– Para trás, Peppermint!
Outro raio atingiu o piso e uma figura materializou-se diante de nós. Um homem de meia idade, barba cinzenta e olhos tempestuosos. Usava terno e tinha um olhar altivo que reconheci de minha amiga Emilly.
Aquele era Zeus, o Senhor dos Céus.
– Percy Jackson e Mary Elizabeth - disse o deus.
– Zeus? - Percy arqueou as sobrancelhas. - O que você... o que o senhor faz aqui?
– Vim atender a um pedido de Poseidon e Hécate, Jackson. Sua irmã já fez a escolha dela.
Percy me encarou.
– Do que ele está falando?
Arfei, de olhos arregalados.
A imagem de Hécate surgiu ao lado de Zeus. Não, aquela não era Hécate. Era a minha avó, sorrindo suavemente para mim, como se estivéssemos de volta à minha infância. Eu devolvi o sorriso. E então Poseidon chegou à festa, usando um elegante terno verde-mar. Ele olhou para mim de um modo como nunca fez antes. Ele se importava. Comigo. Naquele instante eu soube. Se Poseidon não se importasse, ele mesmo teria escolhido entre mim e Percy.
– Sua escolha foi muito nobre, menina - disse Hécate, sorrindo.
– Eu não podia estar mais orgulhoso, Peppermint - acrescentou Poseidon.
Arqueei as sobrancelhas. Ele me chamou de Peppermint.
– O que está acontecendo?! - Percy exigiu saber, a espada empunhada.
Meus olhos encheram-se de lágrimas. Sorri para meu irmão e o abracei com força.
– Você é o maior herói que eu já conheci - eu disse a ele. - E o melhor irmão e amigo do mundo. Não se esqueça disso, ok?
Percy me afastou e me encarou.
– Por que está dizendo isso como se fosse uma despedida?
As lágrimas escorreram de meus olhos e eu olhei para os deuses.
– Isso... isso é uma despedida - sussurrou Percy, completamente chocado. Ele me abraçou com ainda mais força. - Não. Não! Pep, você não pode ir embora... Você é minha família, você...
– Precisa confiar em mim, Percy.
– Não. Para onde você vai? Por que tem que ir embora?
Solucei.
– Eu vou ficar bem. Promete uma coisa?
Ele me encarou com ansiedade.
– O que você quiser.
– Cuide-se, tudo bem? Cuide de Annabeth também. E diga... diga a Tristan que eu nunca vou me esquecer dele, não importa o que aconteça. Diga o quanto sou grata por conhecê-lo - solucei, sentindo as lágrimas quentes escorrerem por meu rosto - diga que eu o amo, diga que quero que ele seja feliz, apesar de tudo. E diga aos meus amigos que eu os amo também.
– Mas...
– Prometa.
– Eu... eu juro pelo Estige.
Percy me abraçou de novo.
– Você é uma heroína, Peppermint. Você é uma heroína.

Hécate tirou um punhal de não sei onde e aproximou-se de mim. Ela cantarolava a canção de ninar que minha mãe usava para me colocar para dormir e, num ato inesperado, me abraçou com força e carinho. De olhos abertos, vi quando Tristan surgiu na porta da enfermaria, confuso. Ele me encarou e eu devolvi o olhar, depositando todo o meu amor por ele naqueles segundos. Então fechei os olhos.

E tudo ficou escuro. E leve. E lindo. E indescritível.
Eu morri.
E pela primeira vez na vida, me senti livre.