Winged escrita por Princesa de Genovia


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Quero saber o que estão achando da história. É boa??



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Os seus pulmões queimaram quando ela inspirou.

Não era apenas eles que estavam doloridos. Seu corpo inteiro parecia ter sido atropelado por grandes caminhões. A garota tentou se levantar, mas sua cabeça começou a girar fazendo-a deitar novamente.

O chão estava forrado de folhas úmidas e o cheiro de chuva entrou pelo seu nariz.

Ela voltou a se sentar por alguns instantes. Sentia-se mais leve. Então uma dor forte na suas costas a fez se encolher. Olhou para trás e seu estômago se revirou. Onde estavam suas asas?

– Não – sussurrou em desespero para si mesma. – Não, não, não, não. Isso não pode estar acontecendo. Não é real.

Ela se beliscou, mas nada aconteceu. Suas asas se foram.

A garota chorou e seus uivos ecoavam pela floresta que ficara quieta, em luto. A dor física era menor do que a perda de seus bens mais preciosos. Ela amava suas asas, como se fossem seus melhores amigos. Sem eles, ela não era nada além do que um pedaço de carne inútil.

Uma confusão de sentimentos a embalavam como um abraço mortal. Tristeza, confusão, medo e, por fim, ódio. Uma terrível raiva a consumiu de dentro para fora como fogo.

Ela se vingaria de todos os Caçadores. Encontraria cada um e os mataria da mesma forma que a trataram: com brutalidade e sem um pingo de compaixão. Quantas pessoas de sua espécie não sofreram da mesma forma que ela? Quantos Alados morreram por causa da cobiça dos mortais?

No fim, a garota tentou se levantar, porém estava acostumada com o peso de suas asas e acabou caindo.

– Merda – ela xingou.

Arrastou-se para perto de um galho alto e grosso o bastante para aguentar seu peso. Apoiou-se e andou capengamente para fora da floresta.

Durante horas, a garota se arrastou para mais perto da civilização a fim de achar um lugar abandonado para morar enquanto se recupera. Agora que suas asas se foram, ela poderia se passar de uma garota mortal.

A chuva e ventos a castigavam, fazendo-a tremer de frio. Seus lábios estavam roxos, os dentes batiam e já não sentia muito os dedos das mãos e dos pés. Para piorar, a noite caiu sem qualquer luz para ajudar a ver o caminho. Consequentemente, ela caía e tropeçava durante todo o trajeto.

Contudo, uma luz bem distante chamou sua atenção. Um abrigo. Ela apertou o passo desengonçado já com os pés descalços congelando. Quando chegou, tropeçou no degrau e se apoiou na porta de vidro batendo e gritando.

O lugar estava escuro, mas ela conseguia ver bancos alinhados na parede, um balcão e um corredor no fundo que ascendeu a luz. Em passos rápidos, um homem abriu a porta.

– Meu Deus, o que houve? – ele perguntou.

– Me ajud-d-de. – ela respondeu antes de cair desmaiada nos braços dele.

Não sabia quanto tempo ficara dormindo.

Sua cabeça latejava e seus olhos estavam sensíveis às luzes das lâmpadas e colocou a mão na frente para protegê-los enquanto examinava o ambiente em que fora se meter.

Era uma sala grande. As janelas fechadas cortinas brancas ficavam à esquerda junto com uma mesa de vidro com papéis organizados em um canto, livros abertos e uma caixa fina e retangular branca e botões com letras, uma caneca que dizia: “Medicina Veterinária: porque pessoas são nojentas.”, e três cadeiras brancas.

À direita, havia móveis baixos em um tom azul claro com muitas gavetas, ferramentas cirúrgicas, uma pia e várias outras coisas. As paredes amarelas claras estavam enfeitadas com fotografias de cachorros, gatos, coelhos e outros animais e folhetos que diziam: “É tudo divertido e engraçado até alguém terminar no cone.” e “Diga onde doe”.

Ela estava deitada em uma mesa de alumínio cujos pés ficavam para fora, um cobertor de lã e travesseiro. Sentou-se devagar e viu que estava usando nada mais que faixas em volta de seus seios e costas, uma toalha amarrada em sua cintura e sentia ataduras no local em que suas asas foram cortadas.

A porta estava aberta. A garota jogou o cobertor para o lado e colocou os pés frios no chão. Um rosnado veio perto das janelas e, deitado em tapete, havia um Rottweiler com a cabeçorra erguida, orelhas em pé e seus olhinhos negros esquadrinhando-a.

Merda, pensou ela. Não tenho a menor chance com esse cachorro correndo atrás de mim.

– Calma garoto – ela disse com a voz rouca.

Suas pernas estavam fracas e não aguentavam seu peso, fazendo-a cair de quatro. O cachorro levantou-se mostrando suas presas poderosas. Ela se arrastou para um canto da sala com o animal em seu encalço e subiu no móvel.

– Me deixe ir embora – ela mandou. – Você não entende... Se esse mortal descobrir o que sou, ele vai me levar aos Caçadores! Não quero voltar para lá.

O cachorro latiu e rosnou, provavelmente confirmando que ele não a deixaria ir.

Passos apressados ecoavam pelo corredor e um homem apareceu na porta arfando.

– Boo, senta! – gritou o homem autoritário.

O Rottweiler obedeceu e ficou abanando o rabo com a língua de fora.

– Você está bem? – ele perguntou se aproximando da garota que se encolheu mais ainda. – Está tudo bem, não vou machucá-la. Pode confiar em mim.

Como poderei confiar em alguém cuja própria espécie mata pessoas como eu?, pensou a garota.

O homem devia estar na casa dos 40 anos. Era alta, com uma barriga pouco protuberante, pele em um tom chocolate, calvo, barba negra por fazer e olhos negros que transmitiam bondade. Usava um dialeto branco, blusa azul, calça jeans clara e sapatos sociais brancos.

– Meu nome é Dr. Tom Daniels – apresentou-se. - Deixe-me ver seus machucados.

Ele estendeu a mão grande. A garota olhou desconfiada para o gesto e hesitou pensando. Se o médico fizesse algo a ela, ele já teria feito antes que acordasse, certo?

No fim, segurou a mão quente de Tom e colocou os pés no chão. Quando deu o primeiro passo, suas pernas fraquejaram e o médico a segurou antes que atingisse o chão. Levou-a até a cama improvisada.

– Posso? – perguntou Tom apontando para a faixa que dava volta em seu busto.

Ela assentiu com a cabeça e segurou seu longo cabelo castanho à frente.

– Como se chama? – questionou enquanto desenrolava o curativo.

– Meena. – respondeu a garota em um sussurro quase inaudível.

– Muito prazer, Meena. – ele sorriu com simpatia. – Quantos anos você tem?

Meena se retesou. A contagem de idade dos Alados era diferente dos mortais, pois viviam mais. O que ela diria ao médico? Ele não iria acreditar que tinha 50 anos, mas aparentava ter 17 anos.

– E-eu... hã, bem, não sou quem você pensa que sou

– Em quem você acha que eu penso? – indagou o médico arqueando as sobrancelhas.

– Uma mort... Humana. – arriscou Meena.

Tom permaneceu em silêncio enquanto examinava as duas protuberâncias onde ficavam as asas.

– Eu sei o que você é, Meena – afirmou finalmente o médico. – Sei que é uma Alada cujas asas foram arrancadas brutalmente e vendidas no mercado negro.

– C-como o senhor sabe? – exasperou a garota com os olhos azuis turquesas arregalados.

Por um momento uma sombra de tristeza e arrependimento passou pelos olhos do médico veterinário. Contudo, sumiu mais rápido do que um piscar de olhos.

– Posso ser um médico veterinário, mas sei das coisas. Esses “caroços” em suas omoplatas mostram onde deveriam ficar suas asas. – explicou o homem. – Elas cicatrizaram bem e rapidamente, assim como seus outros ferimentos. E asas estão desenhadas como tatuagem por todas as suas costas. É isso o que acontece com um Alado quando as asas são arrancadas, certo?

Meena assentiu cabisbaixa. Tinha que admitir que o mortal fosse bem inteligente, mas aquele não era o verdadeiro motivo de saber sobre a sua espécie.

– O senhor já viu outros Alados? – indagou a garota.

– Não – Tom deu de ombros. – Mas sei algumas coisas sobre sua espécie.

– Como?

– Livros, é claro. Onde mais eu poderia encontrar informações?

Meena franziu a testa pensando.

– Como se sente sem suas asas? – Tom mudou de assunto.

– Estranha – admitiu Meena. – Não tenho mais equilíbrio e me sinto fraca.

– Você vai se acostumar com o tempo. Vai ser difícil no começo, claro. Contudo, nada que a impeça de tentar.

– Certo – concordou a Alada. – Você pode me ajudar?

– Claro, mas primeiro você precisa comer.

Tom trouxe uma bandeja com carne assada, purê de batata e legumes cozidos na manteiga e suco de laranja.

– Espero que não seja vegetariana. – brincou o médico com uma risada.

Meena comia sem respirar dando garfadas grandes. Os sabores dançavam pela sua boca fazendo-a fechar os olhos e curtir a sensação. Ela não comia bem há anos. Em poucos minutos, terminara com pesar a sua refeição maravilhosa.

– Isso estava incrível! – exclamou Meena para Dr. Daniels que sorriu em resposta. – Obrigada, senhor Daniels.

– Imagina – respondeu tirando o prato. – Agora vista isso.

O veterinário entregou uma muda de roupas e saiu da sala para dar privacidade.

Depois de 10 minutos, Daniels voltou com uma cadeira de rodas para levá-la a sua casa. O médico recusou firmemente deixá-la dormir no consultório alegando que Meena não estaria segura caso um assaltante ou um Caçador entrasse.

A casa do Dr. Daniels era pequena e aconchegante a cinco minutos do consultório. Era feita de tijolos de dois andares e o interior simples. A sala era composta por dois sofás marrons com uma mesinha de madeira com tampa de vidro, uma lareira com porta-retratos, televisão e estantes de livros. Ao fundo, ficava a cozinha e um quintal pequeno.

Subindo as escadas de madeira, havia uma suíte e um quarto com o banheiro do lado de fora.

– Você se importa de dividir o mesmo quarto que meu filho? – perguntou Daniels coçando a nuca. – Ele tem apenas seis anos.

Meena observou o cômodo. Um beliche com cobertor do Hulk em uma parede, uma janela com uma escrivaninha, carrinhos, Lego e bonecos espalhados no chão de madeira e dois armários.

– Vai ser uma honra dividir o quarto com o seu filho – respondeu Meena sorrindo.

– Ele vai adorar ter a sua companhia – o médico retribuiu o sorriso.

Dr. Daniels estava terminando de arrumar a beliche de cima quando ouviram um barulho de porta fechando.

Passos rápidos foram ouvidos subindo a escada e um menino apareceu na porta. Tinha o mesmo tom de pele que o pai, cabelos curtos e negros, olhos grandes e um sorriso cativante.

– Papai! – o garoto correu ao encontro do médico e o abraçou apertado. – Você não sabe o que eu fiz hoje. Eu subi no teto da casinha, pulei para a areia e esmaguei o castelinho de areia da Rachel. Então ela começou a chorar e gritei: HULK ESMAGA! Depois eu... Quem é ela, papai?

– Jordan, quero que conheça uma amiga, Meena. – o veterinário apresentou. - Ela vai ficar conosco por algum tempo.

Meena estendeu a mão, mas Jordan saiu correndo e deu um grande abraço.

– Por que você está em uma cadeira de rodas? Quebrou a perna? Como você quebrou? Está doendo? Você vai dormir aqui? Quer brincar comigo? – Meena achou que Jordan iria explodir a cabeça dela com tantas perguntas.

– Jordan, Jordan, acalme-se. – pediu o pai.

– Posso assistir televisão?

– Só depois de terminar a tarefa de casa.

Jordan gemeu, mas correu para fora do quarto e o silêncio pareceu uma bênção.

– Desculpe pelo Jordan – disse Daniels. – Ele é hiperativo e fica agitado quando vê pessoas em casa.

Meena riu. A criança assustou-a no começo com várias perguntas e seu modo agitado. Contudo, a felicidade de Jordan era contagioso, quase palpável.

– Não se preocupe senhor Daniels – riu Meena. – Jordan é uma criança incrível.

Ao final da tarde, Jordan convenceu Meena de assistir desenho sobre o Hulk e contou sobre toda a história e episódios mais impressionantes da personagem. Jantaram na mesa de madeira na cozinha e depois a Alada e a criança ficaram brincando até a hora de dormir.

Meena estava no consultório do Dr. Daniels aprendendo a andar sem suas asas. O esforço a fazia soar como um porco. Porém, depois de algumas horas difíceis, Meena conseguiu pegar o jeito e ajudava o veterinário com os pacientes, buscando remédios e segurando os animais.

– Meena, posso lhe fazer uma pergunta? – perguntou o médico enfaixando a pata quebrada de um cachorro.

– Pode sim, senhor Daniels.

O médico pensou um pouco.

– Você pode se curar sozinha, certo?

Meena franziu a testa.

– Sim.

– Bem, é possível você curara outro ser vivo? – indagou o doutor.

– Honestamente, eu nunca tentei – ponderou a garota. – Mas acredito que isso é possível.

– E se você tentasse curar a pata desse cachorro?

A Alada olhou para o rosto do Poodle e acariciou-o.

– Eu posso tentar. – afirmou a garota.

Meena fechou os olhos e se concentrou. Os arabescos brilharam com uma luz azul fraca por poucos segundos antes de desaparecer. Sua energia estava vazia. Não tinha condições para invocar seu poder.

– Desculpe senhor Daniels. Não consigo ainda usar meu poder. Estou sem forças. – explicou a garota cabisbaixa.

O médico colocou a mão em seu ombro.

– Não há problema, Meena. Tudo ao seu tempo. Tenho certeza de que vai conseguir.

Depois do almoço, Meena estava organizando a bancada quando um menino apareceu na porta.

Era bem mais alto que Meena e devia ter 17 anos. Os músculos eram vistos por trás da camisa cinza. Tinha cabelo curto e negro com um topete espetado e olhos asiáticos negros. Era muito bonito. Franziu a testa, juntado suas sobrancelhas quando viu a garota.

– Hã, Dr. Daniels? – chamou o garoto saindo de costas como se, a qualquer momento, Meena fosse atacá-lo.

A Alada, com sua audição apurada, ouviu a conversa.

– Quem é aquela garota? – perguntou o asiático.

– Hum, é uma estagiária – mentiu o médico.

– Quer dizer que ela me substituiu no emprego?

– Não, claro que não! Ela só está aqui para aprender, sabe? Está fazendo faculdade de medicina veterinária. Venha, vou apresentá-la.

Ambos entraram na sala.

– Meena, este é Han Li. – apresentou o Dr. Daniels.

Eles trocaram um aperto de mão um tanto demorada que foi o bastante para fazer a garota corar.

– Muito prazer, Han Li. – disse Meena.

– O prazer é meu, Meena – respondeu o garoto sorrindo.

Os três trabalharam até o sol se pôr, quando Dr. Daniels se despediu junto com Meena e voltaram para casa.

Naquela noite, a garota não conseguiu dormir, pois ainda pensava em seu poder.

A Alada não era fraca. Mesmo sem comer direito ela conseguira invocá-lo. Por que não conseguia agora que estava bem alimentada?

Decidida a conseguir curar o cachorro, Meena levantou da cama, caminhou rapidamente até o consultório e dirigiu-se a sala de recuperação. Colocou a mão na cabeça do cachorro, fechou os olhos e invocou o poder de cura. Os arabescos brilharam e apagaram. Ela não sairia de lá até curar o animal.

Respirou fundo. Os arabescos brilharam fraco, no começo, mas aumentava gradativamente até sentir um calor vindo do seu interior até a ponta dos seus dedos, envolvendo, como gavinhas, a pata do cachorro. Meena o curou.

Deu um pequeno sorriso.

– Ei! O que você está... – gritou Han da porta.

Meena parou, mas era tarde de mais. Han vira o seu poder.


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