Alice

Eu encarava Renne com os olhos cheios de lágrimas, ele estava a distancia e acenava para nós, permaneci observando-o ser levado por aquele homem estranho, até que não mais o vi, ele havia ido embora, ao meu lado uma menina ruiva chorava. Clarisse.

— Por que ele tem que ir embora? – Perguntei, sentindo meu coração se encher de tristeza e Clarisse ergueu a cabeça.

— Mamãe entrou em contato, pelo menos foi o que tia Jenny disse. E mandou ele ir. – Ela esclareceu com a voz cheia de rancor. — Não é justo.

— Tudo bem Clary. – Segurei nos ombros dela, eu me sentia mal por ter que ver os dois se separarem, afinal eram irmãos, mas eu sabia que precisava tentar consola-la, Clarisse me encarou com um rosto inexpressivo, se virou e correu para longe de mim, a distancia vi um pequeno menino loiro se aproximar, Hector. Ele parou na minha frente e cruzou os braços. — Renne foi embora.

— Eu sei, mas não quero ver você chorando por ai. – Ele disparou com firmeza e eu enxuguei as lágrimas. — O que os outros vão pensar... Não deve chorar por causa de nenhum garoto que não seja nada seu, ou viu Alice? – Me mantive em silêncio. — Alice? Alice?

— Alice?

— An? – Encarei Will, voltando a realidade. — Sim?

Ele riu, estava sentado em uma cadeira em minha frente e parecia bem relaxado. — Estava com a cabeça nas nuvens?

Eu sorri sem jeito e desviei os olhos. — Sim, desculpe-me.

— Tudo bem, é um efeito tardio, seu poder ainda não se estabilizou completamente, no que estava pensando?

— Em uns amigos, nada de mais.

— Entendo, você sente falta da Inglaterra? – Eu o encarei, confusa, fazia tempo que eu não pensava na minha casa, no meu país. — Porque sabe, eu sentia muita falta de tudo isso aqui. É por isso que eu não quero perder meu país de novo.

— Não sei o que sentir quanto a Inglaterra, não sei nem mais quem sou. –Admiti com um suspiro.

— Alice, eu queria que você entendesse que o que nós somos é definido pelo presente.

— Para você é fácil, você é um duque, é adulto e sua família está perto de você.

Will pareceu pensar e, por fim, acabou sorrindo. — Soa mais belo quando dito, porém na realidade não é tão lindo assim. Por isso quero lutar e por isso peço que pense na minha proposta e me ajude.

— Ah Will, eu nem sei mais o que quero, eu nem sei mais meu objetivo, as vezes penso que só sobrevivo dia após dia, não sei se tenho forças para o que está me pedindo.

— Eu entendo. Mas, por favor, repense com calma. Entenda que eu, particularmente, tenho uma mágoa mais do que pessoal com copas. Entenda Alice, não que titulo seja a coisa mais importante, mas eu sempre estive no topo da nobreza, abaixo apenas do rei e fui jogado em uma cela por oito anos, anos esses, em que meus dois filhos foram usados como escravos, Alice entende o que é o salto de filho de um duque para escravo? Não posso aceitar isso. Sim, estou sedo fútil em pensar nesse lado, mas eu penso em meu filho, eu penso no que ele passou e isso me revolta profundamente. Não quero perde-lo também, dói todos os dias pensar na minha filha, pensar que não posso abraça-la e nem ouvir suas histórias, eu não vou poder ver ela crescer, ela está morta. E o único bem que me resta é o meu pequeno Alli, e a ideia de vê-lo machucado, nem que seja com um arranhãozinho, me mata por dentro.

Os olhos deles estavam marejados, e sua voz soava trémula, pensando bem, agora vejo o quanto ele foi forte e corajoso esse tempo todo.

— Apenas me dê uma chance de te mostrar o melhor de Jadis, me deixe te mostrar o que nos torna diferentes e me deixe contar nossa história. Esse país tem coisas maravilhosas, por favor, me dê uma chance.

Suspirei e tirei um cacho de cabelo rebelde do meu olho. — Tudo bem, talvez me ajude a pensar melhor em tudo.

— Obrigado Alice. Vou adorar te mostrar o meu país, mas antes... – Ele se levantou e caminhou até uma prateleira, retirando de lá uma caixa de madeira e a entregando para mim, a caixa não era comum, para inicio de conversa, era feita para selar a espada Vorpal, por isso era estreita e longa e tinha muitos desenhos e símbolos. — Independente de tudo, ela é sua. Aquele primeiro contato foi desastroso por que a espada não entrava em contato com o poder do sangue real a anos, mas agora vai ser menos problemático.

— Mas... O que vou fazer com isso?

— Ela poderá te mostrar quem você é, seu passado e seu presente, pois está ligada a você através de seu sangue e pode te mostrar tudo o que puder imaginar sobre Jadis. – Will esclareceu, respirando fundo e caminhando até a porta. — Minha doce princesa. Estarei a sua espera, deseja algo?

— Pode chamar o Alli?

— Sim. – Ele se curvou lentamente e se reergueu com um sorriso sincero.

Quando ele saiu, coloquei as mãos sobre a boca para sufocar um choro quase incontrolável, desde quando minha vida se tornou um mar de pressão? Será que nada poderia ser fácil?

Minhas lágrimas começaram a cair de vez, e eu comecei a chorar silenciosamente. Por que era tão difícil assim ser forte?

A porta se abriu e Alli entrou rapidamente, ao me ver chorando, ele correu e se sentou ao meu lado, me envolvendo em seus braços e me puxando para perto.

Eu segurei a mão dele e entrelacei nossos dedos. — Pode ficar ao meu lado até o fim? Eu tenho medo do que posso acabar vendo. – Pedi e ele sorriu.

— Nem precisa pedir duas vezes.

Ainda com receio, destravei a caixa e retirei a tampa com cuidado. Uma onda de poder começou a me incomodar, mas eu não poderia me deixar levar dessa vez. Eu tinha que ter o controle sobre mim mesma. — Acho que é isso. – Murmurei e olhei nos olhos de Alli. — É só desejar não é? – Perguntei, me lembrando do que o Chapeleiro me ensinou: Magia é uma sessão de comandos guiados pelo desejo mais intimo. Somente um sentimento de querer pode impulsionar o instinto de criação como a magia.

Fechei os olhos e me deixei levar pelo sentimento, pelo desejo, eu queria saber quem eu era, eu queria ver tudo o que fosse relacionado a quem querem que eu seja, queria tudo que eu deixei passar, que eu não notei e que pode afetar a minha vida daqui para frente.