Bakumatsu escrita por Aoshi Senpai


Capítulo 14
O Plano Secreto


Notas iniciais do capítulo

No capítulo anterior:

"– Sanosuke... O treino acabou. Partiremos depois de amanhã. Espero que você esteja preparado para ter sua conversa com o senhor Hajime, quando a oportunidade se fizer presente.

Dizendo isso, Aoshi virou-se e começou a caminhar na direção da estrada novamente. A expressão alegre de Hiko também havia desaparecido, e o espadachim começou a seguir o mesmo caminho que fora trilhado por Aoshi. Sanosuke, à exemplo dos outros dois, também franziu a testa e desmanchou o sorriso que lhe brotara à face. Depois retirou a zambattou atravessada na árvore e seguiu pelo mesmo caminho, em direção à estrada que levava à mansão Seikuu."



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Kenshin despertou lentamente. Seus olhos de tom amarelado haviam perdido levemente o brilho viril de outrora e pareciam mais escuros naquela manhã. A respiração estava pesada, seus braços e pernas doloridos, e a cabeça latejava.

O gosto amargo e a visão turvada duraram mais alguns minutos, enquanto Kenshin juntava forças para se pôr de pé. Mais alguns minutos se passaram antes que pudesse lhe voltar à mente as imagens do que havia acontecido naquela noite, alguns dias atrás. Quando a lembrança de Aoshi finalmente se fixou nos pensamentos do Hitokiri, o mesmo ergueu-se da cama arrumada no chão e sentou-se olhando em volta.

Ainda encontrava-se em um dos quartos do templo, oque lhe deixou mais calmo. Sua perna havia sido suturada e o ombro fora protegido com um curativo muito bem feito no ponto exato em que Aoshi havia atacado. Kenshin imaginou que aquilo deveria ter sido providenciado pela doutora que o atendera anteriormente: a bela Akira Hajime.

Hajime. O sobrenome da doutora rapidamente turvou a imagem de Aoshi na mente de Kenshin e focou uma outra: a de Saitoh. Kenshin girou seu corpo sobre a cama afim de encontrar algo para vestir, pois se encontrava despido naquele momento. Encontrou um kimono azul claro pendurado na parede. O tom ciano esbranquiçado da roupa lembrou Kenshin do uniforme oficial do Shinsengumi, e ele ficou a imaginar se aquele detalhe havia sido obra do próprio Saitoh. Cambaleante, caminhou até a parede e vestiu o kimono com cuidado, para não retirar nenhum dos curativos.

Com as pernas fracas e mancando bastante da perna esquerda, caminhou lentamente pelo quarto, e depois pelo corredor comprido até uma porta que dava para o jardim. Encostou-se no batente e observou calmamente a figura de costas para ele no gramado do jardim.

O homem, parado diante de uma cruz improvisada com duas tábuas velhas, olhava atentamente para um túmulo recém-cavado e resmungava algumas palavras. Seus velhos hábitos continuavam, e o cheiro forte de cigarro chegou rapidamente as narinas do Battousai, confirmando suas suspeitas sobre a identidade do homem que se encontrava diante dele. Os longos cabelos negros haviam sido presos com uma fita, e praticamente não podiam ser distinguidos pois alongavam-se sobre um kimono igualmente preto e brilhante. O homem curvou-se respeitosamente à sepultura depois ergueu sua cabeça para os céus, virando-se para Kenshin em seguida.

– Himura! finalmente acordou. - Comprimentou Saitoh, sem o ar desafiador e energético de sempre. Depois, enquanto caminhava na direção de Kenshin, continuou. - Você pode me dizer o que aconteceu aqui? Por que eu tive que sumir com os corpos de uma dúzia de espadachins? Por que eu tive que enterrar minha irmã?!

"Por que eu tive que enterrar minha irmã?"

As palavras de Saitoh soavam violentas, e se repetiram automaticamente na mente do ruivo, enquanto o outro o fuzilava com olhar inquisitor.

"Akira está morta?"

Kenshin lembrava de ter visto Aoshi deixar o templo ao ouvir os cavalos que se aproximavam. Depois disso, ele sucumbiu aos ferimentos e desmaiou, vítima da perda de sangue. Os cavalos se aproximando seriam de um segundo grupo que os atacaria naquela mesma noite?

Kenshin descartou a opção ao ver que havia meia dúzia de cavalos apeados próximos à entrada do templo.

– Aoshi... - Kenshin resmungou. Saitoh parou de caminhar e franziu a testa vigorosamente.

– Aoshi! Agora este maldito foi longe demais! Eu farei ele pagar por ter assassinado minha irmã.

Kenshin estava atordoado. Havia acabado de sair de um sono de semanas, apenas para entrar em um novo estado de recuperação; Acordara todo dolorido e topava com um membro do Shinsengumi no jardim de um templo escondido; Era acusado de assassinar a garota que havia lhe salvo a vida e depois descobrira que, na realidade, quem a assassinou fora ninguém mais ninguém menos do que Aoshi Shinomori.

Saitoh percebeu a expressão cansada de Kenshin, e sabia que ele também havia ficado perplexo com o brutal assassinato de sua irmã. Aconselhou que o Hitokiri voltasse a descansar, pois precisaria dele para ajudar a vingar a parente. Kenshin se retirou, ajudado por um dos rapazes que haviam chegado noites atrás junto com Saitoh, e descansou. Havia tantas perguntas para serem feitas à Saitoh e ele, no estado em que se encontrava, não conseguiria alinhar seus pensamentos.

No dia seguinte, Kenshin acordou sentindo-se muito melhor. Ainda caminhava meio trôpego, mas poderia finalmente conversar da maneira apropriada com Saitoh. Caminhou até a porta do quarto e a abriu lentamente. Um dos rapazes veio em sua direção com um sorriso enorme pregado à face.

– Bom dia senhor Himura. O senhor Hajime espera pelo senhor no altar principal, fica naquela sala. - Disse o rapaz, apontando para uma porta à esquerda no corredor.

Kenshin possuía um olhar calmo e sem brilho. Assentiu com a cabeça, e dirigiu-se para a porta indicada pelo jovem espadachim. Entrou calmamente e empurrou a porta, fechando-a atrás de si.

Saitoh estava sentado junto a um pequeno altar, no fundo da sala. Ao ouvir o som da porta, virou-se e caminhou lentamente até Kenshin demonstrando certa surpresa em vê-lo tão cedo.

– Himura... Estou impressionado com seu poder de recuperação. Esperava encontrá-lo muito mais debilitado do que eu estou vendo.

– Quero que você me diga, Saitoh Hajime, por que não avanço sobre você e acabo de uma vez por todas com o último Lobo de Mibu? - Kenshin possuía um ar sombrio e surpreendeu novamente Saitoh com as palavras ameaçadoras.

O ex-líder do Shinsengumi abaixou a cabeça por alguns segundos. Depois reergueu-se e, encarando Kenshin com o sorriso falso que lhe era bastante característico, respondeu:

– Você possui muita energia, realmente. Me desafiar assim dentro de minha própria casa? Sabendo que tive infinitas oportunidades para acabar com você e não o fiz? - Saitoh escondeu o sorriso, voltando a entonação mais séria. - Você ainda não tem o condicionamento físico e nem a habilidade necessária para me derrotar em batalha, Himura... Talvez não tenha percebido que não te trouxe até aqui para matar-lhe. Tenho planos maiores e mais interessantes para nós dois. Quando te tirei do quintal de um dojo em chamas, alguns meses atrás, imaginei o quão problemático você poderia se tornar. Entretanto, você é uma figura importante e ainda exerce um inexplicável fascínio incontrolável em meus soldados. Com você, nosso exército fica muito mais forte, embora você esteja fora de forma, não é mesmo?

Kenshin deu de ombros.

Saitoh havia retirado o ruivo do dojo Kamiya e ordenado que sua própria irmã cuidasse das feridas dele. Era realmente difícil de admitir, mas o lobo havia lhe salvado a vida. Himura refletiu sobre o que Saitoh ganharia salvando-o da morte, depois refletiu sobre o que ele ganharia se juntando ao inimigo. Ao final de todas as considerações, lhe dirigiu a palavra calmamente:

– Não sei o que você pretende, Saitoh... Até onde eu entendi, você foi o responsável por todas aquelas mortes em Kyoto. Se não queria me matar, não deveria ter enviado todos aqueles homens até a minha casa! Não vou me permitir aderir a causa de um lobo, não importam as condições! Um lobo é sempre um lobo, não é esse o lema do seu Shinsengumi? - Retrucou, as últimas palavras embebidas em um deboche incomum para o hitokiri.

AKU SOKU ZAN! ESTE É O LEMA DO SHINSENGUMI! _ Retrucou, violento, Saitoh. Kenshin percebeu a ofensa ao ouvir uma rangida leve nos dentes do magro, que ruborizou ferozmente enquanto arregalava os olhos. O descontrole foi, lentamente, sendo controlado e quando sua pele assumira a tez pálida que lhe era comum, o outro continuou. - Encare a realidade, Battousai... O Shinsengumi e o Ishin Shishi não existem mais! O Japão já não é mais o que era antes do Bakumatsu. O governo que você ajudou a instaurar só destruiu nosso país. Você ajudou a criar um governo descentralizado e emporcalhado, com senhores gordos e velhos que dizem "proteger a vida dos japoneses" mas, na realidade, nunca viveram de verdade! Eles nunca estiveram em um campo de batalha, Kenshin! Nunca estiveram na beira do abismo como nós estivemos! A vida só pode ser vivida na ponta de nossa katanas, Battousai... Você, mais do que ninguém, sabe disso.

Saitoh esticou um olhar esmagador sobre Kenshin. Ele sabia que o Battousai concordava com a ideia da vida pela espada. Kenshin havia tentado proteger os outros com sua própria katana, ajudando a instaurar um sistema de governo que só trouxe fragilidade para o país e para o seu povo. O Battousai havia contribuído para que o governo Meiji tirasse de pessoas como ele a única coisa que tinham, a vida de espadachim. Saitoh, mais uma vez, retirou Kenshin de seus pensamentos:

– Himura... O que vou lhe oferecer é a chance de voltarmos à nossos tempos de glória. O Japão só voltará a ser um país temido e respeitado quando o poder voltar para as mãos dos samurais. Você está longe das ruas há muito tempo Himura, a guerra está por toda a parte... Praticamente todos os grandes instrumentos do governo já deixaram de atrapalhar nossa retomada de poder, e estamos nos preparando para o golpe final.

– Do que você está falando? Como pretende tomar o poder das mãos do governo Meiji? Vai guerrear contra eles? - Kenshin afinou o olhar, parecendo começar a se interessar pelas palavras de Saitoh.

– O governo Meiji já não existe mais, Himura... O governo Meiji é tão resiliente quando a força de seus governantes. O combustível do governo Meiji são governantes e senhores feudais influentes que nunca sequer tocaram em uma espada. Pois bem, desaparecendo-se com esses dois frágeis fatores, o governo se desestrutura e entra em colapso. A mais ou menos meio ano, governantes influentes do governo Meiji vem desaparecendo sem deixar rastro. Nós os sequestramos e acabamos com suas vidas miseráveis em segredo, para que o governo não convoque de imediato alguém para seus lugares. Enquanto o velho senhor Yamagata investiga os desaparecimentos, esperançoso em encontrar os desaparecidos ainda com vida, nós nos preparamos para assumir o poder instaurando uma guerra civil no país inteiro! Nossos exércitos estão espalhados pelo país, somente aguardando um sinal para iniciar os distúrbios. Quando a guerra civil estiver por todo o país, e o governo perceber o quão fraco ele é diante às situações de risco, atacamos seus gabinetes e tomamos o poder. Instituímos um novo Shogun, e cessamos os conflitos por todo o país.

– Humpf! - Interrompeu Kenshin. - Você acha que os japoneses cairão em sua armadilha assim tão fácil? O povo é inteligente, não vai se deixar dominar tão facilmente quanto você imagina, Saitoh...

– Errado, Battousai! Uma pessoa é inteligente... O povo é burro! A população é altamente influenciável por promessas de paz. Quando ascendermos ao poder e cessarmos os conflitos, sacrificando alguns de nossos próprio homens, o Japão todo cairá agradecido aos nossos pés. O novo Shogun terá apoio total da população, o governo Meiji será retaliado sem piedade e teremos o apoio da grande maioria das pessoas para retornarmos ao shogunato.

– Com você sentado na cadeira do imperador. - Completou Kenshin.

– Não! Alguém muito mais popular... Alguém que já governou este país uma vez. Alguém que você ajudou a derrubar!

Kenshin arregalou os olhos dourados de forma meio atordoada:

– Não é possível... Ele está morto!

– Você está errado de novo, Himura... Errado de novo...

CONTINUA!!!


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Notas finais do capítulo

Não percam o próximo capítulo:

Matsumo Tokugawa



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