. É que a gente não pode fazer as escolhas do coração. Quer dizer, você não escolhe se gosta ou não de alguém, sabe? Mas eu queria esclarecer isso pra você, já que nós somos melhores amigas e... - ela dizia nervosa quando Ana a interrompeu, rindo.

- Relaxa, Tati! - disse a ruiva. - Nossa amizade não vai acabar porque nós gostamos da mesma pessoa.

- Não?

- É claro que não! Nós somos amigas desde pequenas e muito antes do Binho chegar lá no Orfanato. - disse Ana. Era verdade. - E outra: eu nem gosto mais do Binho tanto assim. - revelou. Tati arregalou os olhos, surpresa. (P.O.V Fairy: Ô povo que gosta de arregalar os olhos, viu?)

- É sério?!

- Aham. Sei lá! Acho que desencanei depois de tanto tempo não sendo notada. Ele nunca reparou que eu gosto dele mesmo. - ela disse com indiferença.

- Ana...

- Tati, não precisa se preocupar. Lembra daquela vez, no quinto ano, que a gente gostava do Marcinho? - Tati assentiu se lembrando da época. - Então! Mesmo gostando dele, você não se irritou por ele ser o meu par na Festa Junina. Você fez um "sacrifício" do seu amor por mim. - dizia Ana, fazendo aspas com os dedos. - Eu posso desistir do Binho pra você ficar com ele!

- Você faria isso por mim, Ana? - perguntou Tati, ainda desacreditada.

- Claro que sim! Por você e por mim! Imagine só: eu gostando do Binho pelo resto da vida! Não rola! - desabafou rindo. Tati a acompanhou. As duas entraram na sala. - Eu tenho a vida inteira pela frente. É "Carpe diem", sabe? - a morena gargalhou com a citação de um ditado poupular em latim. Significava "Aproveite o dia".

- Sei bem... - Tati, então, passou a pensar se haveria um outro motivo para que aquilo estivesse acontecendo. Thiago. - Ana, por acaso, você não gosta mais do Binho porque está interessada em outro garoto?

- O quê? - questionou a ruiva no susto. - Você está querendo fugir do assunto, né? Pois não vai! Estamos falando sobre você e o Binho, não sobre mim!

- Eu que estou querendo fugir do assunto? - disse Tati irônica. Ana a fuzilou com os olhos. Ambas passaram a rir outra vez.

- Ele gosta de você. É recíproco. - disse Ana de repente. Tati arqueou as sobrancelhas. - Ele fica te fitando a aula inteira. Na verdade, aqui na escola e lá fora também. Ele está apaixonado por você. E você por ele. É recíproco! - afirmou Ana direcionando o olhar ao fundo da sala. Tati virou-se para trás. E lá estava ele: conversando com Thiago.

- Você acha? - ela perguntou colocando sua mochila na carteira. Ana assentiu.

- Também acho que você deveria falar com ele. - aconselhou Ana levantando as sobrancelhas e sorrindo maliciosamente. Tati não conseguiu conter o riso, mais uma vez.

- Tá. Mas depois.

- Não! Você vai agora! - ordenou Ana. A mesma percebeu nque Binho vinha naquela direção.

- Mas, Ana...

- "Mas" nada! Anda! - disse a ruiva com ar de poder. Tati suspirou. A luta já estava ganha. Levantou-se da carteira, ajeitou a saia e seguiu na direção de Binho. Parou no fim do pequeno corredor que separava duas fileiras de carteiras no meio da sala. Viu Rubens virar-se de frente para si num impulso que ela não esperava, deixando-os próximos.

- Tati!

- Binho! - disseram ao mesmo tempo. Riram.

- Eu preciso falar com você! - disseram juntos mais uma vez. - Pode falar! Não fala você! - sorriram tímidos enquanto se encaravam. Tati sentiu as bochechas corarem e Binho sentiu um estranho arrepio na espinha.

- As damas primeiro. - incentivou ele, permitindo que ela dissesse o que queria.

"Primmmm"

O sinal da primeira aula. Reviraram os olhos.

- A gente pode conversar depois. - sugeriu Binho.

- Sim! Que tal depois da aula? No intervalo? - ela disse e ele assentiu concordando.

- Vamos! Sentem-se! - disse o professor de Geografia entrando na sala de aula. Tati e Binho correram para os seus lugares.

Assim que a amiga se sentou à sua frente, Ana perguntou:

- E aí?

- A gente vai conversar no intervalo. - respondeu Tati, sorridente. Ana endireitou-se na carteira. Colocou os materiais sobre esta e, disfarçadamente, virou-se para trás e deu uma piscadela para Thiago. O mesmo sorriu e retribuiu o mesmo gesto.

***

- Okay, class. Alguém pode me dizer uma frase usando o 'past perfect'? - perguntou a sr. Doloures, professora de Inglês do Ensino Médio. No fundo da sala uma mão foi erguida. - Sr. Joaquim. - ela concedeu a palavra ao moreno.

- I had loved in secret and I wanted the world know about my love. - disse Juca.

- Excelente! - elogiou a professora. Juca era um dos melhores alunos de sua matéria naquela turma. O garoto sorriu satisfeito. - Usamos o 'past perfect' para dizermos algo que aconteceu antes de um passado próximo. Para aquele que gostam de escrever coisas paralelas durante a aula e, provavelmente, irão mal na minha prova - ela disse se referindo à Duda. O mesmo levantou o rosto, fingindo prestar atenção na aula -, Juca se referiu à um amor secreto que havia amado. Depois, ele quis mostrar ao mundo este amor. Reparem que a primeira frase se trata se um passado antecedente a um passado próximo. - explicava a mulher gorducha e baixinha quando o sinal tocou. - Bem... Acho que terei que explicar isso na próxima aula. - lamentou a mulher.

- Bye, teacher! - despediu-se Juca.

- Bye, Joaquim! Good job! - elogiou a senhorinha, mais uma vez, se retirando da sala.

- Cara, essa mulher é muito puxa saco! - reclamou Duda, fazendo o moreno se virar para trás.

- A culpa não é minha se você fica escrevendo e rabiscando o caderno durante a explicação. - debochou Juca. - Afinal, o que você estava escrevendo?

- Nada que seja da sua conta! - respondeu o loiro irritado. Juca virou-se para frente ignorando o comentário do amigo. Marcou a página do seu caderno onde havia escrito uma parte da tradução de I'm Yours, do Jason Marz, e fechou este, guardando-o na mochila, em seguida.

Continua...